– Toma. – Anita entra bruscamente pela porta com Ben, e joga um papel sob a mesa onde Vera trabalhava.

– Filha, que isso. – a mulher para de ajeitar a bandeja com salgadinhos sem entender a atitude abrupta da filha, sorriu desconcertada enquanto a encarava, Anita retribuiu a olhando séria.

– Um exame. – responde ela com a voz firme, Vera sorriu tímida ainda não entendendo, Pedro e Giovana que estavam no sofá passaram a prestar atenção na conversa , ambos extremamente curiosos. Bernadete, Micaela, Soraia e Marta, passaram a olhar uma para a outra sem deixarem de perceber o clima tensão entre mãe e filha.

– Ah você pegou teus exames, porque não me disse que teria ido com você. – Vera vai falando quando foi cortada pela filha.

– De gravidez. – revelou ela com uma pose dissimulada que se fazia presente.

– O que? – Anita, por favor, que brincadeira é essa. – proferiu Vera abestalhada, com o que ouvia da menina e não soube o que dizer.

– Não tem brincadeira nenhuma dona Vera, é um exame de gravidez. – afirma Anita mais uma vez. Ben que entrou logo atrás dela em casa, escutava o papo das duas tentando arrumar um jeito de intervir sem obter sucesso.

– Anita que isso. – Vera sorriu estupefata, diante de toda empáfia de Anita, que não disfarçava o ar de implicância com que agia. – Aqui na frente das pessoas, Anita, filha. - alegou ela quase que como um sussurro.

– Anita é... – Ben tentou tirar a atenção da garota da situação de alguma forma.

– Calma mãe. – ela pediu, ignorando o garoto que se aproximava. – Bom eu não abri, mais se você verificar o resultado, você irá ver o mesmo que te disse milhões de vezes ontem, negativo. – exclamou a menina

Vera continuou pasma, a face espantada, entendeu que significava também que Anita queria lhe esfregar na cara que ela equivocou-se nas acusações anteriores.

– Não vai abrir. – desafiou Anita novamente, a mãe pegou o envelope em mãos apenas o olhando sem saber que atitude tomar. – Vou lá pra cima. – ela comunicou destinando um olhar arisco a mãe.

– Vera eu acho melhor vocês conversarem depois. – aconselhou Ben, seguindo atrás da namorada.

– Vera não liga, ela está chateada, por isso. – Bernadete tentou defender Anita, apesar da atitude rude que ela demonstrou.

– Eu sei Bernadete. – Vera não negou suspirando, abrindo o envelope deixado pela garota lendo o que estava escrito no papel que continha dentro e ficando pensativa a cerca do que fazia.

– E aí tá satisfeita, ficou vingada. – Ben confrontou Anita, e o jeito impaciente se fez presente em sua voz.

– Por que. – Anita fingiu não se importar, caminhando da cama para o guarda roupa, desatenta, ela ficou a fitar as peças penduradas no cabide parecendo não saber o que pegar pra vestir.

– Anita hei... – Ben quis despertá-la. – Dá pra parar de conversar com teus pensamentos e prestar atenção em mim. – Ben foi até ela de braços cruzados encarando o chão. – O que te deu hein, de fazer isso, foi só pra atingir a Vera. – Ben a amava e mesmo ao seu lado pra todas as horas, não seria ele que passaria a mão na cabeça da namorada pelo ocorrido.

– Olha raciocínio rápido hein. – ela riu, diante da cara brava dele por um momento.

– Anita. – Ben maneou a cabeça em reprovação – Senta aqui, eu quero falar um coisa com você. – taxou ele aos suspiros, conduzindo ela de forma séria a sentar a cama.

– Ben. – ela iniciou um protesto. – Aiiii... – Anita resmungou inconscientemente ao sentir o leve desconforto nas costas se manifestar novamente, ao vê-lo apoiando a mão em seus ombros e a obrigando a sentar-se.

– Eu sei que você tá chateada, não estou falando só de ontem, mais isso já vem de dias, mesmo que você não fale muito do assunto, é nítido que essa briga com tua mãe está te matando aos poucos, vocês sempre tiveram uma ligação muito forte. – ele se explicou. – Mais você tá errada, muito errada de ter feito o que você fez lá em baixo, porque não é agindo como ela, que você vai consegui resolver qualquer coisa que seja. – o rapaz argumentou severo.

