Duty, Love or War?- Interativa

As Selecionadas- Amigas. Por enquanto.


"Em política, os aliados de hoje são os inimigos de amanhã."

Maquiavel

Johannes Brahms - Hungarian Dance No. 5

O jantar foi servido pontualmente duas horas após o início do baile. Criados em ternos ou vestidos escuros exibindo sorrisos gentis trouxeram deliciosos pratos de todas as partes do mundo para ocuparem a grande mesa até então vazia, ofereciam-se para montar os pratos dos mais jovens ou idosos sem fazer parecer algo rude, foi um serviço rápido e eficiente característico de quem está acostumado a situações como essa, logo os convidados- Após um rápido convite da rainha Amelia- começaram a se servir conversando entre si com facilidade praticada.

As selecionadas haviam se separado em grupos em diversos momentos após sua entrada já deixando claro para quem as visse que as amizades- Ou alianças nos olhos dos mais céticos- estavam se formando e agora a maioria desses grupos se dirige à mesa como os demais convidados em silêncio pensativo ou conversas animadas, outras porém permanecem sozinhas ainda estranhas a situação ou simplesmente não interessadas em formar relações.

Brenda ajustou o vestido pela milésima vez se sentindo quase sufocada pela peça e pelo ambiente em si, não estava sendo o pesadelo que ela temia nos dias que antecederam o embarque, mas também não é nada que ela chamaria de confortável, se qualquer coisa é tolerável. Os nobres estão sempre a encarando, alguns mais disfarçadamente que outros, e é como se cada passo seu fosse um erro para eles, as selecionadas irlandesas não são tão ruins- Berg pode tê-la incomodado um pouco no avião por ser tão elétrica e Maeve é tão gentil que Brenda não sabe como agir com ela, mas são boas pessoas e Aileen é uma presença quase agradável apesar de não ser a mais séria das pessoas- e claro estar ali com sua irmã faz tudo bem mais suportável, mas por outro lado o príncipe... Ele era tudo que as revistas falavam e talvez mais, não perdera o sorriso malicioso em nenhum instante e flertara tantas vezes que Brenda perdeu a conta, não parece ser nenhum idiota prepotente entretanto e a companhia dele pode até ser agradável uma vez que ela se acostume.

A jovem irlandesa foi rápida em montar seu prato com as comidas mais simples que pode encontrar- E ficou eternamente satisfeita em achar algumas de suas sobremesas favoritas- e só quando terminou é que encontrou seu verdadeiro problema. A maioria das meses já havia sido ocupada seja por nobres seja pelas próprias selecionadas e como uma das únicas a não ter se estabelecido em um grupinho específico e com a irmã perdida em algum canto com um nobre inglês a ruiva ficou incerta sobre onde deveria se acomodar, por um lado a vergonha de se intrometer em uma roda já estabelecida em outra o nervosismo que a ideia de comer entre a realeza traz. No fim não foi tão difícil fazer sua decisão e muito menos encontrar os cabelos platinados e curtos de Berg sentada numa mesa relativamente vazia:

—Com licença, será que este lugar está vago?

—Claro, claro por favor sente-se! Brenda não é? É um prazer vê-la de novo, como anda sua noite?- Berg sorriu brilhantemente lhe acenando com entusiasmo

—Olá Berg, sim sou Brenda prazer, minha noite anda muito boa e a sua?

A japonesa logo começou a falar mil por hora e Brenda ficou quase impressionada com a capacidade dela de comer durantes as curtas e mais contidas respostas de Brenda- Que nem um pouco pareceram desencorajar a selecionada mais velha e foi inevitável que a ruiva a comparasse a sua irmã- e não parecer uma selvagem o fazendo. A outra garota na mesa não disse uma palavra sequer e nem mesmo respondeu ao cumprimento de Brenda, somente a encarou de cima a baixo com desdém e se levantou sem dizer uma palavra assim que terminou a pouca comida em seu prato, as duas irlandesas a assistiram ir com expressões similares de surpresa e Berg foi quem se pronunciou:

—O nome dela é Arabella eu acho, uma atriz aqui do Reino Unido o que explica o nariz empinado, já estava sentada aqui quando eu cheguei e nem me respondeu também- A loirinha fez um bico com a última parte e completou num quase resmungo- Ela bem que podia ser mais amigável não acha? Não vai fazer amigas desse jeito!

