XXV

Eu espero que você entenda bem, eu não gosto de ninguém. ‘

Matanza – Eu Não Gosto De Ninguém.

...

Ponto de Vista: Kuchiki Tsumugi.

Aquele idiota dos olhos verdes não saia da minha cabeça.

O cheiro dele ainda estava empregnado na minha pele e nas minhas roupas. E naquela noite, por mais que eu odiasse eu passei a noite inteira pensando naquela cena, naqueles toques, naqueles olhos hipnotizantes.

Eu odiava admitir isso, mas eu precisava ver Andy novamente.

Tirei meu pijama (lê-se uma camisa xadrez surrada toda larga e que ia até metade das minhas coxas) e fui arrumar para fazer qualquer hoje.

Seria uma pessoa boazinha hoje, não estava a fim de infernizar a vida de ninguém hoje.

Penteei meus longos cabelos ruivos e fiz uma maquiagem preta com delineador da mesma cor bem pesada. Vesti uma camiseta com o fundo de oncinha e a frnete com emblema do Rolling Stone, um short jeans com lavagem clara rasgada e um tênis All Star preto e saí por aí sem rumo certo.

Só sei que fui parar na frente de uma sorveteria e quem eu encontro lá?

O Ichiru abraçado carinhosamente com a garotinha inútil que trabalha lá. Que bonitinho, eles estão juntos e eu não ia perder a oportunidade de infernizar ele pelo menos um pouquinho.

Ah, ele tem que me pagar por ter me rejeitado aquele dia.

- Veja como o mundo dá voltas! – falei chegando perto de Ichiru, quando me viu ficou com os olhos arregalados. – Um dia, o Ichiru está Kuchiki Tsumugi e outro está com isso, a menininha da sorveteria.

- Eu não vou admitir que você fale mal da Yori, Tsumugi. – falou Ichiru me olhando mortalmente.

- Eu não estou falando mal. – falei sorrindo cinicamente. – Só estou falando a verdade. Mas sabe a verdade doí, as vezes não é Ichiru?

- Realmente Tsmugi, pena que não doeu quando descobri que você é uma completa vadia.

É, se ele pensou que essa ironia me fez ficar ofendida ele está fazendo isso redondamente errado.

O máximo que eu era, acho que era a mais rodada da cidade. Não chegava a ser uma completa vadia.

Eu não presto mesmo.

- Obrigado pela parte que me toca, Ichiru. – sorri, ele só faltou me bater. – Não quero estragar o dia de vocês, faça bom proveito dele, garotinha da sorveteria.

É, acho que agora eu apanho.

E sim, eu ia pagar para ver do que essa Yori era capaz.

- Olha aqui Tsmugi, eu não te conheço e você não tem o direito de falar isso de mim. – retrucou Yori praticamente sussurrando, é, ela é perfeita pro Ichiru mesmo. Dois idiotas.

- Peça pro Ichiru te contar depois tudo que vivemos, está bem querida? Eu já vou indo, beijos para quem fica.

E sai mandando beijos para ele.

Ichiru pelo o que vi teve que segurar a namoradinha dele para que ela não me batasse.

E com coisa que “aquilo” daria conta de me bater, o máximo seria quebrar minha unha.

Sai dali rindo daquela cena cômica - é, pelo menos para mim foi cômica – e sim, eu era muito mal.

E eu não tinha o mínimo de vergonha em ser assim.

Sentei-me no banquinho de uma praça perto dali.

Tinha um mini playground ali e varias criancinhas praticamente esgorfavam arco íris ao brincar.

Não que eu não gostasse de crianças, pelo contrario eu gostava delas.

Quando estava perto delas pelo menos uma vez na vida eu me sentia humana, me sentia normal.

Deveria ser porque pude conviver com crianças livremente assim.

Quer dizer, eu nunca fui uma criança normal.

Por isso que eu odeio recordar essa fase da minha vida.

Talvez por isso que seja essa pessoa tão malvada e cruel como eu sou que pisa no coração das pessoas, faz coisas como eu fiz agora a pouco com o Ichiru e com a Yori.

Talvez seja porque se quer eu tenho um coração.

E talvez se queira eu sei amar.

-x-

Eu estava andando sem rumo certo pelas ruas daquela cidade tão parada.

