– Faltam quinze minutos, venha Mestre Víbora. Vocês, preparem-se - exigiu Sora saindo do camarim das fêmeas e indo em direção ao palco para anunciar a atração que viria antes dos Sombras.
Já havia avisado aos garotos e estava com um sorriso de satisfação pelo que conseguiu. Uma apresentação de uma banda tão querida por ali que havia desaparecido há anos... não era qualquer dono de hospedaria que poderia ter.
Lá dentro, estavam Kayla, Karina, Víbora e Tigresa. A serpente já saia, ela seria apresentada na abertura do show com uma dança tradicional chinesa, usando suas fitas, que Garça e Po tiveram a delicadeza fazer.
Po confeccionou as fitas e o local onde Víbora as seguraria. Garça fez alguns desenhos na extenção do tecido enfeitando-a com pontos e palavras de sorte em vermelho na fita rosa.
Os músicos seriam seus amigos. Po e os outros furiosos.
As tigresas estavam à espera de sua entrada.
– Está pronta Tigresa?
– Não, Karina. Nunca estou.
– Mas por quê? - Perguntou Kayla sem entender.
– Porque eu não costumo e nem gosto de dançar.
No camarim dos meninos, Carlengo, Vet e Liang estavam em silêncio tentando ouvir a música que era executada no palco.
– Olha, é bonita mesmo. Não sabia que eles tocavam tão bem - disse Liang.
– Realmente... mas quero só ver... a gente vai arrasar! - Exclamou Carlengo.
– Calma aí, amigo. Não se empolgue demais. É apenas uma dança.
– Vet, vai ser legal ver você e a Tigresa dançando de novo.
– Mas é tudo pela missão.
Os minutos passavam enquanto cada qual repassava mentalmente sua parte no show. Seria uma dança e a música foi escolhida por Sora.
Ensaiaram quase o tempo todo e ninguém sabia que às escondidas, um certo panda ensaiava passos para fazer com sua amada, num intento por impressioná-la já que por mais que estivessem juntos, sempre mostrar de alguma forma o quanto ela significava. A forma que encontrou nesse momento foi a dança e já tinha a escolha perfeita para ser sua trilha sonora para conduzí-la.
Esse momento terno seria logo depois da apresentação dela, com a ajuda de Víbora - que afastaria os outros -, Macaco e Liang que tocariam para deixar o clima propício a eles.
Mas agora era hora do show e já estavam todos trocados.
Vet estava em vestes pretas e elegantes. Mal podia esperar para ver como sua amiga estava. Seus colegas vestiam preto e branco, já que iriam tocar e cantar.
Sora voltou aos camarins para chamá-los. Eis que finalmente iriam se apresentar para pegar as informações com a dona da hosperadia, já que ninguém mais parecia estar disposto a ajudar o grupo.
Enquanto Os Sombras entravam, os outros estavam na cochia do palco. Tigresa passou por seus amigos e eles puderam ver o quão bela estava em um vestido vermelho de ombros caídos e mangas largas que combinava perfeitamente com o comprimento que era justo no tronco e abria à partir do quadril em direção aos pés para dar liberdade aos movimentos.
Po não pôde segurar um fio de baba que caiu de sua boa entreaberta ao ver a namorada. Ela, antes de entrar, passou a pata direita pelo rosto do panda e se aproximou.
Reagindo, ele lhe deu um suave e rápido beijo antes de deixá-la ir e esperar sua entrada.
Do outro lado do palco, esperando enquanto seus amigos arrumavam os instrumentos e suas posições, Vet a viu e acenou.
– Agora, com vocês, Os Sombras - anunciou Sora orgulhosa com um enorme sorriso no rosto - eles executarão a música Into The Night.
A platéia aplaudiu e gritavam, ao menos a maioria, já que alguns jovens ali nunca haviam visto o grupo.
Tigresa e Vet entraram, indo um em direção ao outro, parando no centro do palco.
– Você tá linda - disse ele com um sorriso.
– Obrigada.
– Pronta?
– Sim.
Ao primeiro acorde da música, Vet e Tigresa reagiram sincronizadamente. Ele colocou uma pata em sua cintura e a outra abrigou a pata dela. No seguinte acorde ela deu um passo para trás mantendo sua postura ereta e ele para frente. Depois o contrário e assim até uma voz cantar e então girou com Tigresa em seus braços.
