Déja Vù

Caminho das Pedras


Hora do jantar.

Todos os guerreiros e os antigos amigos de Tigresa se dirigiam à cozinha. Lá, Po fez o macarrão, prometeu a eles que faria comida de verdade quando chegassem. Estava picando legumes para colocar na sopa enquanto os demais conversavam.

- O que acham que Mestre Shifu vai decidir? – Perguntou Víbora.

- Não sei, talvez ele nos divida, mas pra onde será que vai nos mandar? – Disse Garça.

- A pergunta é: quais pedras falta pegar?

- A Esfera de Jade, a Estrela Diamante, o Sol de Âmbar e a Garra de Ônix, já que a Gota de Rubi está com a gente. A pedra Yin Yang, eu não acho que ela queira ou precise. Seria a primeira que ela iria procurar. Além disso, as outras pedras reunidas já dão o mesmo poder da Yin Yang de cristais e ônix – respondeu Vet.

- Vet, está certo. Em todos esses anos que espionei a Anastásia, ela queria só essas que ele falou primeiro – respondeu Shing.

- Onde estão as outras pedras? – Perguntou Tigresa.

- Bem, eu interrompi um informante que estava à caminho do castelo dela, ele disse que a Esfera de Jade está com um líder de Yu Qin...

- Meu pai – disse o panda terminando de cozinhar.

- A Garra ônix está no clã crocodilo, já que os donos originais que eram os dragões, já não existem mais.

- Deve estar com o Mestre Crocodilo – Po se entusiasmou com a ideia de voltar a ver um de seus ídolos, fazendo com que seus amigos se divertissem com sua atitude.

- A Estrela de Diamante, deve estar com o clã águia, no refúgio...

- Das aves – interrompeu Po – fica do outro lado da China. Não é só o clã águia que cuida dela, são vários unidos.

- É eu já ouvi falar disso – disse Garça – quando eu era filhote minha mãe contou que ela vivia nesse refúgio, é um lugar onde todas as aves viajam para celebrar a união e agradecer nossos voos, rever parentes e conhecer outras aves pra quem sabe ter filhotes. Hoje é só por alguns dias, mas antes do kung fu ser criado por Mestre Oogway, viviam lá porque alguns não tinham garras afiadas para sair voando ou andando por aí e se defender.

- É isso mesmo – sorriu Shing – e finalmente, o Sol de Âmbar estava com o tigre governante de Hu Yong.

- Dishi.

- Você o conhece?

- Sim, é meu primo.

- E deu muito trabalho pra gente... – disse Louva-a-Deus.

- Especialmente pra Tigresa – terminou Macaco.

- Por quê? – Perguntaram os amigos de Tigresa.

- Ele é doido.

- Nah, que nada Macaco, ele só tava desorientado – respondeu Po trazendo pratos de macarrão – aqui está a comida. Espero que gostem – sorriu.

Po sentou-se ao lado de Tigresa como sempre e começou a jantar.

- Mas desorientado? Como assim? – Perguntou Liang, curioso.

- Uma história do nosso passado – disse Tigresa começando a comer.

- Assim como a sua e do Vet? – Perguntou Carlengo.

- Olha cara, acho melhor você não brincar com o perigo – aconselhou o inseto – come sua sopa que é melhor pra você.

Enquanto jantavam, Po e Tigresa explicaram que Dishi veio pedir ajuda ao palácio e acabou arranjando confusão, esquecendo o que realmente deveria fazer e quase estragando muitas coisas na vida deles e na própria. Os demais ouviam com atenção. Depois de terminarem, o panda recolheu a louça para lavar com a ajuda de sua companheira enquanto os outros se retiravam.

Os dois guardaram a louça, apagaram as velas e seguiram para os quartos. Po deu um beijo na testa da felina e desejou-lhe boa noite. Mais tarde, todos no Palácio de Jade estavam dormindo. Provavelmente seria no outro dia em que saberiam seu próximo destino para terminar com isso de uma vez por todas.

O gongo soou acordando os guerreiros e os hóspedes. Se levantaram e rapidamente foram ao encontro de Mestre Shifu que os esperava no início do corredor. Ele ordenou que tomassem café da manhã e depois o encontrassem na sala de treinamento. Lá conversariam sobre o próximo destino.

Algum tempo depois, entraram na sala de treinamento e se sentaram em um canto esperando que Shifu dissesse a eles o que deveriam fazer.

