Quando minha psicóloga perguntou a quanto tempo eu gostava de você eu não soube responder. Eu conhecia o momento que notei, mas não como cheguei lá. É como se eu tivesse piscado e então você já estava lá, no meu dia a dia, nos meus planos futuros, e dominando a produção de dopamina no meu cérebro. Eu fiquei confuso e frustrado. A única coisa que eu desejei que nunca mudasse sempre foi a nossa amizade, e então ali estava eu, desejando algo a mais que isso.

A pior parte é o pedaço de mim que acredita que você deseja o mesmo. A esperança ela meio que nos devora e eu não queria permitir que ela nos separasse. Durante um longo tempo eu fiquei quieto e eu fingi, muito bem por sinal. Acho que você nunca percebeu, não até aquele dia.

Eu juro que não foi planejado, até porque se eu tivesse pensado só um pouquinho sobre isso eu teria feito de uma forma romântica que não envolvesse o banheiro em que você lavava meu rosto enquanto me ajudava a ficar sóbrio o suficiente para andar sem tropeçar.

“Ei Renjun, desculpa por ter te beijado sem aviso prévio, com bafo de vodca e então fugido enquanto chorava porque você não correspondera.”

“Ei Renjun, desculpa por estar te ignorando desde então.”

“Ei Renjun, desculpa por ter cagado na nossa amizade.”

A verdade é que eu já digitei essas mensagens um milhão de formas diferentes, mas nunca enviei. Meu rascunho já está lotado de palavras não ditas e completamente preenchido por você.

“Ei Renjun, venha atrás de mim por favor.”

Minha psicóloga nos achou fofo acredita? Como se já não fosse o suficiente o resquício de esperança que eu ainda tinha. É claro que nós somos fofos, você é lindo e eu sou maravilhoso, o clássico casal perfeito. Só falta você nos aceitar.

“Ei Renjun, se eu te procurar você me aceita?”

No começo eu só queria te dar espaço, mas agora acho que só estou com medo. Você sempre foi a pessoa decidida entre nós, então quando me ligou a primeira vez você já deveria saber o que queria e isso me assustou. Então eu fugi para a casa da minha avó e estou a duas semanas surtando sozinho. Você nunca mais me ligou. É porque você sabe que quem precisa de espaço sou eu né?

“Ei Renjun, estou voltando.”

Essa foi a primeira mensagem que te enviei desde então, uma vez que minha avó me expulsou de casa porque “eu não criei nenhum covarde”. Agora no ónibus chegando a rodoviária eu estou quase morrendo. Com certeza não é saudável o ritmo dos meus batimentos cardíacos.

“Que horas você chega?”

Você me respondeu sem nem titubear. Você definitivamente é o corajoso entre nós.

“Acho que as 16h.”

E você não respondeu mais nada. Estaria você me aguardando na estação? Ou foi só uma pergunta retórica? A falta de respostas é algum tipo de vingança? Você sabe que o silêncio me mata. Mas tudo bem, eu fiz por merecer. Eu te deixei no escuro por duas semanas, enquanto você não me respondia somente há quarenta minutos. Você sempre foi um adepto do karma, dizia que um dia tudo se voltaria contra mim, todas as vezes em que eu te importunei simplesmente porque gostava de te ver nervoso.

Cá estamos, eu me sinto sufocado. Karma é uma vadia.

**

— Ei, chegamos.

Meus olhos pesavam. Eu não andava conseguindo dormir direito ultimamente, então em algum ponto da viagem eu cai no sono. Uma senhora legal me acordou e me deu uma bala de café que eu queria muito comer, mas eu havia assistido um filme de terror a dois dias onde uma senhora atraia e matava jovens então eu estava assustado e joguei a bala no bolso da mochila.

Estava escuro por conta das nuvens no céu. Iria cair uma tempestade. Olhei o relógio e eram 16h45. Eu nunca fui bom me calcular o tempo de nada, se Renjun tivesse vindo me buscar ele já teria desistido e ido embora. Mas meu celular não tinha nenhuma mensagem, então acredito que ele nem viera. De repente eu me senti decepcionado e tentado a chupar aquela bala.

Desci do ônibus carregando uma única mochila de costas, uma vez que viajei por impulso e não levara quase nada. A rodoviária estava cheia, mas isso não era um problema para mim. Eu não tinha ninguém para procurar em meio a multidão. Ninguém me esperava.

