França, Beauxbatons, 12h30 da manhã.

POV - Author

Continuou olhando para aquela mulher com dúvida. Ela, no entanto, passava confiança.

— Luiza? – Ouviu seu nome ser proferido pela voz – doce e delicada, diga-se de passagem – da mulher ali. – Eu… gostaria de conversar com você a sós, se não for pedir muito.

Olympe, entendendo o olhar da ruiva, retirou-se da sala ainda relutante em deixá-la ali com Amanda. Ouvindo a porta da diretoria fechar, viu-se ali sozinha com a mulher. Deu um passo pra trás, insegura, mas ainda olhando fixamente nos olhos desta.

— Luiza, sua mãe me chamou porque está preocupada com você. Ela acredita que uma terapia possa fazê-la a ser a mesma Luiza de antes. – O silêncio se fez presente no local. Amanda compreendeu o que a ruiva queria dizer com o olhar. – Entendo. Você não vai falar agora. Só quero que saiba que sou bastante insistente. Vou continuar vindo aqui todos os dias e vamos tratar de trazer você de volta, não importa o tempo que levar.

A ruiva, por outro lado, não disse nada. Porém olhou nos olhos da mulher, e com um pouco de esforço, assentiu positivamente com a cabeça.

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Londres, Hogwarts, 11h30 da manhã.

POV - Eliza Malfoy

O barulho das pessoas conversando, gritando ou comentando sobre suas aulas nos corredores era quase inaudível. Minha bolsa vinha carregada de livros e enquanto todo seu peso estava sobre meus ombros, eu tentava segurá-la com as mãos. O caminho até o dormitório da Sonserina parecia longo e cansativo, tanto que, em um momento, foi como se eu houvesse me deslocado para outro universo.

— Bom dia, maninha. – Ouvi a voz sapeca de Luiza atrás de mim. Me assustei, distraída demais com as pessoas nos corredores. – No que você tanto pensa?

— Nada importante. Bom dia, Lu. – Disse, sentindo ela enlaçar o braço no meu enquanto andávamos juntas pelos corredores. – Aula de quê?

— Poções. Com você. – Sorri, enquanto nos dirigimos até a aula de Poções.

— Ei! Malfoy? – Ouvi a voz de Charlie Walters me tirar da realidade alternativa que eu estava. – Tá tudo bem?

— Claro que está, Walters. O que foi, agora você se importa?

— Pra falar a verdade, sim. – Sua resposta foi curta e grossa. Me pegou de surpresa, afinal. – Soubemos o que aconteceu com a sua irmã… afinal ela estudou aqui por um tempo também.

Cedi. Sabia que não aguentaria aquele fardo sozinha. Chloe e Hellen nem sempre estavam ali por mim, e Charlie Walters, por incrível que pareça, havia se mostrado prestativo até então.

— Ela ficou em coma por algumas semanas. Por isso eu não estava aqui. – Expliquei, quando agora nós dois andávamos sem rumo pelos corredores. – Quando ela acordou, fiquei muito feliz. Não aguentava mais vê-la naquele estado. Chamei todos os nossos amigos, imaginando que ela sentiria falta deles, mas… – Engoli o choro ao lembrar da expressão apavorada de Luiza ao ver os amigos. – Ela sentiu medo deles. Não se aproximou, e nem deixou que se aproximasse. Agora ela voltou pra Beauxbatons e não sabemos como ela está, se está tudo bem…

— Ei… – Senti sua mão levantar minha cabeça. Nossos rostos estavam próximos e ele me olhava fixamente nos olhos. Senti uma lágrima rolar pelo meu rosto e suas mãos passarem por ela. – Não fica assim, Liza. Eu tô aqui. – Sua voz agora era calma e era a primeira vez que ele usava o meu apelido sem tentar me provocar. Sorri, mas ainda desconfiei das suas intenções.

— Porque está fazendo isso? – Perguntei. – Quer dizer, nós nos odiamos… você sempre me detestou por ter ficado com o seu irmão. – Vi seu sorriso. Era puro e verdadeiro dessa vez. Fixei meus olhos nele, admirada com aquilo.

— Talvez eu só tenha inveja do meu irmão por ter ficado com você… quando eu perdi a oportunidade de fazer o mesmo. – Senti ele segurar meu rosto com mais firmeza, me puxando para cada vez mais perto. Em estado normal, eu teria recuado. Mas os lábios dele no momento pareciam convidativos. Seus olhos brilhavam e eu me sentia hipnotizada por eles. Seus lábios tocaram os meus pela primeira vez. Com ternura, paixão, talvez até amor. Amoleci nos seus braços e assim permaneci por longos minutos. Seu beijo era doce e viciante, e se não fosse pelo fôlego, eu teria ficado por mais tempo ali.

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Londres, Empresas Malfoy, 11h50 da manhã.

