Capítulo 26

-Ora, ora, se não é o Wisebit. Procurando sua irmãzinha? – perguntou irônica Flávia Butter, a tributo feminino do 6, enquanto retirava uma faca do cinto

-Flávia – o garoto respondeu quase que como um rosnado, Caius Wisebit não era mais o mesmo desde que entrara na arena e agora já estava com sua lança em mãos

-Ninguém entende que eu odeio que me chamem assim? – ela perguntou exasperada balançando os braços

-Desculpe, Flávia – o garoto falou com um sorriso debochado no rosto

-Você vai pagar por isso Wisebit – dessa vez quem falou rosnando foi ela e correu na direção do filho do vitorioso com a face em punho.

Caius apenas teve tempo de se defender colocando a lança para impedir que a faca atinja seu peito, mas Fláh queria causar danos e abaixou sua mão fazendo com que sua arma atingisse a perna do garoto lhe proporcionando um pequeno corte no local. Ambos começaram a lutar causando pequenos ferimentos, qualquer um que assistisse saberia que nenhum tributo ali fora treinado para aquilo, se fosse o caso, um dos dois já estaria morto. Depois de algum tempo de luta e vários cortes, Caius escorregou na grama e caiu.

-Agora é o seu fim, Wisebit – falou Fláh se aproximando com a faca na mão e um sorriso triunfante no rosto enquanto prendia a lança do garoto com o pé, ele fechou os olhos tentando pensar em alguma maneira para se livrar daquela situação, mas não parecia haver escapatória. E então veio aquele som, um som que deu esperança, o assobio de Juliet. Flávia não reconheceria, pensaria que era apenas mais um pássaro, mas Caius sim. –Agatha não vai gostar nada de eu acabar com você, sabe, ela queria fazer isso ela própria por causa da entrevista. Mas não interessa, isso daqui são os Jogos Vorazes e eu quero voltar para casa o quanto antes. – falou aproximando a arma do pescoço do garoto, este já podia sentir a lamina em contato com a sua pele quando um grito parou a morena.

-CAIUS! – era a voz desesperada da menina de 13 anos. Caius arregalou os olhos esperando que Flávia fosse matá-lo o mais rápido possível para que pudesse matar Juliet também, porem foi surpreendido ao notar que a garota agora cuspia sangue deixando uma oportunidade para o filho do vitorioso escapar.

Caius conseguiu se levantar, tudo parecia em câmera lenta, Juliet em estado de choque e Fláh cuspindo sangue.

-Wisebit – rosnou a garota do Distrito 6 para a tributo feminino do 3 antes que seu canhão soasse anunciando seu fim.

Os dois irmãos correram para se abraçar.

-O que exatamente houve? – perguntou Caius confuso, ele não tinha acertado a garota

-Ela-ela estava te-te ata-tacando – a menina parecia um pouco perturbada - Eu agi por reflexo e atirei uma faca nela – os dois se voltaram para o corpo que estava estirado no chão com uma faca nas costas –Acho que perfurou o pulmão ou coisa assim.

-Desde quando sua mira ficou tão boa? – Caius perguntou espantado, sabia que a mira da irmã havia melhorado no treinamento, mas nunca pensou que ela pudesse matar alguém a distancia por perfurar o pulmão

-Acho que desde que Luke me ensinou a atirar com arco-e-flecha – ela respondeu inocente –Olhe só para você, precisamos cuidar desses ferimentos – as roupas de ambos já estavam manchadas pelo sangue do garoto

-Sairemos daqui e procuraremos um lugar menos vulnerável então podemos pensar em cuidar dos meus cortes – Caius falou

-Nem tão cedo, Wisebit – falou Agatha saindo do meio dos arbustos fazendo os dois irmãos se separarem - Sabe, descobri que não é vantajoso ter aliados se você fica melhor sozinho. Odeio aliados fracos, com eles a aliança não dura – ela falou lança um olhar de repulsa ao corpo de Flávia

-Talvez você seja a aliada fraca nessa historia – falou Juliet

-Cale a boca pirralha – falou Agatha irritada. Juliet também não gostava de ser chamada de pirralha, ela apenas lançou um olhar para o irmão o qual concordou com a cabeça, eles tinham essa ligação de entender o que o outro estava pensando e a garota do Distrito 4 nada notou

-Então venha calar, fracote – a menina de 13 anos respondeu com um tom aborrecido também –Ah claro, se puder – acrescentou irônica

Isso irritou a Carreirista, e não foi pouco. Agatha possuía um humor que já não era dos melhores e tinha um ego grande por ter sido treinada desde pequena, nunca aceitaria ser chamada de fracote por uma garota de 13 anos vinda do Distrito 3.

-Fracote – ela falou entre dentes –Mostrarei para você quem é fracote – e pulou em cima da outra com as mãos segurando o pescoço na intenção de enforcar a menina. Juliet já estava caindo no chão com Agatha apertando seu pescoço, a menina já estava ficando roxa pela falta de ar quando as mãos da Carreirista afrouxaram e um tiro de canhão foi escutado, a garota do Distrito 4 caiu morta enquanto Caius retirava a lança de suas costas.

A menina do Distrito 3 estava atônita e o irmão teve que ajudá-la a levantar da grama.

-Você está bem? – Caius perguntou preocupado, sua irmã era nova demais para presenciar aquelas mortes em tão pouco tempo - Juliet? – ele perguntou ao ver que a expressão da irmã não mudava observando os corpos de Agatha e Flávia

-Nós dois – ela começou dizendo –Nós dois nos tornamos assassinos.

