Elementary, my loved Joan

Capítulo 5 - Não é preciso esperar mais


Capítulo 5 – Não é preciso esperar mais

Joan estava sentada na cama olhando para o lado de fora da janela do hospital, vestindo suas próprias roupas agora. Era manhã do seu quinto dia ali, seu ferimento ainda não estava fechado e ainda doía, mas o risco maior de infecção ou sangramento já havia passado e poderia tratá-lo por si mesma e em casa a partir de agora. Deveria receber alta em algumas horas no máximo. Sherlock havia saído com o pretexto de cuidar de um assunto muito importante e um tanto complicado. Kitty adentrou o quarto.

– Bom dia – ela falou com um sorriso – Está se sentindo bem?

– Sim, muito melhor. É um alívio poder sair daqui. Agora entendo como Sherlock se sente quando está entediado.

– Tédio? – A garota riu – Quando fica sem ter o que fazer ele praticamente delira.

– Tem razão.

– Desculpe não ter vindo aqui todos os dias, estive cuidando de casos por mim mesma. E Clyde está bem.

– Tudo bem.

– Ele me contou.

Joan a olhou interrogativamente.

– Ficarei feliz em tê-la por perto. Seja bem vinda de volta, Watson.

A consultora sorriu em resposta.

– Eu ocupo o quarto que pertencia a você... – Kitty falou sem saber exatamente o que dizer a respeito.

– Não se preocupe com isso agora, de qualquer forma ainda tenho que mover minhas coisas que estão no apartamento. Temos tempo pra resolver isso. E não quero causar nenhuma mudança drástica pra você, Kitty. O quarto de hóspedes tem apenas um título, é tão bom como os outros, ficarei com ele sem problemas.

– Obrigada, Watson – agradeceu um pouco sem jeito – Acha que dessa vez vai dar certo? Ele sempre vai ser do jeito que é.

– Excêntrico, com ideias repentinas e geniais, experimentos malucos... – ela emitiu um risinho – Sim, vai. Ainda não há como saber disso. Mas ele me prometeu se esforçar por algumas mudanças no dia que invadiu meu apartamento. E nesses últimos dias... Eu percebi que ele mudou muito mais do que eu pensava. Ficando aqui... Sendo muito mais gentil do que de costume, e há dois dias está me chamando de Joan.

Kitty foi pega de surpresa.

– Aconteceu alguma coisa? Tudo bem se não puder me contar.

– Ele estava preocupado. Tem medo que isso possa acontecer de novo. Nós conversamos, ele ficou mais calmo e desde então...

– Ele gosta muito de você. Mesmo quando não tem intenção deixa isso evidente. Está sempre me contando do quanto ele conseguiu chegar mais longe depois que você entrou na vida dele.

Joan sorriu levemente com a revelação, embora Sherlock sempre dissesse isso para ela mesma.

– Algum problema se eu também te chamar assim? – Perguntou após uma pausa.

– Não. Está tudo bem, Kitty.

Ouviram a porta se abrindo e Sherlock adentrou o quarto de repente, parecendo estranhamente feliz e perturbado ao mesmo tempo.

– Obrigado por me substituir, Kitty.

– De nada. Vou deixar vocês agora, tenho que resolver algumas coisas. Se eu não voltar logo estarei esperando vocês em casa. Até mais tarde – ela falou se retirando e fechando a porta.

A garota foi embora e Joan observou Sherlock por dois longos minutos. O detetive parecia travar um complicado conflito com os próprios pensamentos. De braços cruzados e se balançando nos calcanhares, típico de quando estava muito nervoso. Olhou-a por um instante como que tentando decidir uma boa maneira de lhe dizer alguma coisa. Joan preferiu não interrompê-lo. Ficou confusa quando Sherlock caminhou até a porta e a trancou.

– Por que isso? Se uma das enfermeiras ou médicos precisar entrar aqui?

– Travei uma batalha comigo mesmo nos últimos dias e devo dizer que mal dormi na noite passada. Revi lembranças que eu adoraria esquecer e passei um tempo discutível pensando sobre o significado de algumas coisas e a importância delas. Não desejo que me interrompam.

– Tudo bem – ela deu de ombros – O que quer conversar? Está tendo aqueles problemas de novo? Acho que não devia ter faltado às reuniões pra ficar aqui todo esse tempo.

– Eu estou bem, e as reuniões não me fizeram falta. Ficar aqui vigiando você foi muito mais interessante.

Ela continuou apenas escutando, achando curioso o modo de Sherlock dizer que preferia cuidar dela do que ir às reuniões, e sentiu-se encher de felicidade diante daquilo.

– Não pude deixar de perceber quando eu estava saindo que falavam sobre onde você vai dormir.

– E o que tem isso com o que andou te incomodando tanto?

– Quero começar repetindo que você me mudou muito. Isso aqui – ele apontou para a própria cabeça – Mudou muito depois que você chegou. Não teria chegado tão longe sem você, nem me arriscado novamente a certas coisas se não fosse a sua influência.

– Eu sempre fico feliz em saber disso.

– Acho que me sinto seguro pra dar um outro passo onde achei que nunca mais daria. Na verdade... Talvez eu nunca tenha estado realmente onde estou pisando agora – ele falou num tom de voz sério e ao mesmo tempo gentil como ela nunca ouvira antes, parecia misturar receio e ansiedade – Não precisa mais se preocupar com seu quarto, Joan.

– Âh?! O que tem a ver tudo isso? – Ela perguntou, agora realmente confusa com a linha de pensamento dele.

Sherlock tomou sua mão direita entre as dele por um momento, a assustando a princípio, e quando a soltou Joan arregalou os olhos ao ver em seu dedo anelar um anel de ouro branco com uma delicada pedrinha brilhante. Ela inspirou fundo enquanto tentava absorver a situação, sentindo o coração bater tão intensamente que a impedia de emitir um único som.

– Eu pensei que jamais fosse dizer isso a alguém outra vez... Mas eu amo muito você.

Joan não sabia como reagir, olhou para o lado, vendo a caixinha de veludo azul escuro do anel sobre a cama. Depois encarou Sherlock, que se mostrava louco de ansiedade por uma reação.

– E antes que questione... Isso não foi de forma alguma por você quase ter morrido. Sabe que minha mente não funciona assim. Esse mundo é cheio de coisas óbvias que ninguém jamais observa. E só percebi o quão óbvio era tudo o que você causava no meu interior até hoje depois que senti que podia nunca mais sentir aquilo outra vez. E pensei... Que não é mais necessário esperar por nada.

Se olharam por segundos que pareceram séculos para Sherlock. Os olhos cinza azulados suplicavam por uma resposta.

– Se isso foi uma brincadeira eu vou bater muito em você – disse quase num sussurro.

Ele não respondeu, apenas continuou olhando-a, e segurou suas duas mãos, achando curioso como as mãos da chinesa pareciam pequenas nas dele. Ela sorriu.

– Eu também... Amo muito você.

O aperto entre os dois pares de mãos se intensificou quando fecharam os olhos e com todo o cuidado se beijaram.