Capítulo I – Lembrança

Sophia Divindragg

Eu havia acabado de amamentar meu amado filho, meu principezinho, meu pequeno e fofinho dragãozinho, Donatello Divindragg, que nesta bela noite quente de verão, estava completando seus 5 meses de vida, era o quinto mês que aquele pequeno ser alegrava meus dias e me completava com seu amor. Embora ele ainda fosse muito jovem, sua beleza me surpreendia muito, pode até parecer papo de mamãe coruja, obviamente todas as mamães acham seus filhotes os mais belos de todos.

Entretanto, meu pequeno Don era extremamente lindo, começando com aquele cabelo branco, rajado com mechas negras aqui e ali, sua pele era branca como a neve, mas o que mais chamava atenção e dava um charme a mais eram seus olhos, assim como os meus ambas pupilas eram verticais, assim como os répteis e felinos, ele também tinha heterocromia, ou seja, suas íris tinham tonalidades distintas, uma delas tinha aquele lindo verde-escuro, do qual ele havia puxado de seu pai, que era seu olho direito, entretanto, seu outro olho era branco, que praticamente fazia sua íris e esclerótica tornarem-se um, algo que ele não havia puxado de mim, embora ambos olhos fossem diferentes um do outro, eles transmitiam uma segurança, amor e poder que me cativavam de tal forma, que era difícil de colocar em palavras. Já os traços de seu rosto eram muito parecidos com os de Poseidon, ele havia puxado pouco da minha aparência.

— Oi, meu amor. — ele estava tão maravilhoso em seu pequeno macacãozinho azul, com aqueles desenhos bordados de cavalos.

— Mama... — balbuciou meu pequeno Donatello. Embora ele ainda não possua um vasto vocabulário e nem uma pronúncia boa, ele gostava muito de falar, de fazer sons, ele já havia começado a pronunciar algumas palavras mais corretamente. O que me deixava extremamente orgulhosa e feliz com seu rápido desenvolvimento.

— Mamãe. — disse devagarinho, ensinando-o a pronunciar melhor. — Vamos, você já sabe, já disse antes, mamãe.

— Ma... ma... mamãe.

— Isso, perfeito. — beijei seu rosto com ternura, me derretendo completamente com aquele pequeno ser. — Está com a barriguinha cheia? Você é um grande comilão, mamou muito, não é mesmo?! — disse eu fazendo carinho na barriga dele e vendo-o dar uma risadinha gostosa e contagiante.

Continuei mais alguns minutos o balançando em meu colo, enquanto cantarolava uma canção de ninar, até que ele começar finalmente a demostrar sinais de cansaço, começar a piscar seus lindos olhos, o sono estava o dominando, até que finalmente ele não pode mais resistir e acabou pegando no sono. Deitei ele em seu berço delicadamente, tomando cuidado para não o acordar e ter que continuar mais algum tempo o balançando em meus braços, mesmo que amasse fazer isso, eu estava começando a ficar com fome.

— Meu amor, mamãe vai à cozinha, preparar algo para eu comer.

Mesmo que ele estivesse dormindo e não pudesse me ouvir e entender, ele era o único com quem eu podia falar aqui nesse lugar, além é claro dos anjos de proteção e de algumas guerreiras que vinham de tempos em tempos trazer as provisões necessárias, e sempre não eram as mesmas, então, na verdade, não poderia dizer que tinha um vínculo de amizade com alguém no momento, muito menos de um relacionamento amoroso.

Meu amado bebê era o único ser que não saiu do meu lado, mesmo depois de todos os problemas aos quais eu fui colocada devido ao meu amor complicado. Embora muitos possam pensar que ele era o causador dos meus problemas, eu discordava firmemente desse pensamento, Donatello não era a origem do problema, ele era a recompensa, a dádiva, o que me dava a certeza que tudo o que vivi, todas as minhas escolhas até aqui, não foram em vão.

Mesmo que tudo tenha começado a dar muito errado quando eu engravidei dele, eu sabia que ele não tinha culpa disso, qual culpa um bebê tem em nascer?! Seria ridículo da minha parte culpar ele, nem mesmo seu pai tinha culpa, Poseidon fez de tudo e mais um pouco por mim, por nós, ele era o amor da minha vida, mas nem sempre aqueles destinados a se amarem, são destinados a estarem e passarem a vida juntos. Mas eu me recordava perfeitamente dos dias em que estivemos juntos, todos eles, em especial nosso último dia.

