– Você de chefe de cozinha. – afirmou Anita vindo até Ben, quando voltava da casa de Julia. – Será que eu devo ir embora, pra evitar um desastre no meu estômago. – brincou ela parando ao lado dele e lhe dando um beijo carinhoso no rosto.

– Ah mais que falta de consideração comigo, mal agradecida você. – ele respondeu voltando suas atenções para beijá-la.

– Ah culpa não é minha a desconfiança vem da minha barriga mesmo. – falou ela sorrindo, em um sorriso que continha plena felicidade.

– Falou com a Julia? – ele indagou parando o que fazia. - Achei até que você iria demorar mais, vocês tem sempre assuntos e mais assuntos. – comentou Ben.

– Engraçadinho. – ela ironizou, evitando lhe dar razão, mas de alguma forma ele estava certo, sempre teria algo para conversar com a amiga, as duas tinham mais do que um laço de amizade, era uma forte afinidade e uma irmandade sem fim, onde uma iria até últimas consequências pela outra.

– Tira a mão daí. – ordenou Ben, no instante que Anita tentava afanar um pedaço do tomate que ele tinha acabado de cortar.

– Ai tá bom. – ela desistiu fazendo bico descontente. – Mais é que o Fred chegou lá, aí eu meio que sobrei né, pra parar de me sentir uma vela com mais de um metro e meio, achei melhor vir embora. – exclamou Anita sorridente, explicando porque não tinha ficado mais na casa da amiga.

– Só você mesmo. – ele achou graça.

– Eu o que? – ela perguntou como se não entendesse. - Eu não tenho vocação pra vela né Ben, eu já sou atrapalhada, se eu for desempenhar esse papel to ferrada. – se justificou. – Aí eu preferi, vim cá né, fazer o papel de namorada mesmo. – afirmou estendo o braço em volta da cintura dele.

– Escolha mais acertada mesmo. – Ben alegou a puxando para um abraço.

– Incrível sabia, como você me faz esquecer, que assim eu to cheia de abacaxi pra desancar. – proferiu Anita percebendo que jamais ficaria ao lado dele pensando em seus problemas e achando que eles não teriam solução, Ben sempre seria o motivo mais convincente para ela voltar a sorrir.

– Deixa pra amanhã, vamos ser felizes ao menos por hoje. – ele foi sugerindo entre muitos beijos, que deixava ao pescoço dela.

– Ahan tá, por enquanto o que eu sei é que isso não vai prestar, se o Omar descobrir que mau ele te deixou sozinho eu já me enfeie aqui, só quero ver. – Anita argumentou temendo que ele arrumasse problemas.

– Isso o que, mostrar meus dotes culinários, pra minha namorada, fazendo um jantar pra ela. – Ben a contrariou em um sorriso travesso. – Isso não é algo tão grave assim vai. – fingiu ele desentendimento, com a colocação da amada.

– Ai Ben, você não tem jeito. – Anita se divertiu com o sorriso travesso dele.

– Eu não tenho mesmo, quando o assunto é você então, eu sou um cara perdido. – ele não se defendeu, a encarando com sorriso brincalhão enquanto falava. – Nós somos, eu quero ficar com você, se ninguém quer entender paciência. – afirmou ele em um tom decidido, Ben parecia confessar sem medo algum que seu maior desejo era encontrar um "lugar" no qual ele pudesse viver sua história com ela sem que ninguém tentasse os atrapalhar com intrigas e acusando-os de falta de responsabilidade, por mais que o resto também tivesse grande peso em suas vidas.

– É, não sei, acho que é. – Anita disse não querendo dar a ele o gostinho de concordar. – Mais é melhor a gente cuidar do jantar primeiro, ou vamos comer pizza mesmo. - supôs sorridente.

– Boa lembrança. – falou Ben, a soltando. – Até porque risoto queimado, não dá mesmo. - ele disse rindo alegremente.

– Ah e também pode ser motivo de termino de namoro. - Anita se divertiu com o fato.

– Ah não, não fala isso que já desumano vai. - Ben reclama roubando um beijo dela.

– Eu sou muito desumana mesmo. - fingiu ela com uma risada. - Mais pra me redimir, eu posso contribuir com o jantar fazendo uma salada, que tal. - ela se dispôs a ajudá-lo.

