Se havia dúvidas quanto à capacidade de Isabella em ser uma boa esposa, no que se referia ao cuidado com a casa, ao final daquela primeira semana essas dúvidas estavam definitivamente enterradas. A menina, como Jacob a chamava em segredo, agia com habilidade, com segurança e logo conquistou o respeito dos empregados.

Descobriu como seu marido gostava de ser atendido, seus horários, manias e fez tudo de acordo com o que ele esperava. Providenciou para que nada fosse modificado além do necessário. Mas, não deixou de dar seu toque pessoal em muitas coisas. E, para total estranheza de Jake, esse aspecto da vida de casado não lhe foi desagradável.

Eles conseguiam conviver sem discussões, sem alterações de humor, sem ironias. Lentamente se conheciam e se tornavam mais íntimos. A paz que Jake tanto prezava se mantinha intacta, e ele percebia que Isabella partilhava dela. O que provocava certo apaziguamento interior quando lembrava da parte não concretizada de seu casamento.

Bella se mostrava tranquila e feliz. Com certeza, ele pensava, tentando silenciar sua consciência, mais feliz do que a mãe dele jamais fora. Só havia uma pergunta sem resposta. Por quanto tempo seria assim?

*

A casa era grande, não tão grande quanto a de seus pais, menos ainda que a do Marquês de La’Push, aquela mesma casa que um dia seria de seu marido e onde ela passaria a viver. Por isso Isabella encarava aquele aprendizado como uma preparação para o momento em que suas responsabilidades aumentariam. Havia empregados suficientes para cada função, pareciam confiáveis, ativos, atentos às suas ordens portando a convivência com eles estava sendo mais fácil do que o esperado.

Jacob passava pouco tempo em casa, e os empregados estavam habituados a realizar as atividades de forma quase automática, de acordo com os gostos e necessidades do patrão. Portanto Bella precisou fazer poucas mudanças, especialmente aquelas que se referiam as necessidades de sua própria pessoa. De resto, apenas a manutenção da ordem e organização gerais.

Transitar por um lugar tão grande e tão vazio, lhe pareceu deprimente nos primeiros dias, especialmente porque Jack não fazia qualquer questão de permanecer em casa e conviver com ela mais do que o necessário. Mas, ao mesmo tempo, esse afastamento inicial lhe deu liberdade para examinar cada peça, inclusive e especialmente o quarto e objetos pessoais dele.

Foi assim, bisbilhotando que Bella descobriu o quanto o marido era metódico em alguns aspectos e totalmente descontraído em outros. Ele mantinha no quarto uma prateleira pequena repleta de livros sobre viagens, (o quer era uma prática incomum), e em praticamente todas as encadernações (ao menos as que ela folhou) havia uma anotação qualquer, ou comentário, feitos provavelmente enquanto Jacob os lia.

Eram anotações pertinentes, relacionados com os lugares, comentários feitos por alguém que sabia o que comentava. Sim, Bella tinha conhecimento que o futuro Marquês fora um amante de viagens há alguns anos.

Em contrapartida, seus objetos pessoais estavam dispostos de forma regular. Escovas, cremes e perfumes colocados metodicamente em ordem. Seus lençóis eram trocados constantemente, ele não suportava dormir num tecido amarrotado, ela descobriu. Eram nuances de alguém que ela mal conhecia e de quem queria urgentemente saber cada vez mais.

Jacob sempre a tratava com cortesia e respeito, perguntava sobre seu dia, ouvia com atenção os relatos, fazia as refeições com ela e algumas vezes lhe dispensava alguns minutos após o jantar. E por isso, Isabella se dizia que uma esposa não poderia querer mais do que isso. Mas, contrariando esse pensamento conformista, ela queria. Queria muito mais. Queria os beijos nas mãos, os olhares, os sorrisos, queria em especial e inconscientemente um beijo igual aquele que recebera no labirinto. Queria que Jake ficasse mais tempo em casa. Queria que fosse ao seu quarto como Renée dissera que iria. Porém, nada disso parecia ter alguma perspectiva de acontecer, ao menos não tão logo. E ela ia com calma tentando se adaptar a vida de casada e aos costumes dessa nova vida.

*

Em um dia frio e úmido, Jacob estava sentado à escrivaninha do escritório, no final da tarde, guardando alguns documentos quando Bella se aproximou, bateu levemente na porta atraindo para si o olhar sério do marido.

– Você pediu chá? – perguntou tentando sorrir.

Ele concordou com a cabeça e ela ingressou carregando uma bandeja.

Imediatamente, Jacob ficou em pé, com ar zangado retirou o tabuleiro das mãos da esposa enquanto reclamava:

– Onde está Otto? Por que ele mesmo não fez isso?

