Don't Wanna Know

Capítulo 39 - Oceano Rubi


Ao lado de Roman, a vida era bonita como aquele nascer do sol na beira da praia.

Com Aubree conosco, aquele momento parecia ainda mais esplêndido, pois ter ela formando essa família era como ter raios rosas, lilases e amarelos no céu quando os primeiros frames de luz começam a tomar o dia, tornando-o ainda mais lindo

Apesar de inicialmente protestar por acordar cedo demais para ver o sol clareando o dia antes de irmos embora, a menina logo se empolgou quando nós contamos que íamos casar e essa empolgação perdurou durante todo o retorno para casa, quando ela empolgadamente detalhava como pensava em cada detalhe que adoraria pro casamento, ainda que fosse unanimidade para mim e Roman que não queríamos uma grande festa, apenas uma celebração entre nossos amigos e nossa filha.

Nossa filha.

Enquanto observava Roman dirigir e a menina, já cansada, dormindo no banco de trás, suspirei pensando em como o destino soube encaixar cada peça da minha vida. Por um acaso — na verdade um erro, já perdoado por Jane —, eu reconheci Roman, o homem da minha vida, e por esse acaso eu ganhei Aubree, uma filha.

Tudo estava tão diferente do que talvez eu já projetei para mim mesma um dia, mas nem nas melhores projeções eu teria planejado tanta felicidade e tanto amor genuíno e mesmo assim eu recebi tudo isso dos dois.

Como se me observasse ainda que atento ao trânsito, Roman me encarou em um sinal vermelho, levantando as sobrancelhas.

— Um dólar por seus pensamentos. — Ele pediu, curioso.

Eu o olhei com diversão e um pouco de desdém, sempre assustada porque eu sempre me via mais apaixonada por ele cada vez que o olhava.

— Meus pensamentos são tão baratos assim?

Ele riu de maneira divertida e eu então o respondi.

— Só estou pensando no quanto estou feliz pela nossa família. — Completei colocando minha mão em sua nuca e alisando seus cabelos loiros enquanto o olhava. — Nem nos meus melhores sonhos pensei que fosse amar um dia alguém como amo você e também nunca imaginei ganhar uma filha tão inteligente e maravilhosa, que uma criança fosse completar tanto um relacionamento meu, sabe? Por muitos anos nem em casamento eu pensava e hoje tudo que eu quero é passar o restante da minha vida com vocês.

— Acho que podemos dizer que a Aubree foi quem fez nosso casamento, sim? Se não fosse por ela, talvez você ainda me odiaria ao invés de ter um noivo e uma filha. — Ele respondeu de maneira provocativa, mas ainda lisonjeira pela parte da filha.

— Se parar pra pensar, acho que ela sempre foi a nossa maior benção. — Refleti emotiva e ele pegou uma das minhas mãos, beijou e completou meus pensamentos.

— E olha que ainda temos muitas bençãos a viver nos próximos meses, né? — Ele concluiu e ali eu soube que realmente viveríamos muitas bençãos dali pra frente, porque tínhamos escolhido por isso a partir do momento que escolhemos um ao outro.

***
POV: Roman

Enxergar Tasha como a mulher completa e independente que ela era foi uma das coisas que fez com que eu me encantasse com ela e o que fez com que eu me sentisse lisonjeado por ser seu noivo. Ela claramente não precisava de mim, mas ela me queria todos os dias. Nos difíceis e nos fáceis, nos simples e complexos. Todos os dias ela me escolhia e eu não poderia estar mais feliz por isso.

Era bonito também assistir nossos amigos felizes por essa escolha.

Ver a melhor amiga dela, Patterson, com lágrimas nos olhos ao anunciarmos nosso noivado na casa de Jane e Kurt e dizendo para mim que eu não poderia ter alguém melhor para mim, mas que Tasha também não poderia ter alguém melhor para ela. Eu era o homem mais sortudo do mundo e sabia disso.

Também era sortudo porque em breve ia ser tio e ia poder experimentar em dose dupla, através da minha irmã, como era ter crianças recém nascidas, algo que eu sonhava também para mim e para Tasha, mas estava ansioso para ver se perto como seria a realidade.

A proximidade do fim da gestação da Jane também me trouxe preocupação, porque
eu sabia que ela era a mulher mais forte que eu conhecia, mas isso não diminuía minhas indagações com o parto de duas crianças envolvendo uma mãe que já havia passado por experiências médicas anormais como uma grande inserção de ZIP na corrente sanguínea.

Em consenso, eu e Tasha decidimos tocar as coisas do casamento com calma, até porque queríamos fazer algo simples e íntimo, para ajudarmos minha irmã e Kurt com a chegada dos gêmeos e não tardou para que eles chegassem.

Era um dia frio em que eu, Tasha e Aubree estávamos tomando chocolate quente e brincando de Twister quando o telefone tocou. A enfermeira avisou que a bolsa de Jane havia estourado e eles estavam a caminho do hospital. No primeiro momento, fui acompanhá-los e Tasha ficou com Aubree em casa, mas conforme as horas passaram, elas chegaram com comida para todos nós e lá ficaram.

