— O mundo desabando lá fora, e nós dois aqui. – Anita sorriu, se sentindo totalmente leve, sendo dominada pela felicidade inebriante que se apossava de todo seu corpo naquele momento. Mas, por um segundo ela não pode deixar de rir com ironia, os dois tão felizes ali, naquele quarto, enquanto tantos problemas ameaçavam acabar com aquela paz toda do lado de fora.

— Ih... – Ben sorriu diante da declaração da amada, jogando o braço por cima dos ombros dela e a trazendo mais para perto de si. O mundo lá fora poderia esperar, até desabar, caso fosse essa, sua vontade, mas nada seria capaz de acabar com sua felicidade, e nem impedi-lo de estar assim tão perto de Anita.

— Seria muito egoísmo, querer ficar aqui pra sempre. – disse Anita, apoiando o rosto no ombro do namorado, a suspirar profundamente. No fundo, era isso que ela queria de fato, esquecer-se de todo o tormento, que estava sempre rondando impiedoso, seus pensamentos.

— Não. – ele olhou para o semblante visivelmente preocupado dela com certa desconfiança, há um bom tempo sentia que Anita, não lhe dizia tudo que se passava com ela, a namorada estava preocupada além da conta, para quem sempre afirmava, que só estava nervosa com a situação toda que envolvia o pai. – Você podia me dizer a verdade, não é, toda ela inclusive. – Ben não conseguiu deixar guardada a frustração somente para si. – O que você acha? – insistiu ele, tentando ajeitar os fios do cabelo bagunçados da garota, que estavam em seu rosto.

Anita levantou o olhar, olhando de relance para ele, frustrada, para logo em seguida esconder seu rosto no ombro desnudo do rapaz, sem saber o que responder, talvez tivesse mesmo que parar de adiar o inevitável. Antes que realmente perdesse Ben, e dessa vez para as loucuras e confusões causadas pelo pai... era algo que ela não suportaria e jamais perdoaria a si mesma, caso isso acontecesse...

— Eu to bem, só muito preocupada com a mamãe. – ela respondeu, após o longo silêncio instaurado entre os dois. Enquanto cada um tentava entender e organizar em pensamentos, o que realmente se passava.

— É, falar a verdade, muitas vezes, realmente pode despir uma alma aflita, culpada... – divaga ele, a encarando com curiosidade, tendo como único objetivo que ela desabafasse o que estava lhe deixando tão aflita, só queria poder ajuda-la. - Mentirosa. – Ben atirou contra ela, querendo captar algo no comportamento da mesma, que explicasse ao menos um pouco o que lhe preocupava tanto.

— Você tá sendo irônico, porque acha que tou escondendo algo. – Anita usou de um sorriso astuto, querendo mesmo era disfarçar qualquer preocupação que pudesse estar passando na cabeça de Ben, se é que isso já não estava, estampado em seu rosto, sem que ela evitasse de qualquer forma. – Ou tá mesmo me provocando, por essa situação aqui em si. – Anita apontou para seu abdômen, que não era definitivamente, nada coberto pelo sutiã, fazendo Ben rir alto, diante da conversa amalucada dos dois.

— O que me leva a outra questão, o quanto eu não penso absolutamente nada, quando você tá tão perto assim. – Ben beijou o ombro dela provocante. O sorriso dela naquele segundo, era o motivo mais óbvio, para lhe fazer esquecer qualquer outra coisa.

— Tem sol lá fora sabia. – ela riu de tudo aquilo, sentindo as mãos de Ben grudarem em sua cintura a puxando ainda mais para perto.

— E desde quando o amor respeita horários. – ele a beijou em provocação, inundado de felicidade.

— Não saberia de responder nada a respeito, mas no nosso caso, estamos doidos mesmo.- ela quis pensar, porém acabou ficando sem muitos argumentos que justificasse tudo aquilo.