Like a gift from the heavens
(Como uma dádiva dos céus)
It was easy to tell
(era fácil perceber)
It was love from above that could
(foi o amor vindo de cima)
Save me from hell
(que poderia me salvar do inferno)
She had fire in soul
(ela tinha o fogo em sua alma)
It was easy to see
(era fácil de ver)
How the devil himself could be pulled out the me
(como o próprio diabo poderia ter tirado de mim)
There were drums in the air as
(havia tambores no ar quando)
She started to dance
(ela começou a dançarr)
Every soul in the room
(toda a alma na sala)
Keeping time with their hands
(mantento o rítmo com as mãos)
Depois de girar a cada quatro passos que dava guiando-a, Vet colocou ambas as patas na cintura da felina e a segurou enquanto ela se inclinava lentamente para trás com os olhos fechados. Um braço ainda apoiado no companheiro de dança e o outro em sua própria cintura, em cima da pata dele.
Ele levantou Tigresa depressa e a girou, soltando-a. Ambos começaram a bater palmas de frente para o público dando pequenos passos para frente e para trás repetidamente durante o refrão que cantava...
And we sang a, away, away, away
(E nós cantamos com a alma)
And the voices rang like the angels sing
(e as vozes soaram como os canjos cantam)
And singing a, away, away, away
(e cantamos com a alma)
And we danced on into the night
(e dançamos noite a dentro)
And we danced on into the night
(e dançamos noite a dentro)
Dançaram como um tango. Levando Tigresa, Vet avançava a ela e ela recuava, lentamente. Então pararam por um segundo e ele a segurou novamente enquanto ia para trás, fazendo com que o corpo da mestre fizesse um semicírculo ao descer, e a trouxe de volta.
A tomou na posição inicial e a guiou de maneira que seus passos formassem um triângulo imaginário e então ela fez um floreio com a perna direita e a guia, dessa vez, como uma valsa.
Like a piece to the puzzle
(Como uma peça do enígma)
That falls into place
(que cai no lugar)
You could tell how we felt
(você poderia dizer como nós sentimos)
From the look on our faces
(pela expressão dos nossos rostos)
We were spinning in circles
(nós estamos girando em círculos)
With the moon in our eyes
(com a lua em nossos olhos)
No room left to move
(Não há espaço sobrando para se deslocar)
In between you and I
(entre você e eu)
And we forgot where we were
(e nós esquecemos onde estávamos)
And we lost track of time
(e nós perdemos a noção do tempo)
And we sang to the wind
(e cantamos ao vento)
As we danced through the night
(como dançamos pela noite)
A segurou pela cintura novamente, mas dessa vez a elevou ao ar e deu um giro com ela. Nesse momento o público delirou com os versos e a coreografia. E por esses mesmos motivos, o panda na cochia sentia o coração apertado, apesar de saber que era apenas encenação, uma dança apenas. Não tinha significado para eles.
Ao depositar Tigresa de novo no solo, tomou apenas uma pata dela e a girou. Se soltaram e dançaram um ao redor do outro, sem nunca deixar de se olhar nos olhos.
And we sang a, away, away, away
(E nós cantamos com a alma)
And the voices rang like the angels sing
(e as vozes soaram como os canjos cantam)
And singing a, away, away, away
(e cantamos com a alma)
And we danced on into the night
(e dançamos noite a dentro)
And we danced on into the night
(e dançamos noite a dentro)
Se juntaram novamente e repetiram as sequências de passos anteriores até o momento em que, em vez de soltá-la para dançarem ao redor novamente, ele a segurou pela pata direita e ela abriu um espacate perfeito e então o público gritou em júbilo a Tigresa.
