Observava a estante à sua frente. Repleta de livros, papéis e lembranças. As últimas que, agora, se faziam tão melhores que a realidade. Chegando mais perto, começou a examinar alguns dos escritos.

Logo uma das folhas se desprendeu e, num misto de tranquilidade e melancolia, traçou seu caminho até o chão. Abaixando-se, trouxe-a até pento de si sem poder parar as lágrimas que já se formavam ao reconhecer aquelas linhas.

Ao sentir os primeiros raios de sol em seu rosto, desejou poder voltar à doce redenção do sono. Isenta de sentimentos ou complicações, apenas portadora de um tão convidativo descanso. Tão mais fácil seria ignorar todos os problemas. E quanto a encará-los? Só traria mais dor... A não ser que desse certo dessa vez.

A quem você quer enganar? Você sabe que não vai funcionar. Vocês simplesmente não foram feitos para dar certo.

O mero pensamento de perdê-lo de novo trazia consigo um inevitável e colossal desespero. Infinitas hipótes faziam sua cabeça girar. E se tudo desse errado? E se todos os seus esforços resultassem em... nada?

Como efeito de suas cogitações, sentou-se na cama de um impulso, seu peito arfava e podia sentir seu rosto úmido.

"O que houve, Lisa?" ela ouviu a voz antes de sentir os braços à sua volta.

"Michael..." foi tudo o que conseguiu dizer antes que os soluços a fizessem calar-se.

Virou-se e abraçou-o como se sua vida dependesse disse. E talvez fosse verdade. Apoiou a cabeça em seu peito com medo de que tudo não passasse de um sonho, e de que, a qualquer momento, fosse acordar sozinha mais uma vez.

Ficaram ali por torturantes minutos, ele tentava passar-lhe alguma proteção, algum conforto, enquanto ela buscava expulsar toda a insegurança contida em si.

"Não vamos conseguir..." ela sussurrou assim que recuperou a capacidade de formar palavras, e até mesmo pensamentos, que fizessem sentido. "Vai ser como das outras vezes... Tudo vai acabar."

A resposta não veio. Não em palavras. Mas ela pôde senti-lo a abraçar com mais força.

Afastando-se, ela buscou seus olhos, aqueles que, quando o mundo parecera desabar ao redor deles dois, haviam sido sua âncora para a sanidade, e, refletidos em seu castanho profundo, viu os mesmos sentimentos contra os quais ela lutava. Mas havia algo mais... ele mostrava-se mais forte que eles.

"Eu te amo tanto..." ela beliscou sua bochecha com um sorriso triste "O que vai ser de mim?"

Abaixando o rosto, ele deu-lhe um beijo na testa e sorriu e, com esse sorriso, expulsou todas as dúvidas que a habitavam, mesmo que temporariamente.

"Não pretendo descobrir."

Algumas horas mais tarde, ele deixava a casa. Mas dessa vez ela tinha a certeza de que ele retornaria;

Descendo até a cozinha, encontrou um bilhete em cima da mesa. Apenas uma frase, que foi capaz de fazê-la sorrir e permitir que novamente uma onda de esperança inundasse seu coração.

"Algumas coisas são para sempre.

Amor, Turd"

E eram essas mesmas palavras, antes acompanhadas de tanta alegria, que agora a torturavam com a consciência de mais uma oportunidade perdida. E talvez a última.

Quantas outras perdas teria de aguentar? Até quando se deixaria enganar por esperanças vazias, só para vê-las queimar no final? Algum dia isso tudo valeria a pena?

Foi acordada de seus devaneios pelo toque de seu telefone. Pensou em deixar no correio de voz, mas descartou a ideia, precisava enfrentar a realidade. Mesmo que tivesse que fazê-lo sozinha.

Continue pensando assim e seu plano com certeza funcionará.

Secou os olhos, limpou a garganta, respirou fundo mais algumas vezes e esperou o próximo toque antes de finalmente atender, desejando secretamente que quem quer que fosse desistisse antes disso.

"Alô?" sua voz se fizera estranha para seus próprios ouvidos.

Fez-se silêncio. Já alcançava o botão de desligar quando um suspiro a conteve.

"Lise..." a voz pela qual seu coração tanto ansiava quanto temia soou do outro lado da linha.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.