-Fizemos isso para nos salvar, ou era morrer ou era matar – o garoto falou se aproximando ainda mais da irmã

-Eu sei disso, mas porque eu me sinto tão mal mesmo sabendo que as duas me matariam sem nenhuma pena? – Juliet perguntou com um tom triste

-Porque você possui um bom coração, não é frio como o delas. – o garoto falou enquanto acariciava o cabelo da irmã - Agora vamos sair daqui, esse lugar é vulnerável demais.

Dizendo isso, eles pegaram a faca que estava nas costas de Flávia e saíram de perto do lago. Caius procurou pela mochila azul de Agatha, mas parece que as duas haviam deixado em outro lugar.

-Vamos logo – o garoto falou andando enquanto apertava o corte na perna que não parava de sangrar, a menina seguiu o irmão até eles tomarem uma distancia segura do local.

-Acho melhor pararmos por aqui, você está muito machucado – Juliet falou preocupada –Já nos afastamos o suficiente.

-E estamos seguros por enquanto – falou Caius se apoiando em uma árvore para sentar

-Por que ‘por enquanto’? – Juliet perguntou se sentando ao lado do irmão

-Os Carreiristas ainda não sabem que eu abandonei a aliança e ninguém seguiu por esse caminho, só eu – o garoto respondeu agora tentando avaliar o machucado

-Isso está feio – a irmã comentou –Você tem algum medicamento?

-Acho que tem um pouco de álcool etílico e algodão na minha mochila, procure lá – a garota olhou e voltou com um frasco e um pedaço de algodão.

Juliet começou limpando os ferimentos do irmão o qual rangia os dentes

-Está tudo bem? – ela perguntou preocupada

-Apenas continue, eu ficarei bem – ele falou ainda com os dentes trincados, mas a garota não continuou - Vamos, Juliet, isso vai melhorar ou você prefere que eu faça isso sozinho?

-Eu consigo – a menina falou, mas sua cara é meio repulsiva

-É serio, se quiser eu limpo isso sozinho – Caius falou, mas a garota apenas ignorou

-Posso não entender muito dessas coisas, mas acho que eu corte da perna vai precisar de alguns pontos – ela falou e no mesmo momento um paraquedas prateado caiu ao lado dos dois, Juliet o abriu e encontrou um kit que continha linha e agulha para dar ponto, gaze, esparadrapo e um pomada para acelerar o processo de cura.

Juliet terminou de limpar os ferimentos do irmão e começou a ler como se aplicava a pomada, passou o produto em todos os ferimentos e voltou sua atenção para agulha e linha.

-Você vai dar os pontos? – Caius perguntou um pouco assustado - Você tem idéia de como se faz isso?

-Sim e não – Juliet respondeu –Mas não temos outra opção, temos? Ou eu faço isso ou você fica com esse corte aberto, você não vai conseguir fechar isso sozinho. – ela se pronunciou antes que o garoto falasse qualquer coisa

-Você teve aula de primeiros socorros na escola? – ele perguntou, lembrava que tivera uma há alguns anos atrás, mas ignorou-a achando que nunca pudesse precisar, agora a única coisa que estava em sua cabeça era ele e Feron criando bonecos de neve com o algodão

-Não, isso eu teria ano que vem – ela falou enquanto preparava a linha – mas tive aulas de costura, não deve ser muito diferente. – e ela começou a costurar a pele do irmão enquanto ele voltava a ranger os dentes para não reclamar de dor.

-Obrigado, sei que você não gosta desse tipo de coisa – falou Caius para irmã assim que ela tinha terminado

-Estamos nos Jogos, não tem mais essa de não gostar de algo, temos que fazer o máximo para sobreviver – ela falou e seus olhos pareciam cansados e envelhecidos para uma menina de apenas 13 anos

-Sim, e protegeremos um ao outro, certo? – a menina balançou a cabeça afirmativamente - Está cansada? Se quiser, se deite aqui ao meu lado, eu posso ficar de guarda e te acordar caso algo aconteça – ele esticou o braço e Juliet se abraçou ao irmão que acariciava seus cabelos.

O programa de Panem começou mostrando as mortes de Agatha e Flávia.

-Olha o que nós fizemos Caius – comentou a garota chorando se abraçando ainda mais a ele - Nós tiramos as vidas delas, nós nos tornamos assassinos. Olha só o que nós fizemos – e ela não parava de chorar perturbada

-Eu sei, pequena, eu sei – ele falou acariciando ainda mais os cabelos dela –Mas temos escolha? Você mesma acabou de me falar, temos que fazer o máximo para sobreviver.

-Precisava ser tão cruel? Estamos tirando vidas humanas – Juliet falou ainda chorando - Éramos vinte e quatro, agora isso já se reduziu a um terço.

-Eu sei, eu sei – Caius falava ainda acariciando os cabelos da irmã, ele não tinha mais nada a dizer, ela estava certa, ele mesmo começaria a chorar ali naquele momento se não precisasse se mostrar forte para ela - Mas já está acabando.

-Eu só... Eu só queria voltar para casa – ela falou soluçando

-E você vai, logo você voltará – ele falou agora encarando o vazio

-Eu só queria voltar para casa com você – ela falou o abraçando ainda mais forte e chorando até adormecer.