Quando Joohyun atravessou a porta do dormitório, nenhuma das quatro mais novas adivinharia que ela nunca mais voltaria. A rotina de Bae era, depois de acordar e fazer a higiene matinal, ir à padaria favorita, aquela do senhor Lee, e comprar 5 donnuts coloridos e depois ela voltaria a pé para o dormitório, com um sorriso angelical no seu rosto de traços finos. Mas naquela manhã de maio, Bae Joohyun nunca mais voltou, porque ela carregava uma mochila preta nas costas, mas nenhuma das garotas perceberam algo de estranho na mais velha.
— Fiquem tranquilas, ela voltará daqui a pouco, já podem parar com esse drama desnecessário. – Yeri, a mais nova e talvez a mais sensata, proferiu. Estava bebericando seu leite quente, uma vez que alegava odiar café, sentada na bancada. Os cabelos longos e castanhos escorregavam pelos ombros magros da pequena. – Vai ver ela passou numa loja de sapatos, nunca se sabe.
— Mas ela nunca faria isso sem nos avisar! – Wendy, carinhoso apelido de Seungwan, respondeu claramente aflita. Suas mãos voaram à sua boca com um pensamento horrível que lhe veio à mente: – E se aconteceu alguma coisa? Devemos ligar para a Polícia!
— Vire essa boca para lá! – Seulgi, na ausência de Joohyun, se tornava a mais velha e responsável pela segurança das amigas, repreendeu o comentário de Wendy sem piedade. Após respirar fundo, dirigiu-se até a geladeira em busca de uma garrafa de chá gelado e prosseguiu: – Não precisa exagerar, ok? Se algo grave realmente acontecer, nós ficaremos sabendo e contataremos a Polícia. Fora isso, o que nos resta é aguardar que Irene volte dentro de 24 horas.
— O que aconteceu? – A quarta voz restante surgiu no cômodo; Sooyoung acabara de acordar e sua cara inchada explícita a dedurou por isso. Todas as outras adquiriram um tom preocupante nas faces. Como dizer a Park Sooyoung que sua melhor amiga, a que tinha a mais forte conexão entre todas, não deu sinal de vida a manhã toda? O relógio marcava 9h05min, o dia aos poucos amanhecia levemente e Irene deveria ter chegado ao dormitório por volta das sete horas da manhã. – O que aconteceu com a Joohyun?
Três semanas haviam se passado, mas para Joy, a sensação era de que Joohyun sumira há meses, quem sabe anos. Seulgi ligou para a Polícia de Seoul assim que Joohyun não dera nenhum sinal de que já estava retornando à casa. As unhas de Sooyoung já não estavam mais bonitas e um clima extremamente pesado tomava conta do dormitório, onde agora apenas quatro meninas ocupavam-no. Kim Yerim fora a primeira que superou o sumiço repentino de Irene. Há dias a mais velha fazia dramas, se incomodava com situações infantis e se trancava no quarto. Era normal de Joohyun se comportar daquela maneira quando as coisas não saíam do jeito que gostava e Yeri se sentiu bem aliviada por estar nessas “férias”. Agora a mais nova não precisaria colocar os fones de ouvido e fingir que ouvia uma música maravilhosa só para Irene não puxar assunto com ela. E isso já era um alívio e tanto para a menor.
Seulgi e Wendy ainda compartilhavam o sumiço de Irene pelas redes sociais e nos prédios de engenharia da Universidade que frequentavam, mas já começavam a perder as esperanças de que Joohyun retornaria tão cedo para casa. Seungwan pensava que talvez Irene tinha ido visitar os pais e que esquecera de avisar as outras, porém Seulgi disse que Joohyun cansara-se de todas e resolveu partir, pois assim finalmente conseguiria ganhar alguma paz. As palavras de Seulgi aos poucos se tornavam verdadeiras, de tanto que repetia todas as manhãs.
— Por que ainda insiste em afirmar que ela não vai mais voltar? – Sooyoung indagava toda manhã desde o desaparecimento de Joohyun. – Ela não foi embora! Algo muito mais grave além de uma partida sem adeus aconteceu! Eu sei disso, porque é o que sinto!
O sufoco de Sooyoung não foi ouvido por nenhuma das três naquela manhã, entretanto isso não impedia a garota de continuar dizendo que Joohyun iria voltar.
