Capítulo 24 – Por Juliet

Eu e Amber saímos para explorar de novo a floresta, tentávamos não ficar paradas para não sermos alvo de alguma armadilha dos Idealizadores. Ela ia à frente mantendo uma distancia segura entre nós duas para caso uma fosse atacada a outra pudesse ajudar sem o tributo atacante notasse, eu ainda conseguia vê-la, quando uma galho de árvore ficou preso em meu coturno.

-Droga – murmurei, como era possível uma raiz de árvore ficar presa no cadarço? Soltei aquilo com cuidado, mas Amber já havia saído de meu campo visual. Segui na mesma direção que eu estava antes, porem sempre agachada, silenciosa e olhando a cada 3 segundos para trás. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e continuei caminhando até entrar uma clareira onde vi Amber segurando uma faca como se preparasse para atacar, ainda escondida no arbusto, virei meu rosto para ver seu oponente, e me impressionei a ver Luke com o arco preparado.

-NÃO! Espere! Luke, não atire, por favor – falei ao ver que seus dedos estavam se movendo e corri em sua direção

-Juliet? – ele perguntou surpreso enquanto abaixava a arma e eu corria para abraçá-lo, só fui me dar conta do que ele poderia fazer comigo quando eu já estava em seus braços, Caius tinha razão, eu confiava demais nas pessoas - O que faz aqui? – ele perguntou enquanto retribuía o abraço

-Amber e eu somos aliadas – comentei agora que nos separávamos e ele lançava um olhar para Amber que encarava aquela cena toda incrédula - E você? Tem aliados?

-Apenas seu irmão e os outros Carreiristas – ele comentou e pude ver Amber demonstrar curiosidade no olhar

-Me-meu irmão? – perguntei. Pensava que Caius estivesse sozinho, ele não é o tipo de pessoa que conseguiria se aliar sabendo que depois mataria alguém. Ok, eu sou parecida com Caius e mesmo assim fiz uma aliança com Amber, mesmo assim, é diferente. – Como ele entrou para a aliança?

-Na verdade, eu quase tive que arrastá-lo para lá. Zac o queria na aliança de qualquer jeito e Caius é esperto para saber o que estava colocando em jogo, mas ele deixou claro que abandonará a aliança assim que te encontrar. – ele falou enquanto mexia em meu cabelo – Você parece estar bem

-E estou – falei fazendo uma pausa

-Já está na hora de voltar para o acampamento – ele falou olhando o céu e eu levantei meu olhar também, algumas estrelas já eram visíveis

-Irei com você – falei decidida, Amber que observava sua mão em um canto apenas levantou um olhar interrogativo

-Está maluca? – perguntou Luke preocupado - Não pode aparecer numa aliança de Carreiristas dessa maneira, eles acabariam com você em questão de segundos!

-Eles permitiram que Caius fosse aliado, por que não permitiriam que eu fosse vê-lo? – perguntei enquanto ele segurava meus braços

-Juliet – ele falou me olhando nos olhos –Estamos na arena dos Jogos Vorazes, você não pode simplesmente aparecer no acampamento dos Carreiristas para visitar seu irmão, na verdade, não era nem para estarmos aqui conversando e sim nos matando – como alguém conseguia ter olhos verdes-mar tão fascinantes, eu costumava gostar dos meus olhos verde-grama, mas convenhamos que os de Luke eram mil vezes mais bonitos –Juliet? – ele perguntou balançando-me de leve ao notar que eu estava distraída

-Eu preciso vê-lo, eu quero saber se ele está bem! – minhas palavras pareciam desesperadas, de alguma maneira a imagem da fantasma da irmã de Amber voltou a minha cabeça ajudando a intensificar meu tom de voz, então eu lembrei de uma coisa, uma pergunta que eu precisava fazer para ter certeza de minha teoria –Luke, algum parente seu já veio a arena?

-Um primo meu há 4 anos atrás, nós dois costumávamos ser bem próximos e eu sei o que você está sentindo, mas nada adianta você invadir o acampamento para ver Caius – ele falou, então minha teoria deveria estar certa, eu, Caius, Amber, Zac, Luke... Todos nós tivemos alguém cujo parente veio para cá, os fantasmas eram programados para nos convencer a nos matarmos, o Idealizador Chefe teve uma idéia bem cruel esse ano.

-E se você o trouxesse até nós? – perguntou Amber finalmente entrando na conversa

-Caius romperia a aliança e Zac tentaria perseguir vocês, e claro, eu também teria que romper com a aliança – ele respondeu enquanto Amber cruzava os braços pensativa - Precisarei ir agora, Ju, tome cuidado - ele falou se aproximando me dando um beijo na testa, um na bochecha e me abraçando, depois se virou, acenou para Amber e seguiu sua direção

Após algum tempo, Amber fez sinal para que voltássemos para o nosso acampamento. Chegando lá verifiquei minha armadilha e tivemos a graça de descobrir que tínhamos outro coelho. Como sempre, nos sentamos e minha aliada começou a preparar a refeição misturando com frutinhas que colhemos pelo caminho, estávamos em silencio, até ela olhar para mim e perguntar:

-E então, o que rola entre vocês dois? – ela abriu um sorrisinho antes que eu respondesse, como se aquilo a lembrasse de alguma coisa, mas rapidamente se tornou séria e a pergunta me fez corar dos pés a cabeça

-Na-nada – respondi ainda corada

-Juliet, espero que seja realmente nada, porque ter uma queda por um Carreirista não é uma coisa legal de se ter nos Jogos, nenhum deles é confiável – ela falou enquanto cortava alguns morangos - Mas a propósito, ele é bem bonito. – corei ainda mais, se é que isso é possível e desviei meu olhar para grama para que pudesse pensar em alguma coisa para mudar meu assunto