Like a gift from the heavens
(Como um presente dos céus)
It was easy to tell
(era fácil dizer)
It was love from above
(foi amor vindo de cima)
That could save me from hell
(que poderia me salvar do inferno)
She had fire in her soul
(ela tinha fogo em sua alma)
It was easy to see
(era fácil de ver)
How the devil himself
(como próprio diabo)
Could be pulled out of me
(poderia ser tirado de mim)
There were drums in the air
(havia tambores no ar)
As she started to dance
(quando ela começou a dançar)
Every soul in the room
(toda alma na sala)
Keeping time with their hands
(mantendo o rítmo com as mãos)
Conforme o clímax da música se aproximava, mais rápido e mais intensamente eles dançavam. Houve um momento em que forjaram um beijo em um passo, mas não chegaram a se encostar e apesar de saber que não houve contato, os espectadores sentiam a magia envolvente da dança e seus executores.
Nos últimos quatro versos da última repetição do refrão, os dois giraram como se deslisassem no chão de madeira do palco. Para aqueles que assistiam, Tigresa parecia voar nos braços de Vet.
And we sang a, away, away, away
(E cantando com a alma)
And the voices rang like the angels sing
(e as vozes soam como os anjos cantam)
And singing a, away, away, away
(e cantando com a alma)
And we danced on into the night
(e nós dançamos pela noite)
A, away, away, away
(com a alma)
And the voices rang like the angels sing
(e as vozes soam como os anjos cantam)
And singing a, away, away, away
(e cantando com a alma)
And we danced on into the night
(e nós dançamos pela noite)
A, away, away, away
(com a alma)
A, away, away, away
(com a alma)
Singing a, away, away, away
(cantando com a alma)
And we danced on into the night
(e nós dançamos pela noite)
Ao final, ambos se colocaram de frente à plateia e se curvaram agradecendo, então houve uma explosão de aplausos para eles. Aplausos, assobios, todos animados, de pé.
Era mais que justo agora que pedissem uma boa recompensa à Sora. Os furiosos, atrás da cortina com a dona do estabelecimento, a encararam com sorrisos maliciosos. Ela agora deveria dar a eles tudo o que lhe pedissem, pelo favor de encher a casa com os espetáculos e com a boa reputação que certamente trouxeram por serem uma boa atração, ao menos por esse dia.
Ambos se retiraram do palco ainda com aplausos dedicados a eles. Chegaram na cochia e foram recebidos pelos amigos e por Sora.
– Vocês dançam muito bem - elogiou Víbora.
– Eu nunca achei que veria Tigresa dançar, achei que ela era tããão durona... - zombou Macaco, fazendo Louva-a-deus rir.
Os dois escaparam por pouco de um soco de Tigresa e ela prosseguiria com os atentados e ameaças se não fosse o abraço de Po.
– Ti, você tava demais! - Disse ele com os olhinhos brilhantes.
– Obrigada, Po - sorriu.
– Bem, tá tudo ótimo aqui, mas vamos nos trocar. Essa roupa tá me dando coceira - resmungou Carlengo em alto e bom tom.
Estava claro para Liang, Vet e os furiosos que ele queria levar uma surra de sua velha amiga Tigresa.
Cada qual foi se trocar e Po chamou seus amigos, os cúmplices de seus planos, para pedir a eles para começar, julgando que só receberiam informações sobre Anastásia na manhã seguinte. Assim, Víbora pediu a Louva-a-Deus que distraísse os meninos e ela se encarregaria das garotas.
– Não danço, nunca mais na minha vida. Chega.
– Ai, para Tigresa... tava tão lindo - disse Karina com um brilho no olhar.
– Que seja, mas não gosto. Prefiro cantar.
Víbora ouviu, mas não ia deixar que isso estragasse os planos de Po.
Entrou no camarim e quando a felina já havia trocado de roupa, comento que o panda a esperava lá fora, nos jardins da hospedaria. Ele se dirigia para lá com os "músicos", porém quando o fazia, Sora o chamou e disse que queria conversar e dizer o que eles queriam saber.
"Tudo acontece de errado quando o panda quer namorar, só com o panda", pensava ele enquanto ia avisar os outros.
Se juntaram e pelo menos o urso pôde segurar a pata de Tigresa no caminho e na sala durante a conversa.
– Sentem-se por favor - pediu Sora. No mesmo escritório, mas dessa vez, ela teve a delicadeza de colocar mais cadeiras para que todos pudessem se sentar.
– Então, diga... onde é o castelo de Anastásia, se há muitos guardas e como podemos entrar - pediu a mestre do estilo tigre com imediatismo.