Era preciso resolver o problema logo, o mordomo não poderia levar a culpa por uma ordem dela.

– Ele estava vindo... fui eu. Pedi a bandeja dizendo que a traria para você.

O olhar no rosto masculino era curioso.

– Você precisa de alguma coisa? – ele perguntou enquanto voltava a se sentar, só num caso assim Jacob considerava aquela atitude como possível, pois era assim que acontecia em sua casa e nas casas dos amigos. Uma esposa nunca procurava pelo marido exceto se precisasse ter algum desejo urgente atendido.

– Não... – por que Jake acreditava que ela o procuraria apenas para perguntar ou pedir alguma coisa? Ela se perguntou.

Os olhos do homem se fixaram no rosto da moça de forma ainda mais séria, a espera do motivo que a levava até ali. Compreendendo o gesto, Bella explicou:

– Queria conversar com alguém... um pouco... – no final das contas ela queria algo, mas era algo muito simples.

De imediato, Jacob se sentiu mal ao compreender que estava deixando a esposa sozinha mais tempo do que deveria. Mas, não era intencional. Nos últimos dias seu pai estava com fortes dores nas costas, o que o impedia de cavalgar longas distancias e visitar arrendatários com a frequência necessária. Por isso, o trabalho sobrava para Jacob e Edward, e mesmo dividindo, algumas vezes era complicado dar conta de tudo. Principalmente naquela época do ano, em que costumavam aparecer mais problemas, sem falar no fato de que precisava revisar sempre o trabalho do irmão.

– Desculpe... se a tenho negligenciado... – parecia que a união deles seria recheada por essa palavra. Imediatamente Jacob lembrou que devia pedir desculpas por muitas coisas. Especialmente por ainda não ter concluído o casamento. E internamente esperava pela hora em que ela o cobraria isso. Desviou dessas culpas, se desculpando pelo problema que Bella lhe apresentava. – Papai está doente, estou sobrecarregado.

Ela largou a xícara de chá diante dele e achando que entedia o que o marido queria dizer se despediu.

– Não pretendia atrapalhar, vou deixar você trabalhar com...

– Não... pode ficar... estava apenas guardando alguns documentos, mas isso pode esperar...

Ficando em pé ele capturou a xícara sem o pires. Tentando capturar também a presença da esposa, bem como suas desculpas.

– Sente-se... – sugeriu apontando uma poltrona no canto da peça e se acomodou numa cadeira de frente para ela.

Com cuidado e muito ereta Bella se sentou. Ainda era estranho aquela deficiência de palavras entre eles. Mais estranho ainda é que antes, quando não eram nada além de conhecidos, conseguiam conversar e até sorrir sem todo o constrangimento tão presente na relação atual.

– Como foi seu dia? – aquela era a pergunta diária.

– Normal... e o seu?

– Pequenos problemas com a adaptação de um novo arrendatário.

– Espero que possa resolver esse contratempo em breve.

Ele se remexeu na cadeira tentando acomodar o corpo. Não gostava de cadeiras, sempre lhe pareciam desconfortáveis.

– Já está resolvido. – respondeu firme e ela decidiu mudar de assunto. Havia algo a lhe incomodar, e talvez boa ideia dividir essa preocupação com o marido:

– Hanna e eu estávamos conversando sobre os preparativos para o Natal.

Jake nada disse apenas gesticulou com a cabeça. E ela continuou:

– Sei que sua mãe espera que a ceia seja na casa dela como sempre foi... – aquele era um assunto importante em se tratando de Sarah e Renée.

– Sarah comentou sobre isso – Jacob anunciou interrompendo-a sério cruzando a perna, colocando o tornozelo sobre o joelho. – Ela já falou com sua mãe, todos irão para a casa principal...

Bella até conseguia imaginar sua mãe e sogra acertando os detalhes da reunião familiar. Nesses momentos os pensamentos das duas mulheres agiam em uníssono, pensou e sorrateira emitiu um sorriso. O gesto não passou despercebido.

– Vejo que está satisfeita com a notícia.

Ela suspirou aliviada, abrindo mais o sorriso.

– Sim, estava pensando na guerra que aconteceria entre nossas mães exigindo cada uma a seu modo nossa presença em sua ceia...

Jacob imediatamente sorriu também, ele compreendia a ansiedade da esposa.

– Não se preocupe, não haverá guerra, está tudo acertado entre elas. Iremos todos para o mesmo lugar.

Ela apertou as mãos delicadamente sobre os joelhos, pensativa, apesar daquele problema ter sido resolvido sem qualquer percalço ainda havia um assunto que considerava importante:

– O evento seguinte, será seu aniversário... Sarah tocou no assunto algumas vezes antes do nosso casamento.

