Drowning

Capitulo 4


—Vamos homens, o porto está próximo! – Gritou o homem entusiasmado. Usando uma corda ele voava por toda embarcação. O vento soprava em seus cabelos castanhos. Seu sorriso ia de orelha a orelha enquanto ele observava o pequeno ponto no horizonte se aproximar cada vez mais. – Venha, velho! Venha ver aqui de cima! – O homem parou em cima do mastro, olhando lá de cima o capitão parecia apenas um pequeno pontinho

O capitão tirou seu lustroso chapéu da cabeça e passou os dedos entre os fios cinzas. O timoneiro, sorriu para seu capitão falando:

- É sempre assim que vamos aportar

- Ele ainda é jovem – Observou o capitão

- Não é tão jovem quanto o dia que o senhor o trouxe para esse navio – Observou o timoneiro – Ele já tem de fazer a barba e olhe como está diferente!

O capitão riu dizendo: - Até parece uma velha falando, Simon

- Ah, sim. Velho é o que eu estou ficando – Confessou Simon – Olhe só para o garoto! A única coisa que ele ainda manteve foi esse jeito animado de querer ir para terra firme.

Olá, estimados leitores. Eu preciso localiza-los antes de continuar a história, certo? Passaram-se alguns anos após o nosso encontro. Sete, no total. Jim Hawkins se tornou um homem muito diferente daquele garoto que você conhecia a um capitulo atrás. O capitão lhe fez bem. O garoto aprendeu a sorrir – algo que ele faz com muita frequência – e a olhar o mundo com outros olhos. Quando ele completou a maioridade o capitão o fez seu imediato, com muito mérito. O ex pirata se tornou famoso na marinha britânica. Ben, o capitão, fez Jim se tornar o melhor estrategista da marinha.

- Está enferrujado demais, velho? – Jim solta a corda que usou para descer do mastro e fica ao lado do capitão.

O capitão ri de um jeito descontraído. Ele passa mais uma vez seus magros dedos entre seus finos fios prateados.

- Capitão, O que é aquilo? – Perguntou o timoneiro – Parece uma ilha

- Uma ilha? – Repetiu Jim entusiasmado. Ele correu até a beirada do navio sem esperar a resposta de Simon – Onde?

- Ali! – Simon girou o timão para a esquerda tão rápido que o navio deu uma engasgada e SPLASH! Jim caiu no mar.

O capitão caminhou até a beirada e observou o garoto encharcado dizendo:

- Pare de brincar na água, garoto e volte para o navio!

Jim, já de volta a superfície, tirou o chapéu, torceu seu rabo de cavalo e gotas grossas de água molharam as tabuas secas e com pequenos grãos de sal. Seu rosto expressava nitidamente seu humor, a cara fechada e a expressão de cavalo. Seu olhar encontrou o de Simon e o resto da tripulação que riam baixinho. A cara fechada logo se transformou em um sorriso maroto quando ele se aproximou devagar, como um gato, de Simon

- Simon, meu amigo! Dê-me um abraço! – Jim abriu os braços. Antes que Simon pudesse ter fugido, Jim o segurava forte envolto com os dois braços molhados girando-o no ar.

Sim, caro leitor, Jim conseguia erguer Simon, por mais grossos que fossem os braços de Simon (mais que os de Jim), ele era erguido por um garoto com metade de sua idade e metade de seu peso (com muito esforço, mas era erguido).

Jim o soltou sentindo todos seus músculos se tencionarem e se arrependeu silenciosamente de ter feito aquilo. Mas valeu a pena. Os tripulantes do navio soltaram uma gargalhada maior até Simon olhar feio para todos e eles engolirem o riso. Aquilo serviu como um aviso silencioso “Voltem ao trabalho ou vão todos nadando até o porto”. Jim podia ser o imediato, mas quem dava as ordens naquele navio eram Ben e Simon.

Simon, caros leitores, antes de Jim era o imediato de Ben, porém ele acha que está ficando velho e decidiu ceder o cargo a Ben. Quando o capitão havia falado da possibilidade de tornar Jim seu imediato, Simon abriu mão do cargo na mesma hora. “Apenas mais alguns anos, Ben” Simon se levantava da cama de Ben “Então vamos para Terra”. Ben sorri, levanta, vai até Simon e morde de leve sua orelha. “Você pensa demais” sussurra Ben, sua mão sobe devagar pelo peito de Simon...

Ah.... Caros leitores, não quero engana-los. Tudo o que acontecia dentro da cabine do capitão ficava na cabine do capitão. Então guarde segredo, pelo menos até eles se aposentarem.

Todos olharam espantados, como sempre, para o barco da marinha real que aportava. Alguns criminosos correram e se esconderam. Homens desciam do navio com barris vazios prontos para serem enchidos. Jim foi o primeiro a pisar no píer, correndo como uma criança.

- Não gaste todo seu dinheiro, moleque! – Gritou Ben.

- Por que não? Eu posso conseguir mais! – Riu Jim dando um rápido aceno com a cabeça para o capitão.