- Bem, guerreiros, eu já tomei uma decisão – anunciou o panda vermelho – vou separar vocês em dois grupos, já que estão em doze e já pensei quem irá com quem.

- Tem certeza que é boa ideia separar? – Perguntou Tigresa.

- Sei que é arriscado, Tigresa, mas é o único jeito de conseguir as pedras o mais rápido possível. Po voltará na terra de seu pai para pegar a Esfera de Jade e de lá vai até o Mestre Crocodilo buscar a Garra Ônix.

- Quem vai comigo?

- Vet, Carlengo, Macaco, Shing e Karina. E os outros vão com Tigresa até Hu Yong buscar o Sol de Âmbar...

Dito isso, a felina fez uma careta. Não estava animada em reencontrar seu primo.

- E depois buscar a Estrela de Cristal no refúgio das aves que fica mais ao sudoeste de onde está Dishi – continuou Shifu – e lá, deverão conversar com o líder do local. Entenderam?

- Sim, mestre – disseram todos em uníssono.

- Então se preparem que vão sair logo após o almoço. Dispensados.

Todos se levantaram e foram treinar e verificar suas coisas. Passaram horas e chegou o almoço.

Enquanto Shing caminhava saindo da cozinha, sentiu um arrepio conhecido e correu para fora.

- Shing? O que foi? – Perguntou Carlengo.

- Não é nada, eu... eu só vou dar uma volta – sorriu e se foi com pressa deixando um tigre confuso no corredor da ala dos estudantes.

- Cara estranho... cada dia tá mais... – deu meia volta e foi dormir.

Já no pátio de treinamento, depois de descer correndo as escadas que levavam até lá, Shing procurou um canto escondido por plantas o mais rápido que pôde. Enquanto isso, ouvia uma voz que chamava seu nome e se tornava cada vez mais forte.

Achou um local encostado num muro e se sentou em posição de lótus e fechou os olhos como se fosse meditar.

Já disse para não me chamar de Shing. Você sabe quem eu sou e como devo ser chamado.

Mas, que agressividade, ein? Não está em condições de me responder assim, Shing...

Por favor, pare e me diga logo o que quer, estou cansado e preciso dormir se quiser que eu termine essa missão.

Claro, direi. Quero saber se há alguma informação à respeito dessas pedras.

Tenho sim. Vamos busca-las logo...”, assim, Shing deu toda a informação necessária.

Enquanto ele se encontrava de olhos fechados, Tigresa estava observando o colega de longe. Tentava saber o que ele estava fazendo, embora um sorriso suspeito para ela aparecesse nos lábios do gato, ele parecia apenas meditar.

Mestre Shifu chamou e nesse momento, sem aviso prévio, Shing deixou sua conexão com Anastásia. Já a havia informado sobre tudo o que o panda vermelho ordenara. E depois de se levantar, sem sequer suspeitar de que, de agora em diante seria observado por uma mestre de kung fu, foi a seu quarto buscar sua mochila.

Na porta do Palácio de Jade, todos estavam esperando o gato montês chegar. Assim que ele apareceu, Mestre Shifu revisou os grupos com o olhar.

- Tomem cuidado e por favor, me avisem quando chegarem ao primeiro dos seus destinos.

- Sim, mestre.

- Vão.

Eles desceram as escadarias e foram juntos até a entrada principal do Vale da Paz. Ali, os amigos se despediram. Liang se despediu de Karina com um abraço forte que ela correspondeu. Tigresa e Po se despediram com um beijo e um abraço. A felina temia que estando longe, ele pudesse se meter em encrenca e se machucar.

- Promete que vai tomar cuidado e não vai se meter em confusão – pediu ela ainda abraçada a ele.

- Eu prometo. Toma cuidado também, por favor.

- Pode deixar.

- Eu te amo, Ti.

- Eu também te amo, Po.

Kayla observava atentamente a cena. Era claro para ela que Po gostava de Tigresa, mas será que a mestre não respondeu aquilo da boca para fora? Ainda estava com dúvidas. E Vet, olhando aquilo, achava exagerada essa despedida. Era só uma separação temporária, se bem que ele não sabia o que eles já passaram.

Os dois separaram o abraço e o panda, ainda segurando-a pela cintura, beijou a testa de Tigresa.

- Vet, Macaco, por favor, cuidem dele.

- Pode deixar – sorriu o primata.

- Tudo bem – bufou o tigre.

Cada grupo foi para seu lado.

Para a sorte de Shing, havia ficado no grupo do panda. Pegaria duas das pedras mais importantes e os locais aos quais iriam, seguindo o que Po comentava enquanto caminhavam, era mais perto do que os que o grupo de Tigresa iria.

