E para completar a lista de Desgraças Que Acontecem Em Minha Vida, a luta que eu tanto temia havia chegado até nós. Os dois deuses menores estavam aqui agora, querendo a Máscara e ameaçando matar meus amigos.

Igor estava olhando para mim com os olhos arregalados. Sua testa estava com marcas de sangue seco. Grover estava olhando para cada um de nós alternadamente.

Todos os meus amigos, inclusive eu, estávamos respirando pesadamente. Mesmo na sombra da arvore (Que não era grande coisa. Afinal, estava com poucas folhas.), sentia-me como um frango sendo assado lentamente nas brasas. Meus lábios estavam ressecados, meus olhos ardiam, e minha pele começou a ficar vermelha novamente. O suor escorria pela a minha testa e ia até o queixo.

Olhei para os dois deuses tentando parecer despreocupado, mas acho que não consegui.

— Por que vieram agora? — perguntei. — Por que não nos esperaram lá? Queríamos dar uma surra em vocês, mas num local mais discreto.

O da direita, Fobos, riu desdenhoso.

— Boa garoto. Mas posso sentir que está com medo. E isso pra mim é algo maravilhoso. Adoro ver os outros sentirem medo.

Talvez fosse apenas minha imaginação, mas notei suor escorrendo da testa deles também, e que estavam com a respiração curta e ofegante.

Percy também havia notado, por que disse:

— Ah, coitadinhos. Estão sofrendo nesse sol também?

— Pelo menos estamos na sombra. — sorriu Kayro.

Annabeth levantou a mão, dando a entender para pararmos de falar.

— Por que acham que vamos entregar a Máscara? — perguntou ela.

O outro da esquerda, Deimos, deu um sorriso malvado.

— Por quê? — ele pressionou a ponta da faca nas têmporas de Grover. Ele gritou, encolhendo-se.

— Pare! — gritou Percy.

— Ah, desculpe. — riu Deimos. — Só estava respondendo a pergunta da sua namoradinha.

— Vocês já sabem o que vai acontecer. — disse Fobos. — Agora, um de vocês vem até aqui, entrega a Máscara, e nós deixaremos que fiquem com seus amigos.

Eu já estava perdendo a capacidade de pensar direito naquele calor. Começava a ficar agoniado.

— Não temos escolha. — olhei para Annabeth. — Entregue a Máscara.

— O quê? Claro que não.

— Tem alguma ideia melhor?

Ela deu um sorriso torto. Só de ver, já sabia que ela estava planejando algo.

— Vou dar a Máscara para você — sussurrou ela no meu ouvido. —, mas não a entregue. Finja que vai jogá-la fora, para bem longe.

— Por quê?

— Faça isso!

Ela me entregou.

— Tá certo. — Annabeth elevou a voz. — Decidimos entrega-la para vocês.

— Que ótimo. — disse Fobos enxugando o suor. — Venha deixar.

Igor balançou a cabeça rapidamente.

— Fique quieto! — gritou Fobos.

Olhei de relance para Annabeth.

— Vou entregar para vocês. — falei. — Mas vão ter que ir atrás dela primeiro!

Ergui a mão em que segurava a Máscara, e fingi que havia jogado.

— Não! — gritaram os dois deuses menores. Como esperado, eles olharam para trás, e em um rápido movimento, Annabeth tirou seu boné dos Yankees do bolso de trás e o colocou na cabeça. Ela sumiu.

— Ops! — disse eu, fazendo a minha melhor cara de Poker face.

— Você a jogou fora? — rosnou Deimos.

— Já chega! — gritou Fobos. — Digam adeus a seus amigos.

— Não! — gritou Kayro.

Quando de repente, algo derrubou o deus do Pânico. Seu irmão olhou, mas Kayro jogou seu bumerangue atingindo o deus na testa.

— Argh! — gritou Fobos. Igor aproveitou e lhe deu uma cotovelada na barriga, livrando-se e correndo até nós. Grover também.

— Vou acabar com vocês! — berrou Deimos. Ele desapareceu de repente, e reapareceu bem ao meu lado, dando-me um chute nas costas e pegando a Máscara.

Caí no chão, no asfalto escaldante, e na mesma hora comecei a gritar de dor e a me debater feito um peixe fora d’água. O chão estava pegando fogo de tão quente. Acho que nunca vi um chão mais quente que aquele. Levantei-me esfregando as mãos loucamente, as quais ardiam dolorosamente.

Percy, com o cabo de contracorrente, golpeou Deimos nas costas. Ele rugiu e virou-se dando um soco no rosto de Percy. Pulei nas costas do deus e comecei a esmurrar sua cabeça, mas ele desapareceu, e eu caí no chão novamente.

Fobos avançou sobre Kayro, o qual tirou de sua mochila um pequeno circulo de metal e jogou sobre o deus. O circulo de metal rapidamente transformou-se em uma aranha, e começou a andar pelo o corpo dele.

— Ahh! — Fobos se remexia todo, como se estivesse dançando samba. Mas quando Kayro foi ataca-lo, os olhos dele ficaram vermelhos incandescentes como carvão de churrasco.

