Elementary, my loved Joan

Capítulo 12 – Holmes sweet Holmes, my dear Watson


Capítulo 12 – Holmes sweet Holmes, my dear Watson

– Bem vinda de volta – Kitty falou ao ver o casal entrando no sobrado, havia falado com Joan pelo telefone mais cedo e ansiava por vê-la bem.

Joan surpreendeu-se quando a garota caminhou até ela e a abraçou apertado sem nada dizer. Ficou muito feliz e a retribuiu igualmente. Kitty estivera tão preocupada e assustada por Joan quanto Sherlock, apesar de nem sempre aparentar.

– Espero não ter machucado você – ela falou olhando na direção do ferimento.

– Não o fez – Joan a tranquilizou com um sorriso – Isso logo vai sumir. Com o cuidado certo não vai ficar nem cicatriz.

Sherlock adentrou em seguida carregando algumas coisas que haviam trazido do apartamento de Joan. O restante viria nos dias seguintes. Ele subiu as escadas e sumiu para algum lugar.

– Quer ajuda? – Joan perguntou olhando para cima.

– De jeito nenhum! – Ele gritou de longe – Está proibida de carregar qualquer coisa que pese mais do que Clyde enquanto não se recuperar. Se eu precisar de ajuda chamarei Kitty.

– Onde está Clyde?! – Ela perguntou deixando Sherlock de lado.

– Está no santuário dele.

Kitty a guiou até o aquário onde Clyde sempre costumava ficar, desde antes de Joan deixar o sobrado. A chinesa abriu um belo sorriso ao vê-lo, sentira falta do pequeno réptil. Tirou-o com cuidado de dentro do aquário e brincou com ele por alguns instantes. O animalzinho agitou-se e mexeu as patinhas em sinal de reconhecimento e alegria.

– Joan – Sherlock reapareceu no fim dos degraus – Gostaria de conhecer seu novo quarto?

– Vamos.

Joan devolveu Clyde para sua casinha e seguiu Sherlock para subir as escadas, quando novamente ele fez um ato imprevisível para ela, erguendo-a no colo e começando a subir.

– Seu repouso para recuperação rápida e total inclui não subir ou descer escadas, a não ser em casos de extrema emergência – o detetive falou enquanto se encaminhava ao andar de cima.

Kitty apenas observou, também um tanto surpresa, pensando com o que mais teria que se acostumar a partir de agora, mas sorriu com a cena. Lhe deixava feliz ver que estavam se acertando. Estavam sempre negando o que existia entre eles e guerreando com palavras e teorias ou brigando, fosse por crises de ciúmes ou medo de se aproximarem. Sabia que os dois ainda tinham bastante a conversar, portanto não se atreveria a ir ao andar de cima por no mínimo bons minutos.

******

Sherlock a colocou no chão com cuidado. Estavam à frente de uma porta na qual Joan jamais havia entrado, era o quarto do consultor. Ele a abriu e ela pode ver, ao contrário do que esperava, um local muito bem organizado, iluminado e arejado. Paredes num tom de marrom claro, janelas como no seu antigo quarto, um guarda-roupa num canto, uma cama de casal, uma cômoda ao lado com alguns livros em cima, e uma pequena mesa de madeira acompanhada de duas cadeiras, onde estavam as coisas que haviam trazido do apartamento de Joan. A oriental esperava encontrar o quarto afundado em painéis de crimes, papéis e objetos espalhados e todo tipo de outras bagunças de Sherlock. E o que mais temia, experimentos malucos e armadilhas escondidas.

– Você arrumou esse lugar pra me mostrar como ele ficaria assim ou é sempre desse jeito?

– Apesar da bagunça que fazemos quando estamos trabalhando lá embaixo costumo manter meus aposentos organizados. Confesso que às vezes fica bem parecido com o que você vê quando estamos trabalhando, mas... Por você, eu vou fazer o possível pra isso não acontecer aqui. Entre. Não há nenhuma armadilha ou experimento camuflado, eu garanto.

