Don't Wanna Know

Capítulo 31 - Midnight Train


PATTERSON POV

Tasha chegou um pouco mais agitada que o normal no escritório nesta tarde. Me preocupei, pois ela havia me contado da suspeita da gravidez e disse que contaria ao Roman na noite retrasada. Será que ele reagiu mal?, me questionei, mas sabia que, na hora dela, ela me contaria. Não deixei, porém, de externar minha preocupação quando ela adentrou no laboratório e foi em direção ao computador que ela utilizava quando precisava.

— Hey, baby. Você ta bem? — Questionei quando ela se aproximou, alisando seus cabelos.

Ela me olhou no olho e, ali, vi a resposta, antes mesmo dela verbalizar a mentira.

— Tô, ué.

— Claro que não está. — A olhei com descrença. — Caso contrário, você não me responderia dessa maneira.

Ela tirou seu olhar do meu, parecendo envergonhada, mas permaneceu calada mexendo em um dos computadores.

— Sabe que quando precisar eu tô aqui, ta?

Concentrada no que estava fazendo, ela apenas balançou a cabeça de maneira positiva. Ficou cerca de 30 minutos lá, digitando e digitando e resolvi dar a ela a privacidade que ela precisava.

Antes de sair da sala, ela imprimiu alguns papéis, veio até a mim e me deu um beijo na testa.

— Obrigada por ta sempre aqui comigo, baby. — E me olhando no olho ela continuou. — Não tem nada a ver com a gravidez, ta? Aliás, nem estou grávida. As coisas só não estão fáceis. — E respirou fundo.

Antes dela sair, coloquei minha mão sob a dela.

— Ta bom, mas saiba que qualquer coisa eu tô aqui, ta? Ou em qualquer lugar que você quiser.

Ela respondeu com um sorriso de gratidão.

— Vou lembrar disso sempre, viu?

E antes que eu dissesse qualquer coisa mais, ela saiu da sala.

***************************

Algumas horas atrás

Ponte de Manhattan - Rio East

— Hey. — Ele disse se aproximando de mim com cinismo. — Quanto tempo!

Sua animosidade enquanto comia um donuts e adentrava em meu carro, ao mesmo tempo que me assustava, me dava raiva.

— O que diabos você faz aqui e por que não está preso? O que quer comigo e com Aubree?

— O que eu faço aqui, Tasha Zapata? É fácil responder, mas acho que você não pode saber. Questão de jurisdição.

— Você está com a CIA?

— Bem, eu não posso confirmar e nem negar.

— Ta, mas o que diabos isso tem a ver comigo?

— Bem, eu queria estar no Congresso, não com a CIA. Alguém tem que pagar por isso.

Sem muita paciência, o imobilizei com o cinto de segurança.

— E o que me impede que eu te mande exatamente pro inferno ao invés de de volta para a CIA ou para o Congresso?

Puxando o cinto que eu o sufocava, ele tossiu e depois respondeu.

— Por que você, ou melhor, seu namorado, precisa que eu esteja vivo para que ele consiga a adoção de Aubree.

— O que diabos você ta falando?

— Eu estou falando que você precisa pagar por ter me tirado do Congresso quando eu estava há alguns passos da Casa Branca. Agora você vai ter que ser meu peão, ou eu faço com que a Michelle, que é responsável pela adoção, negue a adoção da sua enteada. Aliás, ela só pode autorizar se eu deixar. Para que eu deixe, você precisa ser meu cavalo de tróia dentro do seu grupinho. Você já fez isso antes pro podre do Carter. E a CIA tem muitas histórias interessantes sobre cada um envolvido nessa adoção. Você sabe, até mesmo sobre seu imaculado namorado Roman. Conheço mais de uma pessoa que ficaria feliz em levar a cabeça dele para alguns antigos inimigos.

Eu não poderia deixar aquilo acontecer e estava em um beco sem saída. Como denunciar o Weitz para o FBI se ele estava protegido pela CIA? Se eu desse um fim nele, será que não teria como eu dar um jeito de conseguir a adoção da Aubree? Não, provavelmente isso complicaria tudo, afinal, Roman estaria ligado a morte dele graças a mim.

— E o que você quer que eu faça?

Ele riu, novamente de maneira cínica e eu respirei fundo para não sacar a arma que ficava abaixo do meu banco de motorista.