Em poucos dias, estaria com todas as pedras à sua mercê e completaria sua missão, conseguiria o que queria, enfim.

-

Na manhã do terceiro dia, o grupo de Po estava num barco chegando à Gongmen. Ele achou melhor passarem pelo Conselho dos Mestres e falar com o Mestre Crocodilo primeiro, para depois buscarem Jing-Quo. Faria surpresa para o pai.

Algumas horas depois, estavam aguardando na academia de kung fu de Gongmen City que os dois mestres aparecessem.

Eis que surgem mestres Boi-Toró e Crocodilo. Eles convidam os guerreiros à se sentar na sala de reuniões, onde havia uma grande mesa redonda.

- À que devemos a honra da visita, garoto? – Perguntou Mestre Boi.

- Viemos buscar a Garra Ônix.

Os dois mestres ficaram em choque.

- Pra quê vocês querem a pedra do meu clã? – Perguntou Crocodilo.

- Vocês se lembram de Anastásia? – Perguntou Vet e os dois assentiram com os olhos mais abertos do que antes – então, ela está de volta, atrás das pedras. Pensamos que a tínhamos espantado, mas não conseguimos.

- Não acredito nisso! – Boi socou a mesa causando um estrondo e dando um pequeno susto nos guerreiros – não é possível, ela sumiu há anos.

- Eu a espionei todo esse tempo e ela mandou espiões para a China para buscar as pedras – disse Shing.

- Mas, nós convocamos você e seu antigo grupo para ao menos espantá-la e fazer com que ela parasse de nos roubar...

- Ou, como assim, convocaram? – Perguntou Po.

- Veja bem, Dragão Guerreiro, depois que cada um dos felinos chegou à China ou apareceram socialmente, cada um com sua história de vida, eles entraram em diferentes academias de kung fu. Todos eles eram os guerreiros mais ágeis, fortes, astutos e estrategistas de suas academias e então, pedimos permissão ao Grão-Mestre Oogway para liberar Mestre Tigresa para a missão. A aluna mais disciplinada de todas...

- Pedimos à Shifu, já que é o tutor dela. E depois, ela e Vet ficariam no comando da missão, pois eram os melhores, embora ela com pouca idade seja uma heroína lendária – terminou Mestre Boi.

- Então, ela sumiu, depois de mandar uma carta ao conselho com o último relatório que dizia que não havia mais sinal de Anastásia e depois soubemos que ela quis ficar com eles. Soubemos quando Mestre Shifu nos enviou uma carta que dizia sobre o término da missão e a escolha dela de ficar com eles.

Po sentiu novamente aquela sensação desagradável que era o ciúmes. Mesmo sendo passado, não gostava muito da escolha que ela fez, justamente por saber o que passou entre ela e Vet.

Ignorando isso, resolveu voltar ao tema central da conversa:

- Precisamos levar a pedra, antes que ela venha buscar – disse seriamente.

- Ah, tudo bem – suspirou Crocodilo – espere só um pouco, eu vou buscar.

Nesse momento, um sorriso iluminou a face de Shing, que não se preocupou em esconder, justificando que era a felicidade de estar terminando essa missão. Não era totalmente mentira.

Os seis viajantes foram convidados a ficar em Gongmen e passar a noite. No dia seguinte iriam para o vilarejo dos pandas buscar a esfera. Agora, o importante era comer e descansar.

- Vou caminhar – anunciou Vet saindo da casa, foi dar um passeio pelos jardins próximos à casa que Mestre Boi cedeu para eles.

Estavam perto da academia.

- Ah, sentia tanta falta de viajar. Pena que nos separamos – disse Karina sentada no sofá com as pernas dobradas.

- Vocês viajavam muito? – Perguntou Po sentado a seu lado.

- Sim, a gente viajou por toda a China e fora daqui também.

- É, era tão legal. A gente tocava pra ganhar dinheiro... – disse Carlengo deitado no tapete.

- Como assim? – Perguntou Macaco no braço do outro sofá.

- Depois de terminar a missão, sem sinais dela, a gente quis viver em grupo, como um bando, sabe... – disse Shing – e quando a gente tava atrás da Anastásia, nos disfarçávamos de banda. O Carlengo e a Karina dançavam, a Kayla também, a Tigresa cantava e eu, o Vet e o Liang tocávamos.

- Nossa, que genial! – Disse Po entusiasmado.

