Don't Wanna Know

Capítulo 34 - Não quero despedida


Roman POV

Nos últimos dias entre o convite e a ida até Nova Jersey, comecei a pensar no que teria levado Tasha a ir morar no fim do mundo, de favor, na casa de um amigo. Ela mudou de cidade, desativou meios de contatos e não havia mais registro do FBI no nome dela. Tudo isso, juntamente com a conversa breve com Sarah, me fez questionar se ela não estava se escondendo de outra pessoa e não de mim.

Doeu pensar que ela poderia estar em perigo, com medo, sem aquele belo e costumeiro sorriso no rosto. Pensar no sorriso dela também me fazia enlouquecer internamente nos últimos dias, pois além da saudade, eu também sentia medo dela estar infeliz tanto quanto eu estava enquanto pensava na ausência dela no calar da noite.

Passei a viagem toda pensando nela. Em como ela estaria, como seria nosso reencontro, o que nós faríamos. Três horas se passaram até que chegássemos na frente da casa do Reade e, quando lá chegamos, percebi como ansiava por aquele momento, mas não sabia bem o que fazer.

Tasha POV

Ouvi o som de carros estacionando na frente da casa e suspirei profundamente. Durante pouco mais de um mês, vivi a expectativa de rever meus amigos, as pessoas que tanto amava, e ver que esse momento chegou, da mesma maneira que fazia eu me sentir bem, me afligia. Será que tentaram entender o que eu fiz? E se o Weitz fizesse algo por suspeitar que essa seria uma reunião para detê-lo?

Antes de começar a ficar nervosa com essa possibilidade, escutei a porta sendo aberta. A voz de Patterson foi a primeira que soou, falando animadamente com Simon e Sawyer e ali mesmo chorei. Como eu havia sentido falta de escutar a voz dela, de chorar naquele ombro, escutar aquele riso. Vir para cá foi uma das decisões mais difíceis da minha vida e, embora eu tivesse o Reade, sentia um vazio absurdo por não ter Patterson perto de mim. Em seguida, veio a voz de Jane e Kurt. Percebi, ao escutar a voz de todos, que não estava vivendo, apenas existindo, pois minha vida não tinha sentido sem eles. Logo eu, a independente mulher convicta, havia me tocado que era impossível ser plenamente feliz sem meus amigos.

Desisti de maquiagem, pelo menos naquele momento e fui em direção a eles na sala. A primeira pessoa que vi foi Patterson, com um vestido em um tom de amarelo que combinava com ela. Assim que me viu, nossos olhos se encheram d’água e ela então me abraçou.

— Como eu senti sua falta. — Foi a única coisa que consegui dizer antes de voltar a chorar.

Ela me acompanhou nas lágrimas enquanto eu me confortava em seus braços. Patterson talvez fosse a pessoa mais capaz de me entender, por isso fazia tanta falta em minha vida.

Quando nos afastamos, ela sorriu também entre lágrimas.

— Acho que eu senti mais. Afinal, Nova York sem Tasha Zapata não é nada.

Rimos, mas o meu riso logo cessou ao ver a cara de Kurt e Jane.

— Que bom que você ta bem. — Jane falou enquanto me abraçava e Kurt, atrás dela, complementou.

— Quanto tempo, dona Tasha.

Antes que eu o respondesse, no entanto, nosso momento foi interrompido quando escutei uma voz de anjo.

— Tia Tasha!

Era Aubree logo atrás de mim. Ela pulou em meu braço e a única coisa que eu consegui fazer foi abraçá-la. Era como se tivesse reencontrado uma parte de mim.

— Meu amor! — Foi tudo que eu consegui dizer e a agarrei de olhos fechados, tentando me agarrar naquele momento como um dos mais importantes daquele dia. Eu tinha de novo aquela menina em meus braços. Como eu havia me preocupado com ela, como sentia sua falta, como me sentia feliz por poder tê-la em meus braços naqueles minutos.

Não pude evitar as lágrimas que saiam de mim e, quando abri os olhos marejados, dei de cara com Roman.

Ele seguia sendo o homem mais bonito que eu já havia conhecido, mas carregava um olhar que eu não conhecia. Não saber ler o seu olhar me deixou aflita, com coração inquieto. Com a barba um pouco menor, vestia uma calça jeans azul e uma blusa num tom de marrom claro.