Aquela tarde quente de verão, sua brisa cortava meu rosto, um calor reconfortante, o verde e o azul faziam parte da minha visão, apesar de elas serem as cores predominantes, árvores de diversas cores, amarelo, vermelho, laranja, entre tantas outras, borboletas e pássaros voavam entre elas, o canto dos pássaros era alto e continuo, a vida em seu auge era bonito de se ver, todas essas espécies vivendo suas vidas pacificamente. O lago era tão belo de se ver, a água estava calma, parecia um espelho, e o que via refletindo nele era belo, as cores do pôr do sol, vários tons de amarelo, vermelho e laranja, um formoso pôr do sol, ele ia se pondo ao horizonte.

— Para com isso, meu amor. — impedi uma mão enorme, que tentava me forçar a comer mais um sanduíche, e mesmo que estivesse delicioso, eu não aguentava mais comer nada. Então me esforçava para tentar segurar o braço desse cara grande e forte, meu amado e pai do nosso futuro Donatello, Poseidon. — Se você continuar me mimando assim, eu vou explodir.

— Deixa de bobagem, Sophia, meu amor. — disse Poseidon sorrindo, aquele bonito sorriso que me deixava ainda mais apaixonada.

Poseidon era um homem muito lindo, 1.85cm de altura, aparentemente 35 anos, seus cabelos eram brancos, longos e lisos, assim como sua barba grande, seus olhos eram verdes-escuros, que parecia conter todo o poder do mar dentro deles, o que, na verdade, era exatamente o que continha.

Seu corpo era musculoso e estético, sua pele era branca, porém não tão pálida quando a minha, usava uma roupa simples, roupas que poderia encontrar em qualquer pessoa, camisa preta e bermuda branca e um Soleae, feito de couro escuro, preso em suas pernas por tiras de couro. Me distrai um pouco admirando sua beleza hipnotizante, e fui surpreendida novamente, com ele tentando mais uma vez me fazer comer o sanduíche, fazendo-me desviar o rosto e rir de sua insistência fofa.

— Querida, você tem que comer muito, para que nosso filho nasça muito forte e bonito como o pai. — ele me deu um largo sorriso, radiante, seus lindos olhos verdes brilhavam de felicidade e amor, o que aquecia meu coração.

— Tenho convicção que Donatello será belo e muito forte. — sorri, enquanto acariciava minha barriga enorme.

Muito embora meu corpo estivesse diferente do que normalmente eu gostava, me esforçava para manter um corpo escultural, com muitas curvas e bonito, mesmo que estivesse um pouco gorda e com muitas dificuldades até mesmo para andar, eu estava me achando extremamente linda, com esse enorme barrigão. A minha gestação já estava avançada, estava com mais de oito meses, faltava pouco para meu pequeno Donatello chegar ao mundo, o que me deixava extremamente animada e um tanto preocupada com tudo que estava por vir.

— Abre a boquinha. — Poseidon tentou novamente me fazer comer.

— Poseidon, chega, eu não aguento mais comer. — queixei-me com ele. — Se eu comer mais vou virar uma baleia por completo. — disse fazendo biquinho, ele riu da minha afirmação e deu um beijo rápido, simples encostar de lábios, o que me deixou sorrindo feito uma boba.

— Eu não me importo, seria uma baleia extremamente linda, continuaria sendo o ser mais bonito desse mundo. — disse ele encarando os meus olhos profundamente, fazendo-me suspirar, deixando-me ainda mais apaixonada por este deus maravilhoso que estava aqui em minha frente.

Eu tinha certeza que havia escolhido um deus maravilhoso para me relacionar, ainda mais para ser o pai do meu amado filho, sendo apenas uma pequena semideusa, como eu poderia ter esta convicção? Eu sabia disso, pois eu conhecia a maioria dos deuses, em especial aqueles que viviam no Olimpo, afinal, eu também vivi meus primeiros 15 anos de vida lá, junto de minha criadora e meu pai, respectivamente Atena, deusa da sabedoria e Hefesto, deus do fogo e dos ferreiros, mas isto é assunto para outro momento.