– Ok, eu exagerei. – a garota teve que admitir encurralada.

– Conversa com ela, mais de verdade, não assim atacando e pior sem pensar. – ele disse a aconselhando.

– Eu entendi tá bom, não precisa repetir, sério. – ela garantiu amenizando a tensão com um sorriso, pousando uma mão no rosto dele.

– Pensa nisso mesmo. – ele pediu novamente. – Agora eu tenho que ir, trabalho me espera. – percebeu ele seu quase atraso.

– Ótimo, muito obrigada por me lembrar que eu terei que ficar aqui decorando cada mancha na pintura das paredes dessa casa. – Anita quis criticá-lo irônica.

– Você é muito boba sabia. – ele riu e se despediu com um beijo. Ela ficou o observando ir embora, se jogando na cama pensativa, enquanto remoía os últimos acontecimentos.

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– Anita, posso falar um minuto com você. – Vera revelou, parando a porta do quarto.

– Ok. - Anita não contestou olhando para ela, e fechando o livro que lia para passar o tempo.

– Eu queria, bom queria conversar um pouco. – Vera proferiu enrolada com as palavras devido ao nervosismo.

– Fala mãe, eu vou ouvir. - instigou Anita, soltando o livro sob a cama, sentando-se mais a ponta para encarar a mulher, que continuava em silêncio.

– Eu sei que... - Bom nos últimos tempos, nossa relação tem andado muito desgastada. - manifestou Vera, se acomodando na cadeira

– Pra não dizer terrivelmente né mãe. - adiciona Anita, sendo honesta com o que pensava.

– Eu sei. - Vera concordou mais uma vez. - Mais eu sinto que, mesmo que nós duas tenhamos errado, bastante, não dá pra continuar desta forma, foi longe demais eu diria inclusive. - alega Vera procurando agir com cordialidade, mesmo que a situação fosse delicada.

– E eu concordo. - respondeu Anita num tom calmo. - E esse deve ser a única coisa que nós nutrimos a mesma opinião depois de muito tempo. - brinca ela, querendo amenizar a tensão contida que ambas forçavam para esconder.

– Sei que eu errei, e até seria mais cômodo pra mim, não me convencer disso, talvez era o que eu estava fazendo até ontem filha. - disse Vera, não excluindo o quanto poderia estar errada também.

– Até eu armar aquela confusão toda, que teve um desfecho no hospital. - pergunta Anita recebendo um aceno como confirmação. - Juro que eu não planejei, aliás, se eu soubesse teria tentado evitar. - garante ela, jamais querendo que a mãe se culpasse.

– Eu sei que eu agi errado ontem com você, deveria mesmo ter conversado a sós, mas na hora eu nem pensei Anita, só agi com preocupação. – Vera dizia cheia de arrependimento. –Eu me casei muito cedo filha, e você veio, bom eu não planejei ficar grávida de você, e eu não me arrependo, você e a Sofia, apesar da forma conturbada que se deu o fim do meu casamento com o pai de vocês, são grandes presentes. – afirmou a mãe. – E quando eu cogitei ver você naquele papel , naquela situação, eu temi, temi muito você passando e tendo que abdicar de coisas que são importantes pra você, não que ter um filho seja algo ruim filha, porque não é, é algo único, mas tudo tem sua hora. – Vera quis se explicar de algum jeito.

– Eu sei, mais a tua preocupação foi severa, que deu efeito ao contrário sabe mãe. – Anita não deixou de demonstrar sua chateação.

– É hoje eu vejo isso sim filha, eu me precipite, acabei te deixando confusa e até amedrontada. – ela concordou.

– Paguei mais um mico né, se bobear vou ter que aturar todo mundo me jogando essa história na cara, e achando um máximo. – devolveu Anita na defensiva em tom de lamento.