— Eu a conheço. – Respirou fundo, tentando acordar daquele pesadelo que sua vida se tornara. – Joohyun nunca me abandonaria. Somos melhores amigas, desde que eu me conheço por gente. Vocês estão erradas. A Polícia está errada ao dizer que faltam provas para comprovar que Joohyun fora sequestrada ou algo do tipo. Eu a conheço.
— Sooyoung! – Yeri a interrompeu no meio daquele discurso meloso e esperançoso. – Joohyun passou por aquela porta há quase quatro meses. Quando é que você vai abrir os olhos e enxergar que Irene, assim como qualquer outra jovem, é egoísta demais para saber lidar com outros seres humanos e por isso partiu?
O calendário deixara de marcar maio para marcar final de agosto, mais conhecido como o mês antecedente do aniversário de Sooyoung. A jovem mantinha acesa a chama de esperança dentro de seu coração. Em seus pensamentos antes de dormir, gostava de imaginar que Joohyun voltaria no dia 3 de setembro, no seu aniversário. E então, com os olhos úmidos de felicidade e alívio, Sooyoung abraçaria Joohyun e diria que o retorno da amiga foi o melhor presente que poderia desejar. Era com essa cena nos pensamentos que Park caía no sono.
— E se eu fiz algo de errado? Se eu falei alguma coisa que a magoou de verdade? – Sooyoung passou as mãos pelo rosto, enxaguando-o enquanto se olhava no espelho. Seu rosto se resumia em cabelos preocupados caindo aos montes e olheiras profundas aterrorizadas por passarem esse tempo todo sem um sinal de vida de Joohyun. – Ela foi embora por minha causa?
Pegou o celular desesperadamente, trancou-se no banheiro, sem ao menos se importar em estar usando indevidamente o único banheiro daquele dormitório. Às pressas, desbloqueou a tela luminosa e com os dedos trêmulos, abriu o aplicativo de mensagens só para ver o contado de Bae Joohyun sem foto de perfil, status ou com confirmação de que recebera todas as mensagens que a mais nova mandava diariamente para a melhor amiga; Antes de fugir, Irene bloqueou as quatro companheiras de todas as redes sociais e até mesmo de uma delas ligar-lhe. Sooyoung nunca desistiria de Joohyun. Ela faria com que sua amiga retornasse para a casa, para assim abraçá-la e dizer o quanto a ama.
Lembrou-se das vezes em que as duas brigaram, a maioria das discussões, pela percepção de Park, era por motivos toscos, facilmente superados depois de uma sessão de cinema até a madrugada. E então algo lhe veio à tona: a última briga que tiveram.

— Você não pode ficar com raiva toda vez que algo não sai do seu jeito, Irene... – Joy estava sentada ao lado da melhor amiga, no quarto desta. A única luz que iluminava o cômodo provinha do abajur de luz amarelada que Joohyun ganhara no seu aniversário de 25 anos. As duas amigas estavam conversando sobre o grande desentendimento entre Irene, Seulgi e Yeri. Joy e Wendy ficaram do lado de fora dos argumentos, porque essa não queria brigar com ninguém e Wendy pouco se importava verdadeiramente com o que quer que estivesse passando entre as outtas três colegas de dormitório.
— Eu acho tudo isso muito impressionante, Sooyoung. – Retrucou a mais velha, um sorriso irônico transbordando sua face e Irene lutando para que seus olhos não se enchessem de lágrimas que Joohyun não queria derramar. – Por que ninguém quer saber o meu lado da história? Eu pensei que até você fosse me perguntar o que aconteceu, mas você correu perguntar para Yerim primeiro... Agora eu que recebo o rótulo de barraqueira nessa casa!