— Mais tem acontecido uma coisa boa nisso tudo, o que você falou sobre despir uma alma, às vezes, pode ser real, já tem um tempo , que não é somente meu corpo que tem se sentido despido perto de você. - ela confidenciou alegremente, pressentindo estar sendo quase puxada, para ainda mais perto de Ben, devida a maneira que ele a fitava, quase hipnotizado até. – É tão bom ter plena certeza de que nada de ruim que caiu sobre nós dois, nos afetou permanentemente, eu acho que em meio a tanta desgraça, que eu senti e pensei, eu achei mesmo que eu nunca mais ia sentir isso na minha vida, e nem que viveria toda a felicidade que eu tenho vivido nos últimos tempos com você, acho que eu nunca me senti assim sabia tão plena e tão certa de mim mesma como agora... - Anita declarou sua felicidade sem medo, apesar dos obstáculos até ali, não terem sido poucos, ela não podia negar, que estava em paz consigo, e de um jeito único...

– E que aquela noite, que era pra ser só de felicidade, e que graças ao Antônio trouxe tanto sofrimento pra nós dois, e que acabou me fazendo realmente acreditar que, eu não nunca mais me entregaria assim de novo pra alguém, é bom sentir que tudo de ruim faz parte de uma passado e nada mais. – apesar de tudo, ela tinha certeza que jamais poderia se sentir mais feliz.

— É bom ouvir isso sabia, durante muito tempo você sabe que eu me culpei muito, por tudo que o Antônio fez. – Ben a beijou com ternura, esboçando logo depois um sorriso aliviado. – Eu acho que nós estamos vivendo e curtindo nossa história de um jeito que nós não fizemos naquela época, e isso é infinitamente maravilhoso. – ele ponderou acariciando a lateral do rosto dela, que deu de volta um sorriso contagiado de alegria.

— Não deu né, nós estávamos tão felizes, quando voltamos daquela viagem, pra logo depois vir nossos pais com uma enxurrada de problemas, e depois todo o resto e enfim, o pior... – ela relembrou, mesmo não planejando, mas agora a lembrança já não parecia tão dolorosa e assustadora. – Mais tem sido bom poder fazer isso agora, apesar de que os problemas diminuíram um pouco, mas não muito, não é. – Anita se permitiu estar rindo otimista de tudo aquilo.

— Quase isso meu amor. – Ben concorda sorridente. Ela se deixou levar por aquele ambiente de felicidade e de pura sintonia, no qual os dois compartilhavam naquele momento e o beijou com todo amor possível.

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— Olha aqui, você está proibido terminantemente de fazer e falar qualquer coisa a respeito, do que pode ter acontecido momentos atrás, ouviu. – Anita alegou, com um sorriso brincando em seus lábios, logo que os dois saíram de seu mundinho de paixão e felicidades, e caminhavam pelos corredores do Embaixada do Gol, rumo a saída.

— Eu tenho uma péssima memória, você sabe disso. – Ben rebateu, com um ar travesso, dando passes lentos a arrastar Anita consigo mesmo, enquanto beijava o pescoço da mesma sem parar.

— Até que enfim, achei que você já tinha sido, morto ou sequestrado Ben. – Martin virava a esquina do corredor, rumo ao seu escritório quando praticamente trombou com Ben, que trazia Anita embolada consigo. O tom impaciente ficou claro já que, depois de o que parecia horas procurando e esperando pelo rapaz, já havia até desistido de o procurar.

— Susto Martin, credo. – Anita se afastou um pouco de Ben, pondo a mão no peito, em um sinal de puro nervoso, ou talvez estivesse achando que estava evidente e escrito em sua testa, que o sumiço de Ben, poderia ser um pouco culpa sua também.

— De amor, eu poderia ter morrido facilmente mesmo... – o rapaz se calou, ao receber o olhar fuzilante e totalmente repressor de Anita em cima de si, pela brincadeira fora de momento, mas era fato que ele não conseguia conter toda sua alegria.

