Por Anita:

Ben e eu aproveitamos o resto da tarde de sexta-feira para nos refugiarmos no bosque, tentando encontrar um pouco de paz e tranquilidade, eu não falava nada pro Ben, mas confesso que eu morria de medo do Antônio me ver com ele por aí, eu sabia que ele enlouqueceria se descobrisse da nossa volta, eu tinha tanto medo do que o Antônio poderia fazer contra nós, principalmente com o Ben, ficar perto do Antônio, depois da tempestade que se instalou em minha vida me fez ter certeza do tamanho do ódio que ele nutria pelo Ben, que era sem medidas, as coisas em minha vida não estavam fácil, mas estar perto do Ben, me fazia ter paz e otimismo para seguir em frente, e procurar tocar minha vida, e com esperanças de que a serração que inebriava meus caminhos um dia teria fim, nós nos amávamos com todas as nossas forças, e isso já era suficiente para fazer nossos corações terem paz acima de tudo. As coisas lá em casa não estavam fáceis, minha mãe e o Ronaldo estavam com problemas de dinheiro, pelo que eu ouvia nos corredores lá de casa, o que eu ganhava com as peças de decoração não dava pra muita coisa, eu passei a ajudar na empresa sem pedir nada em troca, mas acabei inventando uma desculpa qualquer pra mamãe e a Bernadete, elas não comentaram com ninguém, mas os lucros da empresa não eram muitos, estava tudo muito no inicio ainda, eram muitos impostos para pegar, pra regularizar a empresa até mesmo para elas poderem expandir os negócios, havia os problemas com a escritura da casa que parecia estar se resolvendo de maneira muito lenta, o Ben ajudava como podia pelo menos pagando as próprias contas, mas o que ele ganhava não dava pra muita coisa, e tinha a Cícera, que ainda se tratava por conta da doença, ele nunca deixaria a mãe desamparada lógico. E eu e a dona Vera, sinceramente minha relação com minha mãe estava partida ao meio, ela me condenava pelos meus erros, eu me sentia mal em ter falado o que eu falei pra ela na nossa ultima briga, mas ao mesmo tempo eu me sentia incompreendida por ela, tudo que eu passei, as coisas que houveram, a sensação que minha mãe desistiu de mim, de me ajudar, me rondava, e isso era tão angustiante, eu me sentia como se ela me condenou e resolveu lavar as mãos pelos meus atos, passar por cima dela e continuar com o Ben mesmo ela não querendo, foi decepcionante para ela, mas eu necessitava de um voto de confiança, afinal eu nunca pedi pra ela engolir uma decisão minha e ponto, e me respeitar apenas a escolha que eu fiz, nunca pedi isso pra ela, na maioria das partes quem compreendia e aceitava era eu, mas na única vez que supliquei isso pra ela, ela não fez, ao contrario resolveu dizer na minha cara que eu iria me arrepender, e ela não iria aceitar, eu não me arrependi, em enfrentar eles pra namorar o Ben, mas também eu não posso dizer que não quebrei a cara, o que o Antônio fez foi grave, a gente se desentendeu, nosso namoro se partiu, e nossos corações abrigaram a magoa por muito tempo, e o que mais dói, é saber que depois disso tudo ela pode não me aceitar com ele, não de coração, me da uma angustia na alma de saber que ela se sente aliviada por nosso termino, acha que foi melhor assim, e eu não consigo aceitar isso, o descaso dela com minha própria felicidade, por aquilo que realmente me faria feliz, eu cultivava o abandono por ela, eu amava minha mãe, amo, ela sempre foi minha confidente, minha melhor amiga, mas isso acabou depois que ela descobriu meu namoro com o Ben, ela passou a alegar que eu a trai, mais eu apenas me apaixonei pelo Ben, de uma maneira tão pura, que soava absurdo esta afirmação dela, eu não queria ter traído a confiança dela, talvez isso eu tenha feito, mas eu jamais quis destruir a família, terminar o casamento dela com o Ronaldo, eu apenas me apaixonei por alguém, e pior sem saber quem ele era, eu tinha certeza que ela não entendia isso, era difícil para ela separar o que eu fiz, do que eu era, ou que um dia eu fui, porque depois do inferno que ouve em minha vida, eu não sei se sou mais a mesma, infelizmente tenho que admitir isso, e mais a maneira que ela sempre passou a mãe na cabeça da Sofia, hoje me causava uma revolta sem tamanho, porque quando a Sofia contou que estava com o Ben, ai sim, ela veio com aquele papo “filha você vai ter entender e aceitar”. Entender e Aceitar? Que a Sofia invejou o que eu senti pelo Ben, desde o primeiro instante que eu falei dele pra ela, entender que minha mãe viu numa boa a Sofia namorar o Ben depois da nossa separação, depois do que houve entre a gente, de tudo que o Antônio fez pra me tirar do Ben, e pra tirar ele de mim, sinceramente pra mim era patético, minha mãe protegia a Sofia, desde menina, se ela brigava na escola, ela entendia, mesmo que a errada fosse ela, e eu tenho que confessar que como uma menina, que eu era, eu tinha até medo de confessar que a professora chamou minha atenção por conta de uma conversa no meio da explicação, porque eu sabia que ela me repreenderia ao máximo, é eu tinha medo das cobranças da minha mãe, mas com o tempo eu aprendi a lidar com elas, e por mais que a Sofia dissesse que ela prefere a mim, não é isso, ela cuida mais da Sofia, acha que ela precisa de compreensão, e como se ela achasse que estou pronta para o mundo, se eu faço errado é porque quero, só que eu sou humana, eu não sou perfeita, e eu sempre soube disso, mais a dona Vera não vê isso, só pode, e o meu erro imperdoável foi ter me apaixonado, e pior por um garoto, que se não fosse filho do Ronaldo, talvez ela aceitasse numa boa, e depois de tudo que houve em minha vida, como eu pude sentir e ver na pele como as pessoas são injustas e egoístas, quanto alguém esta por baixo, eu não iria tolerar os intemperes dela, eu iria ficar com o Ben, independente de qualquer coisa que ela pudesse sentir ou pensar, não só ela mas qualquer pessoa, o pesadelo que foi essa história só me deu uma certeza, de que hoje eu não tenho medo de encarar nada em minha vida, eu já vive um inferno, eu sei que ele é doloroso, mas eu também sei, que da pra sobreviver, eu sobrevivi, por mais tristeza que tudo isso tenha me trazido, eu amava minha família e minha mãe, mas independente disso, eu não iria abrir mão da minha felicidade, eu sei que não contar pra eles de mim e do Ben, não era certo, mas contar neste momento também seria conturbado, o jeito era esperar um pouco dos problemas se resolveram.