– Anita eu sei que em muitos momentos te julguei, e até erradamente por essa história tua com o Ben, pra mim pro Ronaldo, vermos vocês dois nossos filhos, afirmando que se gostavam de um jeito que nós não esperávamos, filha... - tentou explicar ela, Anita por sua vez não escondeu seu descontentamento com o discurso que já ouvirá tantas vezes, e conhecia de trás para frente. - Anita entenda um acontecimento desses nunca passou pela minha cabeça. - a mãe insistiu a lançando um olhar sereno na direção da garota que desviou o olhar.

– Nem na nossa. – corrigi Anita. – Eu não sabia que o Ben era filho do Ronaldo quando o conheci. - argumentou ela mais uma vez, mesmo sendo plenamente responsável por tudo que fez até ali, Anita jamais se imaginou em tal situação quando se viu encantada por Ben.

– Mais depois soube. - Vera afirmou com uma expressão austera.

– Eu sei. – admite. – Mais aí foi tarde, eu já tava apaixonada por ele. - não mentiu ela. – Eu tentei muito, viver longe desse sentimento, matar, sufocar ele dentro de mim, até por saber a encrenca que iria dar, mais ele só foi ficando maior, e tomando conta de mim. - Anita diz sincera. – E foi aí que eu me dei por conta que... - Anita parou a fitar a mãe receosa se continuava ou não a se explicar, já que as chances de Vera não lhe dar ouvidos era grande. – Eu não podia, eu não iria conseguir me anular desse jeito, não naquela situação, por mais medo que eu tivesse da reação de todo mundo, eu queria o Ben do meu lado, e saber que ele também me queria, me fez não querer desistir nunca mais disso. - a garota confessou, controlando a emoção e o olhar lacrimejado.

– Ah Anita, a gente não manda no coração não é isso. – Vera se viu também emotiva.

– Me desculpa mãe, mesmo, eu juro que eu preferia que tudo tivesse sido diferente, de um outro jeito, menos dolorido pra todo mundo. - esclarece ela, com a voz embargada pelo seu estado emotivo.

– Eu sei, eu não duvido disso filha. – garantiu Vera, se aproximando. – Eu também conduzi isso de uma forma errada, talvez se eu tivesse ficado mais do teu lado, você hoje não estaria tão longe de mim, mas Anita, assim como você necessitou lutar pra estar ao lado do Ben, mesmo tendo a certeza de que a situação era delicada, eu não consegui fingir que aceitava. - Vera também expôs o que lhe atormentava desde sempre. – E talvez ainda não consigo, olhar pra vocês dois juntos, e não me incomodar nem um pouco que seja. - ela admitiu.

– Aceitar e entender, são palavras diferente mãe. – Anita não exigiu nada, mas não conseguiu ficar sem falar o que pensava e com certo ressentimento aparente.

– Eu sei. – a mulher assentiu positivamente. – Eu achava realmente que esse namoro não viria a ter futuro, e que os dois só viriam a se machucarem e trazerem os problemas pra nós resolvermos depois. - diz a mãe sem deixar a sinceridade de lado.

– Em parte, você tá certa, mais a gente nunca quis trazer problemas pra vocês mãe, ao contrário, a gente sempre assumiu a culpa, a nossa, nisso vocês é que... - revidou Anita evitando perder a calma. – Acharam que tinham que responder a tudo por nós. - fala ela a respeito do jeito intolerante de Vera e Ronaldo.

– Talvez, somos pais Anita. – disse ela severa, concordando em parte. – Me desculpa, se eu te confrontei da forma errada, ou eu até agi enrijecida com você, mais eu temi pelo futuro, pelas escolhas que você andava fazendo, você já passou por bons bocados Anita, e não pense que isso não me doí, porque doí muito sim. – Vera confidencia entre um olhar terno garota.