— Eu não to entendendo Martin, você mesmo viu, me deram um banho de suco, eu te falei que eu iria sair pra tomar banho e voltava depois, então to aqui. – Ben quis concertar o seu deslize, decidindo falar do que realmente poderia interessar.

— Levou horas, isso não é, tem água mais no planeta, não né. – Martin agiu estressado, eram tantos afazeres naquele dia. – Eu fiquei preocupada com o depois. – o sócio de Ronaldo justificou, cheio de insistência.

— Que depois. – Ben acabou sem palavras para se justificar. – Eu to aqui já, o que você queria com tanta urgência. – ele foi dizendo, a esfregar a nuca procurando disfarçar, qualquer curiosidade do amigo.

— Ué você não tinha ficado de me ajudar com os relatórios dos fornecedores, Ronaldo também é outro que sumiu. – Martin estava cansado, e altamente confuso com todos. – E já esta quase escurecendo, daqui a pouco o movimento aqui, fica desesperador. – o rapaz viu tudo piorar.

— Meu deus, eu tinha algum compromisso, apesar de que... – Anita fitou a pouca luminosidade que vinha da basculante ao seu lado, estupefata, mas tendo a certeza que havia esquecido algo de muito importante para trás. Ela havia perdido todo o resto de seu juízo mesmo, e todo de uma vez.

— E você tava até agora com o Ben, alias vocês estavam onde. – Martin não entendia mais nada, apenas agiu curioso, como era de sua personalidade, e encarou os dois, extremamente confuso.

— Não. – Anita e Ben, responderam em um uníssono abrupto, evitando com todas as suas forças olharem um paro o outro.

— Eu cheguei agora, agorinha mesmo. – Anita deu um sorriso amarelo de volta, já pensando um fugir dali o mais rápido que suas pernas deixassem.

— Martin vem cá, pra que tanta pergunta me fala, me diz logo o que você quer então. – Ben quis fugir de um suposto interrogatório impaciente, enquanto Martin ainda fixava os olhos nos dois, parecendo que queria desvendar um mistério muito importante.

— Cara, agora eu to entendendo o que aconteceu, e depois eu é que não penso em mais nada, não é. – Martin não conseguiu guardar a observação somente para si, por mais que o olhar emburrado de Ben para ele, pedisse isto, quase que taxativo.

— Eu não sei do que você tá falando Martin. – Anita se fez de inocente e de totalmente desentendida, apesar de que, cavar um buraco era também uma ótima solução pra aquela saia justa.

— Aham sei. – Martin agiu com ironia, sorrindo provocativo para os dois, na verdade já lutava contra a vontade imensa, de dar risada do semblante culpado do casal de amigos. – Ah Anita, antes que eu me esqueça, a Luciana ligou pro telefone do restaurante te procurando, parece que ela esta sozinha em casa, e não estava conseguindo fazer o jantar sozinha, e também aconteceu alguma outra coisa, que eu não entendi direito, porque ela fala tanto e tão rápido, que eu realmente me perdi. – Martin lembrou-se da bronca que havia tomado por telefone, instantes antes.

— Ai meu deus, não me falta mais nada. – Anita ficou imediatamente tensa, pensando no que poderia ter acontecido, durante sua fuga de realidade. – Eu vou pra casa, depois a gente se fala. – avisou ela, depositando um selinho rápido nos lábios do namorado. – E tchau Martin. – despediu-se ela, não se dando ao trabalho de ouvir a resposta, não haveria cara de paisagem que fosse suficiente, para esconder certo constrangimento que lhe atingia, e ficaria ainda pior, se o garoto fizesse outra gracinha com ela e Ben.

— Martin, porque você ficou fazendo tanta pergunta, ela vai correr daqui até em casa agora. – Ben comentou entre um riso nervoso, por ver a forma atrapalhada com que a amada havia deixado o local.