- Pera aí, a Tigresa cantava? Ela mal falava no palácio, imagine cantar... – disse Macaco entre assombrado e surpreso, aguentando a vontade de rir.

- É, ela cantava e muito bem – elogiou Karina.

- Eu gostaria de ouvir ela cantar... – disse Po.

- Quem sabe um dia ela cante pra você, já que é especial pra ela – sorriu.

- Mas teve uma vez que ela teve que dançar – disse Carlengo atraindo as atenções – dançar com o Vet.

- O quê?! – Perguntaram Po e Macaco.

- Você adora pôr lenha na fogueira, né, Carlengo?

- Ele tem que saber – apontou pra Po - você está com ela, ele não tem que se importar com isso porque não estão mais juntos.

- Mas é estranho saber disso...

- Ah, não ligue pro ciúmes, ela te ama e isso tá na cara. Aproveita as histórias que a gente contar.

- Hm, tudo bem.

- Ei, você se lembra, Shing?

- Claro que sim. Ela com cara de assustada e ele adorando... a hora que terminou ela queria bater nele. O Carlengo e a Karina não podiam dançar porque estavam cansados demais e eles tiveram que ir no lugar deles.

- E eu cantei – disse Karina.

- E teve aquela vez que o Vet cantou pra ela – contou Carlengo novamente.

- Para, vai deixar o Po chateado – pediu Karina.

- Ele cantou pra ela? E ela? – Perguntou Po atônito.

- Ficou vermelha e nervosa.

- Ela sabia que era uma coisa bonita que ele fez, mas nunca quis ele de verdade como quer você, não fique nervoso – Karina tentou tranquiliza-lo, em vão.

- É... tá.

Vet voltou e quando o panda o olhou, se levantou e foi diretamente para seu quarto. O tigre não entendeu essa atitude e já queria tirar satisfações com ele, mas Shing o deteve.

- Não faça isso...

- Por que não? Eu não fiz nada pra que ele me tratasse assim.

- É que começamos a contar histórias aqui e... acabamos entrando naquelas de quando você e a Tigresa dançaram e quando você cantou pra ela. Não achamos que ele iria ficar mal...

- Eu achei – se defendeu Karina.

- Olha, eu não disse nada, mas vocês sabem que ele está com Tigresa, né? Poderiam ter pego mais leve no que falam – disse Macaco, claramente bravo, pela primeira vez – vou ver como ele está.

O primata saiu e os outros ficaram como estavam. Shing guiou Vet até o sofá e se sentaram. O felino, então, levantou a cabeça diretamente para o amigo. Carlengo estava olhando para as próprias garras e sentiu o olhar intenso do tigre sobre ele.

- O quê?

- Como “o quê”? – Disse Vet bravo e de cara fechada – foi você quem começou, não foi?

- A gente só tava conversando.

- Não interessa, ela me pediu pra cuidar dele e isso não é cuidar. Só eu virar as costas um minuto e você faz isso... saber que eu namorei ela já foi ruim suficiente. Ele já não vai com a minha cara por isso, e eu não me acostumei a ver Tigresa com ele ainda – respondeu Vet se levantando para dar tapas em Carlengo.

Não eram tapas fortes, mas era só para assustá-lo. Não adiantava, Carlengo nunca pensava antes de falar. Parecia não ter cérebro.

- Ai, para! Ei!

-

No quarto, Macaco tentava acalmar Po com relação ao que ouvira hoje.

- Não fica assim. Ela pediu pra você não duvidar mais dela, não é?

- É, pediu. Ah, Macaco, sei lá. É chato pensar que ela viveu essas coisas com ele, eu posso até saber, mas fico com um pouco de...

- Medo?

- Sim. Olha pra ele e olha pra mim.

- Hm.

- Não viu nada de diferente?

- Hm.

- Ele é um monte de coisas que eu não sou e não acho que ele vai com a minha cara.

- Talvez seja só o jeito dele ou ele estranhe vocês dois, assim como todo mundo que vê vocês juntos. Espécies diferentes, jeitos diferentes, estilos de luta diferentes...

- É verdade.

- Deixa pra lá. Ela gosta de você, senão não estaria com você. Aposto que ela tá pensando em você agora...

E Macaco não se equivocou. Ela realmente estava, preocupada com ele e com os outros, já que Shing estava com eles.

Tirou esses pensamentos da cabeça quando chegou ao castelo de Dishi e foi anunciada. Os guardas ordenaram a ela e ao grupo que entrassem.