– Mãe quando eu decidi ficar com Ben, tentar de novo, mesmo com todo rolo do namoro dele com a Sofia, eu decidi não só dar uma chance a ele, mas eu dei uma chance a mim também. – Por que... - Anita argumenta ao temer que o rumo da conversa fosse o mesmo das outras vezes. - Eu parei de transformar um sentimento tão puro e verdadeiro, numa coisa odiosa, porque era exatamente isso que eu estava fazendo dentro de mim, por mais que eu negasse, a partir de mim mesma eu comecei a cavar minha própria infelicidade. – contou ela seus tormentos de forma ansiosa. - Você não pensa que... – Ficar junto, a gente estar juntos foi fácil, porque não foi, a gente brigou muito e derramou muitas lágrimas ainda, de ressentimento, de dor, de tristeza, de mágoa, de culpa e até de alivio. - afirmou, enquanto Vera só a encarou com o olhar vago. – Mais aos poucos o que era forte prevaleceu, e antes de comunicar essa decisão a vocês, a gente precisava dela pra gente, só pra gente, por isso que de início nenhum e nem outro falou nada, porque não dava, era algo que tinha que se restabelecer entre nós dois, nós precisávamos desse tempo. - Anita tenta explicar de algum jeito. – E óbvio que a gente sabia que iria ser difícil, muito, como foi pra vocês. - disse ela com nervosismo, que só aumentava com o forte silêncio que se instaurou entre as duas.

– Realmente Anita, eu me vi vendo a história se repetir. - protestou a mãe. - E não nego me sinto traída, decepcionada, principalmente com você. - Vera expressou o que realmente pensou de tudo aquilo, nem mesmo o medo do que a filha pensaria, a fez parar pra pensar, o alivio que sentia por ser livrar de tal peso que era maior.

– E a gente deu motivo né, também não dá pra negar. - respondeu Anita de volta, mesmo ficando angustiada com o que ouvia.

– Mais mesmo errando, usando os argumentos errados, eu só queria uma coisa, o melhor pra você. - Vera se aproximou de Anita tocando seu rosto de leve, ignorando o olhar arredio que recebeu.

– O que não incluía eu ser namorada do Ben. - Anita rebateu não contendo uma pitada de mágoa em sua voz.

– Talvez filha. - Vera não soube como negar. - E ainda mais depois de tudo que já tinha acontecido até ali, ver vocês dois de novo, parecendo que estavam só insistindo em um erro, me abalou demais. - ela tentou justificar de alguma forma.

– E porque a Sofia, você deixou os dois namorarem, parecia até que gostava. - Anita confrontou a mãe sem dó e nem piedade, mesmo imaginando que isso só podia virar mais um motivo de uma briga, e uma conversa não encerrada. Se perguntando por que aquilo ela veio em pensamento naquele momento, era algo tão bobo e sem nexo. - Ela era mais a altura dele não é mãe, e depois Sofia sempre te desafiou, e você sempre cedeu mesmo dando contra. - toda sinceridade de Anita era também acusadora. - E eu... - Bom eu, só era a filha boazinha, honesta, que nunca te dava trabalho, mas sempre esteve ali pronta a topas qualquer coisa pra te ajudar e jamais te incomodar. – exasperou Anita, o jeito impaciente lhe guiava de forma rude até. - Eu merecia ser feliz, mas o Ben era demais, talvez fosse mais fácil achar que a Sofia iria te confrontar do que eu, a que nunca te disse um não pra você. - imagina ela de maneira impaciente, os olhos firmes em cima de Vera também a julgavam irritada, com tudo que lidou até ali.

– Anita eu não vi as coisas dessa forma, eu te garanto. - Vera não se sentiu induzida a concordar, para ela além de precipitada a filha estava sendo infeliz em seu julgamento.

– Foi o que eu senti na época, sei lá. - sustentou Anita, procurando se livrar de tal pensamento e rápido, antes que isso a corroesse por dentro, tirando toda sua razão e calma. - Pessoas boas, até por mais complacentes e maturas que elas sejam mãe, um dia todo mundo se sente inferior, jogado de lado, e têm o direito de não gostar de alguma coisa, ninguém é obrigado a concordar com tudo. - Anita levantou da cama olhando para a parede ao outro lado procurando retomar sua calma.

– Anita. – Vera suspirou temendo imaginar onde a fila chegaria com tal desabafo.

– Eu me senti sendo descartada mãe, sendo ignorada, por todo mundo, parece que as pessoas só achavam que eu era uma vítima idiota, mais que qualquer um achar que era uma pobre vítima, eu queria compreensão, só que me entendessem, já estava de bom tamanho, nunca fiz questão da piedade de ninguém, e nem queria ninguém do meu lado por isso. - ela diz deixando um pouco de sua mágoa transparecer.

