Eu sabia que Alice ia me matar quando eu voltasse pra casa. Mais não estava me importando com isso. Eu precisava ficar um tempo sozinho,ou iria acabar enlouquecendo. Eu precisava de silêncio

Tudo bem,talvez aquele não fosse o melhor lugar pra alguém como eu resolver dar um passeio,mais era o único em que eu sabia que ninguém da minha família se arriscaria a ir me procurar. Não com todos os lobos em alerta

Eu estava no limite da reserva quileute,e um passo em falso significaria o fim da minha existência. Rápido,e quase sem dor,porque se os lobos aparecessem eu não lutaria contra eles. Simplesmente deixaria que fizessem aquilo que seu extinto exigia. Eu não tinha motivos pra lutar,ninguém por quem continuar vivo.

Minha família sofreria se eu partisse,é claro,mas eles superariam. Tinham uns aos outros,tinham algo que sempre me faltaria amor romântico. Eu era o elo fraco ali,e se não fosse tão repugnante pensar na possibilidade de matar pessoas sem um pingo de culpa,talvez já tivesse até mesmo me juntado a guarda Volturi. Eu era um dos vampiros que Aro mais desejava,e sabia que ele faria quase tudo pra me ter ao seu lado. Seria extremamente útil

O toque estridente do meu celular,que estava no bolso frontal do sobretudo que minha irmã me obrigara a vestir naquela manhã me trouxe de volta a realidade. Balancei a cabeça como se isso fosse capaz de banir a nostalgia de meus últimos devaneios e limpei a garganta,qualquer mudança de tom seria capaz de alertar Alice de que havia algo de errado.

-O que você quer,Alice?-perguntei,um pouco mais ríspido do que pensei que soaria. Não queria conversar,seria tão difícil assim entender que eu precisava ficar sozinho,ouvindo apenas meus próprios pensamentos? Mais que droga!

-Onde você está ,Edward?-ela estava assustada,e isso me pôs em alerta. O que tinha acontecido enquanto eu estava fora? –onde você está,me responda!Eu tenho que saber!

-Eu estou na reserva Alice..ou pelo menos perto dela-respondi,meio hesitantemente, Mentir pra ela agora não era uma boa ideia- o que foi que houve?

-Ficou maluco? Se os lobos te encontrarem ai,você vai ser morto,idiota!-ela sibilou,o tom baixo mais mesmo assim rude-mais não importa,pelo menos não agora..Ed você precisa salvá-la! Ela está perdida..assustada,e se Sam encontra-la as coisas vão mesmo ficar complicadas muito complicadas!

-Ela? Ela quem Alice?

-Eu também não sei! Eu só vi o rosto dela,e algo me diz que você tem que traze-la pra casa..Edward eu sinto que ela precisa de você.

-Alice você está maluca? Como eu vou achar uma pessoa que eu não tenho ideia de como é? E mesmo que eu a encontre.a garota vai fugir de mim assim que me ver! Eu não pareço um humano,esqueceu-se?

-Preocupe-se com isso depois..agora Edward você tem que encontra-la! Rapido,antes que seja tarde demais-e desligou o telefone antes que eu pudesse protestar

Quando o silêncio voltou a reinar em meus ouvidos foi que eu me dei conta de que tinha algo errado com o clima..a eletricidade estática no ar estava perceptível demais..era o prenuncio de uma grande tempestade. De repente me peguei pensando na tal garota que Alice queria que eu encontrasse: ela podia ficar muito doente se tomasse toda a chuva que estava pra cair,e era estranho que eu me preocupasse com isso

Ignorando meus pensamentos conflitantes resolvi começar a procura-la. Um pouco de concentração e meus ouvidos super apurados conseguiram captar resquícios de algo que parecia choro..o choro de uma criança!