Chegaram à grande sala do trono e encontraram o tigre-do-sul sentado e a primeira coisa que notaram, foi a pedra que era suspensa em seu pescoço por um cordão de metálico.

- Olá prima – sorriu sincero o jovem imperador tigre – veio me visitar?

- Nem em sonhos.

- Então, por que está aqui, e tão tarde? Já é quase hora de dormir – se levantou para aproximar-se deles.

- Precisamos conversar com você à respeito do Sol de Âmbar.

Dishi agarrou a pedra com a pata direita. Segurou firme e olhou nos olhos da felina. Sua prima era séria e não mostrava sinais de estar brincando.

Os convidou para uma sala, o depósito de armas e estratégias. Era um lugar gigantesco construído depois que ele assumiu o trono para guardar armas e pergaminhos com estratégias de ataque e defesa que desenvolveu durante toda sua vida.

Pediu que tomassem assento em torno da grande mesa e então, perguntou:

- O que querem com a minha herança? – Perguntou sério.

Tigresa relatou a ele sobre Anastásia e o que eles sabiam sobre seu plano. Era para tomar poder sobre a China, embora não soubessem exatamente como ela faria isso.

Disse que teriam que ir ao refúgio dos pássaros buscar a outra pedra e garantir a segurança dela onde todos os mestres estariam, no Palácio de Jade.

- Vocês precisam de alguma ajuda minha?

- Não, só da sua pedra.

- Caso precisem de reforços, não hesitem em pedir – disse Dishi enquanto tirava seu cordão para entregá-lo à Tigresa.

Vendo que a felina ia responder mal ao primo, Víbora interveio antes:

- Pediremos sim – sorriu.

- Podem ficar aqui essa noite, meus empregados vão preparar seus quartos. A hora que forem deixar o castelo, pedirei que deem alimento a vocês para levarem na viagem.

- Obrigado (a) – disseram todos.

- Agora venham comigo – se levantou.

O grupo seguiu o tigre e quando encontraram uma camareira, ela lhes indicou dois quartos, um para as meninas e outro para os meninos. Havia apenas esses quartos vagos no momento.

Abriram a porta. Os meninos se depararam cada um com uma cama.

- Nossa, que cama grande! – Disse Louva-a-Deus – e ela e todinha minha!!

- Você é que é pequeno – brincou Garça e Liang riu.

- Não é isso, não. Para de falar isso me deixar ser feliz na cama gigante.

Bateram na porta.

- Meninos?

Garça abriu a porta e era a serpente.

- Pode falar... – disse Garça que abriu a porta.

- Tigresa disse que vamos sair cedo amanhã, durmam logo. Boa noite.

- Boa noite – disseram o inseto e o tigre.

- Hm, tá. Boa noite – disse a ave estranhada que a própria felina não veio avisar.

Tigresa estava sentada apenas observando Kayla com um semblante furioso. Esta se encontrava atrás de um biombo trocando as roupas para dormir e fazendo perguntas à mestre, coisa que ela não estava gostando.

Kayla havia pedido a Víbora que as deixasse um minuto sozinhas e agora tentaria descobrir o motivo de Tigresa estar com Po.

- Posso te perguntar uma coisa?

- Não foi pra perguntar algo que você fez Víbora sair?

- É, foi. Então – continuou saindo de trás do biombo com calças largas e uma camisa regata larga em azul claro -, desde quando você e Po estão juntos?

- Desde a nossa última missão, aquela em que descobrimos sobre nossos pais. Por quê?

- Não faz muito tempo, né?

- Não, só alguns meses.

- Hm.

- Por que tantas perguntas?

- É que – ela se sentou em sua cama e respirou fundo para falar – eu acho que é tão estranho ver você com ele... quero dizer, é muito rápido pra quem não costumava ter ninguém.

- Você não sabe o que a gente passou. Convivemos desde que ele foi escolhido como o Dragão Guerreiro.

- Pois é... e gostou dele logo de primeira?

- Tá brincando? Eu tinha raiva dele e vontade de jogar pelas escadas do palácio. Me arrependo da maneira como o tratei e não sei como ele me perdoou. Hoje, quero proteger o Po - sorriu.

- Quando começou a gostar dele?

- Com o tempo, conhecendo ele melhor. Apenas isso...

- Ainda acho estranho.

- Por quê?

