Eu estava dirigindo atenta por algumas ruas pouco movimentadas em direção à estrada principal naquela manhã de sábado. Camila estava sentada ao meu lado, olhando pela janela com uma expressão vazia. No banco de trás, Luciana, Mari e Monique conversavam animadas.

- E então, Ny-chan? Ainda falta muito pra chegar? – Mari se inclinou pra falar comigo. Encarei–a pelo retrovisor de sobrancelhas erguidas.

– Foi você que veio com Yutaka... Não sabe como chegar lá?

A ruiva coçou a cabeça e sua expressão era como a de quem pede desculpas. Exatamente a mesma que Yutaka sempre fazia.

– Ah, gomen, Ny-chan... Eu não consegui guardar o caminho quando vim com o Yuk-chan...

Tentei pensar com calma. Estávamos indo para a locação em que o the GazettE faria uma apresentação especial ao ar livre de final de ano. Os meninos já estavam lá desde muito cedo. E nós não sabíamos como chegar.

– Espera, Ny-chan – Monique disse sorridente, pegando o celular na bolsa – vamos ligar pros meninos e eles nos explicam como chegar.

Desacelerei o carro, guiando–o para o acostamento e parando. A loira aguardava o telefone ser atendido e colocou–o no viva–voz.

– Moshi, moshi...

– Yuu-chan? – ela disse contente.

– Oi, amor – ele disse carinhosamente.

– Yuu... A gente não sabe como chegar aí... Você sabe explicar o caminho?

– Claro! Vocês têm que seguir reto na estrada até encontrar um posto de gasolina do lado de um restaurante de telhado vermelho. Peguem a primeira entrada a direita e sigam até o segundo retorno, vocês vão entrar logo à esquerda e ir até uma delegacia... Tem uma rua paralela...

– Ah, Yuu-chan? – Monique interrompeu o namorado antes de continuar.

– O que foi, Nick?

– Não tem um caminho mais fácil?

– Hum... Espera um pouco... Eu vou perguntar pro Akira – ficamos um tempo em silêncio.

Camila desviou os olhos da janela pela primeira vez e me encarou intrigada.

– Nós paramos? – ela perguntou e eu estranhei.

– Já faz algum tempo...

Ela riu e deu um tapa na própria testa.

– Brisei... O que eu perdi?

– Não sabemos como chegar ao show – expliquei sacudindo a cabeça.

– Ah... E o que estamos esperando?

– Moshi, moshi – escutamos a voz grave de Akira.

– Aki? – Ana falou.

– Fala, Ana! Estão perdidas? – ele deu uma risada.

– É, mais ou menos... Nós não conseguimos entender direito a explicação do Yuu pra chegar...

Akira deu risada.

– Certo, certo... Bom, vocês ainda estão na estrada? Acho que seria melhor ir pela cidade... Façam o retorno e virem à esquerda, vão encontrar uma cidadezinha. É só seguirem pela rua principal...

– O que está acontecendo? – ouvimos a voz de Takanori ao fundo.

– As meninas não sabem como chegar aqui... – Yuu explicou. – Akira está dizendo para virem pela cidade.

– Não, não! – Takanori disse desesperado. – Pela cidade, Akira? Elas podem virar pro lugar errado e pararem do outro lado do país! Aquele lugar é um labirinto e quase não tem placas!

– Ah, e o que é que você sugere, então? – Akira disse descontente.

– É mais fácil seguir em direção ao litoral, como se fosse pra praia, depois virar a primeira direita, depois à direita de novo e à terceira esquerda.

– E chegar a lugar nenhum! – Akira disse bravo. – Seu senso de direção sempre foi péssimo, Takanori, quem garante que esse caminho chega até aqui?

– Eu olhei no mapa!

– Claro, claro, o mapa... Dá outra era, né? Duvido que existam estradas nesse caminho!

– Meninos – chamei sua atenção. – Não estão nos ajudando brigando... Ainda estamos perdidas aqui, se lembram?

– Gomen, Ny-chan... – os dois disseram juntos.

– Não foi o Yutaka que levou vocês até aí? Onde ele está? – perguntei com uma pontinha de esperança.

– Na verdade, Ny-chan... – Yuu começou. – Eu não vejo Yutaka há algum tempo...

– Yuu tem razão... Desde que chegamos que eu não o vi mais... – Akira concordou pensativo.