– Anita eu acho que... - Vera ameniza o silêncio a interrompendo.

– Eu fui embora daqui, quando decidi morar com a Bernadete daquela vez, foi porque eu não queria mais aquela vida de pobrezinha , coitada, que as pessoas queriam me dar. - "Ela era tão boazinha, porque foram fazer isso justo com ela." - o tom revoltado se faz presente mesmo sem ela notar. - E não era esse tipo de ajuda que eu precisava, e muito menos que me tratassem como uma demente que expulsou todo mundo de perto dela, pra acreditar num psicótico que recentemente tinha explodido uma praça. - garota expõe seus anseios, que durante muito tempo foram só dela, sem conhecimento de Vera. - Eu não queria ver o Ben com a Sofia, você acha que dava pra continuar nessa casa pra isso, eu sei que na época você achou que eu só estava renegando todo mundo quando fui pra casa da Bernadete. - sobressalta Anita sobre os pensamentos da mãe sem que ela negasse, somente continuou com o olhar atento a escutando.

– Eu sei Anita, eu não concordei, de fato achei impensado tua atitude de se afastar. – a mulher não negou.

– Eu queria esquecer que eles existiam na verdade, era a partir dele que eu me machucava, era imaginar ele com ela, porque doía demais, ai eu fui começando a transformar aquele amor todo, numa coisa terrível, ódio... – a menina contou seus motivos - Eu passei a atacar pra me defender, toda vez que ele chegava perto eu saía correndo, literalmente, de repente aquela revolta toda com ele desde início foi isso, semear um ódio, pra esconder todo amor que ainda tava ali, e que fazia eu me sentir tão tola, de imaginar que ele era o único culpado por aquilo tudo, eu não queria saber na verdade, no início se tinha sido ele ou não, porque eu não queria ter certeza, que tinha, a dúvida era melhor do que qualquer coisa naquele momento. - lágrimas foram brotando devagar no rosto de Anita, sem que ela impedisse.

– Foi difícil pra todo mundo Anita. – interrompeu Vera acrescentando, inquieta com o nervosismo que se fazia presente.

– Mais eu tive que parar de fugir, pra encarar aquilo tudo, matar meus fantasmas, antes que eles me matassem, eu comecei a descobrir que eu tava viva, que eu ainda queria viver o resto da minha vida, encontrar a minha felicidade de novo, não importasse o preço que isso custaria, eu vi que não era justo eu fazer um esforço enorme pra arrancar o Ben de dentro de mim, só pra fazer uma boa ação pra pessoas que se quer estavam ali, ou tentavam ver exatamente como eu me sentia diante daquilo tudo, ou até pra me punir pelos meus erros que também não eram poucos, eu passei a encarar de frente até pra mim esquecer ele um dia, mas aí a vida foi fazendo um caminho inverso mãe, onde parecia me colocar diante dele novamente, me dar uma chance de concertar meus erros com ele, da gente fazer aquele amor não ser um sinônimo da maior dor que a gente já tinha vivido , se quer sabendo se podia suportar. - alegou a menina tomada por emoção. - Eu não tava roubando nada de ninguém ou a paz, como você deve ter pensado algumas vezes, eu tava trazendo de volta pra minha vida o cara que eu amava, e eu também tinha certeza que ele me amava, não deu pra segurar, eu tentei, o Ben tentou, mais querer um ao outro se fez mais importante, ter a oportunidade de mudar aquela história, escrever algo mais feliz pra ela, reescrever algo melhor em cima daquele monte de mágoa e raiva, foi mais forte que tudo. - se calou ela, direcionando um olhar terno a mãe que parecia sem reação.

– Oh Anita. - Vera levantou correndo para abraçá-la consternada.

– Me desculpa se nem sempre eu fui aquilo que você queria que eu fosse, mais eu quero que você saiba que eu tentei muito, eu não planejei me envolver nessa confusão familiar, e muito menos o que veio depois, que teve um desfecho muito pior, porque eu não me orgulho, ao contrário, essa história me faz muito mal até hoje, me atormenta demais, é como se aquela menininha assustada que ficou sem saber de nada mais da vida dela, quando viu aquele vídeo na rede, ainda tivesse aqui dentro, bem escondida, mais as vezes ela toma conta de mim, e me detona de um jeito, que eu acho que eu não vou conseguir me livrar daquela sensação ruim, de impotência. - desabafou ela, correspondendo o abraço carinhoso que recebia.