— Senti sua falta, tia. — Interrompeu Aubree a nossa troca de olhares.

— Eu também senti sua falta, princesa. — Respondi beijando seu rosto e ela sorriu.

— Não chora não, tia. Eu tô aqui agora e meu pai também.

— Eu tô chorando de felicidade por vocês estarem aqui e estarem bem. — Assumi, embora um pouco constrangida por todo mundo estar silenciosamente observando o momento. — Estou muito feliz em poder ver vocês, pessoal. — Falei olhando para todos.

— É bom saber que você está bem. — Respondeu Roman e então Reade apareceu tentando quebrar a tensão do momento.

— Temos que sair em 15 minutos, pessoal.

— Ok. — Falei ao colocar Aubree no chão. — Vou terminar de me maquiar.

Todos começaram a se dispersar na sala. Jane e Kurt conversavam com Sarah, Patterson observava Sawyer cuidando do irmão, mas eu sentia o olhar de Roman em mim e Aubree, mas eu não tinha coragem de olhar nos olhos dele ainda. A menina puxou meu braço e pediu para ir comigo.

Antes que eu pedisse permissão ao Roman, ele falou com seriedade na voz.

— Pode levá-la.

Me maquiei o mais rápido possível. Não ficou muito bom, mas sabia que estava nervosa por toda a situação. Aubree não me ajudou muito, principalmente ao perguntar porque eu havia trocado a casa do Roman por aquela casa, onde meu quarto era menor. Sem querer chorar mais, virei-me para ela e disse que explicaria quando voltássemos mais tarde do batizado.

A cerimônia não foi muito longa, mas não voltamos logo para casa. Para comemorar a reunião, Sarah e Reade decidiram fazer uma pequena comemoração em um restaurante. Ao chegar lá, o clima já não estava mais tão tenso — talvez a igreja tenha ajudado a aliviar a mágoa — e eu e Patterson já conversávamos sobre amenidades, o que deixou meu coração um pouco menos aflito.

Logo que as bebidas chegaram, Reade pediu um brinde ao batizado de Simon, mas Weller o interrompeu antes que brindássemos.

— Eu e Jane temos um motivo para brindar também. — Ele falou animado e Jane se levantou.

— Eu só não vou poder brindar com champagne, pois estamos grávidos. — Ela disse super animada e Kurt a abraçou.

Logo a mesa era um centro de cumprimentos aos dois e um amplo retrato de felicidade compartilhada. Era confortante pensar tudo que os dois haviam passado juntos e, depois de se confirmarem uma família, aquele era o momento de vê-la se multiplicar. Todos sabíamos que eles mereciam isso e era um consolo saber que eles teriam lá essa felicidade, embora eu só pudesse apreciá-la de longe nesse momento. Desejei ardentemente ter resolvido meus problemas antes dos bebês nascerem.

O assunto também me fez lembrar do sonho de Aubree sobre os filhos de Jane e Kurt e do passado em que ela compartilhou ele comigo e com Roman. Quando fui cumprimentar Jane, dei um abraço terno e apertado nela.

— Finalmente Jeller aumentando essa família. — Disse brincando após abraçá-la e depois virei para a mesa. — Na próxima reunião, acho que já teremos que fechar um restaurante para caber todo mundo.

Todos riram e então começamos a interrogar o casal.

— De quanto tempo você tá grávida? — Patterson questionou.

— Nove semanas apenas. — Jane disse. — Descobrimos por teste, mas ainda não fizemos o ultrassom. Vamos deixar para fazer na próxima semana.

— Me choca que Kurt não tenha tentado correr na mesma hora para um consultório médico. — Disse Roman.

Todos riram.

— E aí, galera, vamos apostar quantos bebês são e quais os sexos? — Brinquei.

— Como assim quantos? — Jane questionou com graça na voz.

— Eu aposto que serão gêmeos. — Sugeri lembrando do sonho que Aubree teve.

Roman me olhou com incredulidade e eu o encarei, sentindo falta das nossas provocações, até que ele falou.

— Assim não vale. Podem ter duas pessoas com o mesmo palpite?

Todos ficaram nos olhando sem entender, até que Jane respondeu.

— Como assim, gêmeos? Por que vocês estão cismados com isso?

Eu e Roman rimos juntos pela primeira vez naquele dia, até que Aubree nos interrompeu.

