Don't Wanna Know
Capítulo 2: Novo começo
— Olá, pequena! — Ele disse se abaixando, dando um caloroso abraço na menina. Ela fortemente retribuiu, quase derrubando-o. — Bom dia!
Observei em silêncio a interação entre eles.
— O senhor está bem? — Ela perguntou. Ele sorriu ternamente para ela.
— Sim. E você? Alguma novidade por aqui? — Ele perguntou ainda olhando fixamente para a menina.
Eu desviei meu olhar e fiquei apenas escutando.
— Temos sim. Tenho uma tia nova. Ela parece ser muito legal! — Ela disse e eles ficaram em silêncio por uns segundos.
— Legal. — Ele disse num tom mais sério. — Que tal você ir aproveitar seu intervalo? Assim que terminar você volta aqui pra sala e nós conversamos, ok?
Eu me virei e a menina deu um beijo em seu rosto.
— Ok, tio. Eu amo você. — Ela completou.
— Eu também amo você, pequena! — Ele disse e ela saiu correndo.
Ele veio em meu sentido. Eu fingi que não tinha visto nem escutado nada.
— Agente Zapata. — Ele disse um pouco sem jeito. — Devo dizer que estou surpreso em ver você aqui.
Nossa relação era um inferno no pouco tempo que ele ficou preso no FBI, e depois que saiu ele limitou seus contatos ali. Não o julgava por isso. Nós tratamos ele tão mal. Eu teria feito o mesmo, pensei.
— Estou cumprindo serviço social. — Disse olhando diretamente pra ele.— E você o que faz aqui? — Perguntei.
— Eu trabalho aqui. — Ele respondeu sorrindo.
Ainda nos olhando eu tratei de corrigi-lo.
— Pode me chamar de Tasha.
Ele me olhou com estranheza.
— O que? — Perguntei ao ver sua reação.
— Nada. — Respondeu. — Só podemos admitir que é estranho qualquer tentativa de intimidade depois de tudo.
— Eu estava errada sobre você, ok? — Disse respirando fundo. — Eu sempre estou errada sobre várias coisas e não sou boa em pedir desculpas.
— Sinceramente não culpo você por agir como agiu. — Ele respondeu.
— Sorte sua. — Eu disse honestamente.
Meu martírio pessoal era sempre errar e nunca saber como consertar. Eu já havia perdido muito por causa disso, e nunca soube como mudar isso. Nunca soube a hora de perdoar.
— Você não pode se culpar por ser quem é. Você deve apenas aceitar, ou se recriar. Nós sempre somos de algum jeito por algum motivo. Resta a nós mudarmos por tal motivo ou ficarmos nos culpando pra sempre. — Ele completou.
— Nunca pensei que escutaria isso de você. — Disse sinceramente. — Depois de tudo.
— Existem muitas coisas que você acha que nunca vai escutar de mim. — Ele completou sentando-se ao meu lado. — Porque você não me conhece. Você tem uma ideia sobre mim. Não quer dizer que o que você pensa que eu sou é o que eu sou, mas a vida é uma constante mudança e alguns meses atrás você me odiava, hoje você pode… — Ele disse quando eu o interrompi.
— Eu não odiava você. — Respondi em frustração.
— Não foi isso que você me disse alguns meses atrás. — Ele completou com um pouco de humor. — Mas calma, eu não guardo mágoa. — Ele disse com um riso.
Acabei também rindo de seu deboche.
— Eu falo muito da boca pra fora, mas no fundo não sei expressar minhas emoções. Eu só tinha raiva de você, não ódio. Ódio é uma palavra muito forte. — Finalizei olhando pra ele.
— Que bom que você conjugou o verbo no passado. Quer dizer então que tem uma chance de você não me odiar mais? — Ele perguntou me encarando.
Eu o olhei fixamente.
— Eu não sei. Eu não conheço você. — Respondi.
— Prazer, meu nome é Ian, mas você pode me chamar de Roman se preferir.
— Natasha Zapata, mas pode me chamar de Tasha. — Disse estendendo minha mão. Ele pegou e a beijou.
— Prazer, Tasha. Eu prefiro chamar você assim. Zapata é um nome estranho.
Eu o olhei meticulosamente.
— Você mal se apresentou e já está me zoando. — Eu disse fingindo seriedade.
— Já achei seu ponto fraco. — Ele completou com o sorriso.
