E se tudo mudar?

Mais uma vítima


Ele chegou mais rápido que esperava em Attleboro, considerando o percurso da viagem — basicamente da Ásia à América —, ele supôs que o tempo foi mais curto que suas outras viagens pelo mesmo destino.

Quando encaminhou-se para pegar suas malas na esteira, ele se sentiu observado. Procurou algo olhando de soslaio em ambos os lados, mas não encontrou nada. Andou apenas mais alguns passos acompanhado daquela sensação incômoda.

Ao chegar perto de suas malas, parecia ter ficado mais confortável, porque ele não poderia deixar que os materiais e instrumentos Ekat fossem pêgos pela segurança do aeroporto, teve sorte pelo dispositivo que colocou nelas ter funcionado durante o raio-x, as imagens foram disfarçadas, porém mesmo assim ele deveria sair dali o quanto antes.

Alistair preferia ficar na Coreia, entretanto concordou com a decisão de Amy, todos deveriam ficar juntos em um local seguro e a mansão Cahill era uma boa opção.

Hamilton estava com sua família, Sinead com seus irmãos, Alistair e Jonah já, já estariam com Fiske e Nellie, já Amy e Ian estavam em menor quantidade, o que não era seguro. Até o momento eles permaneciam controlando bem a situação — em exceção o sequestro de Natalie —, contudo em instantes isso poderia mudar. Alistair deixou para alertá-los quando chegasse em Attleboro. Ao aproximar a mão esquerda da mala, sentiu algo gélido e metálico contornando seu pulso com extrema rapidez, olhou para baixo e identificou as algemas.

A situação não está muito agradável para vocês, Cahill. Se não me entregarem logo o anel de Gideon Cahill, a população da Ásia terá um habitante a menos.

Vesper Um.

Amy encarava o fax em suas mãos pasma, então os Vesper tinham feito uma nova vítima...

Ela chocou-se quando as informações se organizaram em sua mente, já eram três Cahill sequestrados e Vesper Um havia citado o continente asiático.

É claro!, pensou no mesmo instante.

Alistair estava refém da organização, ela não poderia deixar que eles fizessem algo com ele, assim como Dan e Natalie, isso estava chegando longe demais. Os Cahill não podiam estar simplesmente sendo capturados pelos Vesper, e todos aqueles anos de treinamento? De que estavam valendo nesse tipo de situação?

A família estava com poucos agentes ativos, juntos na missão, ainda assim tinham certeza de sua vitória, ou não...

A garota sentia-se angustiada e cada vez mais culpada, apesar das pessoas falarem que não era sua culpa, ela achava que sim. Que por ter confiado os 39 ingredientes à única pessoa que era capaz de memorizá-los, à pessoa na qual ela mais amava.

Pensou que talvez se eles tivessem pêgo a herança milionária ao invés de aceitarem participar da busca, isso não estaria acontecendo. Talvez o destino do mundo não estaria em suas mãos, cogitou até mesmo entregar logo o maldito anel para os Vesper, contudo essa decisão seria muito precipitada, e com toda a certeza não era a melhor a se fazer.

Mas Amy estava começando a ficar desesperada.

Tudo dependia dela, e a ruiva sabia que ao mínimo deslize cometido poderia sofrer estremas consequências.

Já que o mundo dependia dos jovens Cahill, eles dariam o seu melhor. E o melhor não seria ficar ali parada lendo e relendo o papel, ela iria à uma nova busca.

— Dois anos — disse a enfeirmeira que se encontrava ao lado da cama, onde uma mulher dormia, ou parecia estar tomada pelo sono.

Todas as paredes do cômodo uniformemente brancas, lençóis também de cor clara, equipamentos, utensílios médicos e cirúrgicos, os uniformes dos funcionários completamente brancos. O local teria tudo para ser apenas mais um de tantos outros hospitais naquele país, mas não, fazia parte da KGB, uma espécie de ala hospitalar muito bem equipada e com funcionários de alto nível de experiência e qualificação.

— Quase três — a médica que verificava os tubos de oxigênio respondeu.

— A senhora acha que ela ainda vai acordar? — a enfermeira desviou sua atenção da prancheta e proferiu a pergunta franzindo o cenho.