POV - Scorpius Malfoy

— Senhor Malfoy? – Ouvi a voz de Isabella adentrar o escritório. Sua expressão era séria e decidida. – Acho que precisamos conversar.

— Só Scorpius, Isabella. – A repreendi sorrindo por ter me chamado formalmente. – Acredito que não precisamos de mais toda essa formalidade. Mas sobre o que quer falar?

— Sobre… nós. A noite passada. Você me beijou. Foi pra esquecer sua mulher, não foi? – Me levantei da cadeira de onde eu estava, sorrindo. – Pode falar. Eu prefiro que seja sincera comigo. Anda, Malfoy. Ou você fala ou eu… – A interrompi, puxando-o pela cintura e beijando-a como na noite passada. Soltei-a antes que envolvesse seus braços sobre minha nuca e acariciasse meus cabelos.

— Você tá esperando um pedido formal de namoro, Scott? – Perguntei sarcástico. Ela sorriu com o que eu quis dizer, me puxando para um novo beijo.

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França, Beauxbatons, 12h55 da manhã.

POV - Kimberly Carter

Adentrei o salão principal, procurando com o olhar Luiza. Porém, acabei encontrando Jake com um olhar preocupado.

— Kim! Você sabe onde está a Lu? Faz tempo que não a vejo mais… – Ele questionou. Revirei os olhos diante sua pergunta.

— Eu já disse, Jake. Se afaste dela. Luiza não quer falar com ninguém. Não piore as coisas. – Repreendi-o. Jake pareceu dar de ombros sobre meu aviso, saindo dali. Anna se aproximou de mim, preocupada ao ver o olhar de Jake antes deste se retirar.

— Me diz que ele não tava falando sobre a Luiza, por favor. – Ela suplicou.

— Eu espero que não, Anna. Eu sinceramente espero que não…

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Londres, Hogwarts, 11h50 da manhã.

POV - Eliza Malfoy

Me soltei dos braços de Charlie, mas ainda estava próxima dele. Charlie ainda me encarava com ternura.

— O que… o que você fez? – Perguntei surpresa com sua ação. Não demonstrei raiva, nem mesmo desprezo pelo o que havia acontecido ali.

— O que eu deveria ter feito a muito tempo. – Ele sorriu. E então, soltou as palavrinhas mágicas do nada. – Quer namorar comigo?

Do que você tá falando, Charlie? – Sua expressão era a mesma. A de uma criança ansiosa pela resposta de uma mãe depois de pedir algo. Me hipnotizei em seu olhar mais uma vez, logo saindo do transe e reformulando a pergunta que ele havia feito várias vezes em pensamento. Aquilo era real? Ele estava me pedindo em namoro por pena? No momento, aquilo não importava.

— Eu perguntei se você queri...

— Eu entendi sua pergunta, Walters. – Voltei do transe, puxando seu rosto contra o meu novamente e o beijando longamente. Me soltei dele rapidamente então. – E a resposta é sim.

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França, Beauxbatons, 13h da tarde.

POV - Author

Caminhava pelos corredores vazios da escola tranquilamente. A bolsa que carregava era pesada de livros. Os olhos ameaçavam fechar a qualquer momento. Fazia dias que simplesmente não dormia. O caminho até o dormitório parecia longo, e enquanto não chegava, sua mente se viu voando para outro lugar.

Ele… queria tanto ele ao seu lado naquele momento. Sentia vontade de gritar por ajuda, mas não conseguia. Tudo em si mesma era dor. Física, psicológica. Cada centímetro do seu corpo ainda sentia os toques daquele ser abominável. Tocar a si mesma havia virado uma espécie de tortura. Seu corpo tornou-se um objeto e qualquer um que se aproximasse dele apenas queria usá-lo. Amor não era uma palavra usada em seu vocabulário. Queria morrer. Desaparecer daquele mundo.

— Ei, até que enfim te encontrei! – Viu a figura de Jake Carter aproximar-se lentamente. Assustou-se, se afastando bruscamente. – Ei, calma, menina.

Ele estava cercando-a. De longe, pode ver a figura de uma garota observando a cena enquanto sorria diabolicamente. Não teve tempo pra raciocinar. Ele continuava se aproximando.

— O que houve, Lu? Sente medo? – Estava encostada na parede gelada de concreto. Sentiu as mãos gélidas dele tocarem seu rosto. Continuou parada. Não sabia como reagir. Sentiu uma lágrima quente rolar pela sua bochecha, mas não se mexia. Todos os seus músculos haviam perdido completamente o poder de movimentar-se.