-E o que você acha do meu irmão? – foi a única coisa que saiu, mas a intenção da pergunta era outra

-Aah, Caius é bonito também, mas deve existir alguma coisa no Distrito 4 que faz os tributos mais bonitos virem de lá, talvez seja a água do mar – ela respondeu ainda com as mãos ocupadas preparando nossa refeição

-Não é isso, estou falando sobre ele ter se aliado aos Carreiristas – consegui perguntar e acho que a coloração do meu rosto já voltou ao normal

-Bom, talvez isso tenha sido vantajoso, sabe, até agora não vimos nenhum dos Carreiristas mortos, talvez você devesse esperar eles quebrarem a aliança antes de procurar seu irmão – ela serviu a refeição com um prato improvisado que fizemos e começamos a nos deliciar com o coelho, se tinha uma coisa que Amber sabia fazer era preparar uma refeição. –Se sua armadilha conseguir pegar um coelho desses por dia, estaremos mais do que bem alimentadas – ela falou com a boca toda suja.

O céu se iluminou e o símbolo de Panem surgiu, houve duas mortes hoje, logo uma foto de uma garota loira muito bonita apareceu, Lime, Distrito 1, primeira Carreirista morta, sua foto foi seguida por uma garota muito magra e de olhos cinzentos do Distrito 12. Hino. Fim do programa. Apenas mais 11 tributos vivos.

-Agora vimos uma Carreirista morta – falei para Amber assim que o céu voltou a escurecer

-Pelo menos ela não vai te atacar como aquela garota do pesadelo – ela comentou

-A garota não era Lime, eu já falei, ela me parece familiar, mas as duas são completamente diferentes – respondi

-Que seja – falou Amber – Ela está morta, menos uma Carreirista para se preocupar. Agora se deite, a primeira vigília é minha.

Arrastei-me até o saco de dormir e ao deitar ali observei um pouco as estrelas.

-É serio, Juliet – ela falou –Durma logo, estamos nos Jogos não em um acampamento de verão

Quase que imediatamente eu fechei os olhos e adormeci, Amber era bem autoritária quando queria.

Correr e fugir. Era tudo o que eu fazia nesse momento. Alguém com passos pesados corria atrás de mim e eu até agora não conseguia saber se eram humanos ou de bestantes, eu não arriscaria, precisava continuar. Mas a sorte... Ah, essa nunca esteve a meu favor, talvez seja o cansaço ou mais um dos truques da arena, mas as árvores parecem se movimentar me fazendo pensar que estou andando em círculos. Aos tropeços eu continuo a correr, já estou ficando cansada. Meus pés começam a falhar. “Por favor, não falhem, não agora” juntamente com minha audição que agora ouve alguns zumbidos, será o cansaço? Possivelmente, acho que nunca corri tanto na minha vida. Tropecei em um dos galhos e caí, eu posso jurar que essa árvore não estava ali

-Juliet! – uma voz me gritava, mas eu não consegui reconhecer devido aos zumbidos - Juliet! Levante! – a voz parecia ter um tom de desespero e comecei a sentir algo me balançando, mas eu não tinha forças para levantar - Juliet! Acorda! – de onde vinha aquele zumbido infernal? - Juliet!!

Então eu abri os olhos, Amber parecia desesperada e com um puxão em meu braço me tirou do chão. Com um pulo sai do saco de dormir e ela saiu me puxando entregando minha mochila, estranhamente o zumbido de meu sonho não havia parado.

-O que...? – comecei perguntando enquanto ela me puxava pela mão e eu tentava colocar a mochila nas costas

-Insetos bestantes, eu não sei exatamente o que é – ela fez uma pausa agora que eu corria ao seu lado – Por sorte na vigília eu dividi nossas coisas nas mochilas porque achei que pudesse ser melhor nós irmos acampar em outro lugar – ela pausou de novo - Os primeiros vieram e te acordei antes que viesse o resto, consegue ouvir? – ela parou para que eu pudesse escutar e pela primeira vez notei que o zumbido eram barulhos de asas batendo. – Os Idealizadores planejaram isso para nós – ela parou a fala de novo, ficava cada vez mais difícil –Acho que talvez seja a hora de mudarmos de caminho – mais uma pausa e era notável que ela tinha razão, os insetos se aproximavam e nós duas juntas não conseguíamos correr tão rápido como conseguiríamos separadas

-Certo – foi tudo o que eu conseguia dizer, eu não tinha o mesmo preparo físico que ela

-Então, feliz Jogos Vorazes e que a sorte esteja sempre a seu favor – Amber disse

-Para você também – respondi e virei à esquerda enquanto ela virava à direita, aquele era o fim, nossa aliança havia acabado.

E agora eu corria como naquele pesadelo, e o pior da realidade era que minha vida dependia daquilo. Os barulhos das asas de inseto estavam mais próximos e eu já estava tropeçando quando cometi a besteira de olhar para trás.

Libélulas. Gigantes. Olhares assassinos. Aquelas bestantes estavam cada vez mais próximas e eu não agüentaria mais muito tempo.

Continuei correndo e elas se aproximando cada vez mais. Aquele seria meu fim? Olhei para frente e me deparei com um lago, eu não tinha opção, pularia ali. As chances de eu ser morta por outros bestantes eram grandes, mas era a única maneira. Elas já estavam muito próximas e eu estava com muito medo de não conseguir chegar ao lago. Uma delas encostou sua pata nojenta em meu cabelo e eu consegui correr a tempo para pular no lago.

Agora espero que a sorte esteja a meu favor.