— Tenho uma série de missões para você. Ah, vou deixar a mais difícil agora pro começo, ta? É uma prova de fogo. Se você fizer, libero a adoção da Aubree para o Roman e, com sorte, se você se comportar bem, eu posso liberar isso para você no futuro.

*****************************************

Respirei fundo ao adentrar na minha sala e, ao fechar a porta, deixei com que as lágrimas caíssem do meu rosto. Eu havia acabado de me entregar novamente a corrupção. Será se eu era tão facilmente manipulável? Será que era desse modo que eu iria pagar meus pecados? Eu não tinha resposta para nada disso e sabia que ninguém poderia me dar. Eu me sentia constrangida, envergonhada, mas não sabia o que fazer. E o que quer que eu pudesse fazer, já era tarde demais. Eu já havia feito o que Weitz me pediu e limpado a ficha dele sem deixar nenhum rastro para que ele pudesse voltar para o Congresso em alguns anos.

Naquele momento, eu só senti vontade de sair correndo. Me sentia um peso para todos. Sabia que a equipe seria responsabilizada pelos meus atos em algum momento e que Roman iria padecer pela adoção da Aubree e tudo seria minha culpa. Naquele um mês de trabalho como chefe, nunca me senti mais para baixo como naquele momento. Eu estava traindo todos e o trabalho que eu amava.

Envelopei os arquivos comprovando o ato como o rato do Weitz havia pedido e, antes que pudesse enlouquecer mais com aquilo, com um bilhete escrito. “Adeus, vá para o inferno”, deixei o envelope na sua caixa de correios após sair do trabalho.

Não conseguia ir para casa, porém. Não fazia ideia de como encarar o Roman depois de me sujar com aquilo. Mesmo que fosse para ajudar ele e Aubree, toda vez que eu o olhasse, visse o quanto ele estava sendo transparente comigo, eu lembraria que não estaria sendo recíproco. Fiquei parada por alguns longos minutos até que decidi voltar para o trabalho iniciar meu plano de fuga. Seria o melhor para todos naquele momento.

Iria me esconder de Weitz depois que Roman conseguisse a adoção de Aubree, procurar uma maneira de acabar com ele e então voltaria para corrigir meus erros com todos. Emiti minha carta de demissão e agendei para chegar ao Pellington na tarde de amanhã, quando eu já estaria longe.

Enquanto dirigia para casa, um bip estranho soou do meu celular. Era um arquivo do Weitz. Uma foto da adoção da Aubree liberada com a mensagem. “Considere feito”. Eu estava feliz por Roman, mas devastada por dentro por conta disso. Como se eu tivesse com febre após cada parte de mim tivesse quebrado por dentro.

Resolvi ir me despedir da garota primeiro. Cheguei no orfanato para encontrá-la já na cama, mas ainda acordada. Um coque amarrava seus fios loiros. Ela estava vestida com um pijaminha rosa que seu pai havia lhe presenteado. Quando limpei a garganta, após atravessar a porta, ela virou-se para me ver, mas vendo a tristeza em meu rosto, não fez qualquer alarde.

Eu a abracei antes de qualquer coisa. Deus sabia como eu ia sentir falta daquela garota. Ela não era minha filha, mas tinha tomado o espaço de uma em minha vida e isso só fazia com que aquela despedida fosse dolorosa. Naquele momento, eu estava envolta com ela em meus braços e até então poderia fazer de tudo para protegê-la, mas sabia que quando saísse de Nova York, isso ficaria apenas a cargo do pai dela. Controladora como eu era, me odiava ainda mais por deixá-la.

— Tia, ta tudo bem? — Ela perguntou com a voz um pouco embargada. — Não gosto de ver a senhora chorando assim. O que aconteceu?

Após beijar sua testa, limpei as lágrimas dos meus olhos e então olhei em seus olhos.

— Aubree, minha bebê, você lembra quando você me fez prometer que eu iria proteger seu pai naquele dia na casa dele?

A sua afirmativa com a cabeça, continuei.

— A tia Tasha vai cumprir essa promessa. Só que, para isso, a tia Tasha vai ter que ir embora por um tempo.

— Por que, tia?

— Não posso te dar detalhes, bebê, mas preciso ir resolver umas coisas. Se eu ficar, não vou poder proteger você e nem seu pai.