—Eu não acho que ela quer fazer amigas Berg- A mais nova comentou voltando sua atenção ao seu próprio prato

—Mas por que não? Ela vai acabar solitária.

E Brenda abriu a boca procurando uma boa resposta, mas no fim somente encolheu os ombros e incentivou a japonesa a continuar falando sobre qualquer maluquice que lhe passasse pela mente, porque mesmo sendo bem mais jovem Brenda tem a impressão que ela é mais madura e cética ao mundo que Berg e tem algo de deprimente em pensar na outra perdendo essa infantilidade que mesmo sendo irritante é preferível ao ceticismo de alguém sem fé no mundo. Ela pode aguentar a energia nervosa da outra por mais algum tempo, Mirela lhe deu um grande estoque de paciência afinal de contas.

Em outra parte do salão uma outra selecionada passa por um dilema quase que similar ao de Brenda, Valentina escaneou o ambiente tentando decidir onde deveria se sentar para aproveitar o jantar, possibilidades é o que não lhe faltam com toda certeza porém política se trata de estratégias e a russa duvida que a afeição dos diplomatas sérvios por ela vá favorecer qualquer coisa com o príncipe britânico. Pode, imagina, simplesmente se juntar a alguma selecionada- Tivera conversas muito interessantes com Charlotte e Amaterasu e apesar de ser rival da última imagina que seria bem vinda para se juntar a elas, entretanto talvez existam possibilidades mais vantajosas a longo prazo. Suas considerações foram abruptamente encerradas quando os olhos verdes pousaram em uma das mesas mais próximas das famílias reais, decisão feita avançou com passos confiantes e sorriso charmoso não de todo mentiroso:

—Boa noite- Esperou até que tomassem nota de sua presença antes de continuar- Será que eu poderia me sentar com os senhores e a senhorita?

—Claro, por favor seja nossa convidada senhorita- Um dos rapazes presentes pronunciou-se inclinando a cabeça em reconhecimento

Nos instantes que levaram até a resposta dele Valentina analisou aquelas pessoas tomando nota de suas posturas e se recordando dos nomes- Uma tarefa fácil, enquanto procurava informações sobre o príncipe se deparou com inúmeras notícias e fotos daquelas pessoas. O jovem que lhe respondera é o mais velho do grupo, Harry herdeiro para o ducado de Lancaster e amigo íntimo do príncipe Edmund, ao lado direito dele encontra-se um rapaz de cabelos arruivados e sorriso amplo, David já em possessão do título de duque de Albany e amigo íntimo do príncipe Anthony, e ao esquerdo a única garota na mesa com cabelos tingidos num roxo profundo e expressão amigável quase avoada, Ellyna possível diplomata e amiga íntima do príncipe Edmund- E antiga namorada do príncipe Anthony a selecionada se lembrou com curiosidade:

—Muitíssimo obrigada sir- Tomou o lugar vago ao lado de David e se apresentou por cortesia- Sou Valentina Nikolayev é um grande prazer.

—O prazer é todo nosso- O ruivo ao seu lado replicou com um sorriso brilhante- Eu sou David, estes são Harry e Lyna, mas acho que isso você já sabe.

—Sim já é de meu conhecimento, mas acho que não tivemos o prazer de conversarmos pessoalmente até agora, ou será que estou enganada? – Tentou se lembrar, mas alguns rostos e nome sempre se perdem

—Acho que está correta, não me recordo da senhorita- Harry comentou e recebeu um aceno de concordância de David

—Depende de sua definição de conhecer eu acho- Ellyna comentou com um sorriso amigável- Já nos falamos uma ou duas vezes antes, mas faz alguns anos, uma reunião na Holanda se não estou enganada.