O fato é que conheci e tive contato com a maioria dos deuses, em especial os masculinos, tirando aqueles que já eram casados com deusas, tais como Zeus, Boreas, Eros, Hipnos, Zéfiro e Héracles, estes que não teriam a menor chance de me conquistar, por motivos óbvios, havia aqueles deuses que não tinham relações duradouras, tais como Apolo, Ares, Hermes, Dionísio, Asclépio, Cratos, Deimos, Euro, Fobos, Morfeu, Noto, Zelo, Pã, etc.

Estes, embora fossem descompromissados, não me atraíam, mesmo que alguns nem ao menos tentaram nada, como Asclépio, mas quando os primeiros sinais da minha feminilidade e beleza floresceram, outros foram muito insistentes, como Pã, que causou grandes problemas para mim.

Já com Poseidon foi amor, paixão muito poderosa, que partiram de mim. Desde sempre, tive esse sentimento comigo, uma vontade de ser mãe, esposa, procurar um grande amor para passar os momentos de minha vida. Mesmo que minha criadora não aprovasse isso e não quisesse que eu tivesse trilhado esse caminho, afinal ela é a deusa da sabedoria, lógica, e o amor não pode ser categorizado ou quantificado, ou seja, não pode ser entendido, mas sim, sentido, afinal era um sentimento, mas para ela, isso era simplesmente uma enorme bobagem e perda de tempo.

Enfim, Poseidon embora fosse um deus olímpico, um dos três deuses grandes e mais poderosos, chamados de deuses imperadores, ele não era presente no Olimpo, passava anos afio sem visitar a morada dos deuses, ele tinha seu próprio reino e povo para liderar e cuidar, sendo o deus imperador supremo dos mares, mas quando eu tinha meus quinze anos, ele foi a uma reunião entre os deuses principais, a primeira reunião neste século.

Onde finalmente eu o vi pela primeira vez e confesso, que sua beleza era realmente divina, de alguma forma, ele era tudo daquilo que eu admirava na beleza masculina e como disse antes, vendo toda aquela grande beleza dele, eu sabia que eu o queria pra mim, mas havia muitos empecilhos para que nosso relacionamento, mesmo aquela época não fosse para frente, afinal, Poseidon era um grande rival de minha criadora, Atena.

Desde tempos antigos eles não se deram nada bem, primeiro com a disputa entre eles para quem seria o deus patrono de uma cidade dos mortais importante, para isso estabeleceram um concurso: quem desse o melhor presente à cidade ganharia a disputa. Poseidon bateu com seu Tridente Supremo e fez jorrar água do mar e também fez aparecer um cavalo. Já Atena além de domar o cavalo e torná-lo um animal doméstico, também deu como presente uma Oliveira que produzia alimento, óleo e madeira, foi então que ganhou e assim a cidade levou seu nome, cidade, estado de Atenas.

E segundo minha criadora, para vingar-se dela por perder o concurso, Poseidon seduziu sua seguidora favorita, ao qual era responsável como sacerdotisa do templo da deusa em Atenas, ao qual deslumbrada com a grande beleza de Poseidon, não resistiu e acabou tendo relações sexuais com Poseidon no chão do templo, profanando o local sagrado, o local mais sagrado de Atena no mundo mortal.

Essa seguidora era a própria ninfa Medusa, com a qual foi punida por minha criadora por não resistir aos encantos de Poseidon, se transformando em uma espécie de monstro, caracterizada por ter serpentes no lugar dos cabelos e a metade inferior de seu corpo também, em geral, uma aparência horrenda. Suas irmãs tiveram o mesmo destino, por tentar defender a irmã, tornando-se as três Górgonas.

Por fim, já naquela época ainda tinha o fato de sua ex-esposa ainda não aceitar o fim do relacionamento deles, ele passou milhões de anos sendo casado com Anfitrite, uma deusa do mar, filha de Nereu e Dóris, mas antes mesmo de eu ter sido criada, eles acabaram separando-se, o que até onde o pouco que Poseidon me conta é uma situação muito complicada, envolvendo brigas com os filhos de ambos, especialmente o mais velho, Tritão.

