Happy Tree Friends. Uma bela e confortável comunidade em uma pequena cidade, conhecida por ter moradores um tanto incomuns, sendo muito comparados á animais selvagens por algum estranho motivo, além de ter um herói e um vilão praticamente idênticos, sendo que o herói mais ferra com as coisas do que as resolve, mas isso é outra história. Enfim, nessa comunidade, todos eram diferentes, mas eram amigos e se davam bem com suas diferencias, ou eram conhecidos que apenas sabiam da existência do outro. E neste lugar, existiam duas pessoas em particular que compartilhavam deficiências que “impediam” sua comunicação com os outros, eles eram The Mole, a conhecida “toupeira” cega, um homem magro e bonito, com uma charmosa pinta no rosto e seus óculos escuros de armação redonda, sua bengala e seu sobretudo de gola alta, junto á seus cabelos puxados para um rosa-arroxeado, e Mime, o “cervo” mímico de cabelos roxo escuro, sempre com o rosto pintado, blusa listrada e sempre alegre, mas mudo também; todos achavam que a sua falta de fala era algo do personagem de mímico, mas perceberam que era mais ao contrário, ele era mímico por não falar. Ambos sabiam quem era o outro devido á ter amigos em comum, mas nunca se apresentaram um ao outro devidamente.

Como poderia também? The Mole não poderia ver Mime, assim como Mime não poderia falar com Mole. Suas deficiências eram exatamente seus opostos, e assim, nunca poderiam se comunicar devidamente. Será?

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Estava uma tarde nublada e fria em HTF – a abreviação usada entre os moradores para Happy Tree Friends – por isso poucas pessoas eram vistas andando nas ruas. Algumas delas eram Cro-Marmot, que simplesmente amava o frio, Splendid, que como “herói” da cidade estava á patrulhar e “ajudar” seus amigos – sendo que ele mais atrapalhava, Flippy, que como bom ex-combatente das forças armadas que era, ajudava á cuidar da segurança de seus companheiros, The Mole, que estava sentado em um banco da praça meio cabisbaixo, Mime, que fazia uma apresentação para alguns jovens como Truffles, Lammy e Sr. Pickles, Pop e seu filho Cub acompanhados de Disco Bear, e algumas crianças, que já iam embora a pedido de suas mães, visto que iria chover em breve; e algumas outras pessoas apressadas para voltar para casa devido á chuva que viria.

E quase que de forma instantânea, a chuva começou, primeiro lenta e suave, para depois vir forte e imperdoável para quem estivesse abaixo de si. Até mesmo Splendid decidiu que seria melhor buscar abrigo, voar na chuva era perigoso. Por isto, em poucos minutos, as ruas estavam vazias, mas a praça ainda continha dois indivíduos, Mime e Mole. Ambos sabiam que o outro estava lá – Mime por poder vê-lo, tanto que estavam razoavelmente perto, e Mole por ouvir seus passos que ecoavam quando o mesmo pisava nas poças de água que se formavam, que ficavam mais próximas e altas com o tempo, o que fez o cego perceber que alguém estava se aproximando de si, e constatou que essa pessoa estava ao seu lado quando a última pisada na água fora á pelo menos 1 metro de si. Por um momento, o único som que os dois ouviam era o da chuva, que não parecia dar uma trégua tão fácil e rápida, e Mole estranhou aquele silêncio. Porém, não sabia que era o mímico mudo ali ao seu lado, que por acaso, agradeceu pela toupeira não poder vê-lo, pois com certeza iria ficar envergonhado ao mostrar sua maquiagem escorrer por seu rosto e sumir junto com a água de baixo de sua blusa.

— Você...gostaria de se sentar? – Mole perguntou depois de mais um tempo em silêncio. Mime não respondeu – como não poderia – então apenas o fez, e Mole sentiu alguém se sentar ao seu lado.

Mas o silêncio o estava incomodando, mas então parou para pensar melhor. E se lembrou de Mime, que diziam viver naquele parque, pois sua “casa” – diga-se de passagem um trailer – ficava ali por perto, e ele também vivia fazendo suas apresentações por aí, e sendo um mímico, ele não falava. Mas corria um boato que o mesmo era verdadeiramente mudo, e não emitia sequer um som.

— Você...é Mime? O mímico de quem falam? – Perguntou não esperando uma resposta dita, mas ficou surpreso ao sentir sua mão ser segurada pelo outro e sentir um “sim” em Braille ser feito em sua mão. Como o mesmo era mudo, deveria saber os sinais, e pelo visto, sabia algo de Braille também.

