O Aniversário de Audrey e Johnny

Alguns dias se passaram desde que Carlla nos reuniu no Taylor's. Mike estava inquieto com as investidas de Jason e por muito pouco não havia perdido a cabeça. Estava se tornando uma situação realmente constrangedora.

Houve uma grande festa no aniversário de dezesseis anos de Audrey e Johnny. Pessoas que até então eu nunca havia visto estavam ali. Até mesmo familiares que eu sequer sabia que tinha apareceram. Conheci Sandra e Richard, ela a irmã mais velha do meu pai, e ele seu filho caçula que aparentava ter a minha idade, mas era ainda mais velho, tendo vinte e um anos.

Sandra não acreditou quando me viu. Segundo ela, a última vez em que esteve comigo eu tinha no máximo quatro anos, e então ela acabou indo morar em Vancouver no Canadá.

– Você se tornou uma linda mulher. - Ela disse bondosamente. - Seu pai me contou sobre o ocorrido com sua mãe. Sinto muitíssimo, eu gostava muito dela.

– Obrigada. - Forcei um sorriso, mas minha vontade não era falar sobre aquilo.

Tentando cortar o clima ruim que havia ficado depois disso, Sandra resolveu desenterrar o passado dizendo que Richard quando pequeno falava de mim a todo momento. As poucas vezes em que estivemos juntos (que por sinal eu não lembro) foi o suficiente para que ele falasse por pelo menos um ano inteiro.

– Era até engraçado, ele dizia que ia casar com a priminha que tinha conhecido.

– Mãe, por favor! - Protestou ele contra a mãe.

– Ora Richie, ainda tem graça.

– Não, não tem. Desculpe Haley. - Ele disse, agora direcionado a mim. Dei de ombros como se não me importasse, e realmente não ligava, desde que o assunto não fosse a minha mãe, contudo, quando meus olhos vagaram pelo jardim Mike estava com cara de poucos amigos.

Pedi licença aos dois e fui até lá. Ele tinha uma garrafa de cerveja em uma das mãos e a outra estava no bolso da calça surrada. Acho que era a primeira vez que o via sem a camisa xadrez. No lugar dela havia uma pólo azul marinho e uma jaqueta de couro.

– Roupa legal. - Disse tentando puxar assunto.

– Às vezes é preciso mudar um pouco.

– Posso saber o motivo do bico?

– Nada não.

– Ah claro, e unicórnios existem também. - Ele me olhou como se quisesse dar uma resposta bem malcriada, contudo, não o fez, apenas bebeu mais um gole da cerveja.

Eu o conhecia há pouco tempo, porém já sabia decifrar seus gestos, e sempre que dava uma grande golada de qualquer coisa que estivesse bebendo era porque não queria ser o troglodita de sempre. Era o seu jeito de evitar discussões.

– Já disse que não é nada, pelo menos não com você. - Olhei em volta e então percebi o motivo de sua inquietação.

Com os portões abertos qualquer um poderia entrar, e foi exatamente o que aconteceu. A tal Nathalie passava pela porta da frente naquele exato momento. Ela sorriu de um jeito lascivo ao notar a presença de Mike, e não pareceu se importar que eu também estivesse ali.

Estava muito bem arrumada, com um vestido provocante e no rosto uma maquiagem que destacava seu olhar oriental. Nos lábios um batom vermelho escarlate que em contraste a pele alva dava a impressão de ser uma boneca de porcelana.

Ao contrário do que pensei, Nathalie não veio na nossa direção, mas sim na direção da mesa de bebidas, e eu aproveitei e fui a procura de Audrey. Ela estava conversando com alguém que eu não conhecia e não me deu atenção até que eu dissesse que precisava falar com ela e que era importante.

– O que foi? - Perguntou seca.

– Eu é que pergunto. Uma hora diz que eu preciso tomar cuidado com a tal garota, no outro ela está na sua festa de aniversário?

– Nathalie está aqui? - Audrey ficou tão surpresa quanto. - Eu não a convidei.

– Bom ela está aqui.

– Então não posso fazer nada. O aniversário é meu e do Johnny, mas como pode perceber a maioria dos convidados são do papai. Ele nunca colocaria alguém pra fora.

– Será que eu estou bêbado e tendo miragens, ou as minhas duas irmãs estão em uma conversa civilizada? - Johnny perguntou ao chegar onde estávamos. Aquela foi a brecha perfeita para Audrey sair de perto de mim e ir para qualquer outro lugar.

– Não somos dois bichos, quer dizer, eu tenho certeza que não sou, já ela... - Ele sorriu com seu jeito de menino, me abraçou e disse ficar feliz por ver nós duas sem brigar pelo menos uma vez.

Carlla também apareceu na festa, contudo, dessa vez estava acompanhada de Lucca que provavelmente havia acabado de chegar da Califórnia. Pelo sorriso estampado na face de ambas, elas haviam se acertado.

– Hey muchacha! - Ela disse divertidamente.

– E ai garotas! Lucca, quanto tempo não nos vemos.

