POV Mike

Depois que Carlla foi embora, nós continuamos ali, parados, sem nada dizer. O constrangimento era tanto que nenhum dos dois tinha coragem de olhar para o lado.

– Ela realmente estava bêbada? - Perguntei por fim, quebrando o silêncio ensurdecedor que pairava sobre nós.

– Sinceramente? - Ela perguntou com as duas sobrancelhas elevadas. - Acho que não, mas acredito que ela nunca confessaria isso.

Um suspiro profundo, foi tudo o que consegui fazer, deixando os ombros arriarem exaustos.

– Olha só NI, não se deixe levar pelas loucuras que a Carlla diz, bêbada ou não.

– Você tem razão. - Ela disse por fim, engolindo em seco. - Bom, eu vou embora. Estou cansada e com sono, e o dia hoje foi bem puxado.

– Tudo bem, eu vou ficar mais um pouco. - Respondi olhando bem dentro de seus olhos.

– Claro, até porque tem alguém que deve estar a sua procura, não é mesmo? - Percebi que havia uma certa mágoa em seu tom de voz, o que não era muito comum vindo dela.

– Não é nada do que esteja pensando. - Tentei dizer, mas ela balançou a cabeça em negativa não me dando a oportunidade de continuar.

– Não precisa me explicar nada, afinal somos apenas amigos.

Haley não quis ouvir mais nada que eu pudesse querer dizer, ela simplesmente fez como sempre fazia quando não queria continuar uma briga, ela fugiu. Não fui atrás dela, até porque seria inútil, ela não ia me ouvir, nem acreditar em nada que dissesse, e mais uma vez acabaríamos brigando feito duas crianças birrentas como sempre fazíamos.

Ia levantando do banco da praça quando Johnny ia chegando. Ele estava sozinho, e pediu que eu esperasse. Estranhei porque eram poucas as vezes em que conversávamos, mas aguardei que ele viesse até mim.

– E ai Mike! - Ele disse, estendendo a mão.

– Jovem Sullivan, como vai? - Perguntei correspondendo o aperto.

– Queria mesmo falar com você. - Ele começou, e continuou logo em seguida, antes mesmo que eu pudesse responder. - Sabe, eu serei bem direto. O que tá rolando entre você e a minha irmã?

– Como é?

– Eu perguntei o que tá rolando entre você e a minha irmã, e não venha me dizer que não é nada, porque eu já estou sabendo de toda a história, mas quero saber de você. Conheço sua fama, e sei como as garotas ficam depois que você passa pelo caminho delas, e não quero isso pra Haley.

– Johnny em primeiro lugar, nunca forcei ninguém a fazer nada. Todas as mulheres que se envolveram comigo sabiam que eu não queria um relacionamento, sempre fui honesto, e se continuaram foi porque quiseram. Em segundo lugar, eu não devo satisfações da minha vida a você. E em terceiro e não menos importante, o que acontece entre a NI e eu é problema nosso e não te diz respeito.

– Eu só estou pensando no bem da minha irmã! - Ralhou ele.

– Sei disso, mas sinceramente não tenho motivos para me abrir com você a respeito desse assunto.

– Mike, por favor, sejamos adultos, ela gosta de você...

– Gosta? - Talvez eu tenha ficado animado demais na hora em que perguntei, mas já era tarde, e ele já havia percebido a minha reação, tentei disfarçar, mas foi em vão.

– Pelo que estou vendo, não é só a minha irmã que está mais envolvida do que queria.

– Com licença jovem Sullivan, tenho um assunto a resolver.

Levantei do banco em que estava sentado e praticamente corri em direção a estrada que dava a casa do prefeito. Não sei o que havia dado em mim, mas precisava colocar todas essas coisas em seu devido lugar. Iria atrás dela, e a faria me dizer se realmente era verdade o que Johnny havia dito na praça.

Por um total e completo azar, na hora em que passei novamente pelo Taylor's, Isa me viu e veio atrás de mim dizendo que precisava falar urgentemente comigo. Tentei explicar que estava com pressa para resolver um assunto importante, mas ela não me deu ouvidos, apenas continuou a tagarelar. Sinceramente não prestei atenção em absolutamente nada que ela estava dizendo, estava distraído demais procurando a NI pela estrada.

