Jacob ingressou na peça rapidamente, seguido de perto por Leah. O marquês se mostrava preocupado.

– Leah me disse que você não está bem... – falou sentando ao lado dela.

A voz era mesmo preocupada. E enquanto se acomodava ele segurou as mãos da esposa constatando que estavam geladas.

Leah em pé os observava levemente agitada antes de falar:

– Preciso ir... mamãe estava me chamando... Jacob, se necessitar, o doutor Smith está no salão de dança.

– Obrigada! – Bella falou sorrindo antes que a prima saísse.

Voltando-se para Jacob ela tentou mostrar que estava bem, na verdade, só de vê-lo já se sentia melhor.

– Acho que devemos chamar o médico. – ele sugeriu enquanto tentava aquecer as mãos da esposa entre as suas.

– Estou melhor... – Bella falou baixo.

– O que você estava sentindo afinal? – o rosto dele demonstrava a preocupação pelo bem estar dela. Bella se sentiu deleitada em vê-lo sinceramente apreensivo.

– Uma leve tontura... suor gelado...

– Isso parece muito com os sintomas que Emily apresentou quando esteve acamada em decorrência de uma gripe. Devemos consultar o doutor Smith.

Ele fez menção a se levantar para chamar o médico, mas Bella não permitiu.

– Se não melhorar poderemos fazer isso.

Jacob mostrava uma ruga entre os olhos, e Isabella decidiu por fim na apreensão dele sentando melhor no sofá. No mesmo instante a porta da sala se abriu, era Leah outra vez.

– Jacob... precisamos de você para o brinde do noivado.

O marquês olhou da futura cunhada para a esposa. Bella balançou a cabeça levemente dizendo:

– Vá, estou bem, não se preocupe...

– Mas você não estará presente no momento em que fizermos o brinde. – Jake a queria ao seu lado, enfrentando a situação com ele. Mostrando que aquele momento não tinha qualquer importância para ela.

– Eles querem você. – Bella insistiu - Estarão vendo apenas você... e os noivos é claro, esperarei aqui.

A testa do marquês se apertou de repente, ele não estava gostando daquele arranjo. Em sua cabeça, Bella arrumara um jeito de não estar presente no momento em que o noivado fosse anunciado publicamente. Arrumara um jeito de não ver a felicidade de Edward e Leah. E agora todo o ciúme que fora controlado por dias, voltava a tona com força total.

Sem dizer mais nada o homem ficou em pé, voltou-se para Leah e tomou a direção da porta, compreendendo que seria seguida pelo cunhado a moça saiu, foi nesse momento que Jacob voltou-se para a esposa e com voz firme disse:

– Não saia daqui!

De alguma forma aquela frase lhe soou estranha. Era muito mais do que preocupação o que havia nela. Mesmo assim Isabella garantiu que permaneceria no mesmo lugar até o retorno do marido.

A porta se fechou rapidamente e ela voltou a se jogar sobre as almofadas, respirando pausadamente, o que parecia aliviar a sensação ruim que subia pela garganta.

*

As pessoas a sua volta se acomodavam diante dele a espera do anuncio. Alguns lhe sorriam, outros estavam sérios, outros ainda cochichavam, mas Jacob simplesmente não os via, sua mente estava na mulher sentada sozinha numa das salas da residência.

Leah e Edward se postaram ao seu lado. Os pais da jovem, bem como sua própria mãe estavam ali, a única pessoa que faltava era Isabella. E ele sabia o porque dessa ausência. Estava tão zangado que mal conseguia pronunciar as palavras adequadas para a situação. O peito pesava doloridamente. Apenas o sentimento de dever cumprido o motivava a continuar, e assim o brinde foi erguido, as pessoas se aproximarem do casal para as tradicionais parabenizações ele agiu com rapidez saindo do local discretamente, tomando a direção da sala onde Bella se encontrava.

Não sabia o que diria, o que faria, mas precisava dar um fim naquela situação.

Abriu a porta sem fazer qualquer barulho e tão logo ingressou na sala a viu em pé, perto da mesa, o rosto levemente inclinado para o lado. As mãos caídas ao longo do corpo.

– Vejo que melhorou! – falou sério e firme.

Bella respirou pesadamente, não se enganara, lá estava ele outra vez com aquele tom de voz que a afligia. E afligia ainda mais por não saber os motivos dessas bruscas mudanças de comportamento.

– Estou melhor obrigada... – ela se voltou, ainda estava um pouco pálida, mas as cores pareciam retornar à face da esposa lentamente.

– Vamos voltar para a festa? – não era realmente uma pergunta Bella disse a si mesma enquanto percebia que Jacob não se aproximara como da primeira vez. Permanecia parado perto da porta a olhá-la direta e firmemente.

– Acho que prefiro ficar um pouco mais aqui... – Bella concluiu apoiando o corpo na mesinha não estava totalmente recuperada do mal estar.