— Uma vez eu sonhei que vocês tinham dois filhos e falei pro meu pai e pra tia Tasha. — Ela confessou.

— Aí não vale. — Disse Reade.

— Se vier, será uma benção. — Abençoou Kurt.

— Será ótimo ter os genes de vocês multiplicados. — Finalizei.

O resto da tarde foi bastante leve. Me agradou que ninguém me interrogou sobre meu sumiço, caso contrário, teríamos momentos constrangedores e não era o que um batizado pedia. Após sairmos do restaurante, fomos para a casa de Reade e ficamos conversando no jardim da casa. Embora me sentisse feliz, em um dado momento, algo na minha cabeça começou a me alertar que aquilo era temporário, que eles logo iam embora e eu ia ficar novamente longe dos meus amigos, do meu amor e de Aubree. Para não contagiar ninguém, aleguei dor de cabeça e fui para o quarto me consolar em minha cama e pensar em como resolver aquilo. Não demorou para que Patterson batesse na porta.

— Você nunca muda suas desculpas, né? — Ela disse enquanto entrava com um meio sorriso no rosto.

— Estou realmente com dor de cabeça. — Respondi tentando evitar o olhar dela, senão choraria novamente.

— Ta bom. — Ela sentou na ponta da cama. — Posso ficar aqui com você e sua dor de cabeça, ou é contagiosa?

Não pude não rir.

— Espero que não seja.

Ficamos em silêncio por alguns minutos e logo eu estava chorando. Patterson tinha um poder inigualável comigo, pois ela fazia eu me sentir bem para desabafar só por estar perto de mim. Sua presença me deu consolo, uma vontade de chorar e falar tudo que eu sentia e eu assim o fiz.

— Eu espero que vocês nunca sintam o que eu estou sentindo, Patt. Espero que vocês nunca tenham que renunciar tudo e todos que amam como eu tive que fazer. Eu sempre te falei que não tinha sentimentos, mas é uma mentira, uma mentira que eu adoraria que fosse verdade nesse momento. Seria bem mais fácil não sentir nada.

— Tudo bem sentir as coisas, Tasha. Já te falei sobre isso. Quero que saiba que também sinto sua falta. E não só eu. — Ela enfatizou a última frase. — Não sei quais os seus motivos para estar aqui, mas quero que saiba que eu enfrentaria o mundo pra te tirar daqui, pra te tirar dessa angústia.

— Não quero que você arrisque sua vida por mim.

— Então o Roman está certo. — Ela disse baixinho, quase como se o nome dele fosse um pecado.

— Você tem conversado com ele?

— Só o suficiente para saber que ele sente sua falta e que ele acha que algo ou alguém está ameaçando você.

Ficamos um tempo em silêncio. Não queria mentir, então achei melhor omitir a Patterson sobre as ameaças do Weitz. Ela desvendou meu silêncio, no entanto.

— Uma vez você disse que eu era a mulher mais foda que você já conheceu. Espero que saiba que eu seria ainda mais foda para enfrentar o que quer que esteja ameaçando a sua felicidade.

Virei-me para olhá-la e então nos abraçamos.

— Te amo muito, amiga. — Falei depois que ela limpou minhas lágrimas.

— Também te amo. E quero que saiba que vou estar aqui quando precisar. Você sabe meu telefone decorado.

Fui afirmativa com a cabeça e então mudamos de assunto quando ela começou a me contar que estava saindo com um rapaz que havia conhecido em um Congresso. Nos distraímos no papo, mas logo fomos interrompidas quando escutamos batidas fracas na porta.

— É Aubree. — Sussurrei para Patt.

— Tem certeza que tá bem para falar com ela? — Questionou.

— Eu não estou bem para falar com quase ninguém, mas preciso conversar com ela.

Patterson se foi e abriu a porta para a menina, que entrou com olhar desconfiado.

— Posso entrar, tia?

— Pode sim, meu amor. Vem cá. Fecha a porta e vamos conversar. — Falei.

— Meu pai disse que você tinha dito que estava com dor de cabeça. — Ela indagou enquanto sentava na cama e eu a colocava em meus braços.

— Por isso vim pra cá, mas a sua voz não me deixa com mais dor.

— Tudo bem.

Ficamos um momento em silêncio. Ela logo deitou a cabeça na minha coxa e eu comecei a massagear seu cabelo, observando que ela tinha o olhar distante.