– Ah já não era sem tempo, pensei que ia me explorar só. - Ben implicou, voltando a cuidar do jantar.

– Besta. - Anita devolveu a implicância com um beijo rápido, e saindo em direção à geladeira.

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– Pronto bagunça arrumada. – dizia Anita a Ben em um sorriso contente, deixando o guardanapo de lado depois de terminar de enxugar a louça que os dois haviam utilizado no jantar. – Que, que foi, ficou meia hora reclamando de todo meu senso de organização, e agora que a gente terminou paralisou. – disse ela, ao virar e perceber que ele a olhava concentrado apenas.

– Nada, tava te olhando só. – Ben responde como se quisesse dizê-la que era tão óbvio o que ele fazia, a encarava admirado apenas.

– Hum tá, e tava olhando pra pensar depois, em como eu sou chata quando quero que alguém faça o que o que eu espero, ou como eu ando descompensada e maluca ultimamente. – Anita criticou a si mesma, admitindo seus rompentes e nervosismo nos últimos dias, imaginado também em como tudo isso estava atingindo Ben, por mais que ela quisesse evitar.

– Nem uma coisa e nem outra. – ele descruza os braços e vem até ela. – Porque você sempre acha que todo mundo pensa o pior de você hein. – Ben pergunta enquanto envolve os braços em volta da cintura dela.

– Porque eu deixo que pensem dessa forma. – Anita argumenta irônica e recebe um olhar em reprovação.

– E você continua errando. – contrariou ele entre um sorriso, enquanto a abraçava a erguendo no ar.

– Ah sério. – Anita fingiu tensão com o fato, sendo interrompido por um beijo.

– Você nem imagina o quanto. – Ben disse em um tom brincalhão, caminhando a passes lentos sem a soltar. Anita apenas riu e os dois trocaram um beijo deixando o silêncio tomar conta do ambiente logo depois. – E o que eu não posso negar mesmo, é que apensar de tudo de desastroso que tem rolado com a gente, eu adorei poder dar uma pausa disso tudo pra ficar com você. – disse ele não escondendo sua alegria em tê-la perto de si.

– Eu também, mesmo com tudo, saber que no final de cada problema você vai estar ao meu lado, me dá vontade de esquecer realmente todo resto e me concentrar em ficar do teu lado, e pra sempre do teu lado. – ela alegou beijando o rosto dele, o que foi seguido de sorrisos e um beijo empolgado. Eles apenas tinham a certeza de que estavam aonde mais desejavam estar, um perto do outro.

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– O que você tanto pensa aí hein. – Ben perguntou, ao vislumbrar o olhar distante de Anita, que descansava a cabeça em seu peito.

– Nada tão bombástico assim, pode acreditar. – Anita respondeu soltando um suspiro.

– Ah é certeza. – disse ele em um tom de ironia, ela parecia distante demais pra quem não pensava em nada que fosse importante.

– É que sei lá, será que eu devia de ter ligado lá pra casa pra saber como minha mãe estava, ela deve estar me achando bem insensível não é. – ela confidenciou que havia incomodo em suas reações. – Que foi? – Tá me olhando assim por que. – Anita questionou receosa ao voltar suas atenções para ele, quando ergueu-se e sentou a sua frente na cama.

– Ah é que eu também não queria que você ficasse de mal com a Vera, no fundo eu sei e você também desconfia que vai se magoar com isso. – Ben exclamou, se preocupando com a relação de Anita com a mãe que parecia bastante balançada. – Eu não queria isso. – argumenta ele.

– Eu sei, eu acredito em você. – ela fez questão de deixar claro. – Mas, o problema não é você, somos eu e ela, não é nosso namoro, mas é o fato dela não aceitar as escolhas que eu fiz, nem mesmo as que eu estava plenamente ciente. – Anita supôs confusamente, também tendo pouco entendimento a cerca do que ela e a mãe viviam atualmente. – Eu errei também óbvio quando não deixei claro a ela, que eu não iria abrir mão de você, como ela imaginava depois de tudo, a vida me deu uma chance de construir uma história diferente da que eu imaginava num futuro longe de você, eu não ia conseguir conviver com o fato de que eu desisti da gente, por medo de tentar, mesmo que eu tivesse certeza do tamanho do sofrimento que isso poderia me trazer se não desse certo, se nós percebemos que não tinha mais concerto ou pior por medo de achar o os outros achariam. – ela argumentou. – Mesmo que seja muito difícil, não pensar assim, eu não posso me ater pra sempre ao que houve, até porque isso não faz bem, não é, e não precisa ser muito sábia pra perceber. – admitiu sem medo seus anseios.