- Quando tinha o Vet – começou Kayla começando a se alterar -, ele era nosso líder, bonito, forte, corajoso, não é desajeitado e não deu sorte do destino pra conseguir ser um guerreiro, ele teve que ser... você teve ele com você e o deixou. Agora, quer alguém como esse panda? Ok, ele é o Dragão Guerreiro, isso é um posto muito alto no kung fu, é o guerreiro da lenda, mas mesmo assim...

- Cala a boca, Kayla. Você não tem o direito de julgar o que eu sinto e por quem.

- Só queria entender porque não ficou com ele e com a gente vivendo de música como a gente queria.

- Disse bem, como vocês queriam. Eu não gostava dele. Sentia respeito e queria só amizade. Me senti pressionada e quanto mais tentava ficar no mundo de vocês, mais percebia que não queria isso pra mim e que meu destino estava no Palácio de Jade. Hoje sei que é verdade, conheci outros lugares, outras pessoas e me sinto bem ali. Fui totalmente aceita e tenho alguém que me aceitou desde o primeiro momento em que me viu! – Nesse momento, Tigresa parou de falar porque a porta foi aberta.

Víbora entrou em silêncio olhando para as duas felinas. Parecia que estavam à ponto de lutar.

- Está tudo bem?

- Perfeitamente, Víbora. Boa noite – deitou de costas para elas.

- Tigresa – chamou Kayla, sem resposta – essa conversa ainda não acabou.

Deitou-se para dormir assim como fez Víbora. Ela escutou tudo que Kayla falou. Entendeu o que ela quis dizer, e tinha certeza que Tigresa entendeu também. A serpente apenas esperava que ela não prosseguisse com as dúvidas sobre o amor de sua amiga por Po.

De madrugada, no palácio, Shifu meditava, já que não conseguia dormir. Esperava que dessa vez, tudo corresse bem e conseguissem cortar o fluxo do plano de Anastásia. Se lembrou de quando a felina voltou para casa, dois anos depois de ser enviada à missão...

Flashback

O dia em que ela voltou para seu antigo lar, não sabia se era algo que ela havia pensado em fazer. Temia encará-la e imaginava que não se sentia orgulho em confrontar aquele a quem deixou depois de tudo que fez por ela.

No coração do panda vermelho, ela estava como uma filha, embora não agisse como tal. Quando ela se foi, o parte do coração dele foi junto e o resto ficou pelos seus alunos no Vale da Paz.

Estava chovendo, o que tornava a noite ainda mais escura, quando ele ainda esperava mais um dia para ver Tigresa subir a escadaria da montanha. No último degrau, ela abriu os portões de par em par e entrou na grande arena com um trovão. A chuva estava piorando.

Estava no Salão Sagrado. Ouviu passos de patas correndo e pisando nas poças para a ala dos estudantes e seguindo os passos, ouviu alguém abrir as portas com um baque. Aguardou escondido enquanto os outros estudantes foram imediatamente verificar do que se tratava e a viram ali e com seus pelos alaranjados e sua roupa molhados, esperando que eles falassem alguma coisa, mas isso não aconteceu. De repente, a viu no chão com aqueles que eram sua família em cima de seu corpo gritando por seu nome e fazendo mil e uma perguntas que nem ela entendia.

Como era bom vê-la voltar para casa, finalmente.

Como Oogway disse, ela saiu para procurar o seu lugar no mundo, mas teve que deixa-lo para saber onde realmente era.

Ao vê-la se levantar, limpou a garganta atrás dela e todos o encararam. Estava de pé olhando para a felina sem expressão alguma. Ela se aproximou, o cumprimentou e abaixou a cabeça. A única coisa que ele fez foi dizer:

– Bem-vinda de volta, Tigresa.

Sem broncas, sem briga, sem gritos e ainda com a voz calma. O que chocou todos, inclusive ela. Ninguém reparou no sorriso de alívio e satisfação que apareceu em seus lábios, graças à escuridão daquela noite de tormenta.

Sabia que em parte, essa decisão foi culpa sua, mas agora ela estava de volta e teria, talvez, uma nova chance com ela.

Flashback off

Agora ele sabia que estava tudo bem. Ele tinha sua filha e como, aparentemente, ela já descobriu seu lugar no mundo, que era no Palácio de Jade, ela iria voltar por decisão própria, sem que nenhum dos amigos a trouxesse ou convencesse. Shifu sabia que sua filha iria deixá-lo orgulhoso como da primeira vez, embora ela decidira viajar. Agora estava novamente sentindo um orgulho de pai por saber que Tigresa estaria lutando como amava fazer e escolhendo com sabedoria o seu rumo a tomar, mais uma vez.