Rimos juntos pela segunda vez naquele dia.
***
Estávamos sentados na parte superior do pátio onde as crianças estavam brincando e logo avistei a doce menina de mais cedo brincando de amarelinha. Ela estava com outra criança um pouco menor que ela, moreninha. Eu a estava olhando com muita admiração, ela parecia tão meiga com a outra menininha.
— Ela é muito doce, não é? — Roman disse me tirando de meus pensamentos.
— Quem? — Perguntei com estranheza.
— Você é tão desligada que não sei como é policial. — Ele disse rindo e depois apontando para a menininha. — Ela.
— Ah. Sim. — Eu disse com um sorriso. — Ela foi super fofa comigo.
— Ela sempre é. — Ele disse com um sorriso genuíno. — Acho que ela foi a única que não teve medo de mim quando eu vim aqui pela primeira vez.
— Por que medo? — Perguntei
— Uma das crianças disse que a minha cara dava medo. Logo depois ela disse que não. As crianças se acostumaram comigo, mas eu e ela nunca mais nos desgrudamos.
— A assistente social disse que as crianças adoram você. — Complementei.
— Elas só me deram uma segunda chance. — Ele completou me olhando. Aquilo foi mais direto do que qualquer coisa que ele pudesse ter dito.
— Qual o nome dela? — Disse mudando rapidamente de assunto.
— Aubree. — Ele respondeu. — Achei que ela já tivesse dito a você. Ela é muito falante.
— Ela ia me dizer, mas você apareceu e acabou com nossa conversa. — Respondi com deboche.
— Olha, eu atrapalhando Natasha Zapata. Parece que o jogo virou! — Ele disse com sarcasmo.
— Cale a boca. — Eu disse fingindo irritação.
Fomos interrompidos quando Aubree chegou na nossa frente.
— Tia Tasha. — Ela disse com um ar super cansado, mas animada por estar brincando. — Eu trouxe pra você. — Ela disse me estendendo uma rosa de origami.
— Obrigada, linda. — Eu disse abraçando-a.
— E para mim, o que trouxe? — Roman perguntou interrompendo nossa conversa.
Ela colocou a mão na cintura.
— Eu já dei uma rosa pra você. Essa é de boas vindas pra tia Tasha. — Ela completou.
— Obrigada, florzinha. — Eu disse agradecendo. — Ela é linda igual você.
Ela sorriu com as bochechas coradas e logo voltou correndo para a companhia de sua amiguinha.Rimos e logo compartilhamos de um silêncio. Pela primeira vez de um silêncio acolhedor e não mais estranho. Ainda observarmos Aubree voltando a brincar com sua amiga até que ela nos avistou e acenou para nós dois.
— Qual a história dela? — Perguntei quebrando o silêncio. — Você sabe?
Ele sorriu pra mim.
— Sim. Os pais dela foram servir os Estados Unidos e nunca voltaram. Na época, ela ficou com a vó materna, mas a vó morreu e não tinha mais ninguém de nenhuma das famílias então ela veio parar aqui. — Ele finalizou.
— Nossa... — Eu completei abismada. — Deve ter sido horrível.
— Um dia quando a assistência social me contou eu disse isso e ela acabou escutando. Logo depois ela veio até a mim e disse que ela estava tendo um novo começo. — Ele completou com um sorriso triste.
— Boa resposta.
— Pra uma menina de 8 anos com certeza. — Ele respondeu me olhando. — E você. Qual sua história?
Eu o olhei assustada.
— Todos nós temos algo pra contar. — Ele completou. — Não conto a minha porque você sabe de cor.
— Eu já vivi em um orfanato. — Disse depois de um tempo. — Meus pais eram problemáticos e faleceram quando eu era jovem. Eu e meu irmão ficamos num orfanato dos 14 anos aos 18. Ele porém saiu antes de mim. — Completei.
— Ele foi adotado e você não?
— Não. — Disse com um tom triste. — Ele faleceu.
Compartilhamos um pouco de silêncio.
— Desculpa, eu…
— Sem problemas. — Eu disse com um falso sorriso.
— Talvez daqui que você tenha que tirar. — Ele disse depois de um tempo.
Eu o olhei.
— O seu novo começo. — Ele finalizou.
Eu sorri em silêncio e embora nem soubesse, ele tinha toda razão do mundo. Aquele era meu novo começo.
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