Quatro horas depois de muita luta da minha irmã, os gêmeos chegaram ao mundo. Nikki mais pesada que Lucca, mas os dois igualmente perfeitos. A menina tinha os cabelos loiros como de Kurt e o menino puxava mais a Jane. Pegá-los nos braços pela primeira vez foi como conhecer um novo mundo. Eram seres inocentes, com tanto a aprender, mas como tios eu e Tasha não tínhamos a menor dúvida de que queríamos o melhor para os dois.

A transição do hospital para a casa de Jane e Kurt foi calma, ainda que envolvendo muitas pessoas. Apesar do casal ter contratado babás para ajudá-los, por algum motivo eu e Tasha nos envolvemos naquela rotina, sempre revezando entre o trabalho e a nossa própria família para também cuidarmos dos gêmeos e assim foi por uns seis meses. Tash ficou infinitamente apegada ao Lucca e eu à Nikki, o que sempre gerava piadinhas de Jeller conosco.

— Acho que já conseguimos saber o que cada um quer ter quando Tasha engravidar não é, amor? — Jane nos provocou enquanto conversava com Weller.

— Nada a ver. — Tasha disse parecendo contrariada enquanto brincava com Lucca no colo e o casal riu pela maneira com que ela respondeu, então ela continuou. — Até porque já temos uma filha e eu já a amo muito, mesmo que ainda estejamos em processo de adoção.

A confusão se formou no olhar de Jeller.

— Vocês vão adotar um bebê? — Kurt indagou sem aguentar a curiosidade e só então Tasha pareceu se dar conta que ainda não havia contado pros amigos sobre ter dado entrada para se tornar oficialmente mãe da Aubree.

— Não. Eu e Roman demos entrada nos papéis para que eu me torne mãe adotiva da Aubree.

E então o silêncio reinou.

Não pela falta de curiosidade, mas porque Tasha sempre parecia se fechar ao falar sobre aquele assunto nos últimos dias principalmente, até mesmo comigo. Por conhecê-la, Jane e Kurt sabiam só pelo olhar dela que ela não falaria mais do que aquilo sobre o assunto, pelo menos naquele momento, então o assunto logo cessou, mudando para o fato do quanto era cansativo ter dois filhos de uma vez.

Eu ainda via, no entanto, a áurea de Tash mudar sempre que a adoção de Aubree era levantada e isso me preocupava. Ela não parecia ter se arrependido, tava cada vez mais amorosa e colada a filha, sempre me informava sobre cada passo das últimas semanas quando foi chamada para conversar com assistente social e com psicóloga, mas seu olhar nos últimos dias parecia coberto de uma preocupação que nada tirava, nem mesmo as palavras de conforto que eu tentava dar.

Em uma noite, logo antes de dormirmos, vi aquele olhar perdido em seus olhos pelo espelho enquanto ela se vestia e observava o próprio corpo e, ainda que não quisesse sufocá-la com o assunto, percebi que precisava conversar com ela sobre porque queria vê-la bem e feliz com aquilo, até porque aquele era um processo que poderia demorar e ficar daquela maneira só ia deixá-la mal.

— Você tá tão bela hoje pra tá com esse olhar de preocupação, cariño. — Sussurrei no ouvido dela chegando por trás e abraçando-a, involuntariamente colocando um sorriso no rosto dela porque ela sempre dizia que meu sotaque falando espanhol era “uma graça”.

— Não é nada. — Ela respondeu me olhando pelo espelho. — Só o mesmo pensamento de sempre.

— Então acho que preciso dizer pela milésima vez que eu entendo você, mas que você já é mãe da Aubree e nada vai te tirar isso. — E a virei de frente para olhar diretamente nos olhos dela. — Lembra quando eu passei pela mesma coisa? Foi você quem me acalmou. E bom, acho que eles vão aceitar que a Aubree tenha uma mãe super fodona, coordenadora de um setor inteiro do maior escritório do FBI, tia amorosa de duas crianças, depois que aceitaram ela ter um pai ex-terrorista desmemoriado.

Aquilo a fez rir junto comigo, mas logo lágrimas começaram a nascer no canto dos seus olhos e ela me abraçou. Era um abraço estranho porque parecia mais vulnerável, medroso como nunca tinha visto Tasha ser e eu então beijei sua testa para acalmá-la de alguma maneira até ela romper o silêncio que era tomado apenas pelo seu próprio choro.

— Roman, — ela começou um pouco nervosa — será que eles não vão achar que tá acontecendo muito rápido? Ou que eu só tô adotando sua filha porque vamos casar? E se…

Ela parecia ainda mais perdida em seus próprios pensamentos, mas ainda não parecia que eu devia interromper aquele momento em que ela finalmente estava falando o que a aflingia.

— E se eles não quiserem que eu adote a Aubree ao saber que estamos esperando um filho?

— Tasha, você…

Ela mal me deu oportunidade de completar a pergunta em meio as minhas lágrimas e respondeu com uma rapidez estrondante, como uma onda quebrando no mar.