O porto se abria em uma cidade grande, pessoas penduravam roupas em suas varandas, espanadores espalhavam poeira, mercadores gritavam, peixes fediam em barris cheios com sal, meretrizes abanavam-se em frente de bordeis e Jim Hawkins brincava com crianças. Elas corriam rápido até chegarem a fonte que ficava no centro da cidade e colocarem seus barquinhos de papel, que o próprio Jim havia ensinado elas a montar, na fonte.

Os barquinhos boiavam na água turbulenta da fonte enquanto as crianças brincavam de batalha naval (se dividiam entre piratas e marinheiros), Jim aproveitou e se afastou delas sem que notassem que havia ido embora.

Ele caminhava calmamente pela orla de Vit com um buque de flores que havia comprado em uma mão e uma raspadinha de amoras na outra. Ele não havia gastado todo seu dinheiro, como o capitão ordenara, mas papel para todas aquelas crianças não saiu barato.

Jim chegou em frente a um píer que estava sendo usado por um navio comerciante. Ele se agacha e coloca as flores e a raspadinha em cima da tora de madeira que era usada como pilastra para o píer. Ele se senta ao lado das flores e observa o mar a sua frente. Gaivotas grasnavam ao se aproximarem de Vit, tão entusiasmadas quanto Jim ao acharem terra firme. A raspadinha derretia no calor da cidade, era a favorita de Sarah.

Vidro estilhaçado foi lançado para fora assim como um homem gordo e com um belo corte no quadril. Jim virou-se assustado com o alvoroço.

- Eu não me importo se você é o maldito rei da Inglaterra – Disse outro homem saindo da taberna com uma navalha manchada de sangue na mão – Você não tem direito de falar assim comigo!

Era Jack. Para o caro leitor, terei o prazer de lembra-los dessa personalidade ilustre, um antigo amigo de Jim. Este homem, um pirata havia matado Sarah quando disparou em Jim e a mulher havia se jogado na frente do garoto para salva-lo. O pirata nunca ficou rico após perder sua grande chance com a sereia que havia fugido, nem teve a chance de vingar-se. Mas o universo é um grande emaranhado de linhas e nunca se sabe quando seu destino irá se cruzar com pessoas que já marcou bastante sua vida.

O olhar de Jack se cruzou com o garoto que estava sentado no píer e seu sorriso, assim, como o de Jim, desapareceu.

- Seu rosto, moleque – Comentou o pirata esquecendo-se do homem que havia esfaqueado. Ele avançou dois passos aos trôpegos, estava claro, pelo seu hálito, que o álcool havia alterado sua mente – É-me muito familiar.... Apresenta-te! – Ordenou

Jim não se mexeu. Como poderia? O homem que havia matado Sarah na sua frente. E novamente ele estava segurando uma arma para tirar a vida de alguém. Qual eram as chances? Por que logo este pirata? De todas as vezes que viera ao porto aquela era a única vez que voltara a vê-lo. Ele nunca entendeu por que Ben não havia prendido o homem ou matado ele.

- O que foi garoto? – Perguntou o homem – Quem é você? – Jack ergueu sua navalha. Jim já puxava sua espada para fora bainha. Ele tinha o direito de vingar-se e ele o faria. Por Sarah. Um brilho esmeralda veio do peito do homem. Amarrado por um cordão velho havia uma pequena escama esmeralda que brilhava como uma joia contra a luz.

- Ah, meu rosto é muito comum – Respondeu Jim com um sorriso, o mais natural que ele conseguiu forçar – É sim, uma pena.

- Eu te conheço! – Exclamou Jack

- Eu nunca esqueço um rosto, homem – O rosto do garoto escureceu e sua voz soou como uma ameaça. Jim se levantou e caminhou dando as costas para o pirata – Se eu tivesse visto o senhor, é claro que eu me lembraria. Está a me confundir com outro homem, mi señor.

Foi tempo bastante para que o homem que brigava fugisse. Jack o procurou, mas não viu nada além das flores em cima do deque. Ele cuspiu em cima das flores furioso por ter perdido o homem com quem brigava, mas estava bêbado demais para ir atrás dele ou do garoto que o distraiu então voltou para dentro do bar.

Jim caminhou até virar uma esquina. Ele se jogou contra a parede e respirou fundo. Cerrou a mão tão fundo sentindo suas unhas atravessarem a pele. Seu peito subia e descia rápido enquanto ele tentava manter a calma. Lagrimas de frustação escorriam por sua bochecha

- Merda! – Exclamou – Merda! Merda! Merda!

“Ele deve ter vendido as outras escamas” pensou Jim “Jogado o corpo dela no mar como uma puta qualquer! ”. A culpa de tudo ter terminado daquela forma é dele. Se ele tivesse sido rápido o suficiente, ágil o bastante, talvez o peito de Sarah ainda estivesse quente.

- Merda! – Jim cerrou os dentes, limpou o rosto tentando se recompor. Ele havia tirado Sarah dele. Ela era sua única razão para aportar em Vit, mesmo após sua morte.

Jack também havia perdido tudo, foi o que Jim havia pensado. Mas após ver aquele medalhão em seu pescoço, o garoto percebeu que não havia tirado realmente tudo do homem. Ele não poderia fazer a prisão de Jack no porto e Ben se recusaria persegui-lo. A justiça precisava ser feita, se não por um capitão, que seja pelas mãos de um ex-pirata.