– Era só o que faltava – Mari choramingou.

– Calma... E o Kou, meninos, onde ele está? – eu perguntei novamente.

Os três ficaram em silêncio, como se procurassem pelo loiro guitarrista.

– Também não o vejo em lugar nenhum – Takanori respondeu depois de um longo silêncio.

Joguei a cabeça pra trás, cobrindo o rosto com as mãos e inspirei profundamente.

– Tudo bem, meninos. Nós vamos tentar encontrar o caminho, qualquer coisa, ligamos de volta – Monique desligou o celular e eu senti todos os olhares amedrontados em mim.

– Tem certeza disso, Sereny? – Ana perguntou.

– Certeza e não tenho, mas eu não entendi nenhum dos caminhos que aqueles três indicaram e não vamos chegar a lugar nenhum paradas aqui!

Eu estava pronta para religar o carro, quando alguém que eu não vi se aproximar bateu na minha janela, assustando todas nós.

– Kouyou! – eu não sabia se estava brava, assustada ou feliz quando gritei o nome dele, abrindo a janela.

– Perdidas, senhoritas? – ele deu aquele seu sorriso encantador.

– Como sabia onde estávamos? – perguntei e o loiro acariciou meu rosto, abrindo a porta do carro e me puxando.

– Não sabia – ele indicou o carro estacionado no acostamento um pouco longe do nosso e Yutaka saiu dele, caminhando na nossa direção, sorrindo. – Yuk não me deixou em paz enquanto não me fez entrar de novo no carro e voltar. No fim, ele estava certo em se preocupar...

– É claro que eu estava certo – o moreninho sorriu e Mariana saiu mais que depressa do carro e se atirou em seus braços. – Eu conheço melhor do que ninguém a minha Mari–chan... Esqueceu o caminho que fizemos, bebê? – ele perguntou, apertando a bochecha da garota.

– Esqueci... – ela confessou envergonhada e o baterista uniu os lábios dos dois intensamente.

Yutaka, Mari e Monique foram para o outro carro, enquanto Kouyou me empurrou para o banco do carona e Camila pro banco de trás e foi dirigindo o meu.

– Yuu disse que não tinha visto Yutaka desde que vocês chegaram ao lugar... – comecei.

– Bom, ele ficou cuidando dos instrumentos enquanto eu estava supervisionando os efeitos especiais que o Taka quer e Yutaka estava o tempo todo comigo no backstage, dando algumas instruções aos staffs e me incomodando com “Uruha, elas vão se perder!”, “Uruha e se acontecer alguma coisa a elas?” e algo como “Sai já dessa máquina e entra no carro!” – ele deu risada e eu, Camila e Ana o acompanhamos. – Então, eu desisti de fazer qualquer outra coisa e nós viemos atrás de vocês.

– Bom, ainda bem que vieram, cunhadinho – Camila se ajeitou no banco de trás como se fosse dormir – ou nós nunca chegaríamos...

– Ah, Yutaka é desesperado, ele esqueceu que sua irmã estava no “comando da missão” – Kouyou afagou meu rosto. – Ela teria um plano...

– Ir em frente não é bem o que eu chamo de plano... – Camila murmurou sonolenta e eu fiz cara de emburrada, cruzando os braços.

– Mas provavelmente chegariam... – ele sorriu pra mim e vi Camila dar de ombros pelo retrovisor enquanto Ana dava risada.

Em pouco tempo, tão pouco que eu quase nem percebi, estávamos no lugar onde o grande palco fora montado. Afinal, o caminho não era tão difícil.

Nós quatro descemos do carro e fomos caminhando até o backstage com os outros três logo atrás de nós. Ana foi a primeira que aumentou a velocidade e se jogou nos braços de Akira. Uma a uma, as outras desertaram, restando apenas Mari e eu para trás, cada uma de mãos dadas com seu gazeboy favorito.

Eu suspirei aliviada. Kouyou voltou seus lindos olhos penetrantes, quase dourados pra mim curioso.

– Ainda bem que deu tudo certo – respondi para sua expressão questionadora, afagando seu braço.

– Ah, vai! Vai ser uma boa história pra contarmos aos nossos filhos – ele deu risada.

– Acho que já tenho acumulado um bom número delas... – fiz uma careta e ele agarrou minha cintura. Mas eu não podia negar que era isso que eu sempre sonhei.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.