Drowning

Capitulo 2


- Não! – Gritou. Ela exclamava palavras em outra língua que ninguém entendia. Não precisava entender seu dialeto para saber que ela queria a liberdade.

- Fica quietinha ai! – Exclamou o capitão puxando as correntes que se encontravam fundidas a uma coleira de ferro prendendo o pescoço da sereia.

Um grupo de pessoas cada vez maior se reuniam em volta do capitão e da sereia. Todos queriam vê-la. Era a primeira vez que muitos viam uma habitante dos mares em carne e osso.

As sereias, caros leitores, ou habitantes dos mares são seres que moram na parte mais profunda e remota dos oceanos. Às vezes, quando eles subiam para caçar e derrubar embarcações. Alguns marinheiros, aqueles que sobreviviam, contavam histórias terríveis sobre eles até o fato de comerem carne humana. A verdade é que os seres marítimos odeiam os homens por estarem tomando os territórios deles. Era muito raro se ter contato com estes seres (quando não estão em batalha) e capturar um vivo era muito mais. A carne, assim como o veneno e as escamas de um ser de Atlantis eram caros o bastante para garantir uma boa vida por dez anos. Mas um vivo poderia pagar por uma vida inteira de luxurias e requintes.

E aquela pequena habitante de Atlantis, que estava acorrentada e sendo puxada para fora de seu aquário de vidro sabia muito bem de seu destino. Ela não falava a língua dos homens. Foi criada e treinada para odiá-los e matar qualquer um que entrasse nas águas negras. Durante a batalha que teve com os homens, ela e suas irmãs foram capazes de derrubar um navio, mas o outro conseguiu fugir do redemoinho não antes de levar consigo uma pequena joia. “Um navio por uma de vocês” vozeirou o capitão.

- Não! – Voltou a gritar. Quanto mais o homem a puxava para fora, mais forte ela puxava para o fundo de seu pequeno aquário.

- Vamos lá, amorzinho! – Disse ele rindo. Quanto mais ela se contorcia naquela caixa minúscula, mais seu sorriso de alargava – Você está tão pálida, venha um pouco para o sol! – Os homens a sua volta riram.

Ela cuspiu e água fervente atingiu o homem em sua bochecha direita. Ele gritou e soltou as correntes, segurando seu rosto ele olhou para ela com ódio.

- Tragam a máscara – Disse ele.

Homens saíram do convés do navio carregando uma máscara de ferro. Outros dois tripulantes mergulharam o braço no aquário (que não era muito largo e fundo, sua calda ficava do lado de fora) e a puxaram pela axila. A sereia tentou morde-los e fura-los com os espinhos em sua calda, mas em vão. O capitão lhe deu um tapa em sua face e ela ficou paralisada de dor. Foi a deixa para os homens conseguirem colocar a máscara de ferro para que não cuspisse mais água escaldante. Ela continuava a gritar, mas sua voz era abafada pela máscara.

Os tripulantes que a seguravam pelos ombros a prenderam pelos pulsos com algemas também de ferro. Ferro, estimado leitores, que tinha um poder de domínio muito grande sob as criaturas magicas.

O capitão voltou a puxar as correntes e desta vez ela voou para fora do aquário para o deque. Ela gritou, mais desesperada dessa vez, como se algo tivesse sido arrancado dela. A sereia puxava as correntes querendo voltar para o aquário, para sua amada água. Leitores, uma sereia odeia a terra e a superfície, eles podem respirar de baixo d’água ou acima dela, mas sair da água seria como sair dos braços de sua mãe, onde estariam totalmente vulneráveis.

- Agora se acalme docinho – Disse o capitão sibilando com a cabeça para seus homens que jogavam canecas de água de vez em quando na calda dela para que ela não secasse e perdesse sua bela calda verde esmeralda por pernas humanas. Ele subiu em um palanque improvisado enquanto a multidão a sua volta se aglomerava e gritou – Senhoras e senhores! Fiz uma viagem, que muito me custou, até o mar negro para capturar isso! – Ele puxou as correntes para cima e o pescoço da sereia o seguiu – Observem! Uma habitante de Atlantis!

Espinhos voaram no ar. Água salgada caiu no chão e um homem gemeu de dor por um instante até estar deitado e inerte. O capitão olhou para um de seus tripulantes morto e um ódio tomou conta de seu corpo. Ele desceu do palanque e ergueu sua mão mais uma vez.

Foi um disparo rápido. Acertou a corrente que prendia em seu pescoço em cheio e ela estava livre dele. O capitão recuou e ela teve de agir rápido acertando um de seus espinhos na perna do homem e se arrastar de volta para água com estrema dificuldade já que suas mãos estavam presas em algemas de ferro e sua calda já se transformava em pernas. O capitão havia gritado e caído no chão, possuído pela fúria ele puxou uma adaga do cinto e avançou para a sereia.

Rápido e ágil. Foi por isso que Max o contratara. Ele disparou outra vez, mirando na adaga do homem e acertou. A adaga quebrada acertou o chão. Jim mirou dessa vez na outra perna do homem, puxou o gatilho, mas nada. Havia acabado a munição e ele não tinha tempo de recarregar. O garoto xingou baixo e, se vendo sem opções, correu até a sereia. Com uma faca na mão ele se prostrou entre ela e o homem.

- Garoto insolente! – Exclamou o homem puxando sua pistola de seu cinto – Vou ensinar-lhe uma lição!

Jim ficou paralisado. Se ele saísse da frente a bala acertaria a sereia que tentava miseravelmente entrar na água e conseguiria. Apenas alguns segundos a mais. O homem abaixou a trava. Que atirasse. Um pirata, um pássaro que caiu do ninho e órfão. Crimes foram cometidos. Jim não se orgulhava de roubar e ter ajudado a matar as pessoas que roubou. Um fim assim seria bem mais digno, não? Salvando alguém parecia agrada-lo muito.

- Essa mercadoria é minha! – Aclamou o capitão

- Jim! – Sarah conseguiu se desvencilhar da multidão e correr até o garoto.

Jim sentiu um forte dor no peito. O desespero correndo por suas veias fez ele soltar a adaga e se virar para Sarah. Ela estava muito perto. Isso era ruim. Ele tinha de agir. Rápido e ágil. Foi por isso que Max te contratou. Pense Jim, pense. Se Sarah continuar nesse caminho ela pode acabar...

O som de algo caindo na água foi abafado pelo barulho do tiro. Não houve tempo para gritos. Assim que seu corpo atingiu o chão ele já estava frio e sem vida. Após ser empurrado para o outro lado do deque, Jim precisou de um segundo para perceber o que havia acontecido. Ele não podia acreditar em seus olhos. O vermelho que pintava tão rapidamente a madeira era de Sarah.