— Sei que você quer me perguntar novamente o motivo de eu estar aqui, certo? — Comecei.

Ela apenas acenou positivamente com a cabeça.

— Lembra quando seu pai lhe mostrou seu quarto? Você me chamou, disse que seu pai era tudo que você tinha e eu te prometi que iria protegê-lo sempre que ele precisasse, embora ele ache que não precisa?

— Foi por conta disso?

— Sim, em partes. Você sabe, não posso te contar nada do trabalho, mas o que eu faço é perigoso demais para que eu fique perto do seu pai agora. Preciso resolver umas coisas e logo eu volto.

Ela não pareceu feliz em escutar aquilo e logo rebateu.

— Eu sei que a vida não é só querer e pronto. Meu pai vive falando isso. Mas eu queria que a senhora voltasse logo. Eu estou morando com ele agora, é bem legal, mas não é a mesma coisa sem você. Meu pai tenta fingir que é, mas não é. Sei que ele está triste por isso, mas ele não vai falar, pois não quer que ninguém fique triste também.

— Em breve vocês terão os seus primos e vai melhorar. — Falei enquanto as lágrimas saíam silenciosamente dos meus olhos.

— Nós ainda vamos sentir sua falta.

— Eu juro que um dia eu volto, tá?

Ela acenou novamente com a cabeça e se agarrou fortemente a mim.

— Espero que seja logo.

Ficamos em silêncio enquanto eu fazia tranças em seu cabelo loiro e logo ela começou a cantar uma música da Selena Gomez e eu a acompanhei na cantoria enquanto a tarde dava lugar a noite no céu do lado de fora da minha janela.

Ela dormiu depois de um tempo. Coloquei-a de uma maneira mais confortável na cama, a aqueci e fiquei observando-a dormir, lembrando do passado não tão distante em que minha única preocupação era se ela estava bem ao dormir e que, depois de vê-la dormir, eu ia me aconchegar nos braços do pai dela e simplesmente ser feliz. Aquela parecia uma realidade tão distante naquele momento.

Fui interrompida da minha transe ao ver a porta abrir. Era Roman, provavelmente vindo atrás da filha. Seus olhos verdes estavam tão acesos e, da mesma maneira que senti falta de ver ele olhando daquele modo para mim, sabia que ele sentia falta de me ver com Aubree. Éramos duas pessoas vivendo pela metade e o que mais me doía era perceber que era culpa minha.

Roman POV

Uma vez, no início da minha recuperação, uma doutora do FBI chamada Sun me diagnosticou como sociopata. De acordo com ela, eu seria para sempre um humano sem qualquer capacidade de sentir empatia, compaixão e amor. Naquele momento, era tudo que eu queria ser e que eu tinha a certeza que não era.

Desde que vi Tasha abraçada com Aubree que tudo dentro de mim se efervesceu e se inquietou de uma maneira angustiante. Eu queria sorrir, chorar e os dois ao mesmo tempo, de uma maneira incompreensível. Me sentia extremamente feliz por vê-la viva, bem, mas profundamente triste por não poder abraçá-la, beijá-la e, principalmente, por não saber bem o que fazer.

Não existia um manual sobre como agir e, mesmo se tivesse, não sei se eu seria capaz de tomar qualquer reação. Minha cabeça funcionava como um furacão, jogando pelos ares os meus sentimentos e qualquer “progresso” como minha terapeuta chamava.

Logo ela veio em meu sentido. Percebi que a maquiagem estava um pouco borrada, o que sinalizava que ela havia chorado, mas até chegar na porta, onde eu estava, ela já tinha tentado se recompor.

— Ela acabou de dormir. — Explicou saindo do quarto e fechando a porta atrás dela.

— Desculpa se ela te incomodou. — Pedi enquanto descíamos lentamente pelo corredor, em direção a cozinha.

O barulho de conversa fora da casa sinalizava que poderíamos ser interrompidos a qualquer momento, mas eu e ela não parecíamos nos importar muito com isso. Aquele era o nosso momento, o momento que eu tanto esperei no último mês e sabia que ela também havia esperado. Dava para ver no olhar dela que o que fez ela me deixar foi a paixão, e não a ausência do sentimento.

— Não incomodou não. — Ela rebateu procurando algo enquanto evitava meu olhar, até que pegou um copo. — Muito obrigada por me deixar ficar com ela por esses minutos. Eu precisava conversar com ela.