—É mesmo? Me lembro vagamente de algumas visitas a Holanda nos últimos anos, mas é difícil me lembrar de todos entende? – Deu um sorriso de cumplicidade observando o rosto da outra e tentando ver se algo lhe parece familiar

—Entendo completamente, são tantos nomes e tantos rostos diferentes que é impossível se recordar de todos eles- A inglesa afirmou lhe devolvendo o sorriso- Nada de mais, vamos ter muitas chances de nos conhecermos agora afinal de contas.

—Seria mais fácil alguém te reconhecer depois de tantos anos se não fosse isso- Harry comentou gesticulando na direção do cabelo da irmã antes de voltar sua atenção para Valentina- É seguro afirmar que a senhorita tem interesse na diplomacia então?

—Talvez você tenha razão- Ellyna deu de ombros- Mas fazem o quê? Três, quatro anos que eu tinjo os cabelos? Pois aí as pessoas não me reconheceriam sem eles.

—Sim eu considero a diplomacia um campo interessantíssimo e venho me envolvendo com ele desde minha adolescência- Valentina comentou com um sorriso de modéstia- E quanto a vocês, tem interesse por essa área?

—Mais ou menos- David deu de ombros com um gesto de descaso com a mão que atualmente segura um garfo- Quer dizer eu tenho que saber o básico e afins, mas não é exatamente minha praia, formalidades demais.

—Não gesticule enquanto segura um garfo, isso não são modos- Harry repreendeu o outro com um revirar dos olhos e se voltou a russa- Impressionante mostra uma imensa determinação de sua parte senhorita, uma que me falta para ser honesto, sei o que preciso saber apenas. E fazem quatro anos e meio Lyna.

—Tudo isso? Nossa achei que fosse menos- A outra garota comentou pensativa- Oh mas o que falta de interesse neles tem em mim acredite, estou com a senhorita em opinião, acho a diplomacia um campo fascinante e muitíssimo útil.

—Sim, com certeza traz suas vantagens não? - Valentina sorriu um pouco mais abertamente- Uma das principais é com certeza os contatos que se coleta com o tempo, se cria inúmeras chances para conhecer pessoas de todas as partes do mundo e experimentar trocas fascinantes.

Uma frase dita com um sorriso doce, uma expressão amigável e aberta ao diálogo, Valentina sabe exatamente como exaltar suas qualidades sem passar por arrogante ou atirada, essas pessoas tem relações íntimas com o príncipe e ela não tem ilusões que qualquer impressão que tiverem dela vai ser passada para Anthony e vai pesar no futuro, impressionar aqueles que rodeiam o príncipe é quase tão importante quanto impressionar o próprio e ela não vai desperdiçar sua chance:

—Ótimo ponto! - Ellyna exclamou acenando em concordância- As viagens são todas fascinantes e as pessoas o melhor de tudo, a chance de resolver problemas e impasses com o diálogo e sem necessidade de conflitos e tensão me parece bem mais apelativa do que uma vida em meio a relatórios de orçamento.

—Sou da crença que devemos fazer aquilo que necessitamos pelo bem daquilo que consideramos importantes não importa o custo pessoal, mas a diplomacia é uma das penalidades mais agradáveis com certeza- Riu levemente se inclinando um pouco para frente para amenizar a crítica leve

—Um pensamento digno de uma nobre senhorita- O loiro comentou com um leve sorriso- Aceitar aquilo que vem com um título é a parte mais importante de tê-lo.

—Não sei não, é importante claro, mas não é deprimente também? Sacrificar tudo simplesmente por um título? Acho extremo demais, vamos aproveitar a vida! Estamos aqui para viver e deve haver maneiras de conciliar as duas coisas sem sacrificar nada- David comentou – Concordo com você Lyna.

