Elementar

Carne apodrecida


Gina

A Serpente cuspiu fogo na direção dos quatro. Gina já estava sentada em um dos assentos da coruja quando as chamas acertaram uma das asas do animal. No chão, a garota viu Sam puxar Carl para o lado no momento do ataque, salvando-o.

— Subam logo! — A garota segurou nas penas enormes do pássaro, que agora recuava para trás das rochas, assustada, gemendo de dor. — Vai ficar tudo bem.

Ela pulou das costas da coruja e atravessou a clareira depressa, esquivando-se de labaredas de chamas negras lançadas pela Serpente. Juntou-se aos outros, notando que os ataques deles não faziam efeito algum. Ela precisava mudar aquilo.

Ergueu as mãos e buscou algo relacionado à água que pudesse ajudá-la. No momento que a Serpente deslizava para ataca-los, uma rachadura enorme dividiu o campo e expeliu um jato d’água violento para todos os lados. Ela sentiu o poder se libertando, inundando seu ser.

A corrente de água acertou o rosto da Serpente, fazendo-a cambalear. Ela soltou mais rajadas de fogo, mas os jatos provocados por Gina apagavam as chamas facilmente. Sam acertou três pedras na cabeça do monstro e Jimmy conseguira fazer esferas maiores.

— Isso! Não parem! — A Serpente saltou pela fenda criada pela água, erguendo-se novamente. Seus grandes olhos miraram Carl, depois brilharam com fúria. A garota viu o corpo dele se contorcer no chão, o peito erguido para o alto, chacoalhando bastante. Estava sendo torturado?

Ela transformou um filete de água em um chicote curto, usando o poder da sua imaginação. A arma lapeou o couro do animal, fazendo-a parar de usar a tortura em Carl.

— Vamos ver se você gosta disso! — Sam juntou as mãos, fazendo um buraco no chão em que o monstro estava. Grandes fendas rasgaram o solo, provocando um rápido tremor na clareira. De repente, o animal já estava caindo, escorregando pela depressão que Sam acabara de fazer.

Ela tentou sair, sibilando horrores, mas Gina transferira toda a água para dentro da enorme cova. Jimmy chegou depois, aquecendo a água do buraco com a Serpente a um ponto extremo, até que todo o local estivesse quente, com uma fumaça os cercando.

Gina abaixou as mãos e secou toda a água fervente do buraco. Quando a fumaça abaixou, os três puderam ver a Serpente morta, com a pele extremamente queimada, a carne viva exposta, exalando um cheiro forte de carniça.

Um sibilo longínquo partiu de dentro da floresta, sinalizando a chegada de mais delas. Partiram com a coruja antes que os outros inimigos chegassem. Agora, deitados entre as penas do pássaro, podiam contemplar o céu escuro daquela noite, cheio de estrelas, sem muitas nuvens, tão bonito...

Acabou caindo no sono. Seu corpo estava exausto e a cabeça parecia que ia explodir. A imagem do seu pai de joelhos sendo golpeado pela chuva ainda estava em sua mente. Era um pesadelo. Quando o homem abriu a boca para gritar, uma grande quantidade de pele apodrecida de Serpente saiu de sua boca, como um vômito. A sua casa estava cheia do couro fervente do animal e ela se afogou naquele mar de horrores.

***

“A coruja sabe o caminho para o lugar que estão indo. Gostaríamos que vocês guardassem o mapa que veio acompanhado com essa carta, ele irá guia-los quando necessário. Vulner é um refúgio para todos os seres mágicos, tenham eles nascidos em Zear ou no mundo humano. Já estão cientes da chegada de vocês. Lá vocês aprenderão a controlar os seus poderes e serão instruídos a respeito do que deverão fazer. Conseguimos arranjar um método mágico de justificar suas ausências. E Não deixem que ninguém controlem vocês, nós os escolhemos e temos consciência dos motivos.”

Gina terminara de ler a carta deixada pelos espíritos. A coruja teve uma rápida recaída no voo, resultado da leve queimadura em uma de suas asas. Viu Jimmy apertar algo contra o bolso de sua jaqueta. Pelo formato, parecia ser um diário.

— Então nós vamos para Hogwarts? — Carl finalmente falou.

Todos riram.

— Você está bem? — Jimmy aproximou-se do outro garoto, verificando o seu estado. O Ataque que ele sofrera da Serpente fora bastante forte.

— Foi estranho, mas acho que já me recuperei. — Ele escondeu as mãos no bolso da calça, mas Gina percebeu que estava tremendo. — Acho que fui torturado.

— Vai fazer algumas horas que estamos voando. — Sam falou para os outros, apertando o mapa em seu colo enquanto seus curtos cabelos eram jogados para trás pela forte ventania. — Todos nós fizemos um ótimo trabalho hoje, principalmente você, Gina.

— Bom, não conseguiria destruir o monstrão sem vocês! — Ela corou timidamente. — Tudo isso é real?

— Eu também não acredito. — Carl pigarreou. — Ainda vou saber usar essa droga de poder! — O garoto ergueu as mãos, provocando uma pequena corrente de ar.

— Não é tão complicado assim! — Jimmy começou a falar sobre controlar o fogo e nos minutos que seguiram a conversa já havia se tornado pessoal. Gina contou sobre o seu pai e o que fez com ele. Jimmy também falou sobre os seus pais e a garota jurou ter visto seus olhos lacrimejarem, havia algo diferente nele que a atraia. Carl não falou muito, na verdade, metade da sua história de vida envolvia uma piada com o beijo que o espírito lhe dera. Sam também não contou muitos detalhes, mas falou sobre como aprendera a lutar no ringue.

— Tenho um pressentimento bom de tudo isso, de todos vocês... Não pode ser tão difícil quando a companhia é assim tão turbinada. — Gina riu tolamente, incrédula e feliz ao mesmo tempo. — Nós seremos um ótimo time.

Ficaram se entreolhando, mas não como da vez que acordaram na clareira. Seus olhares eram familiares e aconchegantes. Jimmy quebrou o silêncio quando a coruja começou a diminuir a velocidade do voo.

— Pessoal, acho que nós chegamos! — Os quatro espreitaram os corpos para as extremidades da ave, então puderam ver um castelo de três torres, rodeado por um grande campo com duas montanhas. A coruja pousou lentamente, perto o suficiente do portão de acesso ao local. Os jovens desceram do animal e ficaram parados diante das grades.

Quando elas se abriram, um mar de pessoas com características de animais passaram pelo portão. Uma mulher de pele negra tomou a posição da frente do grupo. Suas palavras acalmaram o coração de Gina.

— Sejam bem-vindos! Vulner se curva diante dos jovens elementares. — E foi o que fizeram, o mar de pessoas se ajoelharam, deixando os quatro em pé, em uma situação extremamente desconfortável.