Era palpável o quanto havia coisas ao nosso redor naquele momento. Tanto a dizer, a escutar, a resolver, que parecia que até o ar que respirávamos sentia isso. Tasha parecia carregar um fardo em suas costas, como se tivesse medo do que iria dizer ao abrir a boca, então eu resolvi começar.

— Eu ensaiei tanto pra te dizer. Palavras boas e ruins — revelei observando-a encher o copo com água. — Mas agora, olhando pra você, só consigo dizer que senti sua falta.

Ela virou-se e me olhou de uma maneira aflita.

— E a única coisa que eu consigo te dizer é que eu sinto sua falta, da mesma maneira que eu sinto muito por ter te deixado, Roman.

— Por que? — Foi a única coisa que eu consegui verbalizar antes que a primeira lágrima começasse a descer na minha bochecha.

— Preciso proteger você e Aubree. Não posso falar muito sobre isso. — O silêncio permaneceu por uns segundos, percebi que ela não continuaria aquela conversa se eu não continuasse, então continuei.

— Você precisa fazer isso sozinha? Você sabe como tem me doído viver isso tudo sozinho? Ainda mais agora, sabendo que você está sendo ameaçada por algo? Não acha que eu posso te proteger? — Rebati com um pouco de mágoa na voz, que ela identificou e me olhou com raiva.

— Eu fiz uma promessa de te proteger, Roman. E é em nome dessa promessa que eu estou aqui. Antes de pensar em mim, em nós, eu preciso pensar na sua filha, na sua família.

— Você também é minha família.

— E você é a única família da Aubree. Claro que, se algo ocorresse a você, todos nós ficaríamos com ela, mas ela perderia o pai novamente e eu não quero que ela sofra essa dor.

— Em troca disso, nós três acabamos sofrendo. Dói estar vivendo com ela sem você lá em casa. Você se foi, levou tudo, mas a sua ausência tem ocupado um espaço enorme na nossa vida e no nosso dia a dia. Pensa que isso não dói em mim e nela?

— Você acha que não dói em mim? Acha que cada dia vendo meu amigo com a família dele não me faz sentir saudade de tudo que eu sonhei pra nós dois? Eu sei que eu sempre fui péssima em palavras, mas antes de te deixar eu te disse: eu te amo. Eu te disse isso para que ao menos você percebesse que eu não estava te deixando por falta de amor.

Suspirei fundo, passando a mão de maneira confusa no cabelo e no rosto. Minha cabeça era um furacão. Eu queria brigar com ela, mostrar como doía em mim, mas perceber como estava doendo nela me fez ter vontade de abraçá-la. Um misto inenarrável de amor e raiva.

O que nos separava era o balcão americano da cozinha de Reade, mas cruzamos nossos olhares e eles falaram por nós. Não podíamos brigar.

— Desculpa, eu não quero brigar com você. Eu só quero que você saiba toda a angústia, tristeza e até raiva que eu senti nos últimos tempos.

— Eu senti o mesmo. — Ela confessou com o olhar profundo, mas envergonhado. — E você sabe disso. Mas o meu medo de perder vocês pra sempre foi maior.

Ficamos em silêncio por longos minutos, observando um ao outro com os olhos entre lágrimas.

Tasha me observava dos pés à cabeça, assim como eu rememorizava cada traço do rosto dela. Quando vi, uma confissão saiu quase inaudível de seus lábios enquanto ela desviou o olhar.

— Queria poder te abraçar, mas sei que vai doer em mim e em você mais tarde se eu fizer isso agora.

Atravessei o balcão, ficando ao seu lado e peguei na mão dela, passei seus dedos sob os meus, pensando que agora ali deveria ter uma aliança, se a vida fosse justa. Quando vi, já estávamos abraçados.

— Já está doendo há um mês, Tasha. E não me importa se vai doer mais. — Sussurrei.

Lembrei da primeira vez que nos abraçamos, quando ela me contou que estava brigada com Jane. Naquela ocasião, poucos segundos depois, ela se distanciou. Dessa vez não. Nós necessitávamos um do outro naquele instante tanto quanto a lua precisava do sol.

O corpo dela pulsava com a mesma saudade que o meu, mas logo sua vibração mudou para o que eu reconheci como um choro sentido. A abracei mais forte e nós choramos ali por alguns minutos até que eu sussurrei.