Desta vez o suspiro foi incomodado. Jacob não gostava de festas, agito, aglomerado de pessoas onde “ele” fosse o centro das atenções. O casamento já fora mais do que suficiente para um ano. E sua mãe pretendia coloca-lo em outra situação igual em menos de um mês?

– Gostaria que no meu aniversário nada além de um jantar em família fosse realizado...

– Sua mãe não aceitará. – ela retrucou de imediato.

Ele bufou, e pela primeira vez Bella teve uma primeira impressão do quanto o temperamento de seu marido poderia ser forte.

– Minha mãe tem ideias muito restritas sobre a vida social. Ano passado insistiu numa reunião pequena, íntima. Para me ver livre aceitei. Acabamos num baile com mais de duzentos convidados. Sem falar no incômodo anterior. Compras, cardápio, bebidas, ela insistiu em contar com minha presença em todos os preparativos.

Bella sorriu novamente, a expressão fechada dele era a de alguém que não está acostumado a fazer o que não quer. E, para evitar um problemão para si, brigas dentro de sua casa, e aquela expressão zangada no rosto do marido, talvez pudesse tentar fazê-lo concordar com a ideia de Sarah.

– Quem sabe seja melhor aceitar a sugestão dela e realizar a festa.

Jacob a olhou de soslaio. Será que Isabella era tão “sociável” quanto sua mãe?

Bella continuou:

– Evitaremos problemas. Muita discussão. – sem saber tocou no ponto certo, pois o único motivo que fazia Jacob se indispor a ponto de discutir, era a irritante desconsideração da mãe com Emily. Bella insistiu: - Posso organizar tudo com ela, você ficaria a parte... sem obrigações além de aparecer na noite da festa.

– Você acha que conseguiria mantê-la longe de mim? – se a esposa fizesse isso, ao menos ele se veria livre de uma parte do problema e ao mesmo tempo não provocaria a ira da mãe desnecessariamente.

– Acredito que sim. – além de que deste modo teria algo com que se ocupar.

Ele a olhava detidamente, como se não acreditasse nessa capacidade da esposa. Bella era uma menina, não fazia ideia do quanto Sarah era capaz de ser manipuladora, irritante, fresca... sua pobre esposa seria massacrada.

– Não seria justo com você. Vai ficar sobrecarregada e aturar os desmandos de Sarah. E essa com toda a certeza, não é uma das missões que recomendo. – concluiu ficando em pé para largar a xícara na bandeja e pegar um biscoito.

Bella não via a situação como o marido.

– Vou gostar de ajudar sua mãe, e também posso acertar para que ela não passe dos limites. Como convidar mais pessoas do que você consideraria adequado por exemplo.

Desta vez Jacob riu. Ele não esperava ouvir aquilo. Talvez por não conhecer Sarah direito, ou por ingenuidade, tão característica nas pessoas mais jovens, Bella imaginava mesmo que conseguiria rivalizar com os desmandos de sua mãe?

– Você não a conhece muito bem! - ele comentou ainda rindo. – Sarah não é uma pessoa fácil.

Bella sacudiu levemente o dedo para ele.

– Sim, conheço sua mãe há muito tempo! Passei muitas tardes na casa dela, brincando e conversando com Emily.

Sim, era verdade. Ele algumas vezes esquecia que a esposa e Emily se conheciam desde criança.

– E se você não lembra, no baile de apresentação de sua irmã, consegui realizar muito bem a missão que você me deu. – enquanto dizia isso ela ergueu o queixo, orgulhosa de si mesma.

– Uma verdade! – Jake teve que concordar, mesmo assim não parecia satisfeito – Porém, naquela data você ainda não era nora dela. Agora, como mais um membro da família Black, Sarah vai querer mandar em você como pensa que manda em todos.

Bella se remexeu na cadeira pensando como se sentira bem aquela noite, quando ele conversou com ela, quando beijou sua mão, quando a convidou para dançar. Como se sentiu feliz, leve, já estava apaixonada com toda certeza, só não sabia disso ainda.

De repente a esposa ficou distraída, como que distante. Em que estaria pensando? Ele se perguntou, e então, os olhos dela se fixaram nos seus, com uma expressão tão forte que Jacob sentiu o coração palpitar.

– Tem razão, mas ainda tenho a vantagem de conhecê-la melhor do que ela me conhece...

Ele sorriu de leve achando que Bella se sentia muito segura de si, estava doido para saber como essa história se desenrolaria. Então, o mordomo entrou avisando que um mensageiro trouxera um recado da casa de seu pai, exigindo resposta imediata. Pedindo licença Bella se retirou deixando Jacob preocupado pelo conteúdo do papel e chateado por ter que encerrar a conversa que considerara muito agradável.