– Então o Ronaldo tem razão você ouviu minha conversa com ele por isso que foi embora pra Bernadete de novo, sem nem me dar uma satisfação viável. - Vera a soltou para questionar.

– Eu ouvi, sem querer, e mãe... - confirma ela voltando a se acomodar sob a cama. - De você, quer saber eu preferia não ter ouvido, porque foi horrível. - admitiu Anita ter ficado totalmente impactada. - Eu sei que todo mundo fala por aí, sempre o pior de mim depois disso. - afirmou ela sem se iludir. - Mais ouvir da tua boca, a forma envergonhada que você disse, me fez me sentir suja, indigna, de estar perto de qualquer pessoa, porque eu no fundo inconscientemente fui a causadora, eu fiquei perto do Antônio, eu deixei todo mundo cogitar que a gente tava namorando pra valer. - se auto acusou a garota decepcionada consigo. - Cheguei até achar que eu iria me afastar do Ben, eu não tava digerindo isso tudo e isso tava atacando demais nosso namoro, porque deve ser estranho pra ele lidar com isso, de repente ele tinha namorado a garota mais certinha do bairro, e a trocado por alguém que não tem a menor moral diante de ninguém. - formulou Anita de maneira nervosa. - Eu não tive nada de mais com o Antônio, e mesmo que a única que vez que eu tenha me relacionado com alguém, tenha acabado exatamente naquela confusão, quando uma garota se expõe daquela forma uma marca fica, se até você pensava, imagina o resto do mundo, que se quer sabe realmente o que houve. - taxou ela com angustia, enxugando suas lágrimas.

– Eu juro que eu teria feito qualquer coisa que fosse pra evitar isso tudo filha. - Vera afirmou penalizada com o que ouvia de Anita, ao aproximar-se, a fazendo repousar a cabeça em seu colo, , pela primeira vez tinha uma menção exata sem subtrações de como tudo tinha a afetado.

– É. - Anita suspirou profundamente antes de mais nada. - Mais não dizem que o que não mata fortalece então ,e não dava pra ficar parada naquela história, eu tinha que sair dali, eu to fazendo isso, acho que eu já fiz de alguma forma, eu achava que não dava pra confiar em mais ninguém depois daquele episódio, o Antônio me mostrou isso, ninguém diz exatamente o que pensa, e tem gente que esconde até demais o que é realmente, um coração de pura inveja e ódio, os piores sentimentos que uma pessoa pode trazer dentro de si. - ela falou, sendo confortada pela mulher.

– Só que você não pode carregar este fardo pra sempre minha filha. - alegou Vera preocupada com os dilemas da garota.

– Mais eu confio, nos amigos, nas pessoas que eu amo, no Ben, e principalmente em mim, juntar os cacos da minha relação com o Ben me trouxe, a necessidade de confiar, acreditar nas coisas de novo, porque se eu não fizesse isso, eu ia continuar sendo a garota que jurou viver sozinha pro resto da vida, mas jamais ser enganada de novo por quem que fosse. - se corrigiu ela, secando algumas lágrimas. - O Ben não teve culpa mãe, na verdade além do Antônio, eu não sei se dá pra culpar mais alguém por essa sucessão de desastres, e eu nem eu quero. - diz Anita, não querendo aportar a culpa de nada a ninguém.

– Mesmo assim, eu me senti muito responsável Anita. - confessa Vera, ajeitando alguns fios de cabelo dela bagunçados.