– Pois é. Andei resolvendo uns assuntos aí, mas acho que agora vai me ver com muito mais frequência. Estou oficialmente me mudando pra Ellsworth.

– Uau! É muita coragem largar tudo e vir para um lugar como esse.

– Você fez isso. - Ela disse com uma das sobrancelhas arqueadas.

– Sim, mas meu caso foi totalmente diferente. Vim por necessidade e não por vontade. Por mim continuaria morando em Nova Iorque.

Não percebi quando Jason apareceu perto de onde estávamos. Na verdade ele estava bem mais próximo do que eu imaginava e sussurrou no meu ouvido, perguntando se poderíamos falar a sós. Respondi que não havia necessidade de ir a lugar algum em sua companhia e que ele poderia dizer ali mesmo, o que foi um erro. Jason me agarrou na frente de todos e me beijou. Tentei impedir, tentei empurrá-lo, mas ele era muito maior e muito mais forte que eu.

Só senti a pressão de seus braços afrouxarem quando Mike chegou jogando-o longe.

– Ficou maluco Matson? - Jason perguntou aos gritos enquanto levantava do chão.

A música cessou e todos olharam em nossa direção espantados. Dennys foi o primeiro a aparecer para apartar uma possível briga entre os dois.

– Escuta aqui Garoto de Ouro, que direitos você acha que tem para sair agarrando as mulheres a sua volta? - Mike rebateu no mesmo tom. As veias de seu pescoço pulavam e a cada segundo seu rosto ficava mais vermelho.

– E você acha que tem algum? Você não se enxerga, não é Mike? Acha que é o garanhão dessa cidade, que qualquer uma que saia com você vai se jogar aos seus pés, mas vou te dizer uma coisa, você não passa de mais um idiota que foi usado e quando não teve mais serventia foi descartado. Aceite que nenhuma mulher nunca vai te levar a sério. Você é um nada.

Mike deu um soco em cheio no queixo de Jason, que revidou com outro na barriga de Mike. Uma roda acabou se formando em volta de nós. Eu pedia que os dois parassem, mas eles pareciam não me ouvir. Outros socos e chutes foram trocados até que Dennys e Johnny conseguissem segurar Mike e Jason.

– Para com isso cara! - Dennys disse travando os braços de Mike.

– Me solta! - Jason gritou com Johnny. - Eu vou quebrar a tua cara, Matson!

– Vem, quero ver se é resistente o suficiente! - Mike rebateu furioso.

Meu pai apareceu no exato momento em que os dois trocavam farpas.

– O que está acontecendo aqui? - Ele perguntou preocupado, olhando de um para o outro.

– Pergunta pra esse imbecil que agarra mulheres contra a vontade.

– Do que você está falando, Mike?

– Pai o que aconteceu foi que o Jason me agarrou e me beijou a força. O Mike só veio me defender. - Disse tentando amenizar um pouco a situação.

Papai pareceu pensar em uma solução, e antes que ele optasse por expulsar os dois da festa, eu me ofereci para levar Mike pra longe de toda aquela gente.

– Vem Mike, vamos limpar essa cara. - Seus olhos encontraram os meus e ele pareceu entender que eu queria mesmo era dar um fim em tudo aquilo.

Mesmo receoso Dennys o soltou e ele me acompanhou. Fomos até a cozinha e agradeci por Anna não estar lá. Mike estava com uma mancha vermelha no queixo, provavelmente por um soco e a parte inferior dos lábios estava cortada.

Fiz ele tirar a jaqueta que estava toda suja de terra e grama e peguei um guardanapo para limpar o pouco de sangue que escorria do corte. Institivamente ele fechou os olhos e deixou que eu o limpasse.

– Não pode sair por ai espancando todo mundo. - Eu disse depois de uns minutos. Ele me olhou como se não acreditasse no que ouvia.

É sério isso? Queria que eu aplaudisse o que ele fez? Eu devia ter quebrado a cara dele!

– Não estou dizendo que o que o Jason fez está certo, mas não pode perder a cabeça desse jeito. Olha só o seu estado.

Mike emburrou a cara até que eu terminasse, depois colocou a jaqueta e voltou para a festa. Ele e Jason trocavam olhares desafiadores e mesmo que não houvesse mais necessidade, Dennys permaneceu por perto junto com Isa, Carlla e Lucca.

Já no final da festa, quando os convidados já começavam a ir embora, Johnny me chamou em um canto e perguntou diretamente o que estava rolando entre nós.

– Hay não sou bobo. Já tinha sacado há tempos que os dois sentiam algo um pelo outro, mas depois de hoje eu tive a certeza. Não vejo motivos para esconderem isso das pessoas.

Johnny tinha razão, realmente não havia motivos. Contei a verdade ao meu irmão e decidi dar fim as dúvidas das pessoas. Assim que voltei, puxei Mike pela camisa e o beijei. Um sorriso brotou em seu rosto quando me afastei.

– Adorei essa festa! - Ele disse divertidamente colocando um dos braços por cima do meu ombro. - Mas acho melhor irmos embora.