– Então o que você acha? - Ela perguntou sorridente.

– Aham, claro. - Respondi apenas.

– Mike! - Ralhou ela, e somente então minha atenção na estrada dispersou. - Você não prestou atenção em uma palavra sequer do que eu disse.

– Desculpe, estava distraído.

– Deixa pra lá. - Ela disse irritada, deixando o caminho livre.

Corri até a prefeitura e peguei a caminhonete emprestada. Dirigi devagar pela estrada principal, prestando atenção se a via durante o caminho, mas não a encontrei. Fui até sua casa, bati inúmeras vezes, mesmo vendo que todas as luzes estavam apagadas, mas nada, ela não estava lá. Pensei em ir à casa do Prefeito na intenção de encontrá-la lá, mas tinha praticamente certeza de que não estaria ali, fui até a casa de Carlla, mas ela já estava dormindo. Derrotado e sem nenhuma pista de onde ela poderia estar eu desisti de procurar.

Acabei indo parar no meu lugar preferido, o celeiro. Lá eu poderia parar pra pensar em tudo o que estava acontecendo na minha vida, e além do mais, estava com uma imensa saudade do Pegasus, mas assim que passei pelo portão de entrada o pneu da caminhonete furou, e eu precisei estacionar. Para completar minha situação, estava começando a chover forte. Corri para dentro do celeiro já completamente molhado quando dei de cara com ela. Sim, ela estava ali, distraída brincando com Kirk, e só me viu porque esbarrei em um balde de ferro que fez um barulho alto.

– O que faz aqui? - Perguntou surpresa.

– Eu que pergunto. Um lugar como esse seria o último que uma garota da cidade procuraria. - Respondi maroto. Ela balançou a cabeça de leve, e continuou a acariciar o pêlo do cachorro.

– Quando eu era pequena, sonhava em morar em um lugar assim, exatamente como Ellsworth, e ter uma família completa como nunca tive antes, mas ai eu fui crescendo e fui tomando responsabilidades, e então acabei deixando esse sonho de lado.

– É um sonho bonito, e você ainda pode realizá-lo.

Um sorriso singelo foi o que brotou em seus lábios, o que foi o suficiente para fazer meu peito doer, mas de um jeito bom.

– Quem sabe. - Ela deu de ombros. Tentei me aproximar um pouco, sentando ao seu lado. Kirk ficou eufórico e começou a querer brincar. - Você leva jeito com ele.

– Já te disse uma vez, e vou repetir, sou irresistível.

– E convencido também.

– NI não se esqueça que é apenas uma constatação de fatos. - Ela revirou os olhos, porém mais uma vez sorriu, e agora era um sorriso divertido como se estivesse a vontade na minha presença.

– Também precisava pensar na vida? - Perguntou curiosa.

– Na verdade não, estava a sua procura, mas como não tinha achado em lugar nenhum, eu desisti e vim parar aqui.

– A minha procura? - Tornou a perguntar curiosa.

Afirmei e lhe expliquei o que havia acontecido na praça com Johnny. Ela parecia envergonhada por seu irmão ter me contado sobre a conversa de ambos, mas antes que pudesse dizer alguma coisa eu tomei a frente e continuei a falar.

– Sabe NI, assim como eu disse ao seu irmão, todas as pessoas que se envolveram comigo sabiam como eu era e sabiam que eu não queria compromisso, se envolveram por livre e espontânea vontade, porém com você é diferente, eu não sei explicar como, mas eu sinto que tem alguma coisa a mais, mas acabo me recusando a aceitar.

– Eu realmente não estou entendendo onde quer chegar. - Ela disse confusa.

Respirei fundo e quando ia continuar a falar, um raio caiu em um lugar muito próximo, fazendo um gigantesco barulho. O celeiro e tudo o que havia em volta ficou no mais absoluto breu. Pegasus e os outros cavalos relincharam, Kirk correu para se esconder, e Haley levou um susto tão grande que acabou pulando no meu pescoço. Estávamos realmente muito próximos um do outro, e podia sentir sua respiração ofegante no meu ouvido. Foi realmente muito difícil lutar contra a vontade que eu estava, então cedi a minha própria resistência, olhei bem dentro de seus olhos e a beijei.