— Eu odeio te amar tanto.

— Sei que não odeia. — Ela respondeu com um sorriso infeliz e o rosto encharcado de lágrimas.

— Nem se eu quisesse muito. — Confessei. — Mas amar você poderia ser mais fácil, né?

Ela me olhou de maneira profunda.

— Eu juro que vai valer a pena.

— Já valeu. Apesar de todo o sofrimento. — Rebati.

— O que foi isso na sua mão? — Ela questionou tentando, em vão, não demonstrar mais seus sentimentos.

— Um copo quebrou após uma crise há um mês. Já ta sarando.

— Desculpa. — Ela pediu, percebendo que deveria ter ocorrido quando ela foi embora. Naquele momento, eu percebi que a perdoaria do que quer que fosse nossos problemas e resolvi amenizar sua dor.

— Já estou ficando bem, pelo menos da mão.

Sorrimos sem graça um para o outro e percebemos que ainda estávamos abraçados. Como eu havia sentido falta da sua presença, do seu corpo no meu e de tudo que ele causava em mim. Percebemos como eu estava vidrado em sua beleza, ela me olhou com aquele olhar que eu reconhecia de quando eu sabia que ela queria ser beijada por mim.

Era difícil. Teimosa como ela era, eu sabia que provavelmente aquilo não a convenceria a voltar para casa e a voltar para mim, não até que ela resolvesse o problema, mas eu tinha que pelo menos tentar.

— Sabe como eu poderia melhorar? Com um beijo seu. — Disse tentando ser casto, mas a verbalização saiu de uma maneira desesperada.

Ela me obedeceu.

Após 36 dias, me senti completo de novo ao sentir aqueles lábios carnudos tocando os meus. Deus, como eu amava essa mulher, como eu sentia falta dela. Sua língua dançava com a minha de uma maneira desesperada, sedenta e era emocionante sentir nos lábios dela a mesma saudade que havia em mim.

Fomos interrompidos quando Jane entrou de uma vez na cozinha falando alto com alguém que estava fora da cara e nos separamos de maneira abrupta.

— Desculpa, desculpa, desculpa. — Ela pediu ao perceber o que estava ocorrendo.

— Tudo bem, maninha. — Respondi.

— A gente só estava conversando. — Tasha complementou enquanto me olhava com um olhar travesso.

— Foi numa conversa dessas que eu engravidei. Cuidado. — Ela brincou, mas logo ficou séria e nos observou, olhando principalmente na Tasha.

— Fico feliz que vocês não se odeiam, mas por favor, Tasha, não faça meu irmão sofrer mais. Os últimos tempos não têm sido fáceis para nenhum dos dois, eu sei, mas ele é meu irmão.

Limpamos a garganta juntos e Tasha respondeu.

— Eu também estava sofrendo e estamos conversando sobre isso.

— Espero que isso se resolva. Não quero ver os tios do meu bebê separados e tristes. — Ela disse e saiu.

Foi o momento em que nós dois caímos um pouco na real e Tasha se afastou um pouco de mim.

— Eu te amo, Roman, mas eu não vou poder voltar agora. Você vai entender isso amanhã?

— Só se você prometer que vai tentar resolver seu problema e que vai voltar.

— Não é tão simples assim. — Ela apontou cabisbaixa.

— Se você resolver o problema, você volta?

— Claro que sim, mas o problema não é simples.

— Tem certeza que não posso te ajudar?

— Absoluta. Eu até suportaria me perder, mas não suportaria perder você, Roman. Não posso fazer isso com Aubree.

— Nós não vamos nos perder. — Respondi beijando o rosto dela e fazendo nascer um sorriso ali e a agarrei.

— Não quero pensar no amanhã, na despedida. Quero pensar no hoje, e hoje eu posso te ter nos meus braços. Eu preciso sanar o vazio que você me deixou, Tasha.

— Te amo. — Ela disse mais uma vez e nos beijamos de novo. Ficamos de madrugada aos beijos e pouco dormimos, o que fez com que a despedida doesse.

Na manhã seguinte, quando a vi abraçando a Aubree pela última vez antes de entrarmos no carro, enquanto as lágrimas desciam em nossos rostos, jurei para mim mesmo que iria encontrar quem quer que fosse o causador de todo aquele problema. E iria fazê-lo pagar.