Ela me abraçou em desespero.

— Não tem outra maneira de resolver não, tia? Não quero que você vá. — Ela falou manhosa e começou a chorar em meus braços.

Era como ver uma bomba explodir na minha cara e não poder fazer nada. Respirei fundo. Não poderia me descontrolar, não com Aubree em meus braços. Respirei fundo mais uma vez e então coloquei seu rosto sob as minhas mãos e seu olhar no meu.

— Eu prometo que vou voltar, princesa. Eu só vim aqui pedir que você não conte ao seu pai sobre a vinda do Weitz, nem sobre nossa despedida. Eu vou, mas juro que vou sentir sua falta todos os dias até eu voltar. E te prometo que vou voltar, ta? Eu amo muito você e seu pai e preciso que você lembre disso enquanto eu estiver fora.

Ela me respondeu com um abraço tão firme. Em seus braços corriam o mesmo desespero que corria em meu ser, o medo de ir embora, de não conseguir voltar por conta de tais problemas ou de ser tarde demais quando eu conseguisse consertá-los.

— Também te amo, tia. — Ela falou em meu ouvido, então afastou nosso abraço para olhar em meu olho. — Faz um favor para mim enquanto a senhora não volta? Me conta uma história até que eu durma.

Aconchegando-a com a cabeça sob minha coxa, soltei seus cabelos e fiquei alisando-o enquanto contava a história feliz da adoção de um cachorro, que também era meu livro infantil favorito chamado ‘Um dono para Buscapé’. Antes que eu terminasse, porém, ela já havia dormido. Ajeitei a menina na cama, apreciando uma última vez seu rosto. Dei um novo beijo em sua cabeça em sinal de proteção, rezei por ela e fui para casa.

Cheguei lá para já encontrar Roman e após escutar seu boa noite, colei meus lábios ao dele. Eu precisava dele de uma forma tão emergente, como um barco a deriva no mar precisa de uma âncora. Me sentindo tão suja por tudo que fiz no dia, eu só precisava amá-lo e amá-lo, para sentir algo de puro saindo de dentro de mim, para me sentir capaz de fazer algo bom novamente.

— Chegou animada. — Ele disse após nos afastarmos.

Sem olhar nos olhos dele, fingindo interesse no desenho de sua camisa, onde pousei minhas mãos como um ato desesperado para sentir as batidas do seu coração, respondi.

— Só queria sentir você.

Ele me deu um beijo na testa.

— Você ta bem? — Ele perguntou franzindo a testa, com um semblante preocupado.

O respondi com mais um beijando, tentando abafar de meus olhos mais lágrimas.

— Não quero falar sobre isso. — Finalmente respondi após nos separarmos, pois seu olhar ainda me pedia uma resposta.

— Sabe que eu tô aqui pro que precisar, né? Principalmente para te fazer feliz. Não gosto de te ver assim. — Ele me abraçou e eu fiquei por alguns bons segundos abraçada a ele, somente mentalizando como eu ia sentir falta do seu calor, das suas dobras e até de sentir suas cicatrizes em suas costas quando o abraçava.

Lágrimas rolaram do meu rosto e ele me puxou pelo queixo, colocando meu olhar no seu.

— Me dói ver você assim, amor.

Eu sabia que deveria falar, pedir a ajuda dele, que isso é que seria companheirismo, mas eu não conseguia. Resolvi mentir, embora as palavras fossem sair amargas da minha boca. Era o melhor. pois tinha que protegê-lo. Sabia que uma hora ele me entenderia.

— Eu só estou realmente triste por não poder te dar um filho, Roman.

E o abracei novamente.

Ele depositou mais um beijo na minha testa e depois em minha bochecha.

— Estou feliz com a vida que nós temos, meu amor. Daqui a pouco teremos a Aubree e eu só preciso de vocês para ser feliz. O resto é só acréscimo.

Necessitando senti-lo pelo resto daquela nossa última noite, eu o beijei e, após aprofundar nosso beijo, sussurrei em seu ouvido.

— Me leva pro nosso quarto.

Após arrastá-lo para cima da cama, beijei todas as partes do seu corpo e, após ele retribuir, o fiz adentrar dentro de mim. Dei a ele a melhor foda da nossa vida e prolonguei ao máximo aquele nosso momento. Eu só queria ficar ali, presa naquele momento por toda a noite, para que nos dias seguintes eu tivesse as doces lembranças de seu corpo sob mim quando eu tivesse que dormir sem ele. Eu precisava de memórias para aquecer minha mente quando os pesadelos me assombrassem.