Sim, ele pensou, sua esposa queria evitar os cumprimentos, os votos de felicidade, ter de encarar o casal feliz.

– Quem sabe quer retornar para nossa casa? – fez uma tentativa.

A voz dele estava dura como na noite do jantar na residência de Sarah. Ela concluiu enquanto encarava os olhos escuros escondidos na penumbra do ambiente. Bella já o conhecia bem para saber que Jacob estava incomodado. Só lhe faltava saber com o que.

– Quero ficar aqui com você.

Ele riu nervosamente permitindo que a ironia escapasse através do riso.

– Você está irritado? – ela foi direta, estava cansando de fingir aceitar o comportamento confuso dele. – Fiz alguma coisa que lhe desagradou?

Ela ia se fingir de desentendida, exatamente como Sarah gostava de fazer? Jacob se perguntou.

– Tenho motivos para estar irritado?

– Hoje é um dia feliz... não vejo motivos para irritação. – ela tentou, talvez ele estivesse zangado porque passara mal.

– Quem sabe minha esposa considere mais conveniente fingir um mal estar do que demonstrar irritação ou... tristeza.

Ele achava que ela estivera mentindo?

– O que você quer dizer com isso Jake?

– Que você estava se escondendo aqui para evitar o brinde. – ele foi extremamente sincero.

Aquilo era ridículo.

– De onde saiu esta ideia estapafúrdia? - a jovem perguntou sem compreender como chegaram aquele ponto.

Bella ainda tinha o desplante de responder daquela forma? Sua capacidade de aturar e fingir acabou ali.

– Do fato... incontestável de que você ama o meu irmão! E que se escondeu aqui para evitar vê-lo ficar noivo de sua prima! – ia mesmo fazer isso? Falar sobre aquele assunto tão pessoal ali? No meio da festa de noivado de Edward? Ia! Pois se não falasse acabaria morrendo como seu pai, vitimado por coisas que não conseguia dizer.

Sem acreditar no que ouvia Bella caiu sentada no sofá novamente, a cabeça ainda perdida. Será que ouvira direito? Jacob dissera que ela amava Edward?

– Como você...?

– Como eu sei? – ele concluiu se afastando da porta sem desviar o olhar do rosto dela – Ouvi você e Emily conversando... sei que está apaixonada por Edward.

Enquanto falava Jacob percebeu que não se reconhecia naquela voz. Aquela não era a sua voz, não era a voz que ele usava para falar com a esposa. Aquela era a voz de um homem magoado, ultrajado e doente de ciúme.

Definitivamente se transformava em um monstro quando o ciúme o dominava. E ele não era assim. Jacob Black, nunca foi assim... ele não queria ser assim. Nunca chegaria até Isabella agindo assim.

Bella fechou os olhos e respirou fundo, ele acreditava mesmo nisso? Precisava acabar com o mal entendido. As confidências que trocou com a cunhada sobre Edward ocorreram há tanto tempo!

– Quando?

– Quando? - ele repetiu se mostrando perdido. Na verdade Jake não sabia mais que rumo deveria tomar naquele diálogo.

– Sim, quando você ouviu essa conversa?

O marquês respirou pesado pensando que já confessara ter ouvido a conversa. Seria humilhação demais ter de dar detalhes. Mas já que começara iria até o fim, esclareceria todos os pontos.

– Pouco antes do nosso casamento. Você e Emily estavam na...

– Sala da sua mãe. – Bella concluiu baixinho revendo a cena mentalmente.

– Exatamente! Ouvi claramente sua declaração apaixonada pelo meu irmão...

De repente ela achou que aquela situação, toda aquela irritação de dias significava que seu marido estava com ciúmes. Seu coração quase explodiu de felicidade ao imaginar que se havia ciúme, provavelmente havia outro sentimento... e foi com calma redobrada que falou:

– Realmente confirmei para Emily minha antiga paixão por Edward, porém logo depois confessei a ela que ...

– Sim... eu sei... – ele não pretendia a ouvir dizer novamente que amava Edward.

Bella tentou ficar em pé e seguir com a explicação sobre o que acontecera, mas não conseguiu, a tontura voltara. Jacob aproveitou o silêncio dela para continuar a dizer tudo o que deveria. Mudando de posição suspirou, ficou de lado, ia colocar muito mais do que seu orgulho no chão naquele momento.

– Na época não dei qualquer importância ao que você sentia por Edward, afinal... nosso casamento era apenas um arranjo...

Ela sabia disso, mas seu marido falando daquela maneira tornava essa certeza antiga muito dolorida.

– Mas agora... – ele continuou de lado, sem observá-la, sim, seu orgulho seria definitivamente desfeito. Mas a certeza de que viver sem a presença de Isabella seria mais complicado do que viver com ela, mesmo sabendo que a esposa ainda guardava sentimentos por seu irmão, o impulsionou a prosseguir.

