Draco chegou às masmorras, completamente ofegante. Primeiro: Hermione Granger não saía de seus pensamentos. Segundo: O cheiro dela estava impregnado em sua roupa. E terceiro: já não estava mais tão confiante de que venceria a aposta.

O modo como ela se aproximava e o provocava era perturbador. Apesar de tudo, Draco não podia mais fingir que não podia vê-la. Ela não era mais a garotinha de cabelos armados e dentes proeminentes do primeiro ano.

Agora, o uniforme caía perfeitamente em seu corpo com curvas, e seus cabelos estavam controlados. Seus dentes não eram mais desiguais, e sim formavam um lindo sorriso. Além disso, ela era uma bruxa excepcional, e todo aquele conjunto era extremamente harmonioso.

Cale a boca, pensou, repreendendo a si mesmo. É a Granger. Ela pode até estar melhor agora, mas vai ser sempre a Granger.

No começo, Draco tinha certeza de que venceria. Iria ser facílimo fazê-la ficar completamente apaixonada. Mais uma para a coleção. Isso serviria para provar a todos que Draco Malfoy conseguia conquistar até a garota mais irritantemente certinha de Hogwarts. Uma espécie de prêmio pessoal.

No entanto, quando a garota entrou na “brincadeira”, as coisas começaram a ficar mais sérias. Ela era boa. E no último segundo, quando Draco se sentia completamente derrotado, ela recuava, e retomava sua postura “empresarial”. E aquilo o levaria à insanidade completa.

Granger fingia muito bem seus sentimentos, ou simplesmente não sentia nada. E era esse mistério todo que Draco queria desvendar nela. Era isso o que o motivava a intensificar as provocações. Queria descobrir o que se passava no coração de Hermione Granger, quando se tratava dele.

Granger, Granger... Pare de pensar na sangue-ruim. Ela é só uma diversão, sua mente repetia como um mantra.

Seu pai lhe dissera certa vez que as sangue-ruim e as traidoras do sangue eram apenas para usar e jogar fora. Se um dia quisesse se casar, ou fosse se apaixonar por alguém, era inaceitável que fosse um dos dois tipos. Essa escória do mundo bruxo só servia para umas noites de diversão, e olhe lá.

Draco entrou no dormitório masculino, onde Crabbe, Goyle e Zabini dormiam. Se jogou na cama, e encarou o teto. Não conseguiria dormir com o cheiro adocicado que agora estava em sua roupa. Entrou no banheiro, e ligou o chuveiro.

Deixou a água quente cair levemente sobre seus ombros, na tentativa de relaxá-los. Não sabia por que estava pensando em que seu pai tinha lhe dito. Na realidade, sabia, e muito bem, entretanto não iria admitir aquilo nunca.

Não pode ser, não estou apaixonado por ela.

Mas ainda assim, nas profundezas de seus pensamentos, havia uma vozinha insistente, que ia contra tudo o que sua consciência dizia. Era o infinito e se. “E se estivesse apaixonado por Granger? E se a sangue-ruim sentisse o mesmo?” E se, e se, e se...

Com todos aqueles pensamentos contraditórios o levando à loucura, deitou-se, tentando dormir. Mas pelo visto, a garota dos olhos castanhos hipnotizantes não iria abandonar sua mente tão cedo.

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Hermione estava tão exausta que, quando chegou ao dormitório, simplesmente se jogou na cama e adormeceu. Só foi se dar conta disso quando acordou, e percebeu que continuava com as vestes do dia anterior, que exalavam o perfume cítrico daquele que tanto a tirava do sério.

Ainda não tinha amanhecido, e nenhuma de suas companheiras de quarto estava acordada ainda. Gina dormia em uma posição engraçada, enquanto babava no travesseiro. Hermione riu baixinho.

Tomou banho, e se vestiu como sempre. Arrumou levemente os cabelos, e ficou melhor do que esperava. Pegando seu exemplar de Hogwarts, uma história, se dirigiu até a Sala Comunal, vazia naquela manhã, exceto por um certo garoto de óculos, cabelos revoltos e uma cicatriz em forma de raio. Harry estava de olhos fechados na poltrona perto da lareira, e pareceu não notar a presença de Hermione.

–- Hey... – ela chamou a atenção do garoto, que abriu os olhos e a fitou.

–- Alô, Mione... – ele disse, espreguiçando-se. – Eu precisava mesmo conversar com você.

Hermione retesou-se. Lembrou-se da noite passada, onde ele e Ron quase teriam pego ela e Draco em seu “joguinho”, se não tivessem sido tão barulhentos.

–- P-pode falar, Harry...

–- É sobre ontem.

A garota escondeu as mãos atrás das costas, com o intuito de fazê-las parar de tremer.