– Só que vocês sempre foram muito ligadas. – Ben ponderou.

– Fomos, somos, éramos, só que talvez eu nunca a desafiei dessa forma, eu nunca precisei, eu aconselhava, ajudava, era sempre a sensata, parece que ela se esqueceu dessa parte, aí vem você, nossa teimosia em continuar juntos mesmo sem o aval deles, a fuga, a gente rompe, aquela confusão, e no final eu adoto um visual de recepcionista de funerária a faço questão de dizer pra ela que eu não sou mais a mesma. - comenta ela entre risos. – A partir dos meus tombos eu volto ao quase normal , assumo a postura da sensata adulta que abraçou pra si tudo que houve e esteve disposta a responder por isso, só que no meio disso eu continuava me negando a acreditar que eu poderia te querer de volta, aliás eu passaria a vida toda negando se fosse preciso. – confidenciou Anita seu orgulho, e Ben preferiu conter o riso. – Não dá pra tirar a razão dela, se eu dia eu tivesse uma filha como eu, eu surtaria, como eu vou dizer que ela tá errada, ela sabe sobre mim aquilo que eu digo, ela não tá dentro da minha cabeça pra saber qual é o nível da minha compressão sob isso tudo, mais às vezes fica difícil me deparar com isso, ver isso desse jeito. – ela falou, recebendo um cafune dele.

– Você é muito linda sabia se todas as pessoas do mundo fossem iguais a você o mundo seria tão melhor pra tanta gente. – disse Ben, com orgulho lhe lançando um sorriso.

– Eu diria que eu vejo as coisas como elas são, mesmo que eu tenha demorado muito tempo pra isso, mais eu também não posso deixar que os outros usem isso pra governar minha vida, o tempo todo. – contornou ela. – Claro que eu sinto falta do nosso tempo de cumplicidade, que ela me ouvia, a gente se ouvia, eu nunca pude dividir nada do nosso namoro com ela, logo ela que sempre se dizia tão aberta a qualquer conversa, acho que dessa vez deu erro na comunicação. – especulou Anita, recordando em sua mente de alguns momentos com a mãe. – Também to reclamando de que, talvez se ela tivesse perguntado, eu não saberia o que dizer mesmo, e depois que a gente foi atropelado, da forma como ela e o Ronaldo souberam do que rolou naquela viagem a serra dos órgãos, quando o Antônio soltou aquele vídeo, piorou tudo não é, não sei como eles não tiveram um treco. – Anita sabia da sua capacidade em se enrolar com as palavras em situações que envolviam confidências sérias.

– Você vai arrumar um jeito de resolver isso. – ele não hesitou em garantir. - Mais até lá, não deixa essa história de sufocar não, no fundo tudo tem seu tempo. - aconselhou carinhoso.

– Por isso que é tão bom ficar assim, pertinho de você, eu sempre vou acreditar que tudo possa melhorar um dia, e que nada, mais nada mesmo foi em voa. – afirmou Anita voltando a se recostar nos braços dele.

– E de pensar que eu dia você já duvidou disso, e eu passei a achar realmente que nunca mais seria assim. – implicou com um sorriso.

– É pode ser. – ela se viu admitindo. - Na verdade, não sei se foi dúvida realmente, acho que foi medo, medo de conviver com a certeza que eu tinha realmente te perdido pra sempre. - Anita confessou em um olhar arisco, ela pode nunca querer olhar seus ataques constantes de raiva a Ben de tal ótica, mas no fundo tentou esconder até de si o sentimento ruim que conviver com o fato que tinha o perdido lhe causava. – Eu achei que eu tinha, quando eu via você e a Sofia juntos, mais eu não ia admitir isso né, porque eu já tava no fundo do poço não precisava mesmo de mais essa. - concluiu com sorriso procurando amenizar sua impaciência por ter dito tais palavras naquele momento.

