Anita terminou de ler o capitulo do livro de história que Virgílio havia passado, para o debate em aula no dia seguinte, e desceu até a cozinha para tomar um copo de água, antes de embarcar em um sono profundo que já a consumia. Ela parou em frente à geladeira, um tanto pensativa em se pegaria um copo na bandeja que estava sobre a pia, ou a garrafa com água primeiro, tamanha era seu estado de preguiça, a garota se dirigiu a geladeira pegou a garrafa com água rapidamente, e foi até os copos pegando um, e o apoiando sobre a bancada da mesa a sua frente e depositando um pouco de água nele, tomando alguns goles em seguida enquanto traçava um horário exato para levantar no dia seguinte, que cobrisse as horas que ela já tinha perdido de sono.

– Vem cá, que história é essa de você, receber buque de flores do Martin. – Ben a abordou de costas, a fazendo dar um pulo de susto, ao sentir a voz calma e despretensiosa do garoto, em seu ouvido.

– Mais qual foi, a tua. – Anita questionou virando-se para ele.

– Nenhuma só achei estranho, esse negócio do Martin ficar de mandando flores justo agora. – Ben disse, despreocupado.

– Ai droga. – Pronunciou ela, pressionando ainda mais seus dedos contra o copo que ela mantinha em sua mão.

– Tá falando de que então. – Ele perguntou, se entender, parte da reação da garota.

– Disso! - Chegar assim, por trás, sorrateiro, normalmente quando alguém faz isso, e eu estou no mundo da lua. – Anita explicou gesticulando com a mão que estava livre. – Eu grito, não é, na mesma hora, no mínimo. – Justificou séria. – E você já devia de estar bem ciente disto, e eu não estou a fim de acordar a casa inteira. - Depois me explico como? – Afirmou ela, contrapondo seus pensamentos.

– Ué diz que foi susto, qual problema. – Ben riu, ao materializar a cena em seus pensamentos. – Desculpa, da próxima vez, eu vou tentar me lembrar que você é a única e superiora, rainha dos desastres. – Fez graça ele. – Afinal, você é uma pessoa compenetrada, quebrar coisas, cair de cabeça, não são coisas que te acontecem. – O menino implicou.

– Ai nossa, é isso, meu namorado é a pessoa que mais me zoa, por eu ser desastrada. – Anita rebateu desapontada. – Eu mereço. – Disse ela, tomando uns goles de água.

– Talvez. – Respondeu ele dando risada, da carinha emburrada da garota. – Até porque, eu sei muitos desastres não planejados, ainda virão, não é. – Ben argumentou.

– Hahaha, palhaço. – Anita resmungou, o encarando.

– Anita, amor, olha só, quantas vezes você não derrubou alguma coisa em mim, esbarrou na minha pessoa, ou simplesmente você caiu e me levou junto. – Ben exclamou, com um sorriso debochado para ela.

– Pouquíssimas vezes, e eu nem lembro. – Falou ela, dando de ombros.

– Sim, claro, tanto que você não lembra, de tantas que foram, não é. – Alfinetou ele.

– Ai para. – Anita ordenou, empurrando o ombro dele. – Perdeu a graça já. – Alegou a garota, sem paciência para ver Ben a contrariar.

– Tá bom parei. – Disse Ben, pausando as mãos a frente dela. – Até porque, daqui a pouco você acaba entornando esse copo com água em mim, e depois diz que foi sem querer. – Ben brincou.

– Se tá muito engraçado hoje, não é, acho melhor parar se não daqui a pouco você vai perder a namorada e a amiga. – Anita afirmou, sorrindo travessa. – Até por motivos de que, eu terei que fazer uma boa terapia pra dormir tranquila novamente, depois das tuas constatações de como eu sou desastrosa. – Completou ela, fazendo Ben rir apenas. – Mais você tava falando do Martin. – Anita acrescentou ao lembrar, o nome do garoto nas palavras ditas por Ben, que ela havia despercebido a metade. – O que tem ele hein? – Perguntou, enquanto fitava o namorado de braços cruzados para ela.

– Martin, sei lá. – Pronunciou Ben, descruzando os braços, e erguendo o olhar em direção de Anita. – Parece que, eu continuo percebendo a mesma coisa que eu via antes nele, um certo ponto de interrogação, não é, principalmente quando ele resolveu namorar você de novo não é, agora até de manda flores. – Ele afirmou, encucado com a situação.

