Capítulo 18 – Por Juliet


“Que não seja Caius, que não seja Caius” eu pensava constantemente enquanto olhava a insígnia no céu. Quase nunca Carreiristas morrem no banho de sangue, então se Caius estivesse morto, a foto dele seria a primeira. O símbolo logo sumiu dando espaço a uma foto, fechei os olhos para não vê-la.


–Não é ele, pode abrir – Amber me falou e tive tempo de reconhece a foto da garota do 5 antes dessa mudar para o garoto do mesmo distrito.


Caius estava vivo. Luke estava vivo. Eu estava viva então tudo estava bem. Quer dizer, eu ainda precisava achar meu irmão, mas tenho certeza que ele sobrevive melhor sozinho do que eu, e ainda tenho Amber como aliada. Será que Caius fez algum aliado? Duvido, ele não gostaria de se aliar a ninguém com medo de depois ter que matar essa pessoa. Ele estava certo, porem eu e Amber iremos desfazer a aliança o mais rápido que pudermos, então as chances de eu ter que matá-la são mínimas.


Acho que essa é a primeira vez que penso sobre isso. Quando fiz a aliança não parei para pensar nas conseqüências, Caius tinha razão, eu confiava demais nas pessoas, mas agora já estava feito e eu mesma queria permanecer com essa aliança. Por que diabos tínhamos que vir para essa arena nos matar?


O programa acabou mostrando as nove fotos dos tributos mortos. Me espantei ao olhar que a garota do 8 havia sido morta, ela não estava se fazendo de fraca, ela era realmente fraca. Lembro que na TV passa sempre um documentário falando sobre cada um, mas acho que isso é considerado desperdício para ser passado na arena. Assobiei mais uma vez, sem resposta.


–Ficarei de guarda primeiro – Amber falou –Durma, quando chegar na sua hora eu te acordo.


Eu estava cansada então puxei o saco de dormir e rapidamente peguei no sono.



Eu corria pela floresta o mais rápido que podia, o ar já faltava em meus pulmões e eu sei que logo minhas pernas não agüentariam. Seja lá o que estivesse me perseguindo, era rápido e tinha sede pelo meu sangue. A cada passo que eu dava minhas pernas doíam mais e cada galho que pulava eu achava que fosse cair a qualquer momento. Corria sempre olhando para frente, pois a ultima vez que corri olhando para trás quase fui morta na Cornucópia e quando me dei conta, estava de frente para montanha. Pude ouvir uma risadinha e meu perseguidor se aproximando, era um humano afinal.

–Fim da linha pirralha – falou a garota loira que estava na minha frente, seu rosto me era familiar e então ela me imobilizou no chão, pegou um facão do sinto e começou a passar a lamina pelas minhas bochechas de maneira devagar para me torturar. Eu tentava me debater, mas isso só piorava a situação.

–Juliet? Juliet? – eu ouvi uma voz e senti alguém me balançar – Juliet? – a voz tinha um tom preocupado e não vinha de minha torturadora - Juliet? – a voz repetiu pela quarta vez e eu abri os olhos

–O que houve? – Amber me perguntou – Você começou a se debater e achei melhor te acordar antes que você começasse a gritar. Teve algum pesadelo?

–Sim - eu respondi – Uma garota loira me capturava e me torturava.

–Era aquela garota o Distrito 1? Lime? – ela perguntou curiosa

–Não – respondi, as feições das duas eram totalmente diferentes, Lime era mais delicada e vaidosa enquanto aquela garota tinha um olhar feroz e sede por sangue

–Que estranho, acho que Lime é a única loira na arena – Amber comentou, e ela tinha razão, será que eu estava sonhando com tributos de edições passadas?