— Você é um verdadeiro cavalheiro, Poseidon. — disse sorrindo, enquanto acariciava sua bochecha, em resposta aos meus carinhos, Poseidon colocou sua mão sobre a minha e depositou um beijo em minha mão docemente, sem cortar o contato visual comigo. Tenho que admitir, Poseidon sabia como me deixar abobada, apaixonada com seu jeito galanteador de ser, ele era ótimo, sabia de verdade como tratar uma mulher.

— Eu não sou um cavalheiro, mas por você eu seria o melhor de todos, minha rainha.

— Eu não sou mais uma rainha.

— Quem disse isso?

— Deixei meu reinado como rainha das Amazonas.

— Deixou para tornar-se a rainha de Atlântida. — aquilo me surpreendeu bastante, deixando-me sem palavras, o que fez Poseidon rir da minha reação de surpresa. Ele estava basicamente me pedindo em casamento?! Me tornando sua rainha, governanta de um reino muito maior e mais poderoso que o das Amazonas ao qual já fui rainha um dia. Um reino que era tão forte e poderoso quanto o próprio Olimpo. — Fico muito feliz que ainda consiga te surpreender às vezes.

— Não faça brincadeiras com coisas serias.

— Não estou fazendo brincadeira alguma, estou falando muito seriamente. — ele inclinou-se sobre mim, docemente, tomando muito cuidado com a enorme barriga, ele beijou-me docemente, enquanto acariciava minha barriga suavemente, ainda sobre a larga camisa que eu usava.

— Você fez grandes sacrifícios por nosso amor, por nosso filho, eu jamais poderia deixar você passar por toda essa dificuldade sozinha, eu a amo, Sophia, a minha rainha você será. Claro, se tu aceitares ir para Atlântida comigo.

— Aceito, mas é claro que eu aceito. — sorri largamente, muito feliz que tudo estivesse finalmente dando bem, eu nem poderia pensar em motivos para recusar essa oferta.

Poseidon sorriu largamente e beijou-me novamente, um beijo doce e amoroso. De repente um trovão alto ecoou sobre o dia ensolarado, fazendo com que meu rei interrompesse o beijo rapidamente, se virando e olhando para cima, sua cara era séria e preocupada.

— O que foi isso? — perguntei preocupada.

— Zeus. — disse Poseidon seriamente, não, ele não parecia apenas sério, ele mais parecia levemente irritado.

Ele mal fechou a boca e um raio azulado muito brilhante desceu dos céus diretamente para o chão, bem próximo de nós, o barulho do impacto foi alto e intimidante, fazendo-me desviar os olhos com a claridade ofuscante, quando olhei novamente para o lugar de onde o raio caiu, havia um homem familiar nos olhando, onde antes havia uma grama bem verdinha e bonita, agora havia um grande círculo queimado, onde em alguns lugares chamas pequenas queimavam.

Este homem era lorde Zeus, rei dos deuses, senhor dos céus, sua aparência era de um homem com cerca de 1,90cm de altura, forte e musculoso, por volta dos 20 anos, sua pele era branca pálida, seus cabelos eram brancos, lisos e compridos até metade de suas costas, sua barba era da mesma cor de seus cabelos, porém, curta e bem aparada, seus olhos eram totalmente brancos, mas se olhasse atentamente, literalmente podia se ver raios azulados passando de um lado para o outro, ele era belo.

Ele vestia-se tipicamente como os gregos antigos vestiam-se, duas peças de roupa sobre o corpo: uma roupa de baixo branca, chamada de chiton e um manto branco por cima, chamado de himation e usava uma sandália de couro preto, decorada em ornamentos de ouro puro, conhecida antigamente por krêpis.

— O que te traz aqui, meu irmão? — perguntou Poseidon seriamente, enquanto se levantava rapidamente do chão, mas ele deu as costas para Zeus e me estendeu a mão, me auxiliando a levantar, com certa dificuldade por causa da minha enorme barriga.

— Preciso falar contigo, Poseidon. — disse Zeus seriamente, ele se virou brevemente para mim, seu olhar era bastante sério. — Nós de licença, garotinha de Hefesto.

