Capítulo 9 – Por Caius

Eu estava terminando uma arapuca quando Zac saiu dizendo que treinaria um pouco com as lanças, então resolvi percorrer a sala com os olhos para ver o que Juliet estava fazendo. Ela estava tentando atirar com arco e flecha e como a mesma havia dito hoje mais cedo, sua mira era péssima. Ela atirou a primeira flecha e era hilária a cara de frustração que ela fazia, eu gostaria de ajudá-la porem meu “mentor” deu ordens absolutas de não treinarmos juntos, e ajudá-la com sua mira estaria incluído como treinamento.

Eu estava odiando essa proibição imposta pelo meu pai, mas de qualquer maneira eu tinha que obedecê-la. “Juliet terá que se virar sozinha com as flechas” pensei “ela já é grande o suficiente para não precisar de sua ajuda e se ela quiser, ela pode pedir ajuda para um instrutor” eu tentava pensar nisso, mas Juliet parecia ser muito orgulhosa no momento para pedir ajuda a qualquer um, quando noto o garoto do distrito 4 sorrindo para ela e andando em sua direção.

Soltei as cordas por um momento e observei. O que ele iria fazer com ela? Quem ele pensa que é para ir sorrindo na direção da minha irmã? “Um Carreirista” respondi a mim mesmo mentalmente. Eu já estava a ponto de me levantar para dizer para ele se afastar dela, então reparo que ele está tentando ajudá-la. Voltei minha atenção para os nós odiando o garoto do 4. O motivo? Talvez seja a maneira como ele se aproximou da minha irmã ou o fato dele poder ajudá-la e eu não.

Resolvi ignorá-los até anunciarem o fim do treinamento. Eu havia terminado minha última armadilha naquela exata hora e consegui me virar bem a tempo de ver Juliet lançar a ultima flecha. Não era tão ruim quanto à primeira, mas continuava longe do alvo e então ele se aproximou dela mais uma vez com aquele sorriso idiota. Eles conversavam sobre alguma coisa, por fim ele lhe deu um beijo no rosto e saiu andando em direção a saída, mas na metade do caminho ele virou novamente com aquele sorriso e gritou:

– Vejo você mais tarde, Wisebit. – exatamente como Finnick se despediu do meu pai hoje de manhã.

A essa altura a raiva já havia subido minha cabeça e consegui pensar em que planos ele tinha com aquilo tudo “Ele quer seduzi-la” pensei com raiva “Ele quer seduzi-la para ganhar sua confiança e depois matá-la. Mantenha-a longe dele” meu subconsciente gritava “Ele não vai perdoá-la na arena só porque tem 13 anos e é bonitinha”

De mau humor, caminhei em direção a Juliet, passei um de meus braços ao redor e seus ombros, exatamente como fiz no desfile, e conduzi em silencio em direção ao elevador, ela era inocente demais para entender o plano maligno do seu “amiguinho pescador”

Entramos no elevador juntos com o casal do 2. Era engraçado vê-los, ela era mais baixa que Juliet e ele era bem maior que eu, estando um ao lado do outro era possível pensar que a garota não seria perigo nenhum. “se ela não fosse boa não iria para arena” lembrei das palavras de meu pai se referindo a ela. Eu a vira treinando com varias armas perigosas, e subestimá-la pela altura não era uma idéia inteligente.

Descobri que seus nomes eram Isabel e Bruce, eu não havia gravado nenhum nome no dia da Colheita. Os dois conversavam sobre uma possível aliança com Lime e Zac, se eu quisesse eu poderia fazer parte dessa aliança também e provavelmente o distrito 4 também fora convidado. Distrito 4, só de pensar naquele garoto idiota dando em cima da minha irmã já me dava ódio. Eu nunca tive a intenção de me juntar aos carreiristas, mas mesmo que existisse uma pequena possibilidade de isso acontecer, agora ela já havia acabado, não formaria equipe com ele de jeito nenhum.

A porta do elevador se abriu e os carreiristas saíram deixando apenas eu e Juliet. Nós continuamos em silencio até chegarmos ao andar de cima e encontrarmos meu pai e Louise nos esperando.

-Como foi o treinamento? O que vocês treinaram? – perguntou meu pai curioso

-Nós – respondi secamente e fui em direção ao meu quarto deixando os três para trás perplexos

Aquele comportamento não era o meu padrão, isso se explica a perplexidade de todos, mas eu precisava ficar um pouco sozinho, o treinamento não me fizera bem. Não se passou nem 5 minutos quando bateram na porta, eram as batidas ritmadas de Juliet, eu não queria falar com ela, não agora. Peguei uma roupa qualquer e fui ao banheiro, talvez um banho me acalmasse um pouco.

