Don't Ever Let It End

Capítulo 4 – The Kroeger are stronger than this


Capítulo 4 – The Kroeger are stronger than this

– Dawson, me dá uma carona?! – implorei a meu irmão, juntando as palmas das minhas mãos e fazendo meu lindo biquinho seduzente.

Dawson revirou os olhos e voltou seu olhar para o celular em suas mãos. Estressei-me, mas mesmo assim eu precisava da carona dele. Então resolvi que me humilhar um pouco talvez fizesse ele ceder as rédeas e me ajoelhei. Sim, cheguei ao nível de precisar me ajoelhar ao lado da cama onde ele estava deitado.

– Não acredito que vivi pra ver isso! – exclamou Dawson, parecendo incrédulo com minha atitude, e pulou da cama enquanto levava os braços pro alto. Parecia até que tinha ganhado na loteria.

Foi minha vez de revirar os olhos. – Cala a boca, Daw, vai me dar carona ou não pro estúdio?!

– Só porque foi papai que pediu. – ele respondeu por fim, pegando uma camisa jogada no chão ao lado da cama e saindo de seu quarto.

Isso!, fiz uma comemoração silenciosa, seguindo-o para fora do carro. Odiava pegar taxi, seja aqui, no Canadá ou na Europa.

– Hey, Emma! – gritou Dawson para minha amiga assim que descemos as escadas e topamos com ela jogada preguiçosamente no sofá.

– O que é, endemoniado? – resmungou ela, mal se dando ao trabalho de se virar para nós.

– Endemoniado?! – Dawson perguntou, arqueando a sobrancelha e esquecendo completamente o que ia falar.

Revirei os olhos.

– Santinho que você não é, irmão. – disse a ele rapidamente, antes de me virar para Emma. – Papai disse que a banda quer me ver no estúdio, disseram que é importante. Ele disse que se quiser pode ir junto.

– Partiu! – ela exclamou, arrancando energia de não sei aonde para desligar o modo “preguiça extrema” e pular do sofá.

Nem nos damos muito trabalho de nos arrumarmos direito. Australianos não costumavam se importar muito com aparência e eu não estava com a menor paciência para isso, então simplesmente chamamos Avalon para que ela não ficasse sozinha em casa, já que Angela estava fora de casa fazendo nada que me importe e entramos no carro de Dawson.

– Qual é a gravadora? – perguntou ele, girando a ignição e já tirando o carro da garagem.

Peguei meu celular no bolso da calça jeans e rapidamente acessei as mensagens.

– Capitol Records. – respondi ao ler a mensagem com o endereço que meu pai me passara. Ao ler tal nome, algo formigou no canto mais escuro mais escuro do meu cérebro, como se eu devesse reconhecê-lo de algum lugar. Mas nada vinha à superfície, deixando apenas a sensação e nada mais.

– Esse nome não me é estranho... – murmurou Emma do banco de trás.

– A mim também não, mas deixamos para descobrir isso depois. – comentei, dando de ombros enquanto Dawson dava de ombros. – Vou ligar o som, não quero nem saber.

Dawson bufou, mas não comentou nada quando liguei a rádio de seu carro, em uma rádio australiana que geralmente tocavam os maiores sucessos. Quando reconheci a melodia e a letra da música, que já estava no meio, arregalei os olhos.

Sitting side by side in the full moonlight

I pull her close just to hold her tight

And the both of us could tell it just felt right

– Ai, deuses, de novo não. – Dawson parecia prestes a bater com sua cabeça no volante do carro.

– Ah, para de drama, aumenta ai, Bea! – animou-se Emma do banco de trás.

Virei a cabeça entre o espaço dos bancos, sorrindo para Emma e Avalon, que já começava a ficar inquieta no banco. Além de ansiosa para chegar, agora ela estava ansiosa para cantar.

Fiz a vontade das duas e aumentei o som, começando a cantar junto com titio.

Must've took a while just to find the words

Cause she cut me off and finally said it first



Well I'm tired of pretending

But I'm terrified of it ending

I know if not for you

There's nothing

I could do to ever let it end

And you know I feel the same way

Cause I told you drunk on my birthday

And as you pulled to me whispered in my ear

"Don't ever let it end"

Eu cantava ao mesmo tempo que me deliciava com o som melancólico que no fundo ela trazia. Era um dos melhores trabalhos como compositora do meu pai e, por mais que eu tentasse negar, Luke havia sido minha inspiração. Don’t Ever Let It End era a minha história com Luke Hemmings.

Olhei para Dawson, que me olhava com compaixão, assim como Emma. Eles sabiam o quão difícil era para mim – eu amava e odiava essa música ao mesmo tempo. Já Avalon não. Ela adorava aquela música pelo simples fato de ter sido eu a compositora.

– Acho que você devia ter cantado com o tio! – ela exclamou assim que a música acabou.

Revirei os olhos. – Até parece que tenho voz pra isso!

– Só você que pensa, Bea. – disse Dawson, encostando o carro e desligando a ignição.