–Deixa isso para lá, pode ir dormir, já está na minha vez de ficar de guarda mesmo – eu falei, não dormiria tão cedo depois daquele pesadelo

–Ok, se eu tiver algum pesadelo me acorde – ela falou e assim se deitou e dormiu


Ficar de guarda era monótono, a floresta estava silenciosa e escura, eu estava sozinha com Amber dormindo e até mesmo os animais já haviam desaparecido. Olhei para o céu e acho que nunca vi algo tão bonito na minha vida, ele estava estrelado com milhões de estrelas, algo que você não consegue ver no Distrito 3 e muito menos na Capital, era bom ter um pouco de paz por um momento, só espero que os Idealizadores não decidam que estamos tendo paz demais.


Peguei minha corda e comecei a fazer e desfazer alguns nós para passar o tempo até que uma idéia me ocorreu, a mais óbvia do mundo, eu poderia fazer uma armadilha. Alguma armadilha para que pudesse pegar algum animal, assim teríamos carne para se comer além das frutas.


Meus dedos começaram a fazer nós e a trançar a corda de maneira que em questão de minutos se tornou uma armadilha que poderia pegar um animal de pequeno porte e depois poderia ser desfeita sem causar danos à corda.


E então veio o tédio. A armadilha já estava pronta, eu já havia a posicionado numa arvore próxima e agora era só esperar. Esperar algum animal, esperar Amber acordar... Isso era tedioso, ficar de guarda sozinha era tedioso, mas não tinha alternativa. Peguei o objeto metálico desconhecido de dentro da minha mochila e fiquei tentando imaginar para o que aquilo servia, eu nunca havia visto nada parecido. Depois de um tempo deixei ele de lado, talvez Amber soubesse para o que servia aquilo, e novamente voltei ao tédio. Será que era possível alguém se sentir entediado estando nos Jogos Vorazes? Espero que os Idealizadores não estejam com a mesma opinião que eu, senão pagaremos com alguma coisa na arena.


Há quanto tempo eu já estou aqui? O Sol já deveria estar nascendo, ou será que eles optaram por uma noite longa? Não, descobri ao olhar para o céu e ver uma coloração azul clara surgindo no fim do horizonte. Azul quase negro, azul marinha, azul claro, verde, amarelo e um pouco de laranja-rosado no fundo foram pintando o céu à medida que o Sol subia, era de tirar o fôlego de qualquer um e então uma belíssima criatura passa por mim batendo as asas. Borboletas, eu não sei ao certo se esse é o nome, mas é isso que passa pela minha cabeça enquanto aquele inseto voa ao meu redor, talvez eu já tenha visto em algum problema de TV.


Era algo tão bonito, suas asas eram num forte tom de azul e tinha seus contornos pretos de contraste, seu corpo era uma fina lagarta verde e seus movimentos com as asas me tiravam o fôlego. Eu preciso pegá-la, eu preciso me aproximar. E lá fui eu atrás da fascinante criatura, mas sempre que eu chegava perto ela voava para longe me fazendo dar voltas pela clareira. Estiquei a mão enquanto corria em círculos para pegá-la, estou próxima, só esticar um pouco mais o braço e...


–Juliet, não! - falou Amber me distraindo, olhei para ela, ela havia acabado de acordar e ainda estava sentada no saco de dormir. Eu fiquei irritada por ela ter me interrompido logo na hora em que eu estava conseguindo pegar a borboleta

–Por que não? - perguntei irritada, eu precisava pegar aquela criatura

–Estamos nos Jogos Vorazes, tenho quase certeza de que a borboleta era uma bestante - ela falou

–E o que isso tem demais? - perguntei com o tom de voz irritado enquanto via a borboleta bater as asas por aí

–Ela pode ser perigosa! Saia de perto! - Amber falava tentando acalmar o tom, mas eu não conseguia tirar os olhos da borboleta, parecia estar hipnotizada. A borboleta voou mais alto e levantei a cabeça para vê-la, foi quando Amber correu em minha direção me derrubando no chão -Feche os olhos, agora! Não olhe a borboleta voar acima de você! - seu tom era de desespero

–Por quê? - eu perguntei, me senti uma criança de 5 anos de tanto perguntar "por que" mas mesmo assim fechei os olhos

–No Distrito 11, os antigos dizem que se olhar para cima enquanto uma borboleta voa, ficamos cegos pelo pó que ela solta. Não acho que isso seja real, mas considerando os fatos que estamos nos Jogos e isso pode muito bem ser um bestante, é melhor não arriscarmos - Amber explicou, eu nunca havia escutado nada desse gênero, mas ela tinha razão, é melhor não arriscar. Talvez seja por isso que seja tão difícil desgrudar os olhos da borboleta.