Comecei a correr na direção do som,e quando finalmente meus olhos pararam sobre o pequeno corpo todo encolhido nas raízes de uma grande arvore a beira da estrada o ar me faltou. Eu tinha certeza de que se meu coração ainda batesse,ele teria parado naquele minuto: a garotinha era a perfeita imagem de um anjo

O anjo que me salvaria,mesmo que eu ainda não tivesse me dado conta disso

-Papai...onde você está?-a voz dela mal passava de um sussurro,e as palavras estavam entrecortadas pelos soluços que sacudiam seu corpo-papai!

Eu estava apavorado. Era como se meu corpo fosse atraído pra cada vez mais perto do dela,mais eu tinha medo de me aproximar e assusta-la ainda mais. E ainda tinha o cheiro..aquele era o cheiro mais delicioso que eu já havia sentido. Era quase como se o sangue da garota me atraísse,como se ele cantasse pra mim

Comecei a andar pra trás devagar,meus olhos ainda pregados na pequena garota,enquanto eu lutava pra não respirar. O cheiro dela era tentador demais,e por mais que isso fosse algo completamente maluco,uma parte de mim,e eu ainda não sabia o poder que essa parte teria,não me deixava cogitar a possibilidade de machucá-la. Eu simplesmente não podia

-Papai?-a voz fina voltou a soar,e eu observei enquanto ela virava a cabeça de um lado pro outro-onde a gente tá? Você tá bem?-as lágrimas continuavam descendo e eu me sentia completamente impotente. Era angustiante vê-la sofrer. Parecia me queimar por dentro

Um trovão soou ao longe e grossas gotas de chuva começaram a cair. Quando voltei a olhá-la,vi que a garota estava tentando proteger –se dos pingos cada vez mais violentos que lhe atingiam,mais algo estava errado. Ela sacudia os braçinhos e parecia cada vez mais nervosa. Aquilo foi o que bastou pra que eu me decidisse: me aproximei rapidamente e tirei o casaco que usava,enrolando-o em volta dela. A garota pareceu se agitar com meu movimento,mais logo se acalmou,possivelmente quando notou que eu não a machucaria

Peguei-a delicadamente e a acomodei da melhor forma que podia em meus braços. Enquanto eu a erguia,ela voltou a perguntar:

-Papai,é você?

Não respondi a sua pergunta,apenas a acomodei melhor e comecei a correr na direção da minha casa. Lidaria com as milhares de perguntas que ela teria pra fazer depois que Carlisle desse uma olhada nela e eu tivesse a certeza de que a pequena estava bem. Essa era a minha prioridade.

Apenas alguns minutos tinham se passado quando eu avistei a entrada da casa que minha família ocupava e reduzi o ritmo da corrida para uma caminhada passível até mesmo para um humano. A garota estava firmemente presa a mim,suas mãozinhas encolhidas e quase tão geladas quanto minha própria pele. Seus olhos estavam fechados,e ela respirava arfantemente quando passei pela porta,

Alice estava em meus calcanhares assim que me viu,mais eu não lhe dei atenção. Corri para o andar de cima coloquei a garota sentada na cama de Rosalie-ao menos naquela vez,o capricho estúpido de minha irmã teve alguma utilidade- Aliie permaneceu num silêncio quase agourento enquanto eu tirava o sobretudo de cima da garota e a enrolava com o lençol da cama. Isso não era um bom sinal

Ainda um tanto hesitante,me aproximei e toquei seu rosto delicado. Surpreendentemente ela não se esquivou,nem pareceu assustada com o frio da minha pele. Talvez porque a dela também estivesse daquele jeito

-Abra os olhos,princesa-pedi. Estava começando a me assustar com o fato dela não manter os olhos abertos. Aquilo era estranho

Não sei o que disse de errado,mais aquelas palavras pareceram assustá-la porque ela voltou a chorar. Definitivamente tinha algo muito errado ali. Olhei pra minha irmã em busca de respostas,e o rumo de seus pensamentos foi completamente inesperado:

“Ainda não percebeu que ela é diferente,Edward? Isabella é cega”