Olhei para fora da janela. Já tínhamos chegado ao estúdio da Capitol Records. Suspirei, abrindo a porta.

– Divirta-se, pequena. – disse meu irmão, inclinando-se para me dar um beijo na bochecha.

Sorri meio torto para ele e logo depois estiquei-me entre os bancos para dar um beijo no nariz de Avalon, que soltou uma gargalhada gostosa e foi o suficiente para abrir um enorme sorriso em meus lábios. Emma saiu do banco de trás e logo a segui, mas antes de me afastar, recordei-me de algo. Dei duas batidinhas no vidro do carro e Dawson o abriu. Apoiei-me na porta e abri um sorriso maroto. Ele revirou os olhos, sabendo que devia temer aquele meu sorriso.

– Te ligo para você nos buscar. E nada de reclamar, sabe que eu não pego o taxi estranho daqui! – apressei-me em dizer quando ele estava prestes a protestar.

– Tá, eu venho te pegar. – Dawson disse, com uma cara não muito boa. – Não tem mesmo como te contrariar.

Abri um sorriso quase infantil.

– Que bom que sabe disso! – ri de sua expressão, enquanto me afastava de seu carro e ia com Emma em direção ao estúdio.

A fachada parecia a típica de qualquer gravadora que tinha um prédio só seu. Portas grandes de correr e automáticas, que apesar de serem de vidro, era do tipo mão única – não conseguíamos ver do lado de dentro. Capitol Records tinha uma de suas maiores filiais na Austrália por sempre estar dando chances a novos artistas aqui no país. Tal pensamento acendeu algum alerta em minha mente, bem nas profundezas. Mas não consegui resgatá-lo e interpretá-lo antes que Emma puxasse-me em direção às portas duplas.

– Vamos logo, Bea, ou nossos pais vão nos matar! – ela exclamou, fazendo-me correr pelas portas que mal se abriram.

O interior era enorme, e eu sabia que não era nem perto do resto do prédio ou da sede nos Estados Unidos. Diversas pessoas transitavam por ali, apressadas. Emma me puxou até uma mesa redonda, onde umas três recepcionistas estavam ao telefone, parecendo resolver coisas importantes, enquanto uma quarta estava literalmente lixando as unhas. Típica patricinha que não dá valor ao trabalho que poucos conseguem. Revirei os olhos, irritada, quando Emma me levou diretamente até a patricinha.

– Bom dia. – Emma disse educadamente, mas tudo o que a loira fez foi olhá-la pelo canto dos olhos com desdém. Já perdeu mais um ponto comigo. – Somos Beatrice Kroeger e Emma Adair. Onde podemos encontrar o Nickelback?

A loira – Melissa, pelo que consegui ler em seu crachá perfeitamente alinhado no uniforme – inclinou-se sobre a mesa e estourou uma bolha de chiclete, o que a tornou ainda mais desprezível a meu ver.

– Sinto muito, criança, nada me garante que sejam vocês mesmas. – ela disse. Sorte dela que a voz não era tão irritante, mas seu perfume doce já era enjoativo o suficiente.

Mas mesmo assim a minha pouca paciência com gente fútil já tinha chegado ao limite.

Apoiei-me sobre a mesa e puxei a loira pelo colarinho, possivelmente assustando-a até a alma. Podia ouvir Emma rindo baixinho atrás de mim, tentando segurar a gargalhada que eu sabia que ela queria soltar.

– Escuta aqui, coisinha. – rosnei baixinho contra seu rosto, assustando-a ainda mais. – Não me importa se você acredita em mim ou não, mas saiba que não admitirei que trate qualquer pessoa assim. Então trate de enfiar essa lixa na bolsa antes que eu mesma a quebre e a enfie em lugares menos apropriados.

Soltei-a com tanta força que ela caiu sobre a cadeira com um baque que chamou a atenção das outras recepcionistas. Uma delas riu baixinho e a outras duas tentaram voltar suas atenções para o trabalho, mas percebi o sorriso escondido.

Segurei Emma pelo pulso, já saindo dali em direção aos vários elevadores.

– Ah, mais uma coisa. – eu disse, virando-me de costas, mas continuando a andar. – Só porque uma péssima noite de transa fodeu sua vida, não quer dizer que deva foder as das outras pessoas. – mandei-lhe uma piscadinha, voltando a andar como uma pessoa normal e ignorando completamente os olhares voltados a mim.

Assim que um elevador chegou e foi esvaziado, tratei de puxar Emma para dentro e apertar o botão do sexto andar antes que mais alguém entrasse. Só então Emma explodiu em uma gargalhada sincera.

– Meu Deus, Beatrice, o que foi aquilo?! – ela perguntou, ainda rindo.

Dei de ombros, como se aquilo não foi mais que minha obrigação. Bem, quando se tratava de gente que se achava melhor que os outros e fazia o dia das pessoas ainda pior, sim, eu sentia que aquilo era minha obrigação.

– Eu sei lá, aquela mulher era irritante. – torci a boca. – Ela podia ter simplesmente dito onde era que eles estavam. Além disso, temos dezoito anos; ninguém nos chama de criança na nossa cara sem sofrer as consequências.