— Como desejar, lorde Zeus. — respondi educadamente, enquanto fazia uma reverência.

Desta forma, Sophia começou a afastar-se da dupla de deuses que a observavam ir andando devagar para longe deles, até ela estar longe o suficiente para não ouvir a conversa de ambos.

— Fale o que você precisa falar comigo, Zeus. — incentivou o deus dos mares impacientemente.

— Você anda um tanto displicente de suas funções como um deus, isso não é bom para nós, os deuses menores sempre estão à procura de pequenas brechas, de fraquezas, qualquer coisa que possam usar contra nós, os Olimpianos maiores. — disse Zeus seriamente.

— Sim, eu sei disso, mas o que isso tem a ver comigo? — perguntou Poseidon confuso.

— Como disse no começo, você anda displicente com suas funções como deus dos mares, você tem passado tempo demais no mundo mortal, junto de sua amante mortal.

— Ela não é minha amante, ela é a mulher que amo. — rosnou Poseidon irritado, mas Zeus não deu importância a irritação dele.

— Bem, tanto faz. — o rei dos deuses balançou a mão com indiferença. — O fato é que você tem demostrado fraqueza demais ultimamente, vivendo como um mero mortal em uma pequena casa isolada, isso não é coisa que um deus supremo como eu e você possamos fazer. — disse Zeus severamente. — O ponto é que tive, sim, filhos com mortais algumas vezes, mas você me vê bancando o marido mortal e vivendo com a mãe deles no mundo mortal.

— Se fizesse algo parecido com isso, Hera o mataria. — disse o deus dos mares rindo da cara do rei dos deuses.

— Você provavelmente tem razão. Mas vamos direto ao assunto.

— E o que você quer de mim?

— Eu quero que retorne para seu reino o mais breve possível e volte a demonstrar sua soberania, esse é nosso papel como deuses imperadores.

— Eu sei disso, inclusive, estarei retornando ao mar logo.

— Ótimo, isso é uma boa notícia.

— Levarei minha nova rainha e filho para meu reino...

— Nova rainha? — perguntou Zeus interrompendo Poseidon.

— Exatamente, estarei levando a Sophia para ser minha nova esposa imortal, rainha do mar.

— Eu estou te alertando para se afastar deles e de preferência reatar o casamento com Anfitrite. — disse Zeus seriamente. Poseidon olhou espantando para ele, parou na frente de Zeus e o encarou profundamente em seus olhos.

— Eu nunca vou fazer isso, eu amo Sophia, não sinto mais absolutamente nada sobre Anfitrite. — disse o rei dos mares seriamente. — Já fazem mais de cinco décadas que nos separamos, nem mesmo você vai me fazer voltar atrás.

— Eu acho bom você reconsiderar melhor suas escolhas, nunca se sabe o que pode acontecer se um deus ficar tempo demais mimando seu filho. — disse Zeus seriamente, aquilo havia soado perfeitamente como uma ameaça. Em resposta Poseidon adiantou-se e ficou cara a cara com Zeus, os olhos de Poseidon emanavam poder e intimidação.

— Se você tocar na minha mulher e no meu filho, teremos uma guerra que fara a Titanomaquia e a Gigantomaquia brincadeiras de criança, eu juro que você vai se arrepender de ter nascido. — disse Poseidon entre os dentes. Os olhos de Zeus ficaram mais perigosos também, podiam sentir as auras de ambos os deuses bem poderosas e intimidantes.

— Considere-se avisado. — disse Zeus seriamente, então um trovão foi escutado e ele desapareceu em um raio azulado, que partiu de baixo para cima, fazendo um barulho estrondoso e intimidante.

— O que foi, meu amor? — perguntou Sophia quando se aproximou de Poseidon e notou que sua expressão era séria e preocupada, ela poderia dizer que era nervosa. Porém, quando Poseidon notou a voz doce e preocupada de sua amada, ele forçou um sorriso.

— Nada, não foi nada, querida, não precisa se preocupar.

— Não minta pra mim, sei que aconteceu algo, seus olhos não conseguem esconder de mim. — disse emburrada, enquanto instintivamente cruzava os braços sobre o meu peito. Eu sabia que a conversa entre os dois deuses não havia sido simples, afinal, houve um momento a pouco que a energia de suas auras ficou intimidadora e muito poderosa.

