É claro que para me provocar, Mike resolveu ir até o lugar implicando comigo. Ele cantarolava uma música cafona totalmente desafinado.

O celeiro ficava próximo a casa, e nele havia uns poucos cavalos, quatro pra ser exata.

Pegasus era o único que estava isolado dos outros. Era um cavalo preto com um único detalhe branco nas patas traseiras, parecia ser um daqueles cavalos de comercial de TV, e dava pra perceber que estava inquieto, pois enquanto os outros apenas comiam, ele não parava de relinchar.

O cavalo só sossegou quando Mike foi até onde ele estava, e acariciou seu pêlo.

Parecia outro animal, estava calmo e dócil.

– Está vendo - ele disse sem desgrudar os olhos do animal. - é só eu chegar perto que ele se acalma. Sou irresistível!

– E convencido também. - respondi debochada.

– Não é convencimento, NI. É apenas uma constatação de fatos.

Eu estava me preparando para responder a altura quando o celular dele tocou. Assim que olhou o visor, deu um sorriso cínico e o atendeu.

– Olá princesa! - disse debochado, olhando em minha direção, e continuou a falar.

Eu apenas esperei que ele terminasse de conversar com a tal "princesa", mas isso parecia impossível, e pelo que eu podia ouvir, era uma conversa bem "interessante".

Em alguns momentos cheguei a ficar rubra, e acho que ele já fazia de propósito, pois toda vez em que ele fazia isso, ele olhava pra mim com uma expressão de quem segura o riso.

– Falou gatinha, mal posso esperar pra pôr tudo em prática. Nos falamos depois. - ele disse, e olhou pra mim em seguida. - Um beijo...você sabe onde!

Minha única reação foi revirar os olhos pelo nojo que eu estava sentindo de ter ouvido toda a conversa depravada do caipira com sabe-se lá quem.

– Então, onde paramos? - perguntou.

– Antes de falar com a "gatinha"? - respondi cinicamente com outra pergunta.

– Olha NI, se eu não soubesse que você está caída pelo garoto de Ouro, eu diria que está com ciúmes.

– Eu? Com ciúmes de um caipira folgado como você? Ora, faça-me um favor e se toca! - ele apenas riu do que eu havia falado.

– Tudo bem ter se encantado pelo Markys primeiro, eu não me incomodo, mas uma hora você vai ver que gosta mesmo é do caipira aqui, afinal eu sou irresistível!

– O que? Você só pode ter "Fumado ópio"!

– Não é feio admitir as fraquezas, gatinha!

– Olha quer saber, fica ai com esse cavalo que eu vou embora! - disse firme.

Assim que virei as costas para ir embora, senti um puxão forte no braço, e quando dei por mim estávamos meio abraçados.

Foi por questão de segundos, mas percebi que ele me olhava como se eu fosse a presa e ele o caçador.

– Você é cheirosa! - ele disse bem próximo ao meu pescoço.

– Quer...quer fazer o favor de me soltar, seu ogro!

Ele gargalhou tanto quando olhou pra minha cara, que eu acabei indo embora dali. Não quis mais saber do cavalo, muito menos da companhia desagradável que era o Mike. Onde já se viu, me agarrar daquele jeito.

Não, definitivamente ele era um louco, e ainda por cima tarado.

Eu andava rapidamente pela estrada de terra, indo de volta ao centro da cidade quando dei de cara com a Carlla. Ela parecia estar distraída, e realmente estava. Tinha fones no ouvido e a música provavelmente estava alta. Ela só acabou me vendo depois que dei uma cutucada em seu ombro.

– Que susto! - ela disse ao virar-se. - E que cara é essa? Um bicho te picou?

– Antes tivesse sido um bicho. Você não vai acreditar no que aquele troglodita fez! - enquanto eu contava sobre o episódio traumático que tive no celeiro, Carlla somente ria de mim, mas não era uma simples risada, eram altas gargalhadas, como se eu tivesse contado uma piada muito engraçada.

Ela até tentou controlar o riso, mas sempre que me olhava, começava a rir novamente.

– Quer parar de rir da minha cara!

– Desculpe, mas é impossível.

Depois de finalmente parar de rir, Carlla propôs que saíssemos da cidade por uma noite. Segundo ela disse, precisava sair e distrair a mente, pois não aguentava mais ficar ali presa. Precisava ver gente nova. Confesso que concordava completamente com ela, mas tinha um pequeno detalhe. Eu estava totalmente sem grana, e não pediria dinheiro ao meu pai, além do mais, tinha acabado de começar no emprego novo.