Após ele gozar dentro de mim e eu fazer o mesmo, ele deitou ao meu lado e colocou a mão sob minha barriga, fazendo com que eu o observasse. Era uma benção celestial tê-lo ao meu lado e, naquele momento, eu agradeci a Deus por ter tido a oportunidade de tê-lo ali. Me abracei a ele, de uma maneira mais possessiva do que normalmente ficava e ele só riu, mas ficou lá com seu corpo colado ao meu.

— Estou sentindo você agitada, embora você esteja aqui paradinha com seu corpo no meu. Acha que isso é possível?

— Sim, é. Eu estou. Mas no momento só quero passar o resto da noite aqui com você.

— Posso pelo menos ir pegar nosso jantar? — Ele reclamou

— Claro. — Falei afirmamente e ele então foi buscar comida.

Voltou e comemos em silêncio. Percebendo a inquietação do meu silêncio, ele respirou fundo.

— Eu posso te ajudar de alguma maneira, amor?

Eu o olhei de maneira profunda.

— Não.

Antes de dar-lhe o adeus, eu queria que ele ficasse com lembranças boas minhas em sua mente, para que elas fossem maiores que o que ele fosse sentir quando eu o deixasse. Então coloquei nossos pratos já quase vazios de lado e me aproximei dele.

— Quero te contar uma coisa, e quero que saiba que é verdade. Você sabe que eu não o diria se não o fosse.

Sem mais delongas, abri minha boca e disse as três palavras que eu esperava que ele lembrasse daqui pra frente.

— Eu te amo, Roman.

Antes de ouvir sua resposta, voei em cima dele e fizemos amor novamente. Ele, entendendo que eu queria que aquela noite durasse para sempre, fez amor de maneira lenta. Antes de dormirmos, porém, ele respondeu.

— Eu também te amo, Tasha. Você é a mulher da minha vida.

O dia amanheceu agridoce. Eu pouco havia dormido depois que percebi ele dormir. Me sentia tão preenchida de amor, mas sabia que aquele sentimento não teria como me fazer ficar. Quando o dia amanheceu, vi os raios começando a tomar espaço sob as cortinas. Suspirei olhando para o céu pelas frestas, encontrando diversas tonalidades entre o amarelo e o laranja que simbolizavam que o sol já estava chegando e que em breve o azul tomaria aquele espaço.

Ao me virar para ele, o encontrei de olhos já abertos. Encontrei no fundo de seus olhos um outro tom de azul. O seu singular azul-esverdeado. E eu sabia que, assim como o sol, quando ele fosse embora naquele dia, eu também perderia o azul de seus olhos.

O sol, porém, eu saberia quando voltaria para iluminar meu céu. Nós tínhamos horário marcado há bilhões de anos. Ele não e eu não sabia ao certo como me despedir dele. Tentei agir como se nada tivesse acontecido. Fiz um café da manhã especial, fui deixá-lo no orfanato. Antes dele descer, porém, o parei, desligando o carro.

— Roman. — Chamei e ele tirou o óculos escuro.

— Oi, baby.

— Só queria te dizer que o que eu te disse de madrugada é verdade. Eu te amo. Espero que você não esqueça disso.

Ele me beijou.

Ao se afastar, sussurrou.

— Claro que não vou esquecer. Eu sonho com isso a tanto tempo. — Colocando sua mão sob a minha, ele completou. — E é bom escutar isso e saber que é real.

O beijei. O gosto agridoce do beijo de despedida, que ele nem sabia que era de despedida.

Ele saiu do carro, mas alguns passos depois, ele apareceu ao lado da minha janela de motorista.

— Ah, só para você não esquecer, ta? Eu também te amo. Muito. — E ele foi para o orfanato.

Com lágrimas no olhos, dei partida no carro.

3 horas depois, após despejar tudo que era meu dentro do meu carro, deixar uma carta para Patterson e para Roman, bati na porta da casa da única pessoa que poderia me ajudar naquele momento. Ele abriu a porta e ao me ver em lágrimas eu finalmente disse:

— Reade, preciso da sua ajuda.