O desespero faz com que coisas impossíveis se tornem possíveis. Acho que esse foi o meu caso.

POV. Mariana

Eu consegui cortar as cordas com um pouco de esforço e vesti minha roupa. A minha blusa estava aos pedaços, e o que deu para fazer foi amarra-la de qualquer jeito para tentar cobrir alguma coisa.

– Droga, agora quem me vê com essa roupa vai perguntar o preço do programa – murmurei.

Fui até a janela e examinei as grades. Os parafusos que as sustentavam estavam bem enferrujados, então solta-las não foi difícil. Debrucei-me na janela e olhei para baixo. A queda devia ser de uns quatro à cinco metros, mas eu não tinha outra opção a não ser pular.

E foi o que eu fiz.

Logo depois de pisar no chão, senti uma dor muito forte no joelho direito, e tive que morder meu braço para não berrar.

– Merda! – falei.

Olhei ao meu redor. Eu definitivamente não estava mais em Los Angeles. Comecei a andar por uma estrada mal acabada, e um carro parou do meu lado.

– Hey, quanto que tá o programa hein gracinha? – um sujeito de terno e gravata, com pinta de executivo perguntou.

– Eu não sou puta igual sua mãe, seu idiota.

Ele fez cara de ofendido.

– Então o quê que tu tá fazendo na rua uma hora dessas?

– Tá vendo aquela casa ali? – apontei em direção do casebre – foi ali que cinco homens barbudos e fedorentos me estupraram. Então se você não se importa, eu quero ir para casa.

– Prova que tu tá falando a verdade.

– Eu não te devo satisfações seu idiota. Agora deixa eu ir embora ok?

Eu comecei a andar me esquecendo totalmente do joelho machucado, e senti imediatamente uma fincada de dor.

– PUTA QUE PARIU! – berrei.

– Tu tá machucada ainda vadia? – ele abriu a porta – entra logo que eu te levo para um hospital.

Eu estava sem opções denovo, então entrei no carro. Em meia hora chegamos ao hospital e fui encaminhada as pressas para a ala de ortopedia.

– Ai caralho! – berrei, enquanto o médico apalpava meu joelho, que estava inchado feito uma bola, além de muito roxo.

– Fica calma ai mocinha. Tu deslocou o joelho. Nós vamos ter que enfaixar isso, e vai doer um pouquinho.

Um lembrete: quando um médico disser que vai doer “um pouquinho” corra. Eu comecei a chorar de dor, peguei um bisturi que estava em uma mesinha e apontei para o médico.

– SAI DE PERTO DE MIM PORRA! – gritei.

O médico se afastou e a enfermeira levou as mãos a boca, assustada.

– Acalme-se jovem. Isso é para o seu bem. – o médico disse.

– e não tem nenhuma anestesia nessa merda de hospital não?!

Ele olhou para a enfermeira que saiu as pressas. Ela voltou alguns segundos depois com um comprimido e enfiou-o na minha garganta – literalmente- e depois me deu um copo com água. Eu só me lembro então de que o médico voltou a se aproximar, e eu apaguei.


POV. Slash

Izzy e Steven disseram que iriam atrás de Mari e Lari, e eu fui atrás sem pensar duas vezes. Aqueles dois estavam desesperados e juntos podiam – e iriam- fazer mais besteiras do que um bêbado atrás do volante.

– vocês tem alguma noção de onde elas podem estar? – perguntei

– Não. Mas sei onde aqueles caras moram. – Steven respondeu

– Como? – Izzy e eu perguntamos em uníssono.

– Eles são traficantes. – Stev disse.

– Vamos logo droga – disse Izzy, impaciente.

Entramos no carro e fomos até a casa dos filhos da puta. Em menos de uma hora chegamos, e Izzy e Steven arrombaram a porta.

– CADÊ AS DUAS CARALHO? –Izzy gritou

– Elas não estão aqui idiotas. As vagabundas gostosinhas fugiram – Um dos barbudos disse, sorrindo.

Steven estava vermelho de raiva, e eu tive que segurá-lo.

– estamos em desvantagem – eu disse.

– foda-se.

– eles vão ter o que merecem, mas não agora. Vamos logo achar a Mari e a Lari.

Ele assentiu.

– Sai daí Izzy, eu dirijo – gritei.

– Não, eu...

– SAI LOGO PORRA!

Ele foi para o banco do passageiro e eu pisei no acelerador.

– Diminui a velocidade Slash! Desse jeito tu vai acabar matando alguém – Izzy gritou.

Mandei ele calar a boca, e voltei minha atenção para a estrada, um pouco tarde eu diria.

– Que porra foi essa Slash? – Steven gritou.

– Passamos por cima de alguma coisa – respondi – que merda.

Parei o carro e desci.

– Ah, merda! – Izzy disse.

No chão estava estendida uma mulher gorda, com cara de vinte e poucos anos, surpreendentemente consciente.

– Seus filhos da puta! Olha o que fizeram com minha perna! – ela disse

A perna dela estava virada em um ângulo impossível, e eu olhei, preocupado.

– Vamos levar ela pro hospital, Slash – Steven suspirou.

Colocamos ela no carro e eu voltei a dirigir.


POV. Mariana

Eu acordei num quarto, com meu joelho enfaixado. Olhei para o lado e vi uma bandeja com café da manhã. Aquilo fez meu estômago roncar o mais alto que podia. Comi até não aguentar mais e me levantei. Haviam muletas encostadas na parede. Eu as apanhei e sai do quarto.

– Tá mais calma agora mocinha? – perguntou o médico, sorrindo.

– Ahan, obrigada. Eu já posso ir embora?

– Assine uns papeis na recepção e você estará liberada – ele disse.

Eu assenti e fui até a recepção. Chamei um taxi e alguns minutos depois ele chegou.

– Para onde vamos? – o taxista perguntou.

Indiquei-lhe o caminho e ele assentiu. Encostei na janela e suspirei. Eu estava quase adormecendo quando o taxi passou em frente a um bordel, onde estava tendo uma confusão.

– Me larga seu filho da puta! – disse uma mulher, que estava sendo expulsa.

Olhei com mais atenção e quase não acreditei.

– PARA ESSA LATA VELHA AGORA PORRA! – gritei.

Olhei denovo, assustada. Aquela mulher jogada no chão era Larissa.