– Agora está tudo diferente...

– Jacob, você ouviu tudo o que Emily e eu conversamos? – ela sentou mais ereta na ponta do estofado, apoiando o corpo com as mãos.

– Me permita concluir o que tenho a dizer... – ele pediu voltando-se para ela com o rosto transformado, havia mais emoções estampadas na face do marido como ela jamais vira.

Calada Bella tentou controlar a ansiedade, mesmo sabendo o que deveria fazer. Pois, apesar de acreditar que ele não a amava, que não se importava com seus sentimentos, jamais permitiria que o marido continuasse a pensar que amava outro homem quando ele era o único a quem já amara.

– Sei que para você não é desta forma, porém para mim, está tudo diferente. Nossa relação não é mais igual a daquela época ... e mesmo que antes seus sentimentos não me importunassem, agora... mal consigo... – ele se aproximou um pouco mais, as mãos soltas ao longo do corpo, havia pouco da zanga inicial em Jacob agora.

Bella o observava com uma expressão confusa no olhar, de um modo que, ele queria acreditar, significava que de certa forma ela se importava com o que ele tinha a dizer, que sua confissão pesaria a seu favor de alguma maneira.

Um passo curto, e ele se colocou diante dela, abaixou-se, apoiou as mãos no braço do sofá e encarou de perto os olhos cor de chocolate da esposa. Ia fazer o que deveria ter feito quando descobriu-se apaixonado... ia confessar seu amor.

– Há dias tenho me consumido nessa incerteza... sei que para você será difícil, porém estou disposto a fazer o que estiver ao meu alcance para que seus sentimentos possam um dia se modificar...

Bella molhou os lábios, sentindo o coração bater acelerado. Já nem sabia se a tontura era resultado do mal estar ou do modo como aquela conversa se desenrolava. O que, pelos céus Jacob tentava dizer afinal?

– Eu amo você... – a voz dele escapou como um fiapo e Bella parou de respirar – e essa descoberta fez tudo se modificar, e mesmo que antes minha mente tivesse aceitado seus sentimentos por Edward, hoje, meu coração já não os aceita... eu preciso, necessito, anseio o dia em que você possa me amar como...

– Como eu te amo? – ela perguntou sentindo os olhos se encherem de lágrimas.

O marquês imediatamente se afastou apertando a testa.

– Jake...você... disse que ouviu a conversa... se a ouviu, deveria saber que apenas pensei estar apaixonada pelo seu irmão...

Jacob a encarou muito sério parecendo não compreender o significado daquilo que foi dito emocionadamente.

– A única pessoa que já amei na vida é você... – ela disse de repente e ele achou que estava ouvindo errado.

Extático diante daquela confissão, Jacob se fazia perguntas confusas: Bella dissera mesmo isso? Ela dissera que o amava? Mas como então poderia ser? A conversa que escutou... “se a ouviu deveria saber que um dia pensei estar apaixonada pelo seu irmão...” “pensei estar apaixonada pelo seu irmão...” “pensei...”

As mãos grandes se apossaram do rosto dela, e foram molhadas pelas lágrimas que Bella liberara. Será que ele estava sonhando?

– Você não ama Edward? – Ainda lhe custava acreditar que sofrera a toa todos aqueles dias. Que fora totalmente cego e estúpido por tanto tempo!

– Você não me ouviu dizer que amo você? – agora ela parecia zangada.

Sim ele ouviu.

Sim, isso era o que ele queria ouvir. Sim, desejara tanto ouvir aquelas palavras que agora quase não conseguia acreditar nelas. Mas Bella as dizia com tanta emoção, só poderiam ser verdadeiras, e mesmo que não fossem, ele precisava acreditar que eram... em resposta Jacob uniu as bocas deles num beijo sedento.

– Eu te amo!... Amo você mais do que qualquer coisa... – as palavras escaparam pelo lábios carnudos com toda a sinceridade que ele conseguiu imprimir a elas. Nenhuma sombra de dúvidas deveria existir entre eles agora.

Bella não soube dizer o que aconteceu naquele momento, exceto, que a emoção foi tão forte que ela se enroscou nos braços dele, e novamente afogou os lábios na boca do marido como se aquela fosse última vez em que estariam juntos.

A porta do cômodo silenciosamente se fechou atrás deles, permitindo ao casal um momento de paz regado pelo amor que eles confessavam entre beijos e sussurros apaixonados.

A maçaneta escapou das mãos de Sarah, tentando se recompor a mulher secou uma lágrima que escapara e suspirando pensou que muitas oportunidades tivera de fazer o que o filho fizera naquele momento. Colocar todo o orgulho de lado e confessar que amava o marido. Porém, agora era tarde demais para lamentar, lhe restava apenas o consolo de saber que Jacob era mais inteligente e corajoso do que ela fora a vida toda.