As mãos de Jake ainda percorriam seu corpo lenta e cruelmente. Aquilo era um pesadelo? Nunca quis tanto que fosse. Em um movimento brusco, sentiu alguém empurrar Jake com força até o chão. Olhou rapidamente e viu a figura de Brian Zabine olhar em sua direção. Desviou o olhar rapidamente para Jake, vendo este ser agredido pelo garoto que havia a salvado. Teve vontade de sorrir vendo-o ali, defendendo-a, mas estava estática demais para fazer qualquer movimento.

— Brian? Tá doido? – Ouviu a voz conhecida de Kimberly adentrar na cena, tirando Brian de cima de Jake. – O que tá acontecendo?

— Ele tava em cima da Lu, Kimberly. Ele ia agarrar ela! – Ouvir sua voz de novo era reconfortante, mesmo que fosse naquelas circunstâncias.

— Jake, quantas vezes eu te pedi… – Kimberly repreendeu o irmão, que deu de ombros. A garota puxou o Carter mais velho pelo braço, obrigando-o a deixá-los a sós.

— Você.. tá bem? – Ele perguntou. A garota, ainda estática, não soube responder. Brian se aproximou, sabendo que ela faria um movimento para trás na intenção de se afastar. – Posso te acompanhar até seu dormitório, se quiser.

Assentiu positivamente com a cabeça, sabendo que se arrependeria depois. Mas precisava dele, nem que fosse por alguns minutos. Pôs-se a andar na frente, vendo ele tentando alcançá-la. O caminho até o quarto andar era quase infinito, e o silêncio que pairou entre ambos aterrorizava, principalmente, Brian.

O menino pensava em diversas coisas ao mesmo tempo e nenhuma delas lhe faziam algum sentido. Olhou de relance para a menina ruiva ao seu lado. Ela parecia apavorada, assustada. Decidiu arriscar.

— Lu? – Ele chamou. Ela não se virou para olhá-lo nos olhos. Mesmo assim, ele continuou. – Eu sinto muito… pelo o que aconteceu. Sabe, tanto hoje quanto na sua festa… – Ela continuou parada, a expressão era a mesma. – Você sabe que, se precisar, ainda tem a nós. Nos afastamos porque sabíamos que era o melhor pra você.

A porta do dormitório estava ali. Luiza não disse uma palavra. A vontade de chorar dominava Brian e ele não queria fazer aquilo ali, na frente da amada. Simplesmente virou as costas e foi embora. Mas uma voz, doce e delicada – que ele reconheceria a quilômetros dali, diga-se de passagem – o impediu.

— Obrigada. – Ele voltou novamente para a porta do dormitório, mas esta agora se encontrava fechada.

Luiza havia falado de novo.

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POV - Brian Zabine

— Como é que é?? – Anna praticamente gritou em meus ouvidos, sorrindo abertamente. – Ela falou? Você tem certeza, não é, Brian?

— Será que você não ouviu errado, sei lá. A Lu estava fechada demais pra simplesmente começar a falar. – Kate pronunciou-se pela primeira vez.

— Não é como se ela tivesse conversado comigo. Ela só… agradeceu por eu tê-la salvo do Carter.

— Falando nele. – Kim adentrou no dormitório, jogando-se na cama de Kate e pondo um travesseiro em cima de suas pernas. – Dei um jeito nisso. Ele não vai encostar um dedo na Lu.

— E quem te garante que não? – Anna perguntou.

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Dormitório do quarto andar, 13h55 da tarde.

POV - Amanda Oliveira

— Luiza? Você está aí? – Bati na porta do dormitório pela segunda vez. Nada. – Luiza, sou eu, Amanda. – Pensei que, me identificando, talvez ela me atendesse. Nada. Senti a fechadura destrancar, abrindo a porta rapidamente. Não havia ninguém ali. Vasculhei com os olhos. A cama estava perfeitamente​ arrumada e não havia nenhum vestígio de fuga. Apenas um papel dobrado em cima de uma mesinha ao lado de sua cama.

Peguei o papel, que estava endereçado a “Dra. Amanda Oliveira”. Curiosa, desdobrei o papel me deparando com a letra perfeita de Luiza, aparentemente​. Li cada frase com atenção.

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Sala comunal da Noble.

POV – Brian Zabine

A Luiza sumiu. – Adentrei o salão comunal. Mike, que estava sentando em um dos sofás fazendo feitiços aleatórios, largou a varinha, levantando-se rapidamente.

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“Querida Amanda,

Me desculpe não ter dito nada quando nos conhecemos. Falar pra mim ainda têm sido difícil, não consigo. Mas vou aceitar fazer terapia com você.

Por enquanto, preciso de um tempo. Por isso não estou dizendo nessa carta onde me encontro agora. Preciso pensar um pouco em tudo, preciso criar coragem. A coragem que a antiga Lu teria. Não vou fazer nada, realmente só preciso pensar. Não demoro muito. Quando estiver pronta, estarei no dormitório.

Com carinho,

Luiza.”

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.