Em Busca do País das Maravilhas

Capítulo 4 - Uma corrida e uma história comprida


— Nós precisamos voltar para a sala de Obras raras. –diz Martin.
— Sim, mas como? – perguntou Nicole – Eles logo irão dar falta da chave.
— Eu tenho uma ideia, esperem aqui. – Lucas fala indo para o banheiro, e logo ele volta segurando um sabonete e um bloco de papel – Nos podemos fazer uma cópia.
Lucas pegou o bloco de folhas, colocou a chave por debaixo do papel e esfregou com um lápis por cima, logo a marca da chave ficou grifada no desenho. Em seguida pegou a chave de novo e a “afundou” no sabonete deixando também sua marca.
— Agora só precisamos levar ao chaveiro e ele fará uma cópia e vocês precisam devolver isso na biblioteca amanhã cedo. – termina Lucas.
— Você é um gênio – Martin e Nicole comemoram em coro.

***

Nas aulas matutinas, Martin nem pode pensar nos estudos. Sua cabeça estava cheia de pensamentos que o seguiam desde noite passada.
Um terceiro volume do conto que tanto idolatrava existia. Não era uma lenda, nem teoria da conspiração. Ele iria ver com seus próprios olhos e sentir o que jamais esperava acontecer em sua vida.
“Gire a cabeça de Dodgson” pensou mais uma vez consigo mesmo as frases secretas do manuscrito que descobrira.
Em sua mesa havia seu volume único de Alice “camuflado” pelo livro didático. Ele folheava as folhas encantado como na primeira vez em que pegara o livro na mão.
Automaticamente começou a ler a página em que ele parara.

“O escritor de Alice era um tímido matemático, devido a sua gagueira criara o pseudônimo ‘Lewis Carroll’ já que mal conseguia dizer seu nome verdadeiro: Charles Lutwidge Dodgson”.

“Eu sabia já ter lido isto em algum outro lugar!” exclamou em sua mente “Como pude me esquecer do nome original de Carroll”.
Ele voltou seus olhos para a página e continuou a ler.

“Charles era um viciado em pseudônimos, tanto que praticamente no seu livro dedicou um personagem a si mesmo: O pássaro Dodô. Já que quando pronunciava seu nome verdadeiro com gagueira dizia: ‘Dodo-Dodgson’”.

Ele saltou da cadeira do mesmo instante fazendo todos da sala olhar para ele.
— Senhora Molly! E-Eu preciso ir ao banheiro… Agora!– disse à professora.
A mesma lhe deu a autorização para o feito e Martin saiu em disparada pelos corredores e no banheiro deixou a seguinte mensagem para Nicole e Lucas:
“Encontre-me no campus agora! Eu desvendei o enigma.”

*

— Conte-nos! Conte-nos – vinham Lucas e Nicole agitados dês do final do campus.
— Pois bem, vocês devem saber que Lewis Carroll não é o nome real do autor. Seu nome real é: Charles Lutwidge Dodgson.
— Sim, mas, o quê seria “girar” a cabeça dele? – questionou Lucas.
— Lewis criava muitos pseudônimos para si mesmo, um deles foi o próprio personagem do Dodô.
— É verdade. – exclamou Nicole interessada.
— Ainda não peguei – disse Lucas.
— Lucas, quando eu e Nicole estávamos roubando a página quase fomos pegos, enquanto fugíamos descobrimos uma passagem secreta que leva a algum tipo de laboratório na biblioteca. – explica Martin. – Lá nós vimos numa estante um pássaro Dodô empalhado dentro do vidro. Não é “Gire a cabeça de Dodgson”, mas sim, “Gire a cabeça do Dodô”.
— Acha que tem algo haver? – pergunta Nicole.
— Com certeza. O quê mais seria?
— Passagens secretas, enigmas... Isso está realmente ficando muito tentador – refletiu Lucas.
— Você conseguiu a cópia da chave Lucas? – pergunta Martin.
— Sim, está aqui. – responde levantando-a.
— Ótimo, no próximo intervalo iremos lá. Eu devolverei a chave e distrairei Lacie e vocês entram na sala secreta e procurem pelo Dodô. Certo?
— Certo. – os dois confirmam animados.