– Ué e dai, a gente terminou um namoro Ben, não se enfrentou em um daqueles combates da Idade Média, do qual só saiu um vencedor, e o outro morto, né, vou odiar ele pra que. – Anita disse não vendo nada de mais.

– É Anita, engraçado, mais eu nunca mandei flores pras minhas ex-namoradas, só isso. – Falou ele, com certa irritação.

– Ah ex-namoradas! – Assim mesmo no plural, bacana, entendi tudo agora. – Desdenhou ela, incomodada.

– Modo de falar, o senhora desconfiança. – Retrucou Ben, apertando a bochecha dela com a mão.

– Você que falou, não torce você as coisas, tá legal. – Disse ela, fazendo bico. – E eu é que pensei que a pobre da Meg, era a única sombra do teu passado que eu teria que superar, melhor eu nem saber quem foram as outras, não é, nem como elas se apaixonaram pelo Brasil. Afinal o ditado tá aí pra isso, “ O que os olhos não veem o que coração nunca sente”. – Anita afirmou, de cara amarrada.

– Você é muito doida sabia. – Falou Ben, se divertindo com o jeito dela.

– Eu, claro, sem dúvidas. – Falou ela, com o semblante irônico. – Você vem aqui, praticamente no meio da madrugada, me questionando sobre as flores do Martin, e eu é que sou descompensada. – Anita disse, não desmentindo que as flores eram do garoto.

– O Martin, ocupou um pedaço da tua vida, que eu não fiz parte, e eu não posso negar isso. – Ben quis de explicar.

– O que, qual? – Me botar chifres, assim eu espero, né, uma vez já ter passado por isso, j foi o bastante não é, nesse caso pelo menos. –Disparou a garota sarcástica.

– Eu não estou falando disso, obvio, to falando do fato dele ter sido teu primeiro namorado, e vocês um dia com certeza tiveram uma relação bacana, não tem porque eu querer esconder isso. – Ben balbuciou se justificando.

– É tivemos, um dia. – Anita concordou. – Mais as flores nem eram do Martin, a Sofia inventou aquilo. – Anita expos. – E eu só estou te explicando isso, pra você não sair tirando satisfações com ele, e você não acabarem arremessando nada no outro, como vocês tentaram fazer com as cadeiras da festa, lá na casa do Sidney, quando eu fiquei com ele. – Disse ela. – Não que eu deva alguma explicação pra você, não é, por favor. – Ela afirmou se defendendo, se divertindo com os olhares emburrados de Ben para ela.

– E eram de quem então, ihh Anita tá ficando pior. – Exclamou Ben, de forma curiosa.

– Do único homem, que eu nunca vou conseguir arrancar da minha vida, nem que eu quisesse, aquele que eu tenho um laço definitivo e aparentemente inabalável, pra sempre, mesmo que um dia eu não queira. – Anita proferiu pausadamente, enquanto se divertia com os olhares arredios de Ben, que quanto mais ela falava, ficavam cada vez mais insatisfeitos. – Meu pai. – Terminou ela, soltando uma gargalhada.

– Teu pai. – Repetiu ele, incrédulo, ao perceber o circo todo que Anita havia criado para dizer, que as fores eram apenas de Caetano. – Mais porque isso, e porque mentir. – Ben se perguntou.

– Sofia disse sei lá, a primeira coisa que ela pensou na cabeça, e antes de mim, ela sabe que eu não gosto nem um pouco dessa situação, e ando hesitando ao máximo em entregar seu Caetano, de uma vez, não gosto do que ele fez, nem um pouco, sou sádica demais, e ela lógico não quer ver ele sendo descoberto, uma parte de mim até entende isso, a outra ,grita pra mim fazer alguma coisa. – Desabafou a menina, em total decepção com o pai.

– É esquisito não é, porque às vezes a gente até esquece que o Caetano na verdade tá é bem vivo, não é, muito mais do que muita gente por aí. – Comentou Ben, com estranheza diante do fato.