Mime não queria ter de tocar no cego sem sua permissão, mas não havia outro jeito de ambos se comunicarem se não fosse pelos sentidos e toques. Um sorriso se formou nos lábios de Mime, que se pudesse, teria rido baixinho. Suas “especialidades” eram opostas e não se completavam, e mal poderiam se comunicar sem um terceiro que usasse palavras e visse o que cada um queria expressar. E parece que Mole percebeu a ironia também. Era realmente engraçado no fundo.

— Está chovendo bastante. Não gostaria de sair dessa chuva? – Perguntou e recebeu um sim desenhado em sua mão.

Mime o puxou pelo pulso e escreveu em sua mão que iria levá-lo em casa.

— Você tem certeza? Ficar de baixo dessa chuva poderá te deixar doente.

“ Eu ficarei bem. Deixe-me levá-lo até sua casa”— escreveu na mão do cego, que apenas suspirou e sorriu, sabendo que o mudo teria visto.

— Tudo bem então. Minha casa fica... –

Mole girava seu corpo enquanto andava, já sabendo de cabeça o caminho para casa, com ajuda de seu bastão e Mime segurando sua mão, ele informava a direção e Mime lhe ajudava com algum obstáculo, como um degrau da calçada ou um buraco. Além de ser uma ótima companhia para escutar suas histórias, mesmo que não esperasse um comentário do cervo, mas que surgia vez ou outra.

Depois de pouco mais de 15 minutos de caminhada de baixo daquela chuva – que até então se mantinha forte – eles chegaram na casa da toupeira, que o convidou para entrar para se secar. Mime agradeceu de bom grado e entraram na pequena e aconchegante casa de Mole, toda pintada – tanto dentro quanto fora - em tons roxos e rosas escuros, com alguns quadros comuns pendurados nas paredes, como flores. Mime observava bem a casa de seu anfitrião, e combinava um tanto com ele; poucos móveis e de tons escuros, bem próximos um do outro. No andar de baixo, estavam a sala e a cozinha – na qual parecia ser usada com frequência, o que fez Mime se perguntar “Como ele consegue cozinhar?” – e no andar de cima, deveriam ser os quartos e os banheiros. Uma escada de cor escura levava para o segundo piso.

— Pode me ajudar a chegar ao meu quarto? Seria bom trocarmos de roupa, e fique até a chuva passar. – Mime pensou em negar, dizendo que fizera tudo aquilo por pura bondade, mas sentiu que seria falta de educação recusar um pedido desses, então aceitou.

Ajudou o cego a subir as escadas, lhe ajudou a se trocar, escolheu roupas para si e depois voltaram lá para baixo, colocaram as roupas para lavar e depois para secar. Do lado de fora, a chuva continuava impiedosa, o que fez Mime perceber que talvez só fosse embora no dia seguinte. Mas tudo bem. Ele estava na companhia de Mole, que era uma pessoa que lhe entendia perfeitamente e adorava escutá-lo. Não se demoraram muito e foram dormir depois de alguns longos minutos de “papo”, cada um em um quarto separado, obviamente.

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Já no dia seguinte, as roupas de Mime haviam secado, mas a chuva continuava tão densa quanto na noite anterior, mas o cervo insistiu que não queira abusar da boa vontade da toupeira e convenceu o mesmo a deixá-lo ir embora.

— Foi muito bom passar esse tempo contigo Mime. Pena que acabou. – Disse em um tom neutro, nem alegre, nem triste. Apenas...como se fosse outra fala qualquer.

Mime colocou o capuz de seu casaco na cabeça – na qual havia dois pequenos chifres de cervo no topo junto á orelhas do animal – e segurou a mão do cego e agradeceu. Mas não o largou depois. Mole estranhou, mas antes de tentar recolher a mão, Mime lhe fez uma pergunta importante, que poderia ter um grande significado para ambos no futuro.

“ Você vai ser meu amigo? ”

O mais alto ficou sem palavras, assim como o mímico. Porém, apenas sorriu e acenou com a cabeça positivamente, o que o fez ter a sensação de que o menor estava sorrindo feliz para sua resposta.

Se despediram e Mime partiu da casa de Mole, correndo para sua própria para não passar tanto tempo assim naquela chuva. Enquanto isso, o cego fechou sua porta e foi se sentar no sofá, com a mão erguida para o alto, mesmo que ela não pudesse vê-la.

“Amigo ”. Uma palavra tão simples, mas que para ambos os deficientes, possuía um enorme significado. Pois, mesmo que não pudessem se comunicar normalmente, não seriam suas especialidades que os impediriam de serem felizes na companhia silenciosa para um, e não vista pelo outro.

No final das contas, era uma grande ironia, mas talvez, fosse por isto que a amizade daqueles dois seria a mais forte de todas naquela comunidade. Pois ela não precisava ser vista ou falava, apenas...sentida.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.