—Alguns de nós não podem se dar ao luxo de pensar assim David, e você deveria ser um deles- Harry o cutucou discretamente- É muito bom saber que uma moça tão dedicada como Valentina está na Seleção de Anthony, devemos ficar felizes por ele.

—Oh obrigada sir- Valentina sorriu encabulada, sentindo-se verdadeiramente feliz pelo elogio- Mas tenho certeza que as outras selecionadas tem ótimas qualidades também, tudo que possa fazer é dar o meu melhor.

—Mas ele está certo, simpática, bonita e inteligente, rapaz o Tony tirou a sorte grande com essas selecionadas dele hein? - David riu e piscou na sua direção- Não acha não Lyna?

—Eu? Ah tenho certeza que Tony vai adorá-la Valentina, uma moça como você é raro de se encontrar nos dias de hoje- O sorriso amigável da inglesa foi automaticamente retribuído por Valentina e ela continuou- Nem todos sabem o que falar para se enturmar com facilidade.

A última frase, inocente como pode ter soado, fez Valentina congelar por uma fração de segundos porque apesar das palavras não terem soado estranhas ou fora de contexto para ouvidos destreinados a russa sabe exatamente o que a inglesa quis dizer. Considerou a jovem de cabelos coloridos mais atentamente, o sorriso amigável dava-lhe um ar extrovertido de uma garota avoada e, para os padrões da estrangeira, ingênua, mas uma vez que Valentina passou dessa primeira impressão reparou no brilho malicioso nos olhos claros e não pode evitar de sorrir um pouco mais amplamente na direção da inglesa sua expressão imutável.

Harry e David trocaram olhares ao ver a troca entre as duas garotas e o mais velho teve que reprimir uma risada. Aquelas duas são tão parecidas que ele teme pelo futuro, ou ambas vão se odiar ou vão se tornar melhores amigas e o rapaz não tem ideia de qual opção é mais assustadora.

Uma vez que a maioria dos convidados terminou o jantar foi notável que aos poucos os mais velhos começaram a se retirar, foi algo tão gradual que se Darya não estivesse acostumada ao funcionamento da nobreza não teria percebido até só restarem as gerações mais jovens, mas voilá ela é e isso trouxe um sorriso aos seus lábios porque só pode significar uma coisa- A balada deve começar em breve. Bem não é como se ela odiasse música clássica e danças lentas é só que... Elas são entediantes, parecem se arrastar por toda a eternidade e Darya não suporta a lentidão, ela gosta de energia, de movimento. Mas fora isso a russa está aproveitando bem o baile- E a comida, que comida! Darya mal pode esperar para que tragam mais daquele bolo de chocolate delicioso- e principalmente as pessoas.

Conversara com basicamente todas as meninas- E talvez, só talvez ela tenha jogado uma cantada em Amy- e ficara satisfeita com a maioria delas, especialmente com Amy e com Mikaela com quem estava conversando até agora, mas se separara em busca de mais bolo e agora não consegue encontra-las entre o mar de corpos. Mas isso não é uma tragédia, se consolou dando tapinhas mentais nas costas, isso abre espaço para que vá conversar com os nobres ingleses, sabe os amigos dos gêmeos, especialmente a garota dos cabelos coloridos.

Darya não demorou a encontrá-la, e não tem dúvidas que seus cabelos esverdeados chamam mais atenção que os roxos da outra, e começou a se aproximar com toda a graça que conseguiu reunir- O que honestamente não foi lá muita coisa, saltos altos + tendência ao cair de cara + seu entusiasmo não gera lá um resultado muito gracioso, mas ela não caiu então está contando como uma vitória de qualquer jeito. E a russa definitivamente não ficou encarando a outra por mais tempo porque deveria, não, claro que não, porque ela foi conversar com a nobre inglesa porque ela parece simpática e definitivamente não porque ela tem olhos- E pernas- bonitos:

—Olá, tudo bem com a senhorita? - A inglesa se pronunciou quando a outra não quebrou o silêncio, a diversão em sua voz praticamente palpável.