– Eu amo ele, a gente se ama, pode até ser estranho pra você mais o que eu sinto, e você não vai conseguir mudar isso, por mais que me doa a forma como você me trata por isso, por não fazer questão de entender ou menos em aceitar e ver meu lado um pouco que seja. - afirmou ela se erguendo. - E se antes a gente não tinha tido tempo pra saber o que era amor, como você e o Ronaldo nos disseram muitas vezes, agora a gente já teve o suficiente, e vocês podiam até estarem certos, a gente nunca conseguiu de verdade dar uma continuação pra nossa relação, vinha sempre algo antes pra abortar, eram idas e vindas intermináveis, e até aquela fuga, aqueles dias viraram nisso, não deu pra curtir a felicidade dali, nem compartilhar, foi tudo interrompido sempre por um novo argumento, mesmo achando que eu nunca mais viveria algo parecido, eu vivi e justamente com o Ben, da forma mais lenta, sem pressa nenhuma a gente fortaleceu nossa relação cada vez mais, e eu não vou abrir mão dela mãe, a gente não vai, mesmo que se afastar de vez possa doer muito em nós dois, a gente uma hora não vai hesitar de fazer isso se vocês continuarem tratando nosso namoro da forma como vocês nos impõem. - ela disse com toda sinceridade que encontrou.

– E eu fico feliz mesmo que aquele episódio triste, lamentável, mesmo que no começo você achasse que não, ficou trás, que ele não vai te impedir de viver a tua vida. – Vera com certo aliviou dando um sorriso cheio de ternura a ela. - Me desculpa, me perdoa, também, por eu não ter sido mais insistente, assim como você foi filha. - a mulher pediu emotiva. - Eu só quero teu bem, te ver feliz, é sempre foi o que eu quis, eu posso ter errado sim, mas não era pra te ver mal Anita, não foi essa minha intenção, e ontem te ver passando mal, me fez me sentir tão impotente, porque eu estava me retirando da tua vida, mal sabendo o que acontecia de fato com você, e justo eu, que me julgava tão aberta pra diálogos e participar da vida de vocês. - falou Vera se lamentando de certa forma.

– Eu também me afastei não é, e você sempre foi uma ótima mãe, no geral, eu não posso dizer que não. - elogiou Anita, entre um olhar de orgulho. – É, mas não faz mais, se você desconfiar de alguma coisa que aconteça comigo, me pergunta antes de sair espalhando, porque foi ridículo, eu me senti otária demais. - argumentou Anita, ainda remoendo a situação, sem se conter.

– Eu fui impulsiva admito. - retrucou ela convencida. - Mas, não me esconda mais nada Anita, vamos retomar nossa parceria como sempre foi, eu quero participar da tua vida, quero que você me conte as coisas, não tudo de uma forma clara e concisa, mais que me conte o que você queira falar. - pede a mãe, vendo Anita ficar pensativa a respeito do que respondia.

– Meu namorado vai continuar sendo o Ben mãe, isso não vai acabar legal. - Anita teme, que Vera não consiga lidar com tal fato, com o mesmo desprendimento com que ela propunha tal acordo.

– Acho que primeiramente, eu preciso me acostumar com isso, de uma vez por todas. - sorriu ela. - E esquecendo o fato de que um dia eu pensei que o carinho que os unia era de irmãos somente. - cogitou ela, que fosse um caminho. - E vocês se gostam, não é filha, eu precisei ver aquela confusão toda de ontem acontecer, pra ver no desespero do Ben, com teu mal estar, o tamanho do sentimento que ele tem por você, ele te ama, assim como você diz amá-lo. - Vera foi obrigada a admitir, mesmo que não aprovasse as coisas daquela forma e nem quisesse que fosse assim, mas não dava mais para fugir de realidade ou tentar tapeá-la como tinha feito até ali. - E você de certa forma tem razão, quando afirma que poderia ser um pouco pior, o Ben é filho do Ronaldo sim, mas isso não diminuí a pessoa que ele é, bondoso, carinhoso, amável, bom caráter, um coração de ouro, não é muito difícil analisar o porque você se apaixonou por ele. - disse a mulher, Anita só o encarou parecendo sensibilizada. - Vamos tentar. – propôs ela mais uma vez insistente.

– Trégua. - Anita riu por um momento. - Até porque não dá pra continuar com isso, você é minha mãe e eu nunca, jamais conseguiria me esquecer disso, ou viver feliz sabendo que a gente não se entende. - garantiu Anita sorrindo ao abraçar a mãe, com todo carinho e zelo que encontrou.