Ben deu um sorriso desconcertado como resposta. – De alguma forma eu te entendo. – Acho que foi a pior sensação que eu já senti no mundo sabia, achar que eu nunca mais iria me encontrar, por saber que meu mundo era e seria sem você do meu lado. – reforçou ele, fazendo um carinho no rosto dela que sorriu.

– Você nunca vai me perder. – garantiu ela. – E por mais estupido e egoísta que isso seja, com todo mundo que me ajudou de alguma forma, acho que foi esse amor que me puxou de volta e me fez acreditar que a realidade seria melhor, que nada era pra sempre nem as coisas ruins, que um dia elas passavam, ter você do meu lado vai ser sempre especial. - declarou Anita o encarando com ternura.

– Será, nem se for assim, no quartinho dos fundos do Embaixada, regado de uma jantar improvisado, acho que você merecia mais. – disse ele.

– Num quartinho, pousada em búzios, hotel cinco estrelas, até acampando na serra, com uma ressalva não é desde que o Antônio não esteja por perto, até porque já chega disso, de ter nossa intimidade invadida, uma vez já tá bom, até demais, ficar perto de você vai ser sempre especial. – declarou Anita sorridente.

– Tem certeza que você vai dizer falar isso assim sorrindo mesmo, não sei se da pra tanto. – Ele desconversou, risonho.

– Bom eu consegui ter duas primeiras vezes incríveis, tem muita garota por aí que não teve nem uma. – ela afirmou junto a um sorriso brincalhão.

– Você não existe mesmo, com certeza não tem outra de você por aí. – garantiu Ben a fitando encantado.

– Se tem, eu diria pra você correr, afinal pra que perder tempo então com a torta aqui, que já deu defeito mais de uma vez. – ela respondeu em sorriso leve, que foi substituído por um beijo apaixonado.

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Dia seguinte...

– To sonhando é. – supôs Anita quando despertada por beijos e carinhos do namorado.

– Tá é será que é só um sonho, só isso. – respondeu ele, mexendo nos cabelos dela e deixando beijos em seu pescoço.

– Realmente não sei, mais se for, não me acorda não. – afirmou ela sorridente se virando na cama para encará-lo.

– Então tá né, continua dormindo. – proferiu o garoto fazendo o indiferente.

– Hãmm de repente ficar acordado não é tão ruim assim. – alegou ela se debruçando por cima dele e o enchendo de beijos.

– Eu já te disse que eu trocaria qualquer coisa no mundo, pra ficar aqui assim com você. – declarou Ben a olhando de uma forma carinhosa, fazendo Anita sorrir apenas.

– E eu não me importaria, se o tempo parasse sabia, em tem que pensar em mais nada. – contrapôs ela sorrindo leve como se estivesse nas nuvens.

– Bom sendo meio impossível, a gente também não precisa se preocupar tanto, afinal ainda podemos viver infinitos momento como esse. – afirmou ele junto a um beijo apaixonado.

– Eu te amo. – respondeu Anita encantada.

– Eu te amo mais. – murmurou ele começando um beijo calmo.

– O nosso amor é infinitamente proporcional ao tamanho do respeito carinho e admiração que a gente tem um pelo outro. – sustentou ela com leveza.

– Olha! – Você inventou isso agora foi. – falou ele sorrindo brincalhão.

– Ai chato! – Anita bateu no braço dele.

– Eu to brincando, sua bobona. – gargalhou Ben, do bico por trás da cara de brava que ela esboçava.

– Ah jura, não percebi. – ela sorriu indiferente.

– Tava quer vê. – disse ele, com os dois rolando na cama enquanto se beijavam, durante alguns instantes eles realmente pararam o tempo entre beijos e caricias.

– Ben! – Anita se esquivou dele e ergueu-se exasperada.

– Que foi, que eu fiz de errado. – indagou ele sem entender a reação desajustada dela.

– A gente tem que ir pra aula, que horas são, devemos já estar pra lá de atrasados. – ela riu da desatenção dos dois.

– Ah é isso. – falou Ben tranquilamente.

– Isso pirou foi, se o Omar volta de surpresa e achar a gente aqui, eu nem quero pensar, acho que eu me esconderia dentro da minha bolsa pra não ver uma cena dessas. – disse ela sorrindo dispersa. - Pensando bem não daria tempo eu morreria de vergonha antes. – afirmou ela exasperadamente.