Juliet continuava insistindo, mas ignorei-a. Eu precisava de um tempo sozinho e mais cedo ou mais tarde eu teria que falar com ela, mas preferia que fosse mais tarde. Liguei o chuveiro e agradeci pelo fato do som da água caindo no chão abafasse qualquer batida na minha porta.

Vesti-me e fiquei deitado na cama pensando sobre tudo o que estava acontecendo. Fiquei ali por um bom tempo, até ouvir batidas na porta, mas dessa vez eu sabia que não era minha irmã.

-Entre- falei com minha voz entediada e meu pai entrou no quarto, sua expressão não estava das melhores

-O que houve no treinamento? – ele me perguntou tão diretamente que por reflexo respondi a mesma coisa de antes

-Nós- ele agora estava com um olhar de cobrança muito parecido com o que minha mãe possuía, ele sabia que existia alguma coisa por trás

-Vou reformular a pergunta – ele falou calmamente – O que houve no treinamento para irritá-lo desta maneira? É difícil vê-lo irritado assim.

-Eu não sei – respondi honestamente

-Então me conte tudo o que aconteceu – meu pai falou – lembre-se que como seu mentor eu também preciso saber o que vocês estão treinando.

-Eu estava fazendo nós, como havíamos combinado – existia um pouco de amargura em minha voz- o tributo do 1 se sentou ao meu lado e começou a conversar comigo – fiz uma pausa e meu pai fez um gesto para que eu continuasse – ele estava me propondo uma aliança, ele e os outros carreiristas estão querendo se unir. Eu recusei a aliança porque sabia que Juliet não seria aceita – fiz outra pausa e dessa vez ele me interrompeu com uma pergunta

-É por isso que está tão irritado? De não quererem aceitar Juliet na aliança? – meu pai perguntou arqueando a sobrancelha – Se esse for o caso posso ver com os mentores deles.

-Não é só isso, eu também não quero fazer alianças, já me tornarei um assassino, não quero assassinar pessoas conhecidas.

-E por que a proposta desse carreirista do 1 te perturbou tanto se você nunca teve a atenção de aceita-la? – meu mentor parecia um pouco confuso com essa historia toda

-Ele falou, que se tivesse escolha própria, não se aliaria ao distrito 2 e o 4 – fiz outra pausa – mas que ele queria me ter como aliado “afinal, nós filhos de vitoriosos temos que ficar juntos” foi exatamente a frase que ele utilizou. – meu pai analisou por mais alguns momentos e perguntou curioso

-Quem é o pai dele?

-O pai? Eu não sei. Mas a mãe... Ganhou os Jogos três anos antes de você – e com essa frase meu pai ficou mudo, ele sabia muito bem quem era a mãe de Zac, a garota que matara sua irmã.

-Existe mais alguma outra coisa que aconteceu no treinamento? – ele perguntou assim que conseguiu recuperar a voz

-Sim- eu contaria para ele do garoto do 4 – Eu vi Juliet indo treinar com arco e flecha.

-Se for que a mira dela continua péssima eu já sei – meu pai me interrompeu com um ar um pouco cômico antes de eu terminar a frase – ela me contou quando você se trancou no quarto

-Ela também te contou sobre o tributo do 4 estar ajudando-a? – perguntei e sei que estou com a sobrancelha levanta da mesma maneira que ele levanta – Ou sobre ele parecer estar querendo seduzi-la? – meu pai ficou mudo por um tempo me encarando, ele queria uma explicação – Ele a viu tentando treinar, e foi cheio de sorrisinhos para cima dela oferecendo ajuda, depois passou o resto do treinamento a ajudando e no final deu um beijo no rosto dela e se despediu utilizando as mesmas palavras que Finnick usou mais cedo. Só para mim que isso cheira a estratégia? – levantei a sobrancelha de novo, meu pai parecia perplexo novamente

-Falarei com ela sobre isso, apesar de duvidar um pouco que Finnick tenha deixado o tributo ser tão cruel a esse ponto. Com a ajuda dele, ela melhorou?

-Um pouco – admiti, era verdade, as flechas de Juliet já chegavam ao alvo com força, ela só precisaria ajustar um pouco a mira. Então meu pai falou a coisa que eu menos poderia esperar de ouvir

-Então deixe os dois treinarem juntos, avisarei para ela apenas tomar cuidado. Falarei com Finnick também. Vejo você no jantar – meu pai saiu do quarto e me deixou ali perplexo.

Era real? Ele permitiria que Juliet treinasse com um carreirista? Ela poderia entender os planos cruéis dele e mesmo assim fingir que nada estava acontecendo? As respostas eu não sabia, mas sabia que eu não gostava nada desse plano.