— Eu tô, meu amor. Tô grávida. Vamos ter um bebê além de uma filha em oito meses e eu não conseguia te contar porque não sei se era o que queríamos agora, não sei se vou dar conta de tudo, se isso não vai atrapalhar a adoção e nossa relação com a Aubree e me sentindo estranha por não ter percebido antes porque é uma gravidez silenciosa. Eu tive um pequeno sangramento só na semana passada, pensei que fosse a menstruação, mas a médica do FBI disse que era só sangramento de escape, e só fiquei sabendo quando fui fazer um antidoping três dias atrás no trabalho e eu simplesmente não sabia como te contar.

Mesmo observando Tasha tão nervosa e aquilo de alguma forma me deixar aflito, não tive como não dar um sorriso. Deus, como eu amo essa mulher, pensei.

— Desculpa. — Ela pediu então parecendo exausta, como se de fato tivesse tirado um peso das costas.

Mas ela sabia que não tinha porque pedir perdão assim que olhamos um nos olhos dos outros, ambos marejados.

— Não precisa pedir desculpa, meu amor. Eu sempre vou entender você e seus sentimentos. Eu te amo tanto, Tash. Tanto. E eu te amo exatamente porque sei que você vai dar conta, porque eu sempre te amei porque você sempre conseguiu dar amor e cuidar de todos. Como não achar que você vai dar conta de uma criança e um bebê quando você todo dia acaba dando conta de um departamento inteiro do trabalho? E quando você ainda encontra tempo para dar conta de nós, da nossa casa e da nossa família e até dos bebês de Jeller? Não tenho dúvidas que, se alguém pode dar conta de uma gravidez agora, é você, eu e Aubree, porque eu também tô aqui pra ser o melhor pai que um filho nosso merece.

E eu a beijei. De maneira rápida, pungente, porque ela precisava saber não só por palavras, mas com a dança dos nossos próprios lábios o quanto eu acreditava nela e em cada palavra que tinha saído de mim.

Quando nos afastamos, finalmente vi um sorriso em seu rosto e um olhar com mais alívio.

— Eu juro que planejava te contar de uma maneira mais breguinha, do jeito que você gosta. Ia até te dar rosas, mas ia esperar mais uns dois meses pra isso, pra gravidez ganhar mais forma.

— Talvez o destino quis antecipar um dos momentos mais felizes da minha vida. — E complementei de maneira engraçada. — Mas ainda aceito piegismos vindo de você, tá?

— Não era mesmo justo que você não soubesse logo. Como eu me privei de ver esse sorriso tão lindo no seu rosto sabendo que vai ser pai de novo? — Ela exclamou de maneira humorada apertando minhas bochechas e depois colocando as mãos nos meus ombros.

E não seria mesmo porque naquele momento, tendo a mulher da minha vida e nosso futuro filho nos braços, sabendo que nossa outra filha dormia no quarto ao lado, eu sabia que era o homem mais sortudo do mundo.

— Não sei, mas agora eu vou ser ainda mais o homem mais feliz do mundo. E ninguém mais poderia me fazer assim que você, Tasha Zapata. Você é a minha vida, a parte mais feliz da minha existência e agora duplamente mãe dos meus filhos. Eu te amo tanto, mulher. Quero gritar pro mundo que te amo.

— Que tal gritarmos só amanhã quando contarmos pra Aubree? — Ela sugeriu de maneira espontânea, mas pontuou. — Mas ainda não quero contar aos outros. Ain da.

— Tudo bem. — Aceitei, e pegando as mãos dela nas minhas, me ajoelhei. — Agora só vou falar baixinho mesmo com nosso bebê. — E beijei a barriga dela com veneração porque saber que agora ali residia uma parte de nós dois. — Pode ser?

— Pode sim. — Ela respondeu com a voz chorosa.

— Então me deixe contar pra ele que ele terá a melhor mãe e os melhores tios do mundo. Sabia, filho? — E após mais um beijo no seu ventre, continuei. — Sua mãe sempre foi minha certeza de felicidade e agora vai ser da nossa. Ela sempre vai lutar por você, vai ser divertida, companheira, dona do sorriso mais lindo que você vai conhecer, mas vai te dar bronca quando você aprontar algo com a sua irmã. Mas o mais importante é que ela sempre vai ser sua parceira. Ela e eu também. E você vai saber por todos nós e por sua irmã o que é o amor. Você nunca vai saber o que é desamparo como eu e ela experimentamos quando éramos criança porque nós dois nunca vamos deixar de estar com você, te amando, e sua irmã mais velha Aubree também não. E mal vemos a hora de ver se você vai parecer mais comigo ou com ela. Eu, particularmente, espero que pareça com ela, porque ela é o maior charme da nossa família. O papai é apenas um acessório ao lado dessa beleza irradiante dela.

— Se você falar mais um A e não me beijar agora eu vou transformar essa criança em lágrimas porque eu estou hiper sensível e não consigo parar de chorar.

E assim eu me pus novamente de pé, a levei pra cama e a beijei com avidez, provando a cada parte do seu corpo como eu estava feliz porque íamos ser pais, e como nós também estávamos prontos para isso e para qualquer outra felicidade que o destino nos revelasse no futuro. Se é que ainda havia alguma maneira de ficar mais feliz que naquele momento.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.