– Sem chances Anita. – disse ele calmo.

– E a aula, a gente faz o que? – questionou ela deitando ao lado dele.

– Ah não, vamos ficar aqui, você não vai me trocar pela aula de História. – alegou Ben disposto a convencê-la.

– Se tá apelando sabia. – rebateu Anita rindo.

– To é, digamos que eu nem cheguei perto. – afirmou ele chegando mais para perto dela.

– Você pira né. – Anita só souber rir do jeito despreocupado de Ben.

– Não. – negou. – Você é que dificulta meu lado, a única coisa que eu queria era acordar todos os dias com você, mais você não aceita se casar comigo. – desculpou Ben seus devaneios.

– Ah é. – o garoto apenas assentiu em confirmação. - E sabe de uma coisa você tá sendo injusto comigo. – ela debochou de toda chateação dele ao não conseguir evitar.

– Não estou sendo injusto coisíssima nenhuma. - Ben defendeu, lhe roubando um beijo.

– Ah não. – dava risada Anita. – E esse anel no meu dedo, pensei que tivesse sido um sim. – alegou ela estendo a mão em frente ao rosto dele.

– Foi né, e você continua me enrolando. – afirmou ele disfarçando o riso.

– Ai que injustiça. – disse Anita amarrando a cara.

– Você quer saber. – suspirou ele.

– Hum o que. – Anita indagou encostando a cabeça no travesseiro vendo a preguiça lhe rondar.

– Da próxima vez, eu compro alianças, deve ser mais eficaz. – opinou Bem risonho.

– Ai Ben, por favor. – Anita começou a dar a risada da alegação dele.

– Nem adianta dizer que sou exagerado, e nem rir, você vai ter que casar comigo prometeu agora não tem outro jeito. – Ben garantiu fazendo cócegas na barriga dela.

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– Com certeza, esse é o melhor café da manhã que eu tive em dias. – declarou Anita transbordando felicidade. – Sabia. – pronunciou ela o encarando, se dividindo também em pensar, como poderia ser assim, bastava um olhar, um simples olhar para que todo amor que os unia, lhe transmitisse toda paz e felicidade que ela necessitava para ser completa.

– Eu não vou poder ficar sem concordar. – ele retribuiu com um enorme sorriso.

– Acho que eu não quero sair daqui. – falou ela, levantando da cadeira, dando a volta para ir até Ben e sentar em seu colo.

– Ah é, a gente podia ficar aqui né, diz que sim vai. – afirmou Ben alegremente a beijando carinhoso.

– Para tá, que assim fica realmente difícil de dizer não. – diz Anita em meio a um sorriso divertido, remexendo nos cabelos dele.

– Quem disse que essa não seria a intenção. – Ben respondeu travessamente, iniciando a beijar o pescoço dela devagar.

– Só que infelizmente nem sempre a realidade comporta, todas as fantasias, a gente tem aula, depois trabalho, to cheia de entregas pra fazer, e não posso atrasar. – alertou a garota, mesmo que estivesse complicado não ceder aos pedidos dele.

– É certeza. – ele a desafiou sorridente, seguido de um beijo, como se nada mais importasse realmente.

– Você ouviu isso. – Anita questiona em um semblante atônito se afastando de Ben, após ouvir batidas insistentes a porta.

– Pior é que sim. – ele confirmou insatisfeito. – Quem será. – o garoto se perguntou por instantes.

– O Ronaldo. – supôs Anita incomodada.

– Tua mãe. – Ben devolveu.

– Ou muito pior, os dois juntos. – Anita reforçou nervosamente, se pondo a andar sem parar. – Eu não to crendo, era só o que me faltava agora, não quero nem ver o que vai vir dessa vez, não é possível. – pronunciou ela, falando sem parar. – Ben. – ela o chamou, apoiando as mãos a cintura, não acreditando na tranquilidade que Ben se movia até a porta. – Se pode falar comigo, é sério poxa. – falava Anita já o puxando, que apenas fez gesto para que ela esperasse.

– Hernandez. – Ben ficou surpreso ao vir à figura do homem.