—Hmm? Ah é claro, oi! Muito prazer em conhece-la, eu sou Darya Konstantinov- Estendeu a mão para um cumprimento e sorriu brilhantemente

—Prazer em conhece-la senhorita Darya, eu sou Ellyna Savernake.

—Pode me chamar só de Darya- Piscou para a outra ainda sorrindo- É daqui da Inglaterra mesmo?

— Tudo bem Darya, pode me chamar de Ellyna se quiser, ou Lyna a maioria faz isso- Ou ela não percebeu a piscada ou totalmente a ignorou- Nasci na França, mas vivo aqui a mais de dez anos então pode-se dizer que sim, e você é russa certo?

—Uhum, mas faz um tempinho que eu não passo mais de alguns meses lá, antes dessa história de Seleção eu estava vivendo na Escócia- Não conseguiu e nem tentou esconder a fungada de desprezo ao falar da Seleção.

—A Escócia é um ótimo local para se viver, David vai ficar feliz em saber que tem mais alguém vive lá pelo menos temporariamente, vou ter que apresentar vocês dois depois. Mas espero que esteja preparada para ainda mais chuva.

—Desde que eu não tenha que acordar antes das oito da manhã em dias de chuva eu acho que sobrevivo e, claro, eu não tiver que andar na chuva porque aí a coisa complica.

—Ah pois pode se preparar porque nós temos uma rotina bem rígida aqui hein? Ou acorda antes das sete horas ou perde o café da manhã. E olha se acha que andar na chuva é ruim espera até ter que fazer isso usando saltos- A inglesa comentou com uma expressão solene

—Ai o que eu estou fazendo aqui- Darya arregalou os olhos e amaldiçoou seu pai pela milésima vez- Mas não tem tipo alguém que eu possa bajular para ganhar umas mordomias? Eu sei fazer uma ótima carinha de cachorro pidão.

E ela fez uma demonstração o que efetivamente quebrou a expressão séria que Ellyna tentava manter e a enviou em um ataque de risos- Do tipo delicadinho, onde a pessoa usa a mão para esconder a boca e ri principalmente pelo nariz, não do tipo que faz tudo mundo te olhar como se você estivesse morrendo como acontece sempre que Darya ri-, quando conseguiu se controlar a inglesa lhe lançou um olhar divertido:

—Calma, eu só estou brincando, se nada mudar você pode acordar as oito horas na maioria dos dias Darya.

—Ah graças- A russa deixou um suspiro aliviado lhe escapar- E sobre andar na chuva de saltos também né?

—Então... Mais ou menos, aqui chove muito e o sapato “oficial” da Seleção é meio que o salto então é provável que você vai ter que andar de salto na chuva. Foi mal- Mas a última parte não pareceu muito sincera com o sorriso que a outra ostenta

E Darya se consolou com o fato de que ela deve ir embora logo e por isso não vai ter que aturar aquela tortura por muito tempo, não é lá o mais eficaz dos pensamentos porque ela vai ter que aturar toda a Seleção em solo inglês antes de ser mandada para casa, mas funcionou melhor do que ela pensou que iria, talvez porque ela está falando com Ellyna. E falar com garotas bonitas que sabem rir sempre fez maravilhas para o humor de Darya.

Aideen mordeu o lábio inferior encarando o resto do salão indecisa sobre o que deve fazer em tal situação, mas ao mesmo tempo maravilhada com tantas coisas novas e diferentes- Conversou talvez com mais pessoas naquelas duas horas do que em mais de um mês em sua casa-, terminara a pouco de comer com suas amigas porém logo foram separadas, Alasca está conversando com o príncipe russo e a ruiva espera que a amiga tenha uma imensa sorte, a outra é uma boa pessoa de sorriso fácil e otimismo marcante merece uma conversa digna, enquanto Bianca fora convidada a dançar por algum nobre de forte sotaque que soou estranho para Aideen e que ela não pode reconhecer, sozinha pela primeira vez desde a chegada na Inglaterra não pode evitar um sentimento total de incerteza e apreensão. Sabe que deveria tomar iniciativa e mostrar uma boa imagem, mas seus pés estão travados no chão e a boca seca só de pensar em falar com aquelas pessoas e fazer papel de boba, odeia passar por covarde e insegura, mas o medo é maior que o ódio no fim das contas.