— Não aconteceu nada, apenas bobagens de Zeus. — ele tentou falar docemente, tentando me enrolar. — Querida, vem, vamos continuar a aproveitar nosso dia juntos, voltar para o gostoso piquenique.

— Poseidon, desembucha logo. — incentivei ele, estava começando a ficar irritada. — Agora. — decretei, dando uma forçada para que ele parasse de tentar me enrolar, eu sabia que tinha algo de errado, sabendo disso, ele não conseguiria convencer-me que tudo está bem.

— Tudo bem, tudo bem. — disse Poseidon erguendo as mãos em sinal de rendição. — Zeus está descontente com minhas últimas ações, ele acha que de alguma forma estou faltando com meus deveres de deus imperador dos mares, isso demonstra fraqueza e isso pode ameaçar o domínio soberano dos Olimpianos, bem, algo nesse sentido, bobagem, não é mesmo?! — eu notei que estava incompleto, ele estava tentando sair dessa discussão contado apenas uma parcela do ocorrido, mas eu notei sua intenção de imediato.

— Continua.

— É só isso, eu disse que era bobagem.

— Porque você fica escondendo as coisas de mim, eu quero saber tudo. — briguei com ele. — Se serei sua rainha, não pode esconder os problemas de mim, estarei lá para te ajudar.

— Querida, não precisa se estressar, isso não faz bem pra você, minha linda. — disse ele sorrindo, enquanto acariciava meu rosto com uma das mãos, fazendo-me sorrir, adorava suas carícias. — Isso não faz bem ao pequeno Donatello, deixe tudo comigo, eu resolvo. — ele acariciava a barriga enorme docemente.

— Poseidon, eu sei que você só quer me proteger, eu amo isso em você, seu enorme coração e seu cuidado sobre mim e nosso pequeno filho. — disse sorrindo, acariciando a mão que tocava a minha barriga. — Mas eu preciso saber de tudo, eu quero saber de tudo, se Zeus está com algum problema comigo e com nosso filho, eu tenho que saber.

— Eu nunca vou deixá-lo fazer nada com vocês, nunca, isso é uma promessa, haverá guerra se ele encostar em vocês. — rosnou Poseidon muito mais do que apenas irritado, mas embora ele estivesse mais irritado do que jamais virá antes, eu não pude deixar de sorrir em saber que ele ficava tão irritado apenas com a ideia de ter eu e nosso filho correndo algum risco.

— Eu sei, eu sei disso, sei que você protegeria eu e nosso filho com todos os seus poderes e recursos e isso me deixa muito feliz, mas eu só quero que você me conte a verdade. — disse seriamente. Por fim, Poseidon suspirou derrotado, eu havia conseguido dobrar ele, isso não era nada fácil de fazer.

— Zeus acha que eu tenho que retornar para o mar, te deixar e deixar nosso filho, ele não concorda com meu divórcio com Anfitrite, agora ele veio até aqui e disse bem na minha cara que a minha superproteção pode trazer consequências a vocês, eu destruirei qualquer um que tente fazer isso com vocês, eu não vou acatar as ordens dele, se ele quer uma briga, ele vai arrumar uma.

— Não, não haverá brigas. — disse firmemente, Poseidon me olhou confuso. — Não haverá guerras e mortes sem sentido, se Zeus quer que você retorne ao mar e reate seu casamento, eu estou de acordo com isso...

— Como é? — perguntou Poseidon me interrompendo, ele parecia incrédulo com a minha resposta. E por mais que eu estivesse com meu coração partido nesse momento, eu tinha que pensar mais amplamente, no contexto completo, não somente nos meus sentimentos e vontades egoístas. — Você está terminando nosso relacionamento? Devido a Zeus e suas paranoias? Você quer que eu abandone você e nosso filho?

— Não, não é isso que eu quero dizer, querido. — disse com a voz embargada, meus olhos ardiam um pouco, meus olhos estavam marejados, por mais que estivesse segurando a vontade de chorar, era muito difícil.

— Mas eu não quero te deixar. — ele me abraçou.

