Anita encontrava-se no mesmo lugar que ficou depois que Antônio foi embora, sentada ao chão perto a parede do banheiro, parecendo ainda estar processando toda as farpas que os dois haviam trocado, ela só conseguia pensar em Ben, tinha vontade de ligar para o garoto ou ir encontra-lo para contar tudo que aconteceu, mas ao mesmo tempo tinha medo da reação dele, o que podia piorar ainda mais as coisas, ela temeu por uma reação explosiva do namorado, o que poderia gerar algum tipo de retaliação por parte de Antônio que havia deixado mais claro do que nunca, que não estava para brincadeiras e faria qualquer coisa por seus ideais, e por aqueles que atravessavam seu caminho e para aqueles que ele repudiava. Ela viu uma sensação de medo e dor instalar-se em si, mais do que nunca ela teve certeza de que tinha que se livrar de Antônio em sua vida, a ameaçando, ameaçando todos que a cercavam e principalmente Ben, Anita sabia que morreria se algo acontece com o garoto, e ainda mais se ela soubesse que tudo foi por culpa de Antônio mais uma vez. Ela viu um sentimento de solidão e fragilidade lhe dominar, enquanto ela encarava cada canto da sala vazia e silenciosa, seu desespero se tornou completo e algumas lágrimas começaram a cair, mesmo contra sua vontade, a garota se sentiu mais mal ainda quando percebeu que havia quebrado a promessa que fez a si mesma, quando ela e Ben acertaram-se novamente de que ela jamais sofreria por nada que a lembrasse de tudo que ruim que aconteceu, por tudo que parou e mudou tanto a vida dela e do amado. Ela havia se dado por conta de que todos haviam colocado uma pedra em tudo que houve, e parecia que os únicos que ainda queriam algum tipo de justiça por todo sofrimento e tristeza era ela e Ben, o que a fez sentir magoa por todos serem tão negligentes com a situação, principalmente depois de todos os empecilhos e negação que a família colocou para aceitar o envolvimento dela com Ben, Anita sentiu-se abandonada por todos, mesmo sempre fazendo pelas pessoas a sua volta, ela viu que eles apenas queriam ajuda quando precisavam, mas raramente lembravam que de vez em quando ela também precisava de ajuda. Ela escorou-se sua cabeça na parede fechou os olhos, e ficou pedindo encarecidamente que tudo se resolvesse, o toque do celular da garota tocando em cima do sofá quebrou todo silencio que pairava no ambiente.

Ben que saía do curso de inglês tentando ligar para Anita sem sucesso, achou que ela podia já ter chegado, mas estranhou quando chegou ao portão já na calçada e não a avistou, pois a garota não era de se atrasar e como ele já tinha ligado algumas vezes, mais até então achou que ela pudesse estar se arrumando e tinha deixado o telefone em algum lugar e não viu tocar, então ele mandou uma mensagem já que ele não atendia, mas ela não havia aparecido ainda, o que lhe deixou intrigado, sobre o que havia se passado.

– Anita ei, ei, fala comigo. – Pedro preocupou-se quando entrou em casa e viu a irmã jogada próximo a porta do banheiro.

– Ai Pedro que susto. – Ela estava tão perdida em seus pensamentos que nem viu o pequeno se aproximar.

– Susto levei eu, o que houve, você desmaio, tava aí atirada. – Questionou ele, um pouco aflito.

– Não, não, claro que não, eu tava, sei lá, pensando na vida. – Anita não sabia como justificar.

– Você tá bem. – O garoto relutou em acreditar.

– Claro que eu to, eu sou meio desligada mesmo, gosto de ficar jogada, quieta no meu canto de vez em quando, e nessa casa ultimamente não anda dando pra fazer isso, não é. – Por mais que fosse verdade o que ela falou, com certeza não era o que se passava naquele momento, mas Anita não queria preocupar o caçula, que já era esperto de mais.