— Não olhe! — gritou Annabeth de algum lugar. Mas Kayro olhou, e imediatamente começou a tremer e a gritar coisas sem sentido. Ele se agachava e corria como se estivesse escapando de algo.

Tirei as amarras de Igor e Grover. Eles estavam quase desfalecendo. O suor impregnava suas camisas. Percebi que era por causa do sol.

— Precisamos de água! — gritei.

Mas todos estavam ocupados. Percy lutava contra Deimos, que agora estava usando uma armadura grega completa. Os dois trocavam golpes de espadas e se atracavam.

Fobos ainda estava olhando para Kayro, que parecia estar tendo algum tipo de alucinação. Corri até ele, mas esbarrei em algo invisível no meio do caminho.

— Ai! — gemeu Annabeth. — Cuidado!

— Saia do meio! — retruquei. — Sabe que não posso lhe ver.

— Não olhe nos olhos dele. — avisou ela.

Me aproximei de Fobos e saltei sobre ele, mas o safado desapareceu, e eu... de novo, caí no chão.

— Miserável! — gritei.

Kayro arfava, cambaleando, enquanto voltava ao normal. Fobos apareceu perto de Ashley, que estava deitada na sombra da arvore.

— Deimos! — gritou ele. — Jogue a Máscara para cá.

O irmão jogou, mas assim que a Máscara estava na metade do caminho, ela se desviou de seu curso.

— Peguei! — comemorou Annabeth invisível.

Fobos rosnou. E Igor avançou sobre ele por trás, agarrando-o.

— Você vai pagar. — mas ele estava fraco demais para lutar, e Fobos o derrubou no chão, começou a dar murros em seu rosto.

— Maldito. — rosnei, e corri para ajuda-lo.

Percy desviou-se de um golpe de Deimos e correu, juntando-se a mim. Annabeth tirou seu boné, tornando-se visível, e segurou Grover no exato momento em que ele ia desabar no chão.

No momento em que Percy e eu íamos atacar Fobos, o covarde desapareceu, e reapareceu do lado do irmão.

Todos nós estávamos respirando pesadamente. Meu corpo estava ardendo, e meus cabelos pareciam que iam pegar fogo a qualquer momento.

Todos os meus amigos se juntaram a mim na sombra da arvore. Igor estava com o rosto sangrando, mas conseguiu dar um sorriso.

— Valeu por me desamarrar.

Coloquei minha mão em seu ombro.

— É bom ver você novamente.

Ele olhou para Ashley.

— Quem é a bela adormecida?

— Depois explico.

— Boa tentativa a de vocês. — disse Fobos a nossa frente. — Mas ainda não está acabado.

— Claro que não está. — disse uma voz feminina. Olhei, e fiquei surpreso com o que vi.

Havia uma mulher ao nosso lado. E estava com um guarda-sol nas mãos. Usava um vestido branco que resplandecia na luz do sol. Seus cabelos estavam em tranças caindo sobre os ombros, e enfeitados com fios dourados. Seu rosto era belo e sereno, mas irradiava poder.

— Não está nada acabado. — disse a mulher. — Mas vai estar daqui a poucos segundos se vocês dois ainda estiverem aqui.

Os dois deuses pareceram tensos. Eles olharam para a mulher com receio.

— O que faz aqui? — perguntou Deimos. — Zeus sabe que...

— O tempo para vocês está acabando. — continuou a mulher. — Digam qual animal vocês querem que eu os transforme.

Eles engoliram em seco. E no mesmo instante desapareceram.

A mulher sorriu.

— Melhor assim. — ela olhou para nós. — Ah! Meus queridos Heróis. Que bom vê-los.

Ao meu lado, Annabeth resmungou.

— Ah, não. O que faz aqui? Nem mesmo neste imenso calor você nos deixa em paz, não é?

— Hã... Annabeth. — disse Kayro. — Conhece ela?

— Infelizmente.

A mulher olhou para Annabeth.

— A filha de Atena. Claro, ela tem que estar no meu caminho. Um castigo para mim.

— E uma tortura para mim. — murmurou Annabeth.

— Okay, chega. — disse Percy. Ele olhou para a mulher, que girava seu guarda-sol calmamente. — Por que está aqui?

— Ah. Para ajuda-los claro. — sorriu ela.

— Obrigado, Rainha Hera. — a voz de Grover saiu fraca. — Precisamos mesmo de sua ajuda.

Eu fiquei perplexo.

— O quê? Rainha... Hera? Você é Hera?

A mulher assentiu.

— Claro, meu querido. Estão com fome? Vamos, vou proporcionar um lanchinho para vocês?

— Tomara que nesse lanchinho tenha água. — murmurou Igor. — Estou morrendo de sede.

A deusa enterrou o cabo do seu guarda-sol no chão, e de repente, o guarda-sol cresceu, ficando do tamanho de uma casa.

— Assim é bem melhor. — disse Hera, satisfeita. — Esse calor é realmente insuportável. — ela sentou-se embaixo dele e nos chamou. — Venham, meus Heróis. Vamos fazer um breve piquenique.