– Oi é... – Bom dia, me desculpe por te procurar tão cedo mais é que... – Hernandez procurava se justificar em meio a toda tensão que sentia. – Oi Anita. – ele cumprimentou simpaticamente após se dar conta da presença da garota.

– Bom dia Hernandez. – Anita tentou disfarçar seu jeito intrigado apenas.

– Aconteceu alguma coisa. – Ben perguntou com estranheza.

– Não... – Mais ou menos. – respondeu ele desconfiado de toda sua certeza. – Na verdade, eu não devo ter chegado em uma boa hora, desculpem se atrapalho. – Hernandez argumentou rodeado por certo constrangimento.

– Não, não tá tudo bem, o que de tão grave aconteceu afinal, você tá nervoso com algo, isso é nítido. – disse Ben afoito.

– Não é que, talvez não seja um problema, e eu esteja exagerando, mas é que o Antônio saiu muito cedo levando a Tita, e segundo a Maura ele disse que voltaria a hora da escola, mas até agora eles não apareceram, desconfiou que pode ter acontecido algo. – ele explicou seu estado.

– Você ligou pra ele. – Ben indagou entre um suspiro insatisfeito.

– Já, ele não me atendeu, bom você conhece melhor o bairro, talvez possa me dizer onde os dois poderiam ter ido. – exclamou o latino impaciente.

– Assim de supetão, não consigo pensar em nada. – justificou o rapaz confusamente. – Você não podia ter deixado o Antônio sair assim com ela, você conhece o Antônio melhor do que eu, desaparecer é algo que ele é mestre quando quer. – ele repreendeu mesmo sem querer.

– Eu sei, mais não acredito que tenha ocorrido alguma coisa grave, de perigo, só estranhei mesmo. – reforçou Hernandez.

– Bom se você tem tanta certeza disso, quem somos nós pra contrariar, não é. – Anita proferiu desconfiando plenamente de toda segurança do Hondurenho.

– Bem é eu vou indo então, obrigada de qualquer forma Ben, te repente eles já até estão lá em casa. – falou ele preferindo guardar para si suas aflições e desconfianças, e ser otimista, já que Ben assim como Anita, apenas as confirmariam veemente, e ele preferia mesmo achar que Antônio não era dotado de tanto cinismo e sabedoria para ser ardiloso.

– Ok, mais qualquer coisa me avisa então. – sugeriu Ben lançando um olhar paralisado ao padrasto.

– Claro, tchau. – ele disse serenamente.

– Será que isso foi um presságio de que o dia não vai ser nada calmo. – supôs Anita preocupando-se com a situação, ao tempo que Ben só fechava a porta pensativo.

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– Ben! – Ben anda logo, a gente já está mais do que atrasado. – Anita tentava o apressar.

– Óh nem vem hein, quem demorou um ano no banho foi você. – acusou Ben, a fitando sorridente quando vinha do banheiro.

– Ah esqueci que a atrapalhada e lenta da dupla sou eu. – Anita implicou, vindo até ele e lhe dando um beijo. – Você tá preocupado, ou é impressão. – ela questionou ao ver a expressão tensa dele.

– Ah é que sei lá, eu fiquei pensando nessa história aí do Hernandez, e se o Antônio tiver mesmo colocado a Tita em algum perigo. – o garoto desabafou em um olhar cabisbaixo.

– Bom vindo do Antônio não dá pra duvidar de muita coisa. – Anita não conseguiu ficar sem concordar. – Você quer ir lá na Maura, pra ver se eles já apareceram. – ela questionou apreensiva percebendo a inquietação de Ben, que já se colocava a andar de um lado para o outro com as mãos a cintura.

– Não, quer dizer, eu até iria, se eu não soubesse que eu vou acabar batendo de frente com o Antônio, consequentemente estragar meu dia desde já. – afirmou Ben, não sabendo ao certo o que deveria fazer.

– Isso realmente é verídico. – concordou ela. – Você nunca consegue ficar imune as provocações do Antônio. – disparou ela sincera.

– Ah muito obrigado. – Ben rebateu em uma fisionomia insatisfeita.

– Tá bom, ok que... – ponderou ela desistindo de confrontá-lo. – O Antônio é doido e isso nós já sabemos, mais mesmo que o Hernandez seja ingênuo demais ao lidar com os problemas que ele causa, nem ele e muito menos a Tita que é uma criança tem culpa de nada. – Anita reconheceu.