Talvez fosse para me distrair e tirar a Yuuki da minha cabeça pelo menos por um tempo.

Eu devia ser um idiota mesmo.

Eu não faço nada a não ser a fazer sofrer.

Sabe, eu tinha até esperanças que se eu mudasse ela voltaria a me amar. Mas não.

Ela já tinha me esquecido e estava com o Zero.

Eu não tinha raiva do Zero por estar com a garota que eu amo o que importa é ver que ela está feliz.

Que ela está sorrindo.

Para mim isso é apenas necessário para eu sobreviver.

Eu fui um péssimo namorado, mas eu amava essa garota mais que minha própria vida.

Perto dela eu me sintia humano.

Mas meu eu assassino, meu eu ciumento, o meu eu merda se rebelou contra mim e quando vi eu havia feito a Yuuki sofrer, eu havia quase mordido ela e o pior de tudo, eu havia matado a mãe dela.

Não adianta ficar se lamentado, lamentações não vai trazer aquela época novamente.

Eu tenho que esquecer a Yuuki.

Ás vezes eu não queria saber amar.

-x-

- Oi. – falou uma criancinha com um enorme balão se sentando no meu lado.

- Oi. – foi o que eu falei.

- Você quer brincar comigo?

- Eu não posso brincar com você, eu já sou grande. Er, e as outras criancinhas?

- Elas não gostam de mim. Acho que é porque eu sou diferente.

Aquilo ficou ecoando na minha mente por um longo tempo.

Essa criancinha era igual a mim.

E eu sei exatamente como ela se sente.

- Então mostre a elas que não há problema nenhum em ser diferente. – falei, cara sou eu mesmo que falou isso? – E não deixe o ódio tomar seu coração, ele é um abrigo confortável, mas também quando você entra profundamente nele nunca mais terá jeito de sair.

- Moça, você está chorando?

Coloquei minhas mãos no meu rosto e sim, eu estava chorando.

Fazia anos que eu não chorava e eu não sei se isso é bom ou ruim.

- Acho que sim.

- Não chora moça. Toma meu balão para te alegrar.

- Er, valeu. – foi o que eu falei.

A criancinha sorriu e me depositou um beijo no rosto. Depois saiu correndo e se juntou com as outras crianças.

Ok, pela primeira vez eu havia feito bem?

Pela primeira vez eu havia demonstrado sentimentos.

Preferi sair dali. Levei minhas mãos até minha bochecha e sorri de leve com o balão em minhas mãos.

Eu havia feito o bem.

Fitei o chão que estava andando e havia pequenos pingos nele.

Estava começando a chover.

Senti os pingos de chuva cair sobre minha pele junto com as minhas lagrimas.

Não era ruim ser boa de vez em quando.

O que custava?

O sorriso sincero de um criança ou viver com a consiencia limpa?

Acho que as duas coisas são ótimas.

As pessoas todas saiam correndo para fugir da chuva e eu não, lá estava eu no meio da calçada olhando pro chão e chorando.

Acho que estava tão no mundo da lua que nem percebi que trombei feio com alguém enquanto andava.

Cheguei a cair no chão e a pessoa gentilmente me ajudou a levantar. Minha vontade era de xingar essa pessoa, mas quando vi quem era mudei de ideia na hora.

Era ele.

-x-

Ah não.

Tudo menos trombar com aquela ruivinha mal humorada novamente em uma mesma semana.

Eu não era um idiota por amar a Yuuki mesmo vendo ela com outro, eu era azarado por trombar com essa garota novamente.

Eu só espero que ela não me xingue.

- Me desculpe Andy. – falou ela olhando para baixo e quase num sussurro. Assustei-me, ela sabe pedir desculpas?

- Er, você sabe pedir desculpas? – perguntei e ela me olhou novamente. Ela estava chorando e com a maquiagem borrada, me arrependi por ter zombado ela agora.

- Se não quiser aceitar as desculpas, ótimo! Eu não vou precisar delas mesmo, seu idiota! – falou ela saindo dali, impedi que ela fizesse isso pegando no seu braço. – M-me solta!

Ela ainda chorava e sua voz estava falha.

O que havia acontecido com ela?