Joy sentiu um grande aperto em seu peito. Seu coração não doía, porém sentiu um enorme nó se enrolando e engrossando cada vez mais na sua garganta, infelizmente não teve tempo de responder ao comentário da outra, pois Irene prosseguiu:
— Parece que você só está curiosa. Chegou dizendo que se importa com todas nó e deseja que a paz reine neste dormitório, mas quer saber o que eu acho? – Não conseguiu controlar as grossas lágrimas de passearem nas suas bochechas, escorregando até se acumularem na ponta do queixo fino. – Eu acho que você não se importa, Sooyoung. Até ontem, você estava ocupada demais para conversar comigo e ouvir meus desabafos. Até ontem você preferia sair com as outras sem me mandar uma mensagem ou ao menos me der alguma falsa esperança de que iríamos sair algum dia também. – Sooyoung não sabia como reagir diante das palavras que atravessavam como estacas, cortando seu peito. E faltava poucos punhais para Park sangrar internamente. O que a mais nova não sabia, era que Joohyun já sangrava há tempos. – E só quando situações como essas brigas acontecem, que você vem correndo fingindo que se importa mesmo. A verdade, Sooyoung, é que ninguém realmente se importa.
Nem Irene ou Joy proferiu alguma palavra depois da fala da mais velha. Sooyoung foi a primeira a deixar o quarto silêncio. Quando Joohyun saiu do quarto na manhã seguinte, nunca mais voltou.

A culpa não poderia ser inteiramente de Sooyoung.. Poderia? Oras, pelas coisas que ela fez ou deixara de fazer, toda aquela briga começara por causa de Yeri e Irene. Qual era o motivo da briga mesmo? Sooyoung não saberia dizer, não prestara atenção à briga naquele dia e muito menos tinha compreendido a raiva das garotas. Olhou-se novamente no espelho e seu reflexo não lhe trouxe respostas. Saiu do cômodo em busca de uma das amigas, com certeza pelo menos uma das três a ouviria agora.
— Seulgi, precisamos conversar. – A mais velha estava deitada relaxadamente no sofá bege, na sala de estar. Diria que estava assistindo à TV, mas seus olhos estavam mais focados em brincar com as unhas ligeiramente grandes das mãos. – Houve uma briga no dia anterior à partida de Joohyun... Muito provavelmente algo que você ou Yeri disse deve ter ferido os sentimentos de Bae...
— A única coisa ferida naquele dia foi o orgulho daquela narcisista! – Seulgi cuspiu as palavras no meio da fala emotiva da Park. – Acorda pra realidade, Joy, Irene é uma vaca egoísta que não se importa com ninguém. Ela. Foi. Embora. E é melhor assim.
Pela primeira vez em muito tempo, Park Sooyoung sentiu a extrema necessidade de demonstrar fisicamente a sua fúria. Nunca aceitaria que uma garota que não sabia nem metade da história de Joohyun poderia dizer coisas horríveis como aquelas. Decidiu pular em cima do pescoço de Kang, mas respirou fundo e pisou forte no piso de madeira clara. Deu meia volta e saiu do dormitório.
Joohyun nunca foi a melhor pessoa do mundo. Não existe a melhor pessoa do mundo, e isso estava cristalizado na mente da jovem Park. Ela só não queria estar passando por aquilo; Ter de lidar com o desaparecimento da melhor amiga, receber todas as manhãs mensagens de boas vibrações de pessoas que Sooyoung não tinha mais contato há tempos, fingir estar bem, porém todas as noites a pobre menininha chorava. Chorava de saudades de Joohyun, chorava de ódio por ver Seulgi, Yeri e Wendy não se importando com a situação. Chorava porque algo dentro de si gritava que a culpa era dela e ela sabia disso. Ela sempre soube. Mas admitir isso a si mesma era errado demais. Sooyoung nunca conseguiria conviver com isso e preferiu esconder-se de si mesma.
Do lado de fora, sentada na calçada em frente à sua casa, soltou todo o peso do corpo e encontrou-se deitada, encarando o céu pouco estrelado, assim como seus dias.
Talvez Sooyoung perdera totalmente a amizade de Joohyun. Talvez Sooyoung nunca mais verá Joohyun novamente. Talvez Joohyun não aguentou não ter sido ouvida, deixada de lado e ser chamada de palavras que nunca fizeram parte da personalidade da jovem. Todas essas verdades apertavam o peito de Sooyoung e só de pensar que apertavam o peito de Irene, a outra derramava-se em lágrimas, embaçando todo o seu campo de visão. Joy finalmente sentiu o que Irene sentira naquele dia.
É difícil não ser compreendido. É mais difícil ainda perceber que a única resolução que Joohyun enxergou foi sumir e deixar para trás pessoas confusas e aflitas como Park Sooyoung.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.