– Tá bom, então eu acredito. – Falou Pedro um pouco desconfiado, mas talvez fosse verdade, a irmã era bastante tranquila mesmo, por mais que nos últimos tempos ela tinha mudado um pouco. – Teu telefone tá tocando, não vai atender. – Pedro perguntou quando escutou o celular chamar.

– Vou sim. – Disse Anita levantando e caminhando até o sofá para pegar o celular, ao levar o mão nele e visualizar a tela percebeu que era Ben, e ele já havia ligado quatro vezes para ela, inclusive deixado uma mensagem. – É, depois eu atendo vou dar uma saída agora, fica bem tá, qualquer coisa chama alguém. – Anita afirmou, colocando o telefone no bolso da calça e pegando a bolsa que ela havia deixado sobre a mesa da sala, ela não podia atender Ben e muito menos ver o garoto, ou ele saberia exatamente o que se passou com ela.

– Tá bom, vai tranquila. – Disse Pedro sentando ao sofá e ligando a TV.

– Tchau, daqui pouco o pessoal chega aí. – Ela falo, saindo pela porta em seguida.

– Meg, Meg, cadê o Serguei. – Anita entrou como um foguete pela porta do salão, procurando pelo amigo, impaciente. Meg que lia uma revista levantou-se para conversar com ela.

– Cara Anita, impossível falar como Serguei agora. – Disse Meg.

– Mais ele tá aí, ele saiu cadê ele, eu já liguei no caminho pra cá, mas ele não atende. – Perguntou Anita.

– Ele tá aqui, mais em total isolamento, enfiado lá naquele quarto com a Flaviana, quer dizer no quarto que é meu também. – Meg já estava irritada com a situação.

– Ah essa hora, mais é quatro da tarde. – Anita proferiu incrédula.

– Pois é, mais você deve estar sabendo a Flaviana daqui uns dias vai ver os pais nos Estados Unidos, e os dois já tão querendo matar as saudades. – A loira justificou, nada contente.

– Que droga. – Reclamou Anita. – Eu precisava ver ele, falar com ele, é importante. – Falou ela desanimada.

– Desiste Anita, se você der sorte, quem sabe amanhã eles saem da lá, eu é que vou ter que dormir aqui no chão do salão, não é. – Meg afirmou.

– Eu derrubo a porta daquele quartinho, se ele não abrir, a derrubo. – Anita esbravejou.

– Anita eu já tentei, eles não abriram, e sem falar que eu acho que nem é bom a gente querer entrar lá, vai saber o que tá acontecendo lá dentro. – Meg exclamou, vendo que não funcionaria.

– Ah meu bem, deve ter acontecido de tudo lá dentro, e muito mais que nós duas possamos imaginar. – Resmungou Anita nervosa. – E depois eu, é que sou a volúvel, mal consigo namorar direito, e quanto há isso nem se fala, marasmo total. – Afirmou Anita, chateada pela falta de espaço dela e de Ben.

– Nem comenta, não é, eu vou ter que me ajeitar nessa cadeira aqui mesmo, já vi que hoje não tenho quarto. – Meg também reclamou dos dois.

– Bom eu vou indo, vou falar com a Julia então. – Anita respondeu. – Ih, vai dormi lá em casa, a Gio, vai gostar. – Ela sugeriu com um sorriso.

– Não, eu sei que tá cheio de gente já lá, imagina, dar trabalho. – Meg relutou em aceitar.

– Relaxa tá, trabalho nenhum, e outro, o quarto meu e das meninas, ainda não sofreu nenhuma invasão, e bom que continue assim. – Anita riu por um momento.

– Tá então, eu vou pensar e de repente vou sim. – Concordou Meg. – E Anita, tá tudo bem. – Meg indagou, vendo o jeito ansiosa da menina.

– Tá sim, amanhã eu falou com o Serguei, precisa se preocupar não. – Anita afirmou. – Eu vou indo, tchau, até a noite. – Disse ela, mais calma.

– Tchau. – Meg respondeu já vendo Anita indo embora.