Joan entrou e viu Sherlock fechar a porta e sentar-se na cama, convidando-a para sentar ao seu lado. Ela assim o fez e levaram algum tempo para tornarem a conversar.

– Percebo que ainda há algumas barreiras entre nós – ele dissse - Eu sei sobre o que você pensa, Joan, e apesar de compreender suas preocupações, não pretendo deixar que meus problemas passados interfiram entre nós, embora ainda seja e sempre será bem vinda para me ajudar se for necessário.

– Eu ajudaria mesmo que você não quisesse.

– Moriarty... – ele disse.

Ela congelou por dentro ao ouvir aquele nome.

– Quero que saiba que não vou permitir que esse nome nos atrapalhe, por mais dor que tenha me causado. E depois de você aparecer, eu acabei descobrindo, depois desses anos juntos, que eu não entendia nada do que acontecia quando eu vivia com Irene. Mas você... É totalmente transparente, deixa muito clara sua preocupação comigo, está aqui mesmo quando a deixo constrangida ou zangada. Sabemos coisas um do outro que jamais pensei poderem ser compartilhadas entre duas pessoas de gêneros opostos. Eu me apaixonei por Irene, mas você... Eu quero cuidar de você, te proteger de qualquer desconforto ou coisas como as que aconteceram nos últimos dias. Sou capaz até de segurar meus instintos mais primitivos – ele finalizou sem cerimônia alguma.

Joan corou e desviou o olhar, ficando desconcertada por um instante, embora muito feliz pelas outras palavras.

– Vejo que te deixei constrangida, muito mais do que quando falo...

– Não precisa completar a frase! – Ela advertiu ao lembrar-se de conversas passadas.

– Tudo bem... Eu não costumo deixar meus pontos vulneráveis expostos a ninguém. Só você, e algumas vezes Kitty também, sabem sobre eles. Então posso te dizer que também estou assustado.

Joan o encarou novamente, ele havia chegado ao ponto da questão como ela vinha esperando.

– Nós vamos devagar com tudo isso. Será melhor pra você, e pra mim também. Eu sei o que está pensando. E se algum dia não der mais certo? E nossa parceria? Eu não acho que isso vá acontecer. Pra mim você é um quebra-cabeças constante. Por mais que eu te conheça bem, você sempre me mostra algo mais surpreendente. Nossa relação é a melhor coisa que já tive em tantos anos porque eu sei que não preciso temer ou me esconder. Sei que você sempre estará aqui, mesmo quando eu estiver confuso suficiente pra não notar. Em todos os sentidos, Joan, eu sou melhor com você.

Ela sorriu e segurou a mão dele.

– Você já disse tudo... Quando perdi Andrew eu disse que não sabia o que procurava, por isso não podia continuar com ele. Eu já tinha achado, mas não tinha percebido. Porque apesar de você ser tão complicado, tão cheio de birras, ideias malucas, criancices...

Sherlock fez uma careta enquanto ouvia todos aqueles “elogios” e Joan se controlou para não perder a seriedade e rir.

– Parecia estranho demais e bom demais pra ser verdade. E eu estava com medo de que me aproximar demais pudesse acabar com tudo aquilo. Eu não queria perder nada daqueles momentos. Mas agora eu sei que estou segura aqui.

O detetive a encarou por um instante e inclinou-se para beijá-la, lenta e profundamente, até que lhes faltasse ar. Mergulharam num silêncio profundo, não havia mais nada a ser dito. Sherlock a abraçou, com o cuidado de não forçar seu ferimento, ainda não totalmente recuperado, e beijou os cabelos negros da chinesa, que fechou os olhos e o abraçou de volta confortando-se ali. Minutos mais tarde os dois estavam arrumando o que haviam trazido do apartamento e conversando algumas coisas.

– Kitty vai ter que se acostumar a esperar pra falar com a gente quando encontrar os bilhetes de “não incomode” na nossa porta.

– Sherlock!! – Joan exclamou de olhos arregalados, deduzindo muito bem o que ele queria dizer com “não incomode”.