Estava quase se movendo para o fundo do salão para escapar dos olhares lançados em sua direção quando sentiu alguém lhe cutucar o ombro, virou-se com o máximo de calma que conseguiu com o lábio inferior ainda firmemente preso entre os dentes e sua postura só relaxou um pouco quando deparou-se o rosto sorridente de uma das outras selecionadas, uma jovem loira talvez pouco mais velha:

—Olá! Você parece um pouco perdida e eu não tenho a mínima ideia do que fazer comigo mesma aqui, se importa se eu ficar aqui com você? - A loira alargou o sorriso e completou depois de alguns instantes- Ah, eu sou Mikaela aliás, sou da Noruécia então se meu inglês for ruim me perdoe.

—Boa noite- A ruiva inclinou a cabeça e arriscou um sorriso para a loira- Sou Aideen, da Irlanda do Norte, é um prazer. E claro fique à vontade por favor.

—Awn obrigada! Esses bailes não são minha zona de conforto e a única pessoa que eu conversei de verdade até agora está ocupada com um grupo de estrangeiros- Mikaela deu um suspiro leve ao observar o salão, mas logo retornou o sorriso na direção da outra

—Não tem de que realmente. Sei muito bem como se sente, essa é uma experiência totalmente nova e minhas amigas também estão ocupadas- Arriscou um sorriso tímido para Mikaela.

—Bom então vamos nos ajudar mutuamente certo? Você é a primeira selecionada do Reino Unido que eu converso acredita? Nossa tem tanta gente diferente por aqui que nem sei como falar com a maioria.

—E você é a primeira selecionada estrangeira com quem eu converso- A ruiva comentou mordendo o lábio inferior- Todas as meninas parecem estar ocupadas não quero incomodar nenhuma delas ou me intrometer.

—Não estaria incomodando acredite, não acho que a maioria de nós está familiarizada com essa situação e é bom conhecer as pessoas com quem vamos conviver por um certo tempo.

—É, talvez esteja certa...- Aideen tentou pensar em algo para falar, mas se viu perdida em relação ao que fazer

—Claro que estou- A norueguesa afirmou num tom falsamente arrogante- Bem por onde podemos começar? Seu nome é Aideen e você é da Irlanda do Norte isso eu sei, então vamos completar o básico, me parece bem nova quantos anos tem?

—Parece uma boa ideia. Eu tenho 17 anos.

—17 anos? Nossa isso põe minha altura em uma perspectiva bem deprimente- Mikaela fez um bico, mas ainda havia aquele brilho de diversão em seus olhos- Estuda ou trabalha Aideen?

—Quantos anos você tem? - A norte irlandesa perguntou mordendo o interior da bochecha subitamente auto consciente de sua altura- Eu trabalho em um pub e você?

—Fiz 20 anos mês passado, sou nadadora profissional atualmente sofrendo pra chegar as nacionais- A loira sorriu de novo mas inclinou a cabeça em confusão- Pub? O que é isso?

—É um tipo de bar típico daqui, acho que vocês não tem essa palavra na Noruécia- Aideen explicou e completou curiosa- Nadadora? Não é cansativo ficar na água o tempo todo?

—Não, pelo menos de onde eu venho não é uma palavra familiar- A loira ficou pensativa por alguns instantes, mas por fim balançou a cabeça- Não, até que não, quer dizer de vez em quando é bem frustrante e toma muito do meu tempo, mas eu gosto. Já pensei em fazer faculdade, talvez biologia marinha, mas por enquanto é apenas uma ideia. Tem planos para o futuro?

