–- Bom dia, gente! – Hermione disse, radiante, enquanto sentava-se na mesa dos grifinórios.

Harry, Ron, Gina encararam-na, tentando disfarçar seu desconforto. Um silêncio constrangedor tomou conta da mesa, mas afinal, todos responderam o cumprimento da menina.

–- Está feliz demais hoje, Mione, o que houve? – Harry perguntou, displicentemente. É claro que estava irritado e preocupado, mas não poderia demonstrar, ou colocaria tudo a perder.

–- Nada, ué, só acordei de bom humor. – Hermione respondeu.

Ele deu de ombros, e continuou a comer.

–- Tem certeza que é só isso? – Ron perguntou, mau humorado.

–- Tenho. – disse ela, semicerrando os olhos.

Dando de ombros, começou a servir-se de suco de abóbora, mas Gina arrancou o copo de suas mãos, e passou a jarra para Neville, que, confuso, resolveu segurar. Hermione apenas arqueou as sobrancelhas, com as mãos congeladas na posição em que estavam.

A ruiva suspirou.

–- Não me olha assim, fiz por seu bem. Você não pode simplesmente sair tomando qualquer coisa antes de olhá-la minuciosamente! Vai que tem veneno, poção do amor, sei lá...

–- Que papo é esse, Gina? Eu mesma me servi. Se fosse poção do amor, eu sentiria o cheiro, não sou estúpida. E veneno, ah, é absolutamente impossível. Com certeza, a pessoa não seria muito inteligente em fazer isso com tantas testemunhas. Além disso, provocaria alguma alteração na cor, na consistência, não sei.

–- Tanto faz! Fica de olho mesmo assim...

Hermione começou a ficar vermelha de raiva, e socou a mesa com força. Os pratos próximos tremeram levemente.

–- Será que dá pra vocês pararem de agir assim? O que foi, acham que eu estou sob efeito de poção do amor, ou da maldição imperio? Toda hora agindo cautelosamente, fazendo comentários esquisitos... Que inferno! E ainda nem se dão ao trabalho de disfarçar. Por Merlin!

–-Sim, Mione, nós achamos. Sabe por que? Porque é bem estranho você mudar tanto em questão de um mês e pouco. Engraçado que isso começou exatamente quando você começou as patrulhas com o Malfoy... Coincidência? Não tenho tanta certeza. – Harry se manifestou.

O rosto de Hermione contorceu-se em uma careta de indignação.

–- Como vocês podem menosprezar tanto a minha inteligência? Estão me tomando como uma idiota, que sai acreditando em tudo o que dizem, servindo-me de tudo o que me oferecem... E ainda colocam a culpa da paranoia de vocês nos outros. Querem saber o que mais? Draco não me fez e não está me fazendo nada de mal. São vocês quem estão!

–- E desde quando você o chama pelo nome? – Ron perguntou, irritadíssimo. – E como você tem o direito de dizer isso! Conhecemos esse cara muito bem. Você também. Estamos tentando te proteger! Pare de ser mal-agradecida!

–- Não interessa! Isso diz respeito apenas a mim e a ele! E vocês acham que o conhecem, mas não sabem de nada!

–- Não sabemos de nada? Ele é um maldito Comensal da Morte, Hermione! Mas se você prefere acreditar no seu conto de fadas imaginário, vá em frente! Só não me peça para ter que assistir a isso de braços cruzados. Porque eu posso te garantir que não vou. – Harry se manifestou, aumentando o tom de voz.

–- Eu estou cansada de vocês ficarem dizendo o que eu tenho ou não que fazer, com quem eu tenho ou não que falar, como eu devo ser ou não ser! A vida é minha, e com ela, eu faço o que me der na telha! Você pode até ser o meu melhor amigo, mas não tem o direito de se intrometer na minha vida assim. Draco não é um Comensal da Morte. Sabe o que ele é? É O MEU NAMORADO! E se você questionar minhas decisões mais uma vez, vai se arrepender amargamente!

Gina tapou o rosto com as mãos. Ron parou o movimento de leva o garfo à boca, e Harry paralisou-se, com os olhos arregalados.

–- E ah, não se preocupem com isso, eu lancei um abaffiato aqui. Só nós ouvimos. Draco e eu decidimos manter isso em segredo por enquanto, mas infelizmente, vocês me forçaram a dizer. E ia contar amigavelmente quando vocês estivessem preparados, mas pelo visto, isso nunca vai acontecer. – Hermione disse, pegando todo seu material, com raiva. – É realmente uma pena... Enfim. Passar bem.

A morena saiu pisando duro do refeitório, sem sequer olhar para trás. Passando pela porta, sentou-se em um degrau escondido e começou a chorar. Por que tudo precisava ser tão difícil, sempre? Será que seus amigos não podiam simplesmente aceitar?

Chega, Hermione, pensou. Pare de chorar feito uma estúpida e vá estudar, que você ganha mais.

Enxugando os olhos, levantou-se, desamassou as roupas, e puxou seu cronograma de aulas da bolsa. Era um tempo de História da Magia com a Corvinal, e logo em seguida, um tempo de Poções, que finalmente, era com a Sonserina. Precisava urgentemente falar com Draco.