— Danadinhos vocês hein. - Martin sorriu brincalhão. – Bom pelo jeito, o namoro de vocês tá sobrevivendo ao furacão Caetano. – Martin comentou, pousando a mão no ombro do amigo em solidariedade, definitivamente não era nada fácil ter Caetano como sogro, ele um dia havia experimentado tal experiência em parte, e ela não havia sido nada agradável.

— Nem me fala, meu amigo, quando eu penso que eu e a Anita podemos ter um pouquinho de paz, a coisa só piora. – Ben acabou desabafando a tensão que sentia, mesmo não estando em seus planos.

— Já eu , não tenho que agradar ninguém mais, estou a ponto de esganar aquele maluco, ele quer um emprego, somente pra se livrar da cadeia, mas eu não estou disposto a aguentar isso por muito tempo, e o Ronaldo não faz nada. - Martin também desabafou já irritado, com os problemas que o pai de Anita estava lhe trazendo. Ben apenas maneou o cabeça em concordância, pensando em dizer pra Martin que Ronaldo nem faria nada a respeito, já que o pedido era tão somente de Vera, e ele sabia que o pai não a desagradaria, ao menos por hora.

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— Caramba mina do céu, aonde você tava. – Luciana falou apressada, assim que viu a sobrinha adentrar pela porta de casa.

— Eu tava, estava, não sei tia, que importância tem isso. – Anita mexeu em uma mecha do cabelo, enrolada com a resposta, observando Luciana a encarando, apoiada na vassoura em suas mãos.

— Nenhuma, só achei que podia ter acontecido alguma coisa. – Lu notou o comportamento misterioso da menina.

— Você sumiu, e não levou celular, ou já havia planejado, ou não havia planejado, por isso que esta com essa cara de quem andou aprontando. – Pedro se intrometeu-se do sofá no assunto das duas, segurando o livro que lia, fazendo a cabeça de Anita dar voltas com tantas suposições.

— Nem uma coisa e nem outra, que imaginação a de vocês. – Anita negou enfática.

— To achando que ele esta certo. – Luciana apoiou o discurso do pequeno.

— Vou tomar um banho, e venho ajudar com o jantar, enquanto você termina a faxina aí. - avisa ela, fitando a sala mais desarrumada do que sendo arrumada pela tia, Luciana sorriu atrapalhada, parecendo adivinhar os pensamentos da sobrinha, acerca de seus dotes pra arrumação, Anita sorriu emanando alegria enquanto subia as escadas.

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— Martin hein, perguntou mais alguma coisa, ai vergonha alheia de mim mesma sabia. – Anita aproveitou para questionar, enquanto Ben a ajudava com a arrumação da cozinha e a louça do jantar.

— Não, mais de qualquer forma eu sei que ele não é fofoqueiro, e nem tem nada de tão grave assim pra ele contar, não é. – Ben contrapôs, já enxugando o prato que Anita acabava de lhe alcançar. – E nós dois não fizemos nada de errado, certo. – ele afirmou com um olhar compreensivo.

— Eu sei, só prefiro que ele não fale nada, do que ele supostamente deduziu, ao nosso respeito né. – ela esclareceu, enxaguando os últimos copos que faltavam, parando de frente para ele.

— Esqueci, você ordenou que eu fizesse isso. – Ben brincou, pensando que não recusaria por muito tempo o beijo que ela lhe oferecia estando com o rosto tão perto do seu.

— Pois eu vou lembrar pro resto da minha vida, cada detalhe. – Anita sussurrou contra o ouvido dele ainda sorridente.

— Anita, podemos conversar, e eu não queria atrapalhar. – Mariana apareceu do nada, já pedindo desculpas, atrapalhada, devido à cena do beijo caloroso a sua frente.

— Talvez, mas que assunto. – Anita se separou do namorado, questionando sem entender. Apesar da trégua que havia direcionado a garota não via, qualquer assunto em comum, que as duas pudessem falar naquele momento. Apenas fitou Mariana intrigada.

