– O que, espera, o que. – Bernadete levantou-se da mesa em total espanto. – Não, não, não... – Eu escutei mal, aliás, muito mal. – Disse ela, trocando passos pela sala de forma atrapalhada. – Anita, repete, to maluca gente. - Afirmou enquanto respirava ofegante.

– Vai adiante eu repetir, sério. – Anita se manifestou interrompendo os devaneios de Bernadete por um segundo.

– Claro que vai, eu preciso ter certeza que eu escutei errado. – Confirmou Bernadete. – Porque, eu escutei, não escutei. – Questionou ela, receosa pela confirmação.

– Na verdade eu tava falando sério. – Anita afirmou. – Mais também não precisa entrar em pânico Bernadete, por favor. – Proferiu Anita, apreensiva.

– Meu deus, isso não tá acontecendo. – Ela falava, descompensada, diante da proposta da garota.

– Bernadete tenta mantar a calma, não precisa exagerar. – Anita quis argumentar.

– Exagerar! – Anita, me diz que foi a comida, foi a comida, a comida da Soraia tinha alguma coisa errada, só assim pra eu achar que você esta bem. – Tagarelou Bernadete, afoita com as ideias da ex- enteada, que ela sempre considerou como uma filha.

– Bernadete senta aqui. – Anita apontou para a cadeira a sua frente. – Vamos conversar, como duas pessoas normais. – Pediu ela.

– Normal eu sou. – O que não é normal é essa tua ideia Anita. – Reafirmou ela, sentando após os pedidos da garota. – Você vai fugir com o Ben de novo, eu não posso acreditar no que eu mesma digo, não é possível. – Ralhou Bernadete.

– Não exatamente fugir? – Porque a mamãe não pode saber, ninguém pode saber. – Anita tentou se justificar.

– Chega, chega, eu não quero mais ouvir esse assunto, você nunca me disse isso. – Disse ela, balançando a cabeça como negação.

– Mais Bernadete, deixa eu te explicar melhor. – Anita exclamou, querendo convencê-la a ajudar.

– Não, não, não quero, não vou, aliás, não posso. – Respondeu ela irredutível, tratando de não ter qualquer tipo de responsabilidade nos planos da garota.

– Assim só pra você saber, isso não vai me fazer desistir da viagem, você não vai falar pra mamãe, ou vai. – Anita falou sorrindo, ainda tentando coagi-la.

– Deus meu! – Ela fez drama. – Anita, o que eu quero que você perceba é que isso é a coisa mais descabida que os dois podem fazer. – Disse ela, temendo pelos dois, e principalmente pela reação de Vera se viesse a descobrir algo.

– Descabidas, são as coisas que a nossa própria família fizeram, olha só eu já desisti de ter a aprovação da mamãe pra isso tudo. – Retrucou Anita. – Tá eu to errada, mais quer saber, eu já cansei de querer fazer tudo certo e sempre me ferrar, eu vou lutar pelo meu relacionamento com o Ben, custe o que custar Bernadete. – Admitiu ela. – E quando a gente voltar eu vou contar pra eles, aliás, é isso sabe, eu peguei a mania da mamãe de não querer tirar nada do lugar, o Ben e eu devíamos ter ignorado a presença daquelas duas lá em casa, e contado a verdade, e quanto mais o tempo passa, pior fica, nisso você tem toda razão. – Completou a menina.

– É, mais vocês fazerem as coisas assim, não me agrada, se bem que a Vera não iria deixar você ir nem na esquina sozinha com o Ben, ai gente. – Suspirou ela.

– Então você vai me ajudar. – Anita insistiu.

– Ai não sei, eu não sei. – Disse ela, não muito convencida.

– Bernadete olha só, eu podia tá por aí chorando o que deu errado, me lamentando, e você sabe que eu tenho muitos motivos pra isso, a minha vida virou, e demais, e eu preciso virar a talvez a penúltima página dessa loucura toda, porque no fundo isso tudo só vai ter fim quando o Antônio sumir das nossas vidas de uma vez por todas, eu devo isso a mim, até por acreditar que não é me apegando no que houve lá atrás que eu vou construir algo um dia, que não venha com uma gota disso tudo, eu quero esquecer, e eu sei que eu posso fazer isso. – Expos Anita. – Se você não quiser me ajudar, tudo bem, eu entendo, mas não fala pra mamãe. – Quase suplicou ela.

– Eu não vou falar, mais como eu vou saber de uma coisa dessas, e vou esquecer, e se acontece outro imprevisto, se sai algo errado, vocês dois sozinhos por aí. –Alegou ela.

– Não, ai não é azar é desgraça mesmo. – Anita achincalhou a própria falta de sorte. – Também não tem porque eu pensar isso, e também além de você só a Julia sabe dessa história. – Anita ponderou.

– Eu posso até pensar em ajudar, mas se eu fizer isso. – Bernadete começou a fazer suas exigências.

– Jura, mesmo. – Anita rebateu animada.

– Calma, calma, primeiro eu quero o endereço do lugar onde os dois vão, aliás só endereço não, eu quero um mapa completo, e mais eu quero noticias dos dois, e nem adianta me virem com essa história de que o celular ficou sem sinal, que não vai colar. – Ordenou ela. – Entendido, ai e que eu não me arrependa disso. – Bernadete pronunciou apreensiva.

– Mais que isso prometido, eu passo aqui amanhã e deixo o lugar bem explicado. – Anita afirmou com um enorme sorriso. – E muito obrigada, eu nunca vou ter como te agradecer. – Ela correu para um abraço.

– Se a tua mãe não me mata, quando descobrir que você andou muito longe de São Paulo comigo, não é nada. – Bernadete falou, preocupada.

– Quanto a isso fica tranquila, se ela descobrir você pode colocar toda a culpa em mim, aliás a culpa é minha só minha mesmo. – Deixou claro Anita.

– Ai que dê tudo certo. – Desejou Bernadete de volta.

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De volta ao Grajaú...

–Eu juro que eu não sei, como a Bernadete topou ajudar a gente. – Ben confessava para Anita, enquanto os dois conversavam na praça.

– É, ela ficou apavorada, também isso é uma ideia maluca né, isso a gente não pode negar. – Anita contrapôs, plenamente sensata diante da situação.

– É, mais agora só falta a gente definir o lugar exato, já que eu vou dizer mesmo que vou viajar com a turma do curso de inglês, tá tudo certo. – Afirmou Ben em meio a um sorriso.

– Sei lá, só que também tem muita gente no bairro que estuda no cursinho, imagina se alguém fala que você não foi em viagem nenhuma. – Anita argumentou.

– Sem chance, até lá a gente já foi e já voltou mesmo. – Disse ele, com um beijo.

– Doido né, dois doidos nós. – Anita riu.

– Ai Anita, poxa a gente já faz as coisas certas até demais, uma vez errado também não vai matar ninguém, não é. – Exclamou Ben, desinteressado.

– Ninguém não né, só o nosso pescoço que pode rolar. – Ela gargalhou, ao imaginar a cena.

– Olha só, vamos combinar uma coisa, a gente viaja, aí depois nós pensamos nisso, pode ser. – Argumentou Ben.

– É pode ser. – Sorriu ela, e o casal trocou um beijo carinhoso, seguido de um abraço apertado.