Nós adentramos na sala depois de todo mundo, e eu tinha certeza que minha cara estava mega vermelha de vergonha. Roman estava certo quando disse que Aubree sempre falava demais. Ela sentou-se no seu canto e eu fui para o fundo da sala onde Roman ficava. Ele estava pálido.

— Você está bem? — Perguntei preocupada.

— Sim, por que? — Ele perguntou assustado.

— Nada. Você está pálido. — Observei.

— Não é nada com que eu não possa lidar. — Ele respondeu enfim.

— De qualquer modo, se você não está bem devia ir a enfermaria.

Eu o olhei e ele riu.

— Aprecio sua preocupação, — Ele finalizou e sorriu ternamente. — mas eu estou bem.

— Ok, superman. — Eu respondi com deboche e sentamos em nossas mesas.

Os alunos estavam tendo aula de história e pouco antes do meu turno acabar a professora passou uma atividade para eles. Lá do fundo vi Aubree se levantando e vindo em nossa direção. Ela pousou seu caderno em minha mesa.

— Tia. Como se escreve a palavra aproximar? — Ela perguntou como quando tinha dúvida sobre soletração.

— A-P-R-O-X-I-M-A-R. — Respondi.

Ela descreveu cada letra que eu ensinei e depois sorriu.

— Obrigada. — Ela disse feliz.

— Estou aqui pra isso. — Respondi com o mesmo sorriso acolhedor. Ela realmente aquecia meu coração com sua doçura.

— Nós estamos. — Roman completou se metendo na conversa.

Ela o olhou com cara de deboche.

— O senhor não precisa ficar com ciúmes. A próxima palavra eu pergunto pro senhor. — Ela disse decididamente.

Rimos juntos do jeito dela.

— Ok. Estarei no aguardo.

— Tia Tasha. — Ela disse antes de ir. — Desculpa por deixar a senhora vermelha quando eu disse aquilo. — Ela finalizou e piscou o olho pra mim, saindo rindo com seu caderno e lápis na mão.

Ficamos eu e Roman vermelhos juntos. Um silêncio nos tomou o ambiente até que Jonas, uma das crianças do orfanato, veio pedir minha ajuda. Logo depois o sinal tocou e eu sabia que aquele era o sinal de que meu expediente lá havia acabado.

Fui no sentido do meu armário para tirar meu colete de monitora e colocar meu casaco. Ninguém costumava ficar por lá porque era horário de almoço, logo, eu decidi ficar lá sentada por um tempo. Olhei o relógio e tinha um pouco de tempo antes de encontrar Patterson.

Comecei a pensar no que Aubree havia dito. Eu sabia exatamente do que ela estava falando, embora tivesse me fazendo de boba. Essas duas semanas de serviço haviam me aproximado do Roman de forma que me surpreendeu totalmente. Nós estávamos sempre conversando. Ora sobre criança, ora sobre o FBI, e havíamos descoberto muito mais em comum entre nós do que eu pensava. Ele era exatamente teimoso como eu, assim como firme no que ele acreditava. Ele era engraçado e divertido de um modo que eu jamais havia imaginado, e sempre utilizava do meu deboche pra fazer brincadeira comigo, mas ele sempre me fazia rir. Só Deus sabia o inferno que eu estava passando com meus problemas com a Jane, e o quanto eu estava me sentindo sozinha ao achar que tinha perdido a amizade de Jane e de Kurt, por ter o Reade longe e Patterson sempre tão ocupada com o trabalho e agora com o casamento de Jane, mas ir pro orfanato sempre me completava. Não só pelas crianças eu havia notado na última semana, mas porque eu gostava da amizade de Roman.

Nos últimos dias porém, eu havia olhado para ele com um pouco mais de carinho que o normal. Maldita TPM, pensei, pois algumas vezes havia notado ele olhando para mim quando achava que não estava observando. Eu porém queria ignorar aquilo. Era apenas algo da minha cabeça.

Aubree porém não nos ajudou. Meu coração ficava ainda mais terno por ele quando eu o via tratando Aubree como se fosse filha dele. Com carinho, zelo. Ele sempre a fazia sorrir e ela havia tomado meu coração de um modo que isso também me fazia sorrir. Eu estou ficando louca, pensei e comecei a rir sozinha disso, até que a porta se abriu. Era Roman.

— O que você faz aqui sozinha rindo? — Ele perguntou com estranheza.

— Nada. — Eu disse séria me fechando, mas logo cedi. — Apenas algo que lembrei.

Ele me olhou diretamente, mas dessa vez com o olhar que eu sempre via quando ele estava me observando. Compartilhamos do silêncio.

Ele mexeu no armário dele, trocando seu colete por um casaco verde que ele sempre estava usando.

— Você vai almoçar aqui? — Ele perguntou olhando pra mim.

— Não. — Eu disse, também acenando com a cabeça. — Patterson vem pegar para nós almoçarmos juntas.

— E colocar as fofocas em dia. — Ele disse imitando voz de mulherzinha, o que me fez rir.

— No FBI não temos tempo pra isso.

Ele sorriu e meu celular tocou. Me levantei pois era Patterson avisando que tinha chegado, mas quando estava saindo eu o parei.

— Podemos almoçar juntos amanhã. Ok? — Eu perguntei séria. Ele acenou que sim com a cabeça, acompanhado de seu sorriso.

Meu celular vibrou novamente, me levando de volta a realidade e eu fui encontrar Patterson.

***

— Por que você me esperou lá dentro? — Patterson perguntou logo que eu entrei dentro do carro. Eu a olhei com estranheza e ela continuou. — Você sempre fica aqui fora.