— É extremamente particular. – Mariana olhou para Ben com certo constrangimento, devido a estar exigindo que ele se retirasse.

— Eu vou terminar de finalizar as aulas da semana que vem, e depois volto pra te dar boa noite. – Ben deduziu que as palavras da garota só poderiam ser para ele, então resolveu se retirar, antes que alguém lhe pedisse aquilo.

— Tá certo. – Anita jogou um beijo sorridente, para o rapaz, que se afastou pela porta rumo ao quintal.

— Então, eu sei que nós não somos amigas, e eu também tenho consciência que é por minha causa, mais levando em conta que eu sei que você é bacana, com quase todo mundo, ih, eu não tenho mais a quem recorrer. – Mariana iniciou o assunto, usando de sabedoria para escolher suas palavras. Na verdade, também não estava confortável, em estar buscando a intercedência de Anita naquele assunto.

— Às vezes o quase é que ferra. – Anita soltou falastrona. – Desculpa, só saiu, sem maiores intenções. – ela levou, a mão a boca já arrependida. E querendo muito ouvir, o que a garota tinha para lhe dizer, antes de tomar qualquer atitude arrogante e julgadora.

— Tá, é minha mãe Anita, ela tá maluca de vez, meu pai pediu o divorcio em definitivo pra ela, por isso ela tá mais surtada ainda, ela disse que vai me levar ao médico e se descobrir que eu ainda to falando com o Rique, ela vai me mandar pra bem longe dele, e também disse que eu não vou mais falar com meu pai. – a garota disse com nervosismo chegando ao extremo, deixando Anita atropelada por tantas palavras.

— Tá, espera, o que uma coisa tem a ver com a outra, você tá doente... – E ela sempre foi meio doida não é. – Anita não entendeu muita coisa, indo puxar uma cadeira para se sentar, já que previu que a conversa poderia ser meio alongada.

— Ela não quer que eu namore com ele, só porque meu pai e a mãe dele estão juntos, mais eu no tenho culpa disso, a gente já se gostava antes disso tudo. – Mariana disse entristecida, já tinha suplicado tanto que Marta lhe entendesse, que não sabia mais o que fazer. – Ela disse que se descobrir que eu não sou... – Ai que vergonha dela. – Mariana apoiou o rosto nas mãos, não encontrando palavras para continuar.

— Você o que Mariana. – Anita ainda quis achar que estava entendendo tudo errado, e que era somente sua imaginação lhe pregando uma peça. – Marta não poderia, estar tratando a filha daquele jeito tão cruel.

— Ela disse que se descobrir que eu dormi alguma vez com o Henrique, ela não vai me perdoar nunca mais. – ela baixou os olhos, tomada por vergonha. Porém não sabendo se eram da mãe ou ainda mais da situação em si.

— E já que ela não acredita na tua palavra, ela pretende te levar a um médico pra isso. – Anita maneou a cabeça, estupefata, ela ficou achando que nunca ouviu tantas sandices juntas.

Mariana se encolheu na cadeira, se sentindo um pouco sem forças...

– Ela quer o que, um atestado de virgindade, é sério isso, alguém precisa por tua mãe em uma camisa de forças, me desculpa por isso, é inadmissível que em pleno século 21, ela te trate desse jeito tão cruel, o problema não é o que você e esse menino fizeram, o problema é a cabeça da tua mãe, me desculpa por te dizer isso. – a menina se viu assustada com aquilo tudo, e não teve êxito em segurar sua revolta, somente para si mesma.

— Eu sei, não aconteceu nada, nunca, mais ela não me ouve. – Mari deu um sorriso triste. – Anita me ajuda, de alguma maneira, por favor, eu não posso passar por uma vergonha dessas, é demais pra mim, eu sinto muito por ela e meu pai, mais... – ela lançou um olhar suplicante.