*

O sinal bate, lá estão eles novamente na biblioteca intrigante.
— Vocês ficam atrás de mim. – Explica Martin – quando eu conseguir segurar a Srta. Lacie, eu dou o sinal para vocês entrarem lá.
— Ok, vamos. – disse Nicole já puxando Lucas.
— Ah, mais uma coisa- continuou – sejam rápidos.
Lucas e Nicole deram a volta por todas as gigantes velhas, gigantes e intermináveis estantes de livros. Quando Martin os viu correu até o balcão de Lacie.
— Olá Lacie. – começou em inglês.
— Olá Martin. Como está?
— Estou bem, enquanto a você?
— Estou bem, o que deseja?
— Eu só queria me desculpar – enquanto fala, manda o sinal para os outros dois no final do corredor – Por ontem quanto sai daquele jeito...
Enquanto isso Nicole já girara a chave na fechadura enferrujada, o vento frio que já conhecia correu por suas penas. Lucas e ela entraram.
— Rápido, onde encontraram essa passagem? – Lucas perguntou aflito.
— É naquele corredor. – apontou.
Os dois avançaram até lá.
— Era numa dessas estantes, procure algo que as abra. – explicou Nicole passando a mão analisando rapidamente cada uma delas.
— Como foi que entraram?
— Martin esbarrou numa delas. – Resumiu para ele. Enquanto falava notou entre as molduras das estantes algo diferente, uma espécie de botão camuflado.
— Achei! – comemorou pressionando-o.
Como da última vez, a estante se abriu como uma grande porta, deixando Lucas boquiaberto.
— Não fiques aí engolindo moscas. – brigou delicadamente Nicole – Rápido.
O lugar que antes estava acobertado pela escuridão da noite agora se revelara um grande salão, com um altar e caixotes espalhados com mesas de estudo, uma espécie de “laboratório-depósito”.
— Para o que você acha que usam este lugar? – comenta Lucas mais interessado com a descoberta.
— Pensamos nisso depois. – retruca Nicole enquanto agarra nas mãos o vidro com o Dodô empalhado.
Na parte de baixo do livro havia uma etiqueta com uma tinta apagada.

Para: Alice e suas irmãs Edith e Lorina.
Com amor, Dodgson.

Nicole abriu o vidro de depressa e como dito literalmente no enigma, girou a cabeça do pássaro que se revelou uma rosca. Era isso.
— É verdade! – exclamou a mesma em comemoração – tem algo aqui dentro do pescoço!
— Tire.
Os dedos de Nicole se afundaram no buraco, de lá foi retirado um pequeno “pacote” feito de pergaminho, eles colocaram o pássaro no lugar e voltaram correndo segurando a próxima pista nas mãos como se fosse um grande tesouro.
Chegaram à porta, Nicole olhou pela fechadura, Martin continuava a conversar com Lacie. Eles saíram e trancaram a porta.
Sorrateiramente, Nicole ia andando devagar com toda a delicadeza possível até ao balcão de informações de Lacie, passando por trás dele do um jeito que ela não percebesse sua presença.
Ela apoiou-se pelo lado de trás e esticou a mão o máximo que podia. Lucas rangia os dentes de longe e Martin tentava ao máximo disfarçar o seu nervosismo.
Só que o que eles menos esperavam aconteceu, um som ecoou não só na biblioteca, mas por toda a escola, era o sinal do término do intervalo matutino.
O papo é quebrado pelo acontecimento e Lacie já começa a se virar de volta na direção do balcão. Lucas e Nicole congelam na posição que estavam. O que iriam fazer?
Num movimento mais ágil do que ele esperava, Martin puxou Lacie de volta na sua direção antes que a mesma pegasse Nicole com a boca na botija.
— Eu ainda não acabei – disse Martin.
— Já está na hora de voltarmos ao trabalho, não acha? – diz Lacie.
— Serei rápido.
Lucas suspira em alívio de longe já Nicole não poderia fazer isso, um erro e estaria tudo perdido, ela estica a mão mais um pouco e alcança a bancada e recoloca a chave no lugar onde estava antes.
Ela volta a sua posição e Lucas vem por trás dela.
— Já está na hora de voltarmos Martin – fala Lucas.
— Vocês estavam aqui o tempo todo? – surpreende-se Lacie.
— Sim, você não percebeu? – pergunta Nicole inocentemente. – Vamos?
— Esperem. O que mais tem pra me dizer Martin?
— Quer saber? Deixa pra lá, você não precisa se ocupar com os problemas da minha vida. – diz Martin, fugindo e encerrando o assunto. Os três amigos saem correndo até a porta, já no corredor Martin sussurra aos outros.
— Encontraram algo?
Nicole tira do bolso o pacote e faz o gesto vitorioso imitando o próprio Martin quando roubou a chave.
— Isso! – ele comemora dando pulinhos discretos – Vamos ver o que tem aí!
De dentro do pequeno pacote encontraram um pequeno pedaço de papel com a seguinte mensagem.

Parabéns! Aqui está o seu prêmio.
Um belo dedal.

Essa era a frase dita pelo Dodô no livro quando Alice ganha à corrida em comitê. E embaixo havia escrito o enigma para a próxima etapa.

A chave para o próximo enigma desencadear
A ação abaixo deve completar:
“Mary Ann! Corra até minha casa e traga um par de luvas com um leque!”

— “Mary Ann”? Hã? – estranha Lucas – Essa coisa tá querendo demais, como iremos resolver isso?
— Espera tem mais alguma coisa dentro. – analisou Martin.
Ele colocou os dedos no fundo e retirou o objeto.
— O quê é? – perguntou Nicole.
— O dedal. – sorriu gentilmente brincando em resposta. – Nosso prêmio.
— E como vamos resolver isso? – questionou Lucas.
— Espere essa não é a fala do Coelho Branco quando ele pede a Alice para ir até a casa dele? – Analisou Nicole.
— É verdade! – exclama Martin – Já tenho um plano.
— Então o que pretende? – Nicole pergunta – Pegar o primeiro trem para Guildford até a casa de Lewis Carroll?
— Exatamente.