— Eu apenas quis ficar lá dentro, ué. — Eu respondi olhando pra ela. — Eu estou morrendo de fome.

Patterson riu e fomos. Estávamos comendo algo quando nossos celulares vibraram. Era Weller com chamado urgente. Largamos metade de nossa comida, que se resumia em um fast food e fomos. Tínhamos uma missão para ir. Aconteceria uma venda de armas pesadas e eles haviam recebido essa denúncia naquele final de manhã.

Ao chegarmos no FBI, Patterson obteve novas informações em cima da informação dada. Havia um homem e uma mulher responsáveis pela venda. Eles primeira deveriam ir em um determinado local e pegar uma chave código para o armazém onde os compradores estavam esperando. Em uma armadilha, o time conseguiu pegá-los, mas o cara morreu. A mulher me entregou as chaves e voltamos pro FBI. Ela repassou todas as informações que tinha. O grupo que iria comprar tinha todas as informações de características físicas deles: Um homem alto, loiro e barbudo e uma mulher baixinha e morena. Eles chegariam, entraria e negociariam o valor, deixando as armas lá e levando o dinheiro. Kurt pediu para que eu fosse me ajeitar para ir no lugar dela e eu fui.

Estava no vestiário quando escuto a porta abrir. Uma presença um pouco mais alta que eu estava ao meu lado quando eu o olhei, era Roman.

— Hey. — Eu disse com ânimo, mas logo franzi a testa. — O que faz aqui?

— Weller pediu que eu viesse participar da missão. Parece que eu me encaixo no gênero contrabandista de armas também. — Ele respondeu com humor.

Nós rimos.

— Nos encaixamos então. — Eu disse animadamente e trocamos sorrisos.

Ele pegou algo no armário de Jane e o fechou.

— Te espero lá fora.

— Ok. — Eu respondi acenando com a cabeça.

Sorrimos e ele saiu da sala. Logo uma batida de armário me colocou de volta onde eu estava.

— Eu não sei se Roman é o seu tipo de homem favorito sexualmente falando, mas ele é claramente o tipo de homem que sabe colocar um sorriso no seu rosto. — Disse Patterson brotando atrás de mim.

— Shiiiiii…. — Eu comecei e ela riu. — Você não sabe do que ta falando. — DIsse tentando desviar do assunto.

— Qual é, Tasha, só disse que ele fez você sorrir. Não é a verdade? — Ela afirmou com deboche.

— Eu odeio quando você é tão debochada. — Respondi.

— Eu aprendi com a melhor. — Ela disse me olhando. — E só falei a verdade.

— Ele não é meu tipo. Se era isso que você queria ouvir. — Eu finalizei fechando meu armário, tentando fugir daquela conversa que tanto estava bagunçando minha cabeça. — Vamos lá pra nossa missão.

***

Chegamos com o caminhão no galpão indicado, já sabendo onde cada agente estava posicionado, assim como os atiradores. Roman abriu a porta e eu entrei, me posicionando perto de uma janela onde qualquer coisa que pudesse acontecer pudesse ser vista. Roman estava logo atrás de mim.

— O caminhão está lá fora. — Eu comecei. Roman jogou a chave de volta pra eles.

— Onde está o dinheiro? — Disse Roman.

— Calma, calma… — Disse um dos dois caras que estavam lá dentro. — Nós temos mais coisas a conversar.

— Não temos tempo. — Roman disse, já sentindo assim como eu que aquela hesitação não significava algo bom.

— Mas vocês terão. — Disse o cara chegando perto de mim. — Depois que me responderem onde vocês conseguiram a informação de onde estava a chave. — Ele respondeu pegando uma arma e colocando na mão, apontando pra minha barriga.

— Droga. — Pensei nervosamente, até que Roman me puxou pra mais perto dele.

— Respostas como essa não são necessárias numa negociação dessas. O necessário são apenas as armas pra você e o dinheiro para nós. — Ele disse enquanto sua mão pousava em minha cintura, tomando-me realmente como um casal que nós estávamos fingindo ser.

Ele acenou com a cabeça e logo apontou a arma pra mim. Ele atirou em minha barriga. Um tiro fatal e eu logo senti o ardor. Roman avançou em cima dele, desacordando-o e logo os agentes do FBI haviam invadido a sala, colocando o outro em rendição.

A dor porém não saia de dentro de mim.

Fazia tempo que não levava um tiro daqueles. Havia sido um tiro limpo no final das contas, mas a dor não era menor por conta disso. Me amaldiçoei em sussurros por ter atirado uma vez na Jane naquele mesmo local. Eu estava suando frio, mas tentei me levantar.

— Você está bem? — Perguntou Roman, apertando o lugar onde eu havia tomado um tiro. — Precisamos de uma ambulância. — Ele disse gritando pros outros agentes e me pegando pelos braços.

— Eu posso me levantar sozinha. — Eu disse respirando fundo. — Eu posso ir sozinha. Me coloque no chão. — Finalizei quando ele me colocou em seus braços. — Eu consigo, eu…

— Você consegue, eu sei, mas isso não vai me impedir de levar você.

Logo que ele me levantou, Jane e Kurt estavam a nossa frente. Meu olhar estava pesando, eu estava perdendo muito sangue. A dor estava me corroendo.

— Eu odeio seu irmão. — Eu disse olhando quase inconscientemente para Jane e ela forçou um sorriso, embora parecesse que ela estava sentindo pela minha dor.

Foi a última coisa que me lembro dizer antes de apoiar minha cabeça no peito dele, suspirar e pensar. Pensar o quanto eu me odiava por no fundo amar estar nos braços dele naquele momento.