— Só que, a tua mãe não gosta muito de mim, eu acho, eu diria até que a Marta me detesta. – Anita não soube como ajudar a menina, não acreditava jamais que Marta lhe ouvisse, por mais penalizada que estivesse por tudo que ouvia, juntamente com seu subconsciente que lhe dizia sem parar, para fazer alguma coisa pela outra garota.

— Então, não sei, fala com a Vera, quem sabe minha mãe não ouve ela, por favor. – Mariana segurou a mão de Anita insistente, que refletia sem chegar a nenhuma solução.

— Tá, eu vou fazer isso, mais tem que ser amanhã. – mesmo não achando bom que ela se metesse naquela encrenca toda, Anita se compadeceu pela garota.

– Quer um concelho, se ela não ceder, você também não cede, ela não pode fazer um absurdo desses com você, você é jovem e inteligente, tem todo direito de escolher, o que você quer ou não fazer da tua vida, o que é melhor, é você que tem que decidir se você quer ou não ficar com esse menino, e se você tiver realmente certeza, que ele gosta de verdade de você, não tem nada de mais vocês quererem namorar. – Anita respondeu taxativa, demostrando estar indignada. – Ela tem que te apoiar, te ajudar, esclarecer as tuas duvidas, pra você decidir o que é melhor pra você, até mesmo pra você não cair na cilada de qualquer imbecil, não agir assim, como se nem se importasse realmente com você...

— Eu sei, mais tá difícil, é da minha mãe entender isso. – a moça disse tristemente. – Ela esta me sufocando. – a menina admitiu o que sentia verdadeiramente.

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— Bom dia. – Marta foi logo, se dirigindo a Anita que começava a tomar seu café, solitária na mesa.

— Bom dia. – a garota repetiu, percebendo astuta a carranca que a mulher destinava a si.

— Anita eu vou ser bem direta, eu não quero mais você se metendo na minha vida e na da Mariana, minha filha não precisa dos teus concelhos, e jamais esta autorizada a recebê-los. – ela afirmou secamente. Anita não demonstrou muita surpresa, ainda mais depois de ter delatado Marta para Vera, naquela noite mesmo, sua indignação não permitiu que ela guardasse, toda a história sórdida, que Mariana havia lhe contado, tão somente para si mesma.

Anita ficou calada, e logo depois foi pousando a xícara de sua mão, com cautela sob a mesa, parecendo pensar muito antes de abrir a boca.

— Ela que veio falar comigo, eu não me lembro de ter ido à procura de ninguém pra falar nada. – defendeu. – E eu confesso que tomei um susto, com tudo que ela me contou. – a moça disse, não se deixando abater, Anita sabia que a arrogância demostrada pela outra, faria com que a mulher achasse que podia lhe dominar, e ela não iria permitir isso.

— Pois não me interessa o que você pensa, é minha filha, e eu decido, ela não vai namorar ninguém que eu não queira e ponto final. – a mulher rebateu amarga. E usando toda sua autoridade.

— Bom eu não sei de muita coisa a respeito dessa história, além do que ela me disse, mas... – Anita lança um sorriso de lado, meio incrédulo. – É muito fácil se conquistar o medo de alguém, o difícil é ter o respeito, e você esta desrespeitando tua filha, e dando o direito e raiva necessária, para que ela faça o mesmo. – ela pondera, disposta a se manter neutra.

— E quem é você, pra falar em respeitar alguém, tua mãe é que você não respeita, sem falar no jeito abusado que você trata teu pai, minha filha não é uma qualquer pra fazer o mesmo. – Marta lançou as palavras ao vento, mantendo sua face de escarnio e encarando a garota com arrogância.

— Você não acha que esta descendo muito rápido, desse nível todo que você diz que tem. – Anita suspirou pesado, arredando a cadeira para se levantar e buscando um autocontrole sem igual, para lidar com a situação. Marta a fuzilou por segundos...