– Pois é, eu não sei o que pensar. – confessou Ben.

– Vamos lá. - ela convidou decidida, no fundo sabia que ambos tinham todos os motivos do mundo, para permitirem seus corações se endurecerem e deixarem de serem tão comprometidos com o outro, mas talvez nem mesmo com todas as tempestades que eles pudessem enfrentar, eles chegariam a esse ponto de tal egoísmo.

– Mais isso não é uma boa ideia. - Ben argumentou receoso, não querendo expô-la a tal confronto, mais também não deixava de se preocupar com o padrasto e Tita.

– Eu sei. - ela concordou sincera. - Mais acho que apesar de tudo, e do meu ódio pelo Antônio, eu consigo entender que. – ela se calou para buscar o ar. - Bom nem todo mundo a volta dele tem culpa do que ele faz, e o pobre do Hernandez e a Tita que uma criança que não sabe nada da vida, é uma ótima prova disso. - explicou Anita fazendo esforço para separar as coisas.

– Tem certeza, não melhor eu ir sozinho. - ele argumenta.

– Não eu vou com você, não é isso, seja lá o que vier nós enfrentamos juntos então, não vou te abandonar eu entendo, você foi criado pelo Hernandez, ele se tornou um pai pra você assim como o Ronaldo é pra mim, eu jamais conseguira ignorar isso por qualquer motivo que fosse, assim como você não. - colocou ela. - E a Tita, coitada ela não merece que você se afaste dela assim, ela te considera um irmão, não merece ser odiada ou ignorada porque é irmã daquele traste. - Anita afirmou nervosamente, jogando o celular e a apostila que estava em cima da mesa dentro da bolsa de forma desastrada, falar de Antônio realmente não lhe trazia boas sensações, era tudo sempre regado de muita raiva e indignação. - Vamos. - ela insistiu segurando um casaco dele em mãos, já que pretendia vesti-lo, o dia no Grajaú começava fortemente chuvoso e com uma temperatura fria, completamente diferente da tarde anterior, quando ela deixou a casa de Bernadete com roupas de verão apenas sem se preocupar em passar frio.

– Tá mais... - Não precisa ficar assim tão nervosa, eu não vou deixar o Antônio te fazer nada que te magoe nem hoje e nem nunca mais. - Ben se aproximou para abraça-la ao pressentir o ligeiro nervosismo que atacava a garota. - Eu juro tá. - repetiu ele a soltando.

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– Oh Ben, entre filho. – balbuciou Hernandez ao abrir a porta da casa de Maura e avistar a figura de Ben. – Entre! – ele insistiu transparecendo uma expressão menos tensa.

– E a Tita, bom eu você teve lá me procurando e... – Ben se explicou angustiado, procurando a menininha com olhar que se encontrava sentada em um dos sofás a sala, Anita se dedicou a segui-lo, muda, observando de leve a presença de Antônio.

– E aí, o que houve com a senhorita afinal. – perguntou Ben, deixando sua tensão por trás de um leve sorriso.

– To legal eu acho. – Tita respondeu em sorriso tímido.

– Ela caiu, segundo o Antônio do escorregador ali da pracinha, acho que vai ter que levar alguns pontos no joelho, fiz um curativo mas acho melhor procurar a opinião de um médico, achei que você já tivesse ido pro colégio, por isso não te avisei de mais nada. – diz Hernandez com certa aflição.

– É eu ia, só que acabei achando melhor passar aqui antes, me desculpa por te ignorado teus argumentos antes. – Ben se justificou de certa forma desapontado consigo mesmo. - Eu só queria saber como isso foi acontecer. – Ben indaga enquanto olha para Antônio que parece não muito envolvido com a situação.

– Como você acha, crianças caem, acidentes também acontecem, o mundo não é perfeito Ben. – Antônio afirmou irônico se mantendo tranquilo.

– Podia ter tomado mais cuidado, não é Antônio. – cobra ele impaciente.

– Claro, o mesmo que você teve quando deixou ela ser atropelada. – disparou o garoto altivamente. – Ah esqueci, você podia não é, tinha um motivo nobre pra isso, pegar a irmãzinha. – provocou solenemente.