– Opa, se acalme, mestre! - Respondeu Sora levantando as patas ao alto.
– Como sabe quem eu sou?! - Grunhiu Tigresa.
– Vocês pensam que não sei quem são? Já vivi na China e a fama de vocês chega até aqui, mas os animais não dão muita atenção com a imperatriz atasanando a vida de todos. Mas enfim, farei melhor do que dizer onde ela vive... lhes darei isso - tirou um mapa com as direções ao castelo e arredores e o desdobrou aos olhos dos guerreiros para então mostrar com um dedo - aqui é o castelo e esta... é a melhor estrada e a mais rápida para chegar até lá. Eventualmente serão atacados por bandidos, mas se forem pelos atalhos do bosque, as coisas serão piores.
– Nenhum bandido é pário pra nós - disse o inseto e Macaco concordou.
– Pode ser que sim, mestre. Pode ser... mas as coisas aqui são perigosas. Anastásia tenta erradicar bandidos porque quer que o povo confie nela, mas cada vez que ela vira as costas, eles voltam, brotam como ervas daninhas. Só peço que tomem cuidado. Ah, e o castelo é muito vigiado. Muitos não se atrevem a chegar perto só que eu aposto que alguns não lutarão com vocês, não os impedirão de entrar e até os ajudarão, por odiá-la. Os criados podem ajudar também. Imagino que todos sintam o mesmo por ela, exceto os guardas mercenários, esses sim a obedecem fielmente. Por dinheiro.
– Nossa... - sussurrou Po. Assim como ele, todos estavam de olhos arregalados.
– Vamos... - disse Tigresa levantando-se e puxando Po com ela.

– Viu isso Shing?
– Por favor, soberana Anastásia, me chame de Hu!
– Se gritar comigo de novo, sabe o que te espera.
Ambos estavam no quarto dela em frente a seu caldeirão, onde fazia venenos mais potentes com a ajuda do seu próprio e, nas horas vagas, via a vida dos outros. Pior do que vizinho que fica no portão.
– Vá de encontro a eles e já sabe o que fazer. Leve isto - deu a Shing um pacote contendo dois frascos - o veneno e o antídoto. Traga-me aquela pedra.
Shing se curvou perante ela e se foi e então e a desfez a visão no caldeirão.
– Em poquíssimo tempo terei meu sacrifício e os meus poderes de volta...
Então, sua noite foi selada por sua própria risada ecoando nas paredes do castelo.
Mas havia algo que ela deixara de ver à partir do momento em que pensou que a conversa daqueles guerreiros havia acabado.
– Espere! - Chamou Sora.
Todos, já de pé, se viraram para ela. A dona da hospedaria saiu de trás de sua mesa de escritório e correu aos arquivos ao outro canto da sala.
Abriu várias gavetas e fez uma bagunça até achar o que procurava, mas quando encontrou aquela bolsinha, seus olhos brilhavam e seu sorriso era enorme.
– Er... desculpe, o que que a gente tá esperando? - Perguntou Po.
– É... o que é isso? - Indagou Kayla reparando num pequeno estojo de linho tingido de preto quando Sora se virou.
– Isso é pra você.
Ofertou-o à Tigresa que o tomou duvidosa sem soltar a pata de Po.
– Abra-o.
Então, soltando o panda, Tigresa a abriu e dentro dela haviam cinco punhais prateados com espigões negros e uma adaga grande e brilhante. Todos tinham o símbolo Yin Yang desenhados no cabo, gravados por ferro quente no pequeno cabo de madeira, mas na adaga, além de o símbolo ser maior, era feito com pequenas pedras brilhantes cuja natureza ninguém soube identificar.
– Uau! Que demais!
– São lindas... - murmurou Tigresa, mais para si mesma do que para os outros, que, à propósito, estavam quase apoiados em suas costas para ver o presente - para que... ?
– Ela não pode sair vitoriosa. Isso servirá para que possa cortar o mal pela raíz.
– Como é?! - Perguntaram todos confusos se aquilo foi ou não uma metáfora, tais quais as do velho Oogway.
– Na hora certa vão saber como usar. Não as percam.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.