–- O Malfoy sempre te trata daquele jeito nessas patrulhas ai?

Como? Me prensando na parede e me beijando? Sim, sempre, Hermione pensou, mas descartou o pensamento.

–- Ah, Harry, nem se preocupe. Eu não fico chateada não. – mentiu.

–- Não importa, Mione. Ele não tem o direito de te tratar assim só porque é “sangue puro”. Nós vimos como ele ficou te insultando ontem.

Hermione suspirou.

–- Olha, Harry. Eu já me acostumei a ser xingada por ele, porque ele faz isso desde o primeiro ano. Eu revido e tal, e a gente só briga há anos. Então eu meio que já me acostumei.

–- Você não pode aceitar isso!

–- Eu faço o que é para ser feito. Se eu for ligar para cada insulto que o Malfoy me disser, um dos dois não sai vivo de lá. – Hermione disse, rindo, ainda que estivesse apreensiva.

Harry riu, mas ainda parecia desconfiado.

–- Mas o que você está fazendo aqui há essa hora?

–- Eu estava estudando o Mapa do Maroto e caí no sono.

Hermione correu até ele, e o mapa continuava mostrando quem transitava pelo castelo. Ele estava seguindo Draco Malfoy.

–- Harry! E se outra pessoa vem e encontra o Mapa?

–- Desculpe, eu dormi.

Hermione negou com a cabeça, irritada.

–- Malfeito feito. – ele disse, e tudo o que estava escrito desapareceu.

–- Por que está seguindo o Malfoy?

–- Porque se você diz que ele não é um Comensal, eu quero ter certeza.

–- Harry, eu vigio. Sou obrigada a perder horas da minha vida na ilustre companhia dele. – Hermione disse, irônica. – Você não precisa fazer isso.

Harry deu de ombros.

–- Mesmo assim. Eu quero ter certeza, Mione.

–- Se você se sentir melhor assim...

Harry assentiu.

–- Você tem certeza de que odeia ele? – antes que a garota pudesse protestar, Harry continuou. – Porque sabe... Ontem, no jantar, você ficou meio nervosa, tentando mudar de assunto, coisa e tal...

–- Mudar de assunto? Quem está querendo mudar de assunto aqui? Escute, Harry. Eu não sei o que o Ron anda falando para você, mas eu só peço para que use o seu bom senso e acredite em mim. Eu não sinto absolutamente nada pelo Malfoy, e não há motivo algum para desconfiar. Vocês me irritam com esses comentários! Quantas vezes eu vou precisar repetir que a única coisa que eu sinto por ele é ódio?

Hermione saiu pisando duro da Sala Comunal. Assim que Harry teve certeza que ela não podia vê-lo, se virou para o Mapa do Maroto novamente.

–- Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom. – ele disse, e os nomes e as pegadas reapareceram no pergaminho desgastado.

O garoto estava decidido a descobrir a verdade entre aqueles dois. E não ia desistir até que desse um passo adiante.

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Estava na hora do café da manhã, e o refeitório enchia-se de alunos aos poucos, e Hermione esperava por Gina na mesa da Grifinória. A garota estava ainda mais nervosa depois que Harry ficou desconfiado dela com Malfoy, e de agora em diante, tentaria ser o mais discreta possível, se afastando o quanto pudesse do sonserino.

Gina entrou, descontraída, falando com Luna. A loira foi para a mesa da Corvinal, e a Weasley sentou-se ao lado de Hermione.

–- E aí, Mione? Nem te vi hoje de manhã, fiquei preocupada. Como foi ontem?

Hermione a fitou.

–- Hã... não foi? – ela perguntou, com os dentes cerrados.

–- Eu comecei a fazer o que você me disse. Deu certo. Ah, e o vidrinho estava com ele, mas eu consegui recuperar fazendo um pouquinho de charme. – Hermione disse, e Gina bateu palminhas excitadas. – Mas... Harry e Ron estavam atrás de nós. Por muito pouco eles não nos veem!

–- Ai meu Merlin! Mas será que eles não viram mesmo?

–- Tenho certeza que não. O Ronald não ficaria quieto se soubesse de algo.

–- Tem razão. – Gina disse, servindo-se de leite. – Mas toma cuidado. Eles já estão desconfiados.

–- E eu não sei? – Hermione disse, sussurrando. – O Harry já estava desconfiado do Malfoy por causa do pai dele, e agora, com o Ron botando bosta na cabeça dele sobre eu e o Malfoy...

Gina bufou.

–- Melhor mudarmos de assunto. Descobrimos que não só as paredes têm ouvidos nesse castelo, e do pior jeito.

Hermione assentiu, e continuou comendo. Esperava que o dia demorasse a passar, porque encarar Malfoy depois de todo o ocorrido seria praticamente impossível.