– E como você tem certeza de que eles estão no sexto andar? – perguntou Emma, apontando para o painel.

A porta se abriu no segundo andar e três homens com roupas sociais e outros dois que tinham pinta de rappers entraram no elevador. Sorte que ele era grande e tinha espaço suficiente.

Inclinei-me sobre Emma e sussurrei ao seu ouvido. – O computador dela estava aberto nas últimas entradas de artistas no prédio e onde estavam trabalhando.

– Você é impossível. – ela sussurrou de volta, balançando a cabeça e tentando esconder um sorriso nos lábios.

A porta se abriu mais duas vezes antes de finalmente desembarcarmos no sexto andar. Depois disso foram apenas questão de segundos de tentativa e erro ao olhar as portas até finalmente nos depararmos com a certa.

– Pai! – exclamei assim que o vi encostado no batente da porta, como se estivesse apenas nos esperando.

Corri mais um pouco e joguei-me em seus braços para abraçá-lo. Passamos dois anos seguidos viajando junto com a banda, ficar alguns dias sem vê-lo abria um buraco em meu peito – mais um para se juntar à coleção.

– E ai, pequena. – ele disse, abraçando-me de volta. – Estou sabendo que você fez um barraco básico lá embaixo.

– Tão rápido? – perguntei, arqueando uma sobrancelha.

Meu pai deu de ombros. – Um amigo meu que estava lá embaixo me mandou uma mensagem.

– Oi, tio. – Emma o abraçou também, antes de ir cumprimentar os outros. Eu segui seu exemplo.

– Por que me chamou aqui? – perguntei a eles, jogando-me num pufe que tinha ali.

– Precisamos de mais uma música, pirralha. – Ryan se jogou no pufe ao meu lado.

– Tudo bem. – dei de ombros. Eles gostavam das músicas que eu fazia, e tudo o que eu pedia em troca eram os direitos autorais. – Qual ritmo? – era a única coisa que eu perguntava.

– Qualquer um está bom, mas precisamos de uma que dê para oito vozes. – respondeu Daniel, jogado no sofá do outro lado.

– Oito? – Emma deu voz à minha pergunta silenciosa.

– Sim, vamos fazer uma parceria. – meu pai deu de ombros, como se não fosse nada demais. – Eles já devem estar chegando.

– E quem são eles? – perguntei.

Mas eles não responderam, pois uma barulheira invadiu o corredor, aproximando-se cada vez mais até que eles apareceram na porta. Um de cabelos coloridos, outro com piercing no lábio inferior, um cacheado e outro moreno com uma mexa loira.

Eu conhecia aqueles quatro.

– ELES?! – exclamei, levantando-me num salto do pufe e tentando ao máximo para controlar todos os sentimentos confusos que faziam o possível para explodir de dentro de mim como uma bomba atômica.

Olhei para a banda que era minha família. Eles pareciam pedir perdão com o olhar, como se a escolha não tivesse sido deles. Olhei para a banda que de meus antigos amigos. Eles me olhavam surpresos, como se não me esperassem ali. Luke me olhava surpreso, admirado e petrificado. Quando meus olhos encontraram os seus azuis, eu não pude mais aguentar. Toda a confusão de sentimentos que eu mantive presa em meu coração durante os últimos dois anos decidiram explodir em forma de lágrimas.

Minha vontade era de gritar e fazer o maior escândalo que já fizera em toda a minha vida.

– Já chega. Isso eu não aguento. – apesar de todos os meus pensamentos sobre um bom barraco, tudo o que fiz foi empurrar Calum da frente da porta e correr corredor a fora.

– Deixa, eu vou atrás dela. – ouvi a voz do tio Chad e virei o rosto a tempo de vê-lo segurando o braço de Luke, impedindo-o de vir até mim e vindo por si mesmo.

Quase trombei com a parede dos elevadores e apertei o botão freneticamente, tentando enxergar por entre as lágrimas que turvavam minha visão. Meu coração ardia em chamas, mesmo que eu tentasse o possível para resfriá-lo. Eu precisava fazer isso, tem sido isso durante os últimos dois anos, não poderia mudar.

– Bea... Bea... Beatrice! – tio Chad finalmente chegou até mim, e eu praguejei baixinho pelo elevador não ter chegado a tempo. – Olha pra mim!

Depois de um pouco de recusa, meu tio conseguiu que eu o olhasse. Ou quase, já que meus olhos estavam cheios de lágrimas.

– Beatrice, você é uma Kroeger, é mais forte que isso. – ele disse, com a voz firme. – Não desista de um futuro por causa deles.

Um soluço irrompeu por minha garganta.

– Respira fundo, querida, juntos comigo. – ele inspirou e expirou fundo, enquanto eu seguia seus movimentos.

Quando eu me recuperei, abracei-o forte pela cintura.

– Obrigado, tio, você tem razão.

Tio Chad acariciou meus cabelos. – Em quê, meu bem?

– Os Kroeger são mais forte que isso.