– Nem me fala, até eu esqueço, que virei uma órfã, outro dia até levei uma da minha mãe, quando me referi a ele como se ainda estivesse por aí, só que na verdade ele existe, bom terminando ele marcou um encontro comigo e com a Sofia, acho que eu não comentei com você, esqueci mesmo, e agora desmarcou, e de certo mandou as floras pra amolecer meu coração, e se desculpar, já que elas custavam menos do que um bom presente, que também seria esquisito alguém me dar, sem que ninguém estranhasse. – Completou a garota, contando tudo a Ben. – E você aí, escorraçando o pobre do Martin, com ciúme bobo. – Ralhou ela. –Coisa mais ridícula. – Anita afirmou.

– E não é nada ciumenta, não é. – Ben devolveu.

– Eu não, até porque ter ciúmes de você, se tornou quase um presságio, até a Sofia que é minha irmã você pegou. – Anita respondeu, em um misto de ironia e insatisfação.

– Logo, somos dois ridículos. – Falou ele apoiando as mãos no rosto dela para um beijo.

– Eu não, me tira dessa, que eu já tenho outros títulos, até piores. – Ela rebateu não se deixando convencer.

– Ok, eu admito, eu sempre tive uma certa carga elevada de ciúmes do Martin, e eu nunca soube porque, nem mesmo no começo disso tudo, eu não gostei de ver ele perto de você, pode até ser que tenha piorado um pouco, fazer o que. – Confessou Ben sorrindo.

– Instigante, eu diria essa tua constatação, afinal, a primeira coisa que passou nessa tua imaginação lenta aí, quando eu disse que não queria que você falasse pros nosso pais do nosso encontro em Miami, era que eu não queria criar caso com meu futuro noivo, eu vou te dizer uma coisa viu , o ar rarefeito do voo de Miami pra cá, deve ter feito muito mal pra tua cabeça. – Anita achincalhou, lembrando de sua trapalhadas.

– Ah e porque mesmo você não podia falar do nosso encontro. – Indagou Ben, fingindo-se de desentendido.

– Porque eu jurei mesmo, que nunca mais iria ter ver na minha, e muito menos na minha casa, aí e paguei de apaixonada por você, pela casa inteira, não é. – Anita admitiu, entre sorrisos de deboche de si mesma. – Aliás, o que seria mais patético, a tua cara de surpreso quando soubesse que eu gostava de você, ou da mamãe e do Ronaldo. – Se auto perguntou ela.

– Não sei, mais que teria sido bem engraçado essa cena, seria. – Falou ele, rindo.

– Não, a tua cara seria a melhor, com certeza, afinal acho que nem ouvido você entenderia, eu acho que eu me joguei em cima de você, te beijei, e você deve ter levado até o outro dia, tentando entender, só imagino. – Disse a garota implicante.

– É né, ainda bem que você não perdeu a oportunidade, eu tenho que ser realista você sempre lutou mais pela gente do que eu. – Afirmou ele, rindo da sua própria falta de percepção.

– Aquela não, mas as outras foram abortadas, eu tenho um sério problema em pregar os meus pés na realidade, e antes que alguém descobrisse que eu andava sonhando com beijos na tua pessoa, acordada, sorte que eu sou bem desligada, as pessoas acabam não estranhando tanto. – Disse Anita. – Mais eu não acho que eu tenha lutado muito mais que você, afinal se eu tivesse te ouvido lá atrás, teria passado menos tempo acreditando no Antônio, e na história da Meg, a gente só se acertou, porque você correu atrás, ou a gente teria esperado a barriga da Meg que não iria aparecer, pra depois se dar conta, de que não tinha filho nenhum impedindo nós dois. – Murmurou ela, percebendo tudo que havia atrasado a caminho de ambos. – O problema não é quando eu não quero uma coisa, eu posso até mudar de ideia, mais pra frente, mais quando eu deixo de querer algo que eu quis muito, eu posso até me quebrar inteira, mais eu consigo passar por cima e esquecer. – Afirmou ela.

– Você nunca conseguiu deixar de me querer, nem nos piores momentos até aqui. – Rebateu ele, com um beijo.

– Porque no fundo nunca foi você que me fez mal, foram s situações que a gente enfiou. – Esclareceu Anita com um sorriso, antes dos dois se aproximarem em beijo com empolgação. – Eu tenho que dormir, já tá tarde e você também. – Anita quis argumentar, enquanto soltava o copo vazio de sua mão na mesa na qual ela estava escorada.