Ela queria parecer durona, mas ela parecia estar sofrendo muito. Seus olhos escarlates pediam apenas por um coisa.

Um abraço.

E fui isso que eu fiz.

- Não tente parecer durona. Sei que está sofrendo, ruiva. – falei a abraçando forte, ela não se moveu.

- Isso não é da sua conta Andy. Deixa-me embora logo.

- Seus olhos estavam pedindo por isso, não precisa me tratar mal. Às vezes acho que você nem tem um coração.

- PARA! – gritou ela. – Por favor, não fala isso! Eu posso não ter um coração, mas eu tenho sentimentos, apesar de nunca demonstrar. Eu só quero que vocês entendam bem, eu não gosto de ninguém.

- Você não gosta de ninguém ou não consegue gostar de ninguém.

-... – ela nada falou, apenas retribuiu o abraço me apertando contra seu corpo. Senti-me desconfortável, eu não gosto muito desse sentimentalismo tosco. Preferi não falar nada, apenas afaguei seus cabelos calmamente.

Ela tinha um cheiro bom, um cheiro diferente.

Ela era uma vampira.

- Garota, você é uma vampira não é? – perguntei.

- Como você sabe? – respondeu ela saindo do meu abraço, ela parecia estar um pouco melhor. Seu rosto parecia com um panda, mas tudo bem.

- Er, é porque eu me sinto do mesmo jeito que você se sente. Sozinha.

- Eu não consigo gostar das pessoas, Andy. Eu odeio admitir isso, mas perto de você eu me sinto, sei lá, humana.

-... – preferi ficar na minha mesmo. Minha cota de ser sentimental hoje havia acabado.

-x-

Ele se calou de repente. Mas também depois desse sentimentalismo barato dessa cena quem não se calaria?

Mas eu estava gostando de ouvir a voz dele.

- Merda, fala alguma coisa. – resmunguei, ele riu.

- Pelo jeito a velha garota voltou. Fico feliz, é.

- Não me chame de garota, meu nome é Tsumugi.

- Ok, Tsumugi.

Ficamos nos olhando por um longo tempo.

Andy era um chato, mas era o único que parecia me entender nesse mundo.

Seus olhos verdes analisavam cada contorno do meu rosto. Ah, eu odiava quando ele fazia isso, eu sentia meu rosto inteiro esquentar e eu ficava vermelha.

Ele riu e acariciou minhas bochechas vermelhas.

Droga, eu estava envergonhada.

- Tsumugi. – chamou ele ainda acariciando meu rosto.

- O que você quer? – será que fui fria demais ao responder assim?

- Er, eu também me sinto humano com você por perto.

Ele foi se aproximando cada vez de mim e senti meu coração disparar.

Fazendo perceber que eu ainda tinha um coração.

E que estava batendo agora pelo Andy.

Em questão de segundos, senti os lábios frios e macios de Andy se encotrarem com os meus.

Retribui totalmente o beijo, ok, eu odiava admitir isso também mas, eu queria isso desde o momento que cruzei o caminho com ele.

Ele me puxava pela cintura me fazendo ficar ainda mais perto do seu corpo frio. O beijo ficou intenso, nossas línguas pareciam brigar uma com a outra e aquele cheiro que Andy tinha me deixava sonsa.

Que tipo de cara ele era?

E só paramos de nos beijar por conta que estava ficando sem ar.

Ele me olhava vergonhasamente mexendo nos seus cabelos com a mão direita com uma careta tão, tão fofa.

E ficamos parecendo dois idiotas olhando um para o outro.

- Er, eu já vou indo. – avisou ele.

- Porque?

- Sei lá, não tenho mais nada para fazer aqui. Vou para casa, se quiser vir também.

- Você está me chamando pra ir para sua casa Andy? – perguntei já pensando malicia.

- E para de pensar coisas pervertidas sobre isso Tsumugi. Eu não quero transar com você ou coisas do tipo. – resmungou ele andando um pouco.

- Então você só quer que eu vou para sua casa? Nada da gente fazer coisas pervertidas?

- Eu não vou repetir duas vezes, você não é surda.

Ao ouvir isso fiquei com um sorriso bobo do tamanho da minha cara.

Porque qual motivo eu estava sorrindo?

Era obvio.

É, talvez eu estivesse aprendendo a amar.