— Eu não devo achar. Tenho convicção no que digo, ela vai sim despertar. O difícil será saber quando.

— E... como será? Digo, permanece em estado de coma, ela poderá acordar com alguma reação, afinal caiu de uma altura considerável e sofreu uma pancada forte na cabeça.

— Isso teremos de ver quando ela acordar, não podemos simplesmente desistir da nossa melhor agente.

A enfermeira apenas assentiu e voltou a terminar suas anotações.

— Hey galera! — Jonah exclamou ao entrar na mansão Cahill e se deparar com dois pares de olhos fixados em si. — Parece que o ambiente está um pouco pesado por aqui... — comentou mais para si, ao perceber que os mantiveram sérios.

Ele se aproximou de Fiske e o cumprimentou como sempre fazia quando se encontravam, porém dessa vez não recebeu o sorriso otimista como resposta, e estranhou.

Foi em direção à Nellie, mas decidiu não tentar contato físico nem com apenas um aperto de mão, ela parecia estar em alerta, e Jonah não queria ser alvo de um ataque de Nellie; apesar de não saber o que estava acontecendo, preferiu respeitar. E claro que as coisas não estariam boas, realmente todos os Cahill deveriam permanecer em alerta. O garoto resolveu arriscar uma única pergunta:

— Mas então... o que está acontecendo com vocês? — perguntou um pouco receoso pela resposta.

— Alistair foi sequestrado no aeroporto hoje de manhã — Fiske respondeu sério.

— Mas ele não tem o próprio jatinho?

— Parece que houve algum problema, oferecemos ajuda, mas ele falou viria por conta própria.

— Por que ele tem que ser tão teimoso?

— Se trata do Alistair, não é? — Nellie pela primeira vez se pronunciou na conversa e logo deu de ombros, demonstrando que ela já não conseguia fazer mais nada que contribuísse.

— Bom, eu preciso me retirar. Nellie, se não estiver incomodando, será que você poderia levá-lo até o quarto de hóspedes? — Fiske perguntou se afastando e deu um pequeno sorriso ao vê-la assentir com um simples "o.k.".

— Fiske está mal — Jonah comentou enquanto subia as escadas seguindo a mulher. Ele se aproximou mais e parou ao lado dela. — Você está mal — ele disse evidenciando sua preocupação. Ela desviou o olhar do corredor à sua frente e o pousou sobre ele.

— Como? — ela perguntou um pouco confusa.

— Isso mesmo, você quase não falou nada e está abatida. Me explica o que tá acontecendo.

— Não tenho o que explicar — disse disse firme.

— Ah, claro — respondeu irônico. — Só acho que deveria desabafar um pouco, sabe. Você guarda tudo para si mesma.

Ela sabia que Jonah tinha razão, preferiu não retrucar o comentário. Uma pausa se alastrou por ali, e ambos começaram a rumar em direção ao quarto lentamente, quando o garoto abriu a porta para entrar, ele escutou finalmente a mulher.

— Está muito difícil aguentar isso, sinto que não posso fazer mais nada.

Ele se virou rapidamente e manteve sua atenção ali, apenas na mulher de cabelos coloridos.

— Quando o Dan sumiu eu tentei ir atrás dos Vesper — ela fitava o portal oposto ao que estava apoiada no vão da porta e cruzou os braços —, como percebeu... não deu em nada.

— Você não podia fazer nada.

— Talvez, mas eu fico frustada de saber que ele foi sequestrado aqui, no jardim da mansão.

— Nellie, você se arriscou demais indo atrás dos Vesper. Teve sorte de também não ter sido pêga.

— Eles não me querem, somente o soro e... — ela iria dizer "anel", preferiu manter o conhecimento do objeto longe dele, seria até melhor para o mesmo.

— E...?

— E serem superiores à tudo e à todos — completou rapidamente. — Sem contar que Amy também está em perigo — olhou para ele.

— Ela está com Ian, eles conseguem se proteger — Nellie reagiu à fala dele com um sorriso fraco no rosto, mas verdadeiro.

— Amy e Ian..., sempre achei que eles dariam um bom casal — deu de ombros.

— Quem sabe, não é mesmo? — Jonah retribuiu o sorriso. Ele não sabia como, ou porquê, mas Nellie simplesmente o encantava.

— É.