– Pra que dormir, quando a gente pode sonhar acordado. – Retrucou ele, separando os lábios dos dela por um segundo.

– Entre aspas, não é porque se alguém presencia tal cena como essa, aja pesadelo, e adeus viagem também, exato a gente vai ter segurar a bomba por uns dias. – Anita proferiu, envolvendo suas braços em volta do pescoço dele, que a puxou para um beijo com vontade, Anita foi tentando se livrar de um flagra enquanto os dois se beijavam, encurralando Ben em direção a aporta que dava para o quintal para convencer ele a ir embora.

– Eu posso te garantir uma coisa, eu não importo com o que eles vão pensar do nosso segundo envolvimento, mesmo que o tempo feche pra gente. – A gente viaja, nem que eu tenha que te sequestrar, até contra a tua vontade se bobear. – Disse Ben, parando de beija-la com a respiração ofegante.

– Ah é, vai sonhando, que você tem tanto poder sobre as minhas decisões assim. – Anita desdenhou sorridente.

– Nem precisa, a gente se ama demais, já é o suficiente. –Afirmou ele a levantando do chão, e escorando Anita contra a porta que dava para o quintal.

– Milagres às vezes acontecem, só assim. – Anita riu, e os dois iniciaram mais um beijo longo.

– É Ben, príncipe é sério, eu to cansada, melhor a gente ir dormir. – Falou ela, enquanto ele descia os beijos até o pescoço dela. – Olha só, eu to falando sério. – Afirmou ela perdida.

– E se a gente não quiser, porque eu acho que eu não quero. – Respondeu Ben, ela o encarou confusa, e o casal voltou aos beijos.

– Claro, você consegue ser mais sem juízo do que eu. – Anita riu tocando o rosto dele com as pontas dos dedos.

– Para, deixa de ser exagerada, quem assim vai se dar o trabalho de levantar a cama só pra ver se a gente tá dormindo, onde deve. – Disse ele, não ligando.

– Não sei, mas eu não duvidaria. – Rebateu ela, sobre a insistência dos beijos do garoto. – Mais você não tá falando sério, ou tá. – Anita repensou.

– Anita. – Resmungou ele contrariado. – Deixa isso pra lá vai. – Ele pediu, entrelaçando as mãos na cintura dela a puxando para perto novamente.

– Deixar pra lá, olha só. - Relutou ela. – Será, não sei? – Falou ela, aproximando seu rosto do dele.

– Deixa sim. – Afirmou a beijando. – Eu sei que deixa. – Ben disse sorrindo, Anita apenas continuou com um sorriso debochado, contrapondo que não com a cabeça, o que não foi suficiente para os dois continuarem trocando muitos beijos.

– Será que um dia a gente não vai cansar de lutar pelo impossível. – Anita questionou, exausta por tantos obstáculos na vida dos dois.

– Eu acho que eu faria tudo de novo, se precisasse. – Garantiu Ben a amada, um tanto ofegante.

– Acho que eu não. – Respondeu Anita, repousando suas mãos no ombro do garoto. – Eu faria melhor, pra quem sabe assim, nós teríamos escapado dessa situação aqui. – Afirmou ela.

– Medidas drástica é. – Retrucou ele. – Logo você, que sempre procura resolver tudo, pra todo mundo sair ganhando. – Implicou o garoto, sorridente.

– Cansei, de me preocupar com os outros sei lá, ou foi pior, a convivência com você que tá me influenciando. – Anita pronunciou e os dois caíram na risada antes de mais um beijo acalorado.

– De repente a culpa é minha mesmo. – Repensou Ben, voltando os beijos pelo pescoço de Anita.

– Ben? – Ronaldo afirmou com o tom de voz elevado, ao ouvir o sussurro com a voz do garoto vindo da cozinha, onde o casal namorava despreocupado e ininterrupto, quando descia a escada.

– Teu pai, o Ronaldo. – Anita disse saindo do lapso que dominava sua mente por momento, ao ver sua cabeça registrar a voz de Ronaldo.

– Ronaldo, meu pai. – Cochichou ele de volta atrapalhado, devolvendo a blusa de Anita para cima do ombro da garota, que ele segurava com as pontas dos dedos mais abaixo.

– E agora? – Repreendeu Anita, sem saber o que fazer, enquanto encarava Ben apreensivo a sua frente, ambos com um semblante apavorados.