Com parte de seu humor matinal restaurado, seguiu para a sala do Prof. Binns.

____________________________________________________________

–- Eu disse para não forçarmos a barra... – Gina disse, ainda debruçada sobre a mesa. – E agora?

Harry suspirou.

–- Eu não queria brigar com a Mione. Claro que não. Mas ela precisa de um choque de realidade. Se bem, parece que não funcionou. Ouviu o que ela disse? Que o Malfoy era o namorado dela. Dá pra acreditar?

Gina corou.

–- Bem... Ela tinha comentado i-isso... – a menina gaguejou. – Mas eu não levei a sério.

–- Nem eu. – Ron disse, levantando a cabeça, de súbito. – Eu não sei vocês, mas eu ainda não acredito cem por cento nisso. E foi por isso que ainda não perdi a cabeça completamente. Não pode ser. Simplesmente não pode ser.

Harry crispou os lábios, e deu um tapinha amigável nas costas do amigo.

–- Bem, acho que é agora que eu tenho que fazer o pedido à Gina...

Ron concordou com a cabeça, encarando seu próprio prato. Gina aquiesceu-se, mas não deixou transparecer.

–- Então Gina... Ron e eu vamos investigar bem mais a fundo essa história. Não mais a relação daqueles dois, mas sim, só o Malfoy. Tenho certeza que ele é um Comensal. E agora que ela está... está com ele... Nós temos que impedir que ele continue fazendo o que está fazendo com a Hermione. Você aceita vir conosco?

Ron fitou Harry, arqueando as sobrancelhas.

–- Claro que aceito! – Gina disse, um pouco mais empolgada do que deveria. – Bom, vamos combinando isso melhor. Vejo vocês no almoço. Agora é Transfiguração pra mim, e pra vocês?

–- História da Magia. – Harry disse, bufando.

–- Por Merlin, ninguém merece o Binns! – Gina riu – Boa sorte pra vocês... Até mais!

–- Até. – o moreno acenou. Quando Gina saiu, Ron o fitou mais intensamente, deixando Harry desconfortável.

–- Por que não contou à Gina que Pansy ia? Agora você vai definitivamente começar uma nova guerra bruxa. E estou vendo que vai sobrar pra mim também...

–- Não contei a ela porque ainda não falei com Pansy. Mas espero que não dê em nada. As duas vão entender que é por um bem maior.

Ron riu pelo nariz.

–- Eu não teria tanta certeza...

–- Não seja tão pessimista, Ron. – Harry franziu o cenho.

–- Ah, mas isso é realismo. Enfim... – o ruivo deu de ombros. – Vamos indo. Binns nos mata se chegarmos atrasados.

Os dois fizeram seu caminho até a sala, onde encontraram, sentada na carteira da frente, uma Hermione muito irritada, e com os olhos inchados. A culpa corroeu os dois, mas não disseram uma palavra, indo se sentar mais para o fundo. A aula demoraria a passar.

_________________________________________________________________________

Draco estava quase morrendo de tédio na aula de Feitiços. Ainda mais porque dividiam aquele tempo com a Lufa-Lufa. Enquanto o resto da turma apresentava o feitiço que Flitwick tinha passado como tarefa, Draco esperava, debruçado na mesa.

–- Um galeão por seus pensamentos... – Pansy disse, despretensiosamente.

O loiro bufou. A garota estava perturbando-o desde o café da manhã, com perguntas inconvenientes sobre o que estava pensando, sobre Hermione. Ele estava quase assumindo de uma vez que sim, ele e Mione estavam juntos, e mais uma vez que ela tocasse no assunto, ele iria estuporá-la. No entanto, controlou-se. Ela não estava pronta ainda. Merlin sabe a reação histérica que ela teria se ele dissesse.

–- Pensando no futuro, apenas... – respondeu ele, um pouco ríspido.

–- No futuro com certa pessoa...? – ela provocou.

–- Será que dá pra você parar com isso? Que inferno!

–- Escuta aqui... – Pansy chegou mais perto dele, com um olhar insano. Draco arqueou as sobrancelhas. – Eu só estou tentando arrancar a informação de você amigavelmente. Se você não me disser, não tem problema. Eu descubro sozinha. E você sabe que eu descubro...

–- Isso é uma ameaça? – ele perguntou, com a voz carregada de ironia, mas no fundo, estava entrando em desespero.

Pansy sorriu sarcasticamente e lançou uma piscadela.

–- Considere como um aviso. – dizendo isso, a garota saiu desfilando pela sala para juntar-se à Daphne Greengrass, Tracey Davis e Sally-Anne Perks, que encaravam-no com curiosidade.

O sinal tocou, e o próximo tempo era Poções, com a Grifinória. Draco nunca ficou tão feliz por se juntar nas aulas com os leões. Graças a isso, poderia conversar com Hermione, e precisava, realmente. Pegando seu material rapidamente, trocou poucas palavras com Crabbe e Goyle antes de descer correndo para as masmorras.