Caminhei direto para o a área de embarque e desembarque em busca de um taxi que só consegui depois de vinte minutos. Minha casa não era muito longe, mais vinte minutos e eu estaria no conforto e na solidão do meu quarto. Morar sozinho as vezes era difícil, eu sentia falta da vovó. Ela não tinha criado um covarde, mas definitivamente alguém bem mimado.

Meu apartamento ficava no segundo andar e o corredor tinha cheiro de café. Se o meu vizinho não me assustasse tanto eu bateria na porta para pedir uma xícara.

— To em casa. – Falei para mim mesmo assim que fechei a porta. Era uma mania que eu havia adquirido desde que assisti ao filme de Naruto onde ninguém nunca estava em casa esperando-o, até que um dia o Iruka-sensei respondeu...

— Bem vindo de volta.

Eu tomei um susto tão grande que me sinto envergonhado de admitir que me escondi atrás do sofá.

— Sim, porque se eu fosse um ladrão você estaria completamente protegido assim. – A voz voltou a conversar comigo. A voz que eu tanto sentia falta.

— Ei Renjun, o que você ta fazendo aqui? – Perguntei ao tentar recuperar minha dignidade levantando do chão.

— Estou te esperando, não é obvio? – Ele sorria ladino, completamente divertido. Ah, eu tinha muito me apaixonado por aquele cara. – Vem cá. – E ele me puxou para um de seus abraços de urso, quentes e aconchegantes. – Você nunca chega no horário que fala, então decidi esperar aqui na sua casa que é mais confortável. – Ele sussurrou entre meus cabelos, como o rosto enfiado no meu pescoço.

Eu só conseguia murmurar pateticamente. Sério, esse abraço foi apelação. Quer destruir o nada que restou em mim? Quando nos separamos percebi que o cheiro do café vinha da minha casa. Renjun tinha preparado uma mesa de café da tarde. Eu fui direto pegar um pedaço de bolo e ele se sentou em uma das cadeiras depois de apoiar minha mochila no balcão, já que eu tinha a deixado jogada no chão.

— Então, você decidiu voltar. – Ele comentou casualmente depois de alguns minutos em silêncio.

— Sim. Duas semanas é o suficiente para descansar. – Sorri, como se não tivesse ido para fugir dele e voltado porque minha avó me expulsou. Decisão completamente voluntária.

— Então, a gente pode conversar sobre o que aconteceu ou você quer fugir um pouco mais do assunto? – Ele perguntou.

— Você me deixaria fugir? – Retruquei. Ele sorria, o sorriso que eu amava e que significava “definitivamente não”. – Me desculpa.

— Pelo que? – Nada nunca era fácil com ele.

— Por te beijar e então fugir. – Ele levantou uma sobrancelha em minha direção. – E te ignorar por duas semanas.

Renjun não falou nada, só ficou me encarando enquanto eu olhava para tudo menos ele. Sério, eu estava no meu limite ali e ele não podia estar ligando menos para isso.

— Você chegou a alguma conclusão? – Perguntou, por fim.

— Conclusão? – Questionei confuso.

— Você já sabe o que quer? – Reformulou, mas eu fiquei ainda mais confuso. – Pelo amor de deus Hyuck, estou perguntando se você já sabe dizer se vai querer fingir que nada aconteceu ou vai admitir que gosta de mim do jeito que eu gosto de você para podermos namorar e parar com essa putaria de enrolação. Duas semanas já não foi tempo demais?

— Perdão? – Pane completa no sistema.

— Hyuck, eu gosto de você. Você gosta de mim também? – Renjun se aproximou gesticulando como se estivesse explicando para uma criança com sérias dificuldades de aprendizagem.

— Sim. – Respondi no automático. – Gosto muito. Te amo para caralho. Porra sou completamente boiola por você.

Ei Renjun, porque você ta rindo tanto?

— Eu sei. Ou pelo menos tive certeza depois daquele dia. Da próxima vez que for surtar pode ser por um período menor de tempo? Duas semanas é muito...eu senti fodidamente a sua falta.

E foi depois de dizer isso com a cara mais deslavada do mundo que meu melhor amigo me deu um beijo que passaríamos a contar para os outros como o primeiro porque a história é muito mais bonita que a original.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.