— Você envergonhou a pobre da Vera de todas as formas, a desrespeita, a agride, e ainda por cima, esfrega um namoro na cara do pai, com um garoto que ele detesta, rapaz esse, que pelo que ouço e apurei, não tem a menor moral também, porque se reveza entre as duas irmãs e sei lá mais qual garota... – a mulher gesticulou perversa, colocando todo o peso do desdém e mau agouro, no que falava. – Mais de qualquer forma, eu acho que não te disseram, que ele é homem, e pra ele nada ficara tão feio assim. – Marta continuou, enquanto Anita demostrava estar ouvindo tudo, com muita atenção, como se fosse realmente um ensinamento muito importante. A moça sentiu tanto desprezo, pelo vulto a sua frente, que a fez ser até incapaz de tomar uma atitude mais drástica.

- Já a Vera coitada, uma menina que se deixa filmar numa situação como aquela, francamente, não tem moral pra dar conselhos a menina nenhuma, você Anita, não passa de uma, uma... – ela continuava a dizer, como se a raiva estivesse a fazendo engasgar.

— Vagabunda. – Anita disparou mordaz, com um sorriso debochado, por pensar que estava facilitando a vida da mulher. – Essa é a palavra, que você esta procurando, alias me espanta, que você não a use com tanta frequência, já que se diz tão apta a julgar à todos. – Anita encarou a mulher altiva, decidida a não abaixar sua cabeça a absolutamente ninguém. Ela sentiu pena, de alguém tão baixa que para se sentir melhor, tinha que julgar e insultar a história de alguém que ela nem conhecia verdadeiramente.

— Já você, já deve ter a ouvido bastante não é. – Marta cruzou os braços, desafiadora, devido ao fato de notar a frieza da garota.

— E você? - Quem você pensa que é, pra falar assim com ela. – a presença de Ben, entrando pela porta da cozinha, surgiu no campo de visão de Anita. – Não vai responder, não queria testemunhas, do quão cínica e sem escrúpulos você seja. – Ben cuspiu enraivado, havia pegado a discussão no meio, mas o que ouviu foi o suficiente, para odiar a mulher com todas as forças. Ele não iria conseguir deixar barato, a forma odiosa que ela havia falado com Anita.

— Eu... – a mulher foi surpreendida, não esperava por testemunhas.

— Pois eu respondo por você, ninguém, porque se você fosse alguém Marta, você não estaria morando de favor, dentro da casa do meu pai, eu iria gostar muito que fosse ele a te ouvir falar assim com ela, desse jeito, porque ele ia te enxotar daqui agora mesmo. – Ben parou ao lado da namorada, sem segurar o que pensava, sempre fora de cultivar o respeito por qualquer pessoa, mas sua revolta, estava tomando a frente de suas decisões naquele segundo.

– Ela nunca te fez nada, pelo contrário, te recebeu aqui, ficou lavando, cozinhando, limpando, pra você viver no bem bom, e depois achar que pode ofender ela, sem saber metade da nossa história. – de repente, o ar por ali estava irrespirável. Anita temeu ver o amado perder a educação. - Repete na minha frente agora, ou você só estava com tenta coragem, porque achou que ela não conseguira se defender, porque ela, você não vai ofender mais, nunca mais, só se você quiser me enfrentar, o que eu acho muito difícil, sendo alguém tão covarde e tão baixa. – soltou ele, disposto a proteger com todas as forças Anita.

— Você esta avisada Anita, eu estou indo, tenho um compromisso. – Marta viu no silêncio uma oportunidade para ir embora, temeu estar se complicando com sua atitude quase impensada.

— Como você deixa essa louca te falar tudo isso, e fica assim com essa calma. – Ben perguntou, apertando Anita em um abraço, e sem entender toda passividade da garota.

— Se você soubesse quantas vezes, discursos parecidos já chegaram nos meus ouvidos, mais esquece, as vezes a ignorância é tanta, que nem vale reposta. – Anita explicou, disposta a não ser atingida pela fúria e preconceito da mulher.