Ela insistiu para que fôssemos pro Kansas City no fim de semana, que haveria uma festa ao ar livre em comemoração a alguma espécie de feriado local.

– Carlla eu já disse que não tenho dinheiro!

– E quem disse que eu perguntei se você tem dinheiro ou não? Vamos Muchacha, por favor, ajude uma pessoa desesperada.

– Ta, ta bom! Mas só nós duas né? - perguntei.

– Claro! - respondeu com um sorriso cínico no rosto. - a menos é claro que você queira que o Mike venha junto!

– Não, pelo amor de Deus! Deixa aquele troglodita quieto lá. - Carlla novamente começou a rir da minha cara. Eu realmente gostaria de saber o motivo pelo qual ela tanto ri.

Depois de nos despedirmos eu fui até a prefeitura para começar meu dia de trabalho.

Papai estranhou eu já estar ali tão cedo. É claro que eu inventei uma desculpa, afinal não ia dizer que o caipira folgado havia praticamente me agarrado.

Quem eu realmente não esperava ver ali era o Jason.

– Oi Haley. - ele disse simpático.

– Oi Jason.

Jason parecia conferir alguns recibos. Achei estranho, já que ele foi para Nova Iorque para estudar Medicina.

– Está achando estranho não é? - perguntou.

– No mínimo diferente.

– Bom, no tempo em que estive em Nova Iorque, eu precisei trabalhar, e acabei arrumando um emprego no setor contábil do hospital.

Agora até que fazia um pouco de sentido.

Preferi não puxar mais assunto com Jason, não queria mais problemas com a Audrey, não mais do que os que eu já tenho. Mas apesar disso, ele sempre arrumava um jeito de conversar, por mais breve que fosse o momento.

No final do expediente ele me convidou pra tomar um refrigerante, e por mais que eu quisesse negar, acabei aceitando.

Infelizmente só tínhamos a opção de ir ao Taylor's. E quando chegamos o lugar estava cheio. Tivemos que sentar nos bancos colados ao balcão, o que era ruim, já que eu teria o desprazer de olhar para o Mike.

Por sorte ele não estava lá, mas também não me importava.

Jason pediu dois refrigerantes e assim que o garçom saiu, ele puxou assunto.

– Sabe Haley, eu queria conversar com você...

– Estou ouvindo.

– É...sobre a Audrey. - sério que ele me chamou pra falar da minha irmã?

– O que tem ela? - perguntei em falsa curiosidade.

– Bom, não sei como dizer isso, mas eu não aguento mais essa situação. Eu estou interessado em outra pessoa, mas não sei como falar isso pra sua irmã.

– E o que eu tenho a ver com isso? - perguntei, talvez áspera demais.

– A pessoa em questão é você, Haley. - ele respondeu direto, olhando em volta, procurando ver se alguém prestava atenção na nossa conversa.

Okay, aquilo foi novo pra mim. Como assim ele estava interessado em mim? Até então eu tinha uma atração por ele, mas quando descobri que ele era o namorado da minha irmã, eu simplesmente exclui essa possibilidade da minha vida. Apesar de não suportar a Audrey, eu sei como é o fim de um relacionamento.

Tentei desconversar, mas Jason insistia. Pedia que eu o ajudasse a sair daquela situação.

– Haley eu não posso ficar mal com o seu pai.

– E por isso eu sou sua válvula de escape? Negativo Jason, desculpe, mas você precisa resolver seus problemas sozinho.

– Eu te entendo, de verdade. Só queria que soubesse o que tô sentindo.

– Talvez seja pelo fato de sermos muito parecidas.

– Não, não é. Vocês podem ser parecidas fisicamente, mas são completamente diferentes no resto, e é por isso que me encantei. - eu daria tudo pra ouvir essas palavras se não soubesse que havia muito em jogo.

Jason seria a escolha perfeita para a minha vida se não fosse esse pequeno, porém importante detalhe.

Mais uma vez desconversei. Não queria mais ouvir "declarações" de alguém que eu sabia que não seria meu.

Foi do lado de fora que aconteceu. Eu tinha acabado de me despedir dele, já estava saindo pela porta, caminhando para casa quando Jason me alcançou, e me beijou.