— Eu sei que você nunca irá nos abandonar, mesmo que eu pedisse para você fazer isso, eu só não quero que isso transforme toda essa paz que temos hoje em dia em guerra, eu não quero causar problemas a todos no mundo com uma guerra tola, eu não quero que nosso filho nasça em meio a batalhas e morte, não quero que ele sofra, não quero que você sofra, eu somente quero o bem para todos nós e se o preço para a paz é desistir do nosso amor, mesmo que me doa demais é um sacrifício que eu estou disposta a fazer. — lágrimas desciam do meu rosto, também pude ver que Poseidon estava com os olhos levemente marejados.

— Mas eu posso proteger você e meu filho. — insistiu Poseidon com veemência. — Venha comigo, e eu irei te proteger, mesmo que seja do Olimpo inteiro.

— Jamais colocaria você em risco, eu te amo Poseidon, e mesmo que eu tenha que te deixei ir embora, isso não quer dizer que eu não te ame, mas eu não suportaria te ver sendo destruído pelos outros deuses. — Poseidon pegou meu rosto com ambas mãos e me forçou encarar seu rosto, sua expressão era firme.

— Por favor, venha comigo, eu não quero te perder.

— Eu também não quero, mas às vezes sacrifícios são necessários para manter a paz.

Mesmo com a insistência de Poseidon, acabamos nos separando, eu não fui para o mar, e ele não pode mais ficar comigo, vivendo na superfície, naquela noite mesmo eu o fiz retornar para Atlântida, para continuar cuidando do seu povo e de seu reino, porém, ele não cedeu completamente as exigências de Zeus, ele não retornou com seu relacionamento com Anfitrite e sempre que tinha um tempo ele vinha me ver e cuidar de Don e de mim.

Já eu continuei onde estava, no reino das Amazonas, mas isso é um assunto complicado. Mesmo que todo o termino tivesse vindo de mim, eu ainda estava muito confusa e um pouco irritada com tudo que havia acontecido, estava irritada pela forma idiota que Zeus agiu com Poseidon e nosso relacionamento, ele agiu com um verdadeiro rei tirano, tentando controlar tudo a sua volta com mão ferro e uma obsessão dignos de um louco. Embora eu até que entendia o ponto de vista de Zeus, apesar de ser um pouco exagerado, o modo como Poseidon agiu podia mostrar fraqueza, mas eu não acredito que demonstraria fraqueza a ponto de incentivar uma rebelião contra os Olimpianos, isso me deixava confusa.

Mas eu me lembrava de uma antiga história, sobre um mortal chamado de Dionísio primeiro, este mortal era um monarca de Siracusa, a cidade mais rica da Sicília. Conta-se que Dâmocles, era um cortesão bastante bajulador na corte de Dionísio. Ele dizia que, como um grande homem de poder e autoridade, Dionísio era verdadeiramente afortunado. Então, Dionísio ofereceu-se para trocar de lugar com ele apenas por um dia, para que ele também pudesse sentir o gosto de toda esta sorte.

Assim, à noite, um banquete foi realizado onde Dâmocles adorou ser servido como um rei e não se deu conta do que se passava por cima de si. Somente no fim da refeição ele olhou para cima e viu uma espada afiada suspensa por um único fio de rabo de cavalo, diretamente sobre a sua cabeça. Imediatamente perdeu o interesse pela excelente comida e pelas belas mulheres que os rodeavam e abdicou de seu lugar dizendo que não queria mais ser tão afortunado, e perguntou ao rei, porque da espada.

E o rei Dionísio respondeu: “Para não me deixar esquecer que muitos desejam meu lugar, estou em constante ameaça, há sempre a possibilidade de alguém ou alguma coisa me tirar do trono. Um dos meus conselheiros pode ficar enciumado do meu poder e me matar. Outros espalham mentiras a meu respeito para jogar o povo contra mim. Um reino vizinho pode começar uma guerra. Posso tomar uma decisão que pode enfurecer os deuses e ser castigado”.

Essa história é um bom exemplo daqueles com grande poder, que tem insegurança de perdê-lo, e tornam-se pessoas controladoras e muito paranoicas, e desde aquele dia eu notei que até mesmo Zeus, o rei dos deuses, é afetado por isso e tem essa insegurança.