Elementar

Ajuda provisória


Jimmy

— É uma honra tê-los aqui, jovens elementares. — A líder do castelo os guiou por um longo corredor de pedra, iluminado por archotes esverdeados.

Jimmy encolheu os ombros, sentindo-se desconfortável com toda aquela situação. Pelas fechaduras das grandes portas de madeiras do lugar, o garoto podia ver olhos curiosos o observando. Aqui e ali, uma pessoa com características animalescas e humanoides surgia para acompanhar o passo dos cinco.

Enquanto faziam uma breve tour pelo castelo, Jimmy recordou-se do diário no bolso de seu capote. O livro parecia estar muito quente ali dentro. Tirou-o por apenas alguns minutos e notou que havia algo de diferente nele. O desenho do seu pai continuava ali, mas as letras embaralhados que vinham logo depois possuíam um brilho sobrenatural. Ficou boquiaberto com a situação, mas teve que despistar o objeto e acabou lançando-o para dentro da roupa novamente.

— Você escreve em um diário? — Gina, que percebeu o caderno, virou-se abruptamente, perguntando.

— Sim. — Mentiu quase que instantaneamente, corando logo em seguida.

***

Sterphy, como a mulher que os recebeu no portão se chamava, levou-os para dentro de uma salinha no topo de um lance enorme de escadas. Quatro baús estavam no fundo do lugar, erguidos por pódios e separados por pilares dourados.

— Me diz que tem um montão de ouro dentro dessas caixas, por favor! — Carl berrou ao lado da mulher, balançando a mão animadamente.

— Sou herdeira legítima desse castelo. Meus pais guardam esses instrumentos há muitos anos e eu não acredito que estou entregando eles para vocês agora. — Sterphy estralou os dedos e as caixas se abriram na frente deles, revelando quatro armas. — Elas pertencem a vocês. Essas armas foram criadas para que os espíritos pudessem usá-las para a defesa das joias.

Jimmy olhou rapidamente para um baú vermelho, com uma chama desenhada. Ele se aproximou e, ardendo ali dentro, havia uma espada de cano longo.

— Não posso ficar com isso.

— Não podemos. — Gina disse do seu lado. A garota segurava um chicote azulado ameaçador. — Na verdade não sabemos usá-los!

— É por isso que estão aqui! Para aprender a controlar os poderes. — Ela os encarou profundamente, depois mudou a expressão, saltando um suspiro de preocupação. — Agora que estão aqui, considerem-se seguros. Preciso resolver alguns problemas lá fora.

Os quatro se despediram de Sterphy, que atravessou o corredor correndo, desaparecendo por uma portinhola.

— O que devemos fazer agora? — Sam perguntou para os outros e Carl respondeu com um balanço sofisticado com os ombros. Todos eles seguravam suas armas desajeitadamente agora. Carl prendeu um arco esbranquiçado no ombro, Gina amarrara o chicote na alça da calça, Sam estivera segurando um martelo heroicamente e Jimmy dedilhava o aço quente de sua espada.

— Sigam-me. — A voz de uma garota encheu o beco frio e eles fizeram o que ela ordenava. Usava uma roupa gótica, como se fosse aquelas meninas que tinham uma banda de rock na época do colegial. Seus cabelos negros eram longos e lisos. Atravessaram um pátio cheio de pessoas-animais, o que fez Jimmy se arrepiar de medo. Durante a caminhada, buscou algo de animalesco na garota, mas não havia nada. Só pararam quando chegaram a um espaço aberto, com objetos para treinamentos variados.

— Sterphy mandou eu ajudar vocês. Sou boa no combate — Ela disse friamente.

— Você é humana. — Sam afirmou com o mesmo tom de voz. — Todos esses humanos misturados com baratinhas são do mesmo reino que os espíritos são, estou certa?

— Sim, claro que sou humana, nasci na terra. Humanos podem receber dons mágicos quando nascem. Isso é extremamente raro, mas olha só que maneiro a vida, não é? Eu e Tobias somos os únicos humanos aqui no castelo, na verdade éramos, agora que vocês chegaram... Os humanos que tem características de algum animal são de Zear mesmo. Todos eles nasceram lá, mas por conta de seus potenciais mágicos, foram trazidos para cá. Os humanos-animais considerados fracos continuaram no reino, exceto por aqueles que fazem parte do exército. — Ela entregou algumas flechas para Carl e pegou um arco para si mesma.

— Onde é que Zear fica? Digo, exatamente. — Gina perguntou.

A garota reclamou e respondeu sem calma.

— Zear está em todos os lugares. Aqui e agora, em nossa frente, ali do lado, na privada de seu banheiro... É só você acreditar e a porta para lá irá surgir. Infelizmente é preciso uma energia mágica muito forte para abrir portais, não teria como demonstrar... — Ela se calou por alguns segundos, depois acrescentou. — E, mesmo se eu pudesse, seria burrice abrir um portal para um lugar que tá em guerra, não é mesmo? Aliás, sou Rachel.

Os quatro se calaram e guardaram mais perguntas para outra hora. Rachel passou o braço por Carl e o ajudou a esticar o cordel do arco. A flecha liberada flutuou até o alvo com uma rajada de ar a acompanhando. O garoto gargalhou de alegria, mas Rachel ainda parecia entediada. Ela resolveu ajudar Sam com o martelo. Foi quando um humano-animal chamou a atenção de Jimmy.

Era uma garota de cabelos castanhos e encaracolados. Ela estava sentada em um bloco de feno para treinamento, choramingando baixinho, com um pano de assuar preso ao nariz. Duas orelhinhas de panda balançavam tristonhamente em sua cabeça.

— O que aconteceu? — Jimmy sentou ao seu lado.

Ela ergueu os olhos cercados por uma mancha enegrecida, assim como o mesmo animal da espécie. Tentou dizer algo por uns três minutos, mas apenas soluços saltavam para fora de sua boca. Quando começou a falar, não parou mais.

— Eu abandonei a minha família em Zear só por conta desse treinamento na droga desse castelo, e agora estão tentando sobreviver a uma guerra contra serpentes malditas que querem capturar vocês! — Ela apontou violentamente para o peito de Jimmy e continuou com sua voz de choro. — Meu pai não é muito bom com a luta e minha mãe tem que cuidar do meu irmãozinho! Você acha que ele saberia se virar sozinho? Claro que não! Kim não sabe nem preparar o macarrão! — Ela deitou o corpo na palha e continuou a chorar, depois disse, abanando as mãos: — Acho melhor você voltar para o seu treinamento agora. A Rachel é muito estressadinha!

Ele pensou em como responder a garota e até já tinha as palavras prontas, se não fosse pela gargalhada que ecoou pelo centro de treinamento. Ele levantou a cabeça e viu um humano-animal além do feno. O corpo musculoso dividia espaço com um braço de pelos amarelados, com unhas e garras nas mãos. Um rabo preto e laranja balançava entre as pernas atléticas. Um garoto-tigre.

— Então é para essas pessoas que todos se curvaram hoje? Esses espíritos fizeram uma péssima escolha messmoooo! — E voltou a gargalhar loucamente.