—Não sei- Foi completamente honesta e uma expressão pensativa tomou conta de seu rosto- O mundo parece ser bem diferente do que eu pensei, acho que preciso descobrir mais antes de decidir alguma coisa.

—É uma boa mentalidade Aideen, você ainda é jovem tem todo o tempo do mundo para escolher. E eu pareço uma velha falando assim melhor parar. Mas e seus planos para o futuro próximo? Tipo para a Seleção?

—Bom o príncipe Edmund ainda não me procurou- Aideen encolheu os ombros encabulada- Acho que só posso esperar que ele me dê uma chance mais para frente e ver o que acontece a partir daí. E você, já conversou com o príncipe? Também está na Seleção do príncipe Edmund certo?

E esse fato só reforça a ideia de Aideen de que o príncipe não vai querer nada com ela não importa o quão gentil ele tenha sido naquele breve cumprimento, ela é só uma garota de 17 anos magrela e sardenta demais que está apenas agora descobrindo o que é o mundo fora da bolha criada por sua avós, não é interessante ou atraente. Por que ele iria olhar duas vezes para ela quando tem garotas como Mikaela na Seleção? A norueguesa é bonita de corpo e rosto, tem olhos verdes claros marcantes e um sorriso contagiante, confiante e amigável de forme envolvente, o tipo de pessoa que Aideen acredita que todo mundo gosta:

—Sim, sim também estou na Seleção dele. Então somos duas, também não falei com o príncipe ainda e acho que vamos ter que esperar um pouco, ele parece bem envolvido com a selecionada da Irlanda, ela deve ser bem legal imagino. Mas é, o jeito é esperar certo? Uma hora ele chega.

—Não sei, acho que ele não deve ter me achado tão interessante assim e não o culpo provavelmente nem vai querer passar muito tempo comigo- A norte irlandesa admitiu num quase sussurro- Mas logo ele deve procura-la, tenho certeza que ele vai adorá-la, quem sabe não a convide para um encontro?

—O quê? - Pela primeira vez Mikaela não sorriu, somente arqueou as sobrancelhas parecendo incrédula- Ah não, não, não senhorita pode parar com esse tipo de pensamento! Onde é que já se viu... Por que ele não iria querer te conhecer? Aideen você é um total amorzinho, inteligente, tímida mas isso é só um detalhe, além de ter sido a primeira a entrar fez isso super bem, posso afirmar que metade das garotas não fariam o que você fez eu incluída, e menina você nunca se olhou no espelho não? Aideen você é linda! O príncipe teria que ser muito cego para não querer te conhecer.

A ruiva só pode encarar Mikaela sem saber como responde-la, Alasca e Bianca haviam sido incrivelmente gentis, lhe elogiaram e lhe deram a confiança que precisava para navegar pelo baile com a cabeça erguida e não se deixar intimidar- E Aideen sente-se levemente irritada consigo mesma por isso, por depender tanto de outros-, mas ela nunca esperou que outras selecionadas compartilhassem de mesma natureza, muito menos uma que é teoricamente sua rival. Mas a expressão da loira não tem nenhum traço de mentira e o sorriso é encorajador e gentil, a mente de Aideen gira porque elogios em seu mundo não são dados tão livremente por desconhecidos ou mesmo por familiares. Por fim conseguiu responder:

—Eu... Muito obrigada Mikaela, muito mesmo- Arriscou um sorriso aberto para ela mas não conseguiu encará-la

—Não tem de quer Aideen, nada além da verdade- Mikaela lhe deu um gentil aperto no braço antes de prosseguir em tom enérgico- Mas vamos lá, você me disse que fez duas amigas certo? Me conte sobre elas.

E Aideen começou a falar, relaxando os ombros ao ver a expressão de Mikaela permanecer interessada e as respostas dela instigarem mais conversa, isso é bom, diferente num jeito confortável. Aideen está realmente começando a acreditar que se inscrever para a Seleção foi a melhor escolha de sua vida.