– Vejo que tratar disso ainda te assusta, embora não ficasse zangada quando era com outra pessoa.

– Começo a pensar que me irritar é um dos seus hobbys.

– De forma alguma, apenas não vejo necessidade em tanto receio pra tratar desses assuntos em alguns casos.

Ela ignorou e continuou guardando suas coisas.

– Você ficou balançada quando falava de filhos com a senhora Ryder. Vi que ficou muito feliz com a interação com a garotinha. Gostaria de ser mãe?

– Sim – ela respondeu após alguns segundos, com um sorriso, e um tanto ansiosa por uma resposta.

– Embora não me imagine sendo pai, acho que Clyde e Kitty gostariam de alguns irmãozinhos no futuro. Mas preciso de tempo pra desenvolver essa ideia.

Joan abriu um dos sorrisos mais lindos que Sherlock já vira em seu rosto, e ele sorriu também. Após conversarem por mais algum tempo e acabarem de guardar tudo, Joan estava dormindo calmamente. Sherlock a observou por um momento pensando em como se sentiria por juntar-se a ela para dormir pela primeira vez. Tirou os sapatos e deitou-se ao seu lado com todo o cuidado para não despertá-la. Puxou o lençol sobre eles e a abraçou. Mesmo dormindo ela pareceu relaxar com o contato. Sherlock beijou sua testa e após longos minutos a observando acabou por adormecer também.

******

– Eu fico feliz por estar tudo bem entre vocês – Kitty falou baixinho para Joan quando as duas arrumavam a cozinha depois do café.

– Eu também – ela sorriu.

Semanas haviam se passado e Joan estava completamente recuperada. Sua vida aos poucos voltara ao normal no trabalho e Sherlock estava de fato se esforçando por tudo que havia prometido no dia em que invadiu seu apartamento, o qual ela nem utilizava mais.

– Joan! Kitty!

As duas seguiram para a sala, onde Sherlock estava sentado no chão junto com um monte de almofadas. Clyde estava em cima de uma pequena almofada, que parecia ter sido feita para ele. Sherlock mexia nos controles da TV e do DVD. Joan e Kitty sentaram-se junto a ele no chão. Em poucos minutos descobriram do que se tratava e caíram numa grande gargalhada.

– Eu não acredito que você estava falando sério! – Kitty disse.

– Vamos mesmo assistir Frozen? – Joan perguntou ainda rindo.

– Sim! Eu sei que vocês vão gostar. E quero alguém pra me acompanhar quando aquela música congelante e grudenta não sair da minha cabeça.

Elas riram novamente e enquanto assistiam à introdução da história só podiam pensar no quanto estavam felizes. Nenhuma das duas havia esperado algum dia ver as coisas daquele jeito. Apesar de estar longe de sua família verdadeira, Kitty se sentia acolhida em uma outra, a qual amava imensamente. Joan vinha vivendo sem muitos dos dilemas que antes a incomodavam, e da melhor forma que podia imaginar. As duas mulheres ficaram impressionadas em como uma história infantil conseguiu manter Sherlock quieto e entretido por tanto tempo, e até mesmo Clyde parecia hipnotizado com a TV. Como o consultor previra, as duas haviam se encantado com a animação.

– É mesmo muito fofo – Kitty comentou.

– É sim. E a música grudenta que você falou... Está numa cena muito bonita – Joan falou a Sherlock.

– Como podem ver... Apesar de se tratar de uma animação infantil, as questões envolvidas vão muito além do que crianças poderiam lidar. Não é tão simples assim.

– Você está analisando assim até um filme pra crianças? – Kitty ergueu uma sobrancelha.

Sherlock não chegou a responder, pois o telefone tocou e ele atendeu prontamente à chamada de Gregson.

– Joan! Kitty! Nós temos um caso.

Sherlock levantou-se e correu para apanhar algumas coisas. Joan guardou Clyde e Kitty seguiu o casal quando logo deixaram o sobrado para mais uma investigação.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.