Amber saiu de cima de mim e nos sentamos olhando uma para outra. Eu não sabia o que dizer, era provável que ela tenha acabado de me salvar de uma possível cegueira.


–Bom dia - foi a única coisa na qual eu pensei - Teve algum pesadelo?

–Bom dia - ela deu a resposta - Alguns, mas nada com o que eu já esteja acostumada.

–Checarei a armadilha, talvez tenhamos carne de alguma coisa para comer - e fui até onde eu tinha posto minha corda, minha armadilha capturara um coelho, nada mal.


Desfiz os nós para preservar a corda e peguei a vítima, isso daria para eu e Amber dividirmos por algum tempo.


–Quando foi que você fez uma armadilha? - ela perguntou ao me ver com o coelho e a corda na mão

–Durante meu tempo de vigia, fiquei um pouco entediada - respondi e ela tirou uma faca de dentro da mochila, eu não sabia que ela tinha uma arma - O que mais você pegou na Cornucópia? - perguntei, não havíamos feito esse tipo de pergunta ontem

–Uma garrafa de água, um pouco de iodo, essa faca, um saco de dormir, um pouco de frutas secas e um óculos de visão noturna. E você? - ela perguntou enquanto tirava a pele do coelho.

–Saco de dormir, garrafa de água, iodo, frutas secas, a corda e um objeto metálico esquisito - respondi

–Posso ver o objeto metálico? - ela perguntou e eu logo o entreguei, ela ficou algum tempo analisando e eu decidi limpar o coelho

–Tem o tamanho da palma da minha mão, é de metal e é meio pesado. Mais não faço ideia para o que isso sirva - ela falou enquanto mexia na coisa e eu ficava enojada com o coelho, era difícil sair de uma vida onde você nunca precisou cozinhar um arroz e agora ter que limpar coelhos que você mesmo caçou, imagino que Caius talvez esteja indo bem nessa parte, mas eu me sentia como alguém da Capital - Você já tentou girar esse plástico em volta? - Amber perguntou

–Não - respondi e ela o fez, revelando algumas coisas que estavam dentro. Ela puxou uma das divisões e saiu uma faca, na outra uma tesoura, na outra uma faca menor e assim por diante. Aquele troço deveria ter umas mil utilidades.

–Eu já vi isso em algum filme antigo - Amber começou falando - Se chama caniveto ou caniveta ou algo do gênero

–Canivete? - arrisquei porque a palavra também não me era estranha

–Talvez - ela falou -Dê-me o coelho, acho que vai ser mais fácil limpá-lo com uma dessas facas


E ela tinha razão, depois disso ela limpou o coelho rapidamente, pegou duas folhas grandes de árvore, algumas frutas e misturou com a carne utilizando as folhas como pratos. Depois comemos nossa refeição improvisada e guardamos um pouco do coelho para mais tarde, estávamos discutindo o que iríamos fazer quando ouvimos mais um tiro de canhão.


Mais um tributo morto. Quem seria? A cada tiro de canhão minha preocupação aumenta. Caius estaria vivo? Quanto tempo os Carreiristas demorariam para nos encontrar?


Dez tributos mortos. Catorze ainda vivos. Provavelmente seis Carreiristas, fazendo assim sobrarem oito outros tributos para eles perseguirem. Eu, Caius e Amber. Mais cinco outras mortes e eles irão caçar um de nós três.