– Olha aqui Antônio, você a lava tua boca pra falar de mim ou de qualquer outra pessoa por que... – Ben deu passes com irritação até ele.

– Isso fala mesmo, o todo certinho nunca erra. – zombou Antônio.

– Ben, por favor, a gente veio aqui pra saber da Tita, não vamos deixar o Hernandez ainda mais nervoso, não é. – argumentou Anita tenebrosa.

– E se quebrar minha casa, vão ter que pagar hein. – avisou Maura se intrometendo na conversa ao passo que descia as escadas.

– Eu não vou perder meu tempo com quem não merece mesmo. – Ben ignorou entre suspiros.

– Tem vergonha não, se esconder atrás dela, aliás, você sempre faz isso, como todo covarde, no fundo ela é mesmo mais corajosa do que você. – desafiou o garoto, encarando fixamente Anita. – E Anita infelizmente você merecia alguém menos otário. – acusou sínico.

– Vê se me esquece Antônio, morre de preferência. – Anita grita em descontrole. – Hernandez acho melhor você levar logo a Tita pra um pronto socorro, ferimento quanto mais esfria mais dói. – alertou a menina, procurando contornar os ânimos ao fitar os olhares tensos e surpresos de Maura de Hernandez com sua reação.

– Tem razão. – Hernandez preferiu se ater ao que era mais importante.

– Você quer que eu vá com você. – Ben se dispôs.

– Não precisa Ben, vai cuidar da tua vida, qualquer coisa eu dou notícias, é sério está tudo certo. – garantiu ele.

– Tá, tá bom, eu vou mesmo, pra falar a verdade estou mesmo mais que atrasado, mais qualquer coisa me avisa que eu vou correndo tá bom. – pediu Ben com certa aflição contida.

– Claro pode deixar, eu te ligo assim que resolver tudo. – Hernandez se dispôs.

– Tá. – E você fofura, força, coragem aí tá, no final você vai ver que levar alguns pontos, não é o fundo do mundo não e nem dói tanto assim. – Ben procurar não assustar a menina, abaixando-se para encará-la.

– Será? – Tita indagou como se não acreditasse.

– Palavra de quem já passou por muitas situações como essas. – disse ele dando um beijo na bochecha da garotinha.

– E como não é Ben, eu devo ter perdido as contas de quantas vezes te lavei ao médico por conta de algum arranhão, corte, você sempre vivia caindo, aliás até hoje. – Hernandez acabou achando graça, das encrencas que o filho sempre estava metido desde pequeno.

– É talvez tenha piorado com o tempo mesmo. – ele se viu obrigado a concordar. – Bom eu vou indo qualquer coisa me liga, mesmo tá. – insistiu Ben com Hernandez, indo em direção de Anita estendendo a mão a ela.

– Tá pode ir tranquilo. – quis garantir o hondurenho, em um sorriso de canto, ignorando parte de sua tensão.

– Tchau Tita, fica bem tá. – desejou Anita, seguido de um sorriso a menina, saindo apressada ao lado de Ben.

– Como sempre o Ben vem, faz o papel e todo bonzinho e saí se sentindo um máximo, é patético demais. – debochou Antônio saindo de onde estava e caminhando até Hernandez como se encarasse o pai com raiva por ele sempre defender Ben de alguma forma.

– Chega, por favor, chega Tony, eu estou farto de tuas cobranças, estou mais cansado ainda da forma como você sempre quer competir de alguma forma com o Ben, entenda os dois sempre serão meus filhos, será que não dá pra vocês pararem com isso, tentarem ao menos. – Hernandez expressou junto a um olhar indignado.

– Não, não dá. - Sabe por quê? - Porque eu nunca vou ser igual ao otário do Ben, sempre pagando de menino bonzinho pra alguém. – Antônio acusou irônico. – Nisso você tá certo. – o garoto o desafiou.

– Eu vou levar a Tita ao hospital, melhor que eu faço neste momento. – Hernandez apenas o olhou desapontado e preferiu se dedicar ao o que era importante de fato naquele momento.

– Vai mesmo, o que é teu está guardado. – Antônio resmungou a si mesmo com ira, enquanto via o homem se afastar levando sua irmã caçula junto.