— Você tá bem. – Ben questionou com preocupação, beijando a testa dela, carinhoso.

— Sim, mais deixa isso, vamos tomar nosso café em paz vai, ou daqui a pouco estamos os dois atrasados, por conta, de uma mal amada, sem propósito de vida. – Anita respirou, buscando afastar a ansiedade, enlaçando os braços em volta da cintura dele. – Mais obrigado por ter intercedido. – ela agradeceu com ternura.

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— Não pai, isso não, a Anita não vai me perdoar. – Sofia relutava e achava as ideias do pai sem propósito. – E nem acreditar, não é possível. – disse ela, achando tudo muito fantasioso.

— Se eu não tentar, a tonta da tua irmã, vai continuar estragando a vida dela, estando presa naquele moleque. – Caetano esbravejou já impaciente, sempre conseguia alcançar seus objetivos, e não seria agora, que ele iria perder.

— A Anita, ela é romântica, sensível, e ela gosta lá do Ben, mesmo que o futuro dela seja se enterrar no Grajaú até morrer, fazer o que. – Sofia sabia que estava arriscando muita coisa, quando concordou participar dos planos de Caetano.

— Pois eu te digo, este romance está com os dias contados, ou não me chamo Caetano Figueiroa. – o homem afirmou confiante. Sofia preferiu ficar calada, prestando atenção no suco e sanduiche, que o garçom havia acabado de deixar na mesa.

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— Então você decidiu mesmo abrir o jogo com o Ben, sobre tudo que o teu pai tem feito. – Julia falava serena, fitando Anita sentada a sua frente, em um dos muitos bancos do pátio do colégio.

— Vou sim, Julia, não tem porque eu ficar escondendo isso dele, essa minha atitude, faz com que eu esteja sendo leal com meu pai, e omissa com o Ben, e ele não merece isso. – Anita disse se enchendo de coragem, agora não haveria nada que a fizesse mudar sua decisão.

— E se ele querer tirar satisfações, o Ben é um cara super correto amiga, e ainda tem outra, ele é capaz de qualquer coisa pra te proteger, ele não vai reagir bem, diante dessa proposta absurda que teu pai fez, e o Ronaldo, nossa ele vai ficar muito furioso com a tua mãe, por ainda estar protegendo teu pai, mesmo estando ciente de todos esses absurdos. – Julia analisou a situação de todos os ângulos e desdobramentos.

— Eu sei, só espero que eu consiga, acalmar ele. – Anita concorda suspirando pesado.

— E aí bonitas, será que a professora de Geografia, vai aparecer só com um dos pares do brinco, na aula hoje. – Serguei chegou brincalhão, na companhia de Ben, já usando de bom humor, se atirando no banco a frente, onde as duas estavam sentadas.

— Serguei você para tá, na semana passada, você quase me fez ter uma crise de riso. – Julia repreendeu o amigo, explicando o sufoco que havia passado.

— Não foi só você. – Anita riu também se recordando, abrindo espaço para o namorado acomodar-se ao seu lado.

— O problema é a forma, como esse aí, fica contando as coisas pra gente, eu não sei ainda porque, que eu acho graça disso gente. – Julia estava indignada consigo mesma.

— A aula dela é muito chata, eu não gosto é da professora, ela até como pessoa é legalzinha, mais a aula dela, jesus. – Serguei continua a reclamar, não sabendo se venceria o tédio, destinado para aquele final de manhã no Destaque.

— Nisso eu concordo, na segunda feira, eu quase dormi durante a explicação dela, por cima do ombro da Anita, isso só não foi possível, porque ela, Anita, passou a aula toda me beliscando. – Ben gargalhou da situação.

— Vocês dois, só vendo. – Anita acabou rindo alto, assim como os demais, apanhando o copo com suco que estava na posse do namorado e tomando alguns goles.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.