Domme

Capítulo 8 - The Kind Of Girl


Passaram-se duas semanas desde o meu beijo em Alex e ela desaparecera. Era cômico que Alex Vause, que sempre me surpreendera com seus impulsos, tivesse sumido. O tal coquetel de Stella também acontecera.

Como suspeitei, era apenas uma tentativa de encontrar-me, mas por sorte, no evento eu reconheci Jack. Jack, que além de um colecionador e amigo de infância de meu pai, tinha em seu nome o sobrenome Vause. Ele era tio de Alexandra e admirava a sobrinha, mas nunca foi o forte dos Vauses serem amáveis e carinhosos. Sua relação não passava de admiração, orgulho e negócios. Tudo resolvia-se, para eles todos, com dinheiro. Inclusive, a arte.

Boa parte da noite, eu bebi água e champanhe enquanto Jack, uísque. Depois de 3 horas de festa, eu resolvi ir para casa. E foi o melhor que fiz. Nicky esperava-me ansiosa, mas o saldo da noite era apenas uma promessa de doação ao MET – o que não era ruim – e algumas investidas falhas de Stella – o que era péssimo, tanto para mim como pra ela. Soava ridículo, e algo em mim implorava que eu a contasse do beijo, de Alexandra ou qualquer outra coisa que a fizesse pensar um pouco mais antes de tentar algo comigo.

Já estávamos em uma segunda-feira, a primeira de maio, e uma das maiores exposições seria inaugurada naquela noite. Nicky, nova-iorquina desde as raízes ruivas até o dedo mindinho, me confessara, quando fiz o convite para que ela fosse prestigiar a exposição como minha acompanhante, que nunca havia pisado no Metropolitan Museum.

Era o baile do MET. Uma estreia digna para alguém que sequer conhecia o museu. O evento marcava a abertura da exposição anual do Costume Institute – que agora tem como nome oficial Anna Wintour Costume Center.

Era uma linda manhã e eu estava pronta para encontrar o apartamento perfeito, porém Lorna, minha corretora, teve problemas e mudou o dia da visita para o almoço de quarta. O apartamento que ela havia escolhido ficava na 5th Ave. Enquanto isso, eu continuava minha estadia na pequena mansão de Celeste – que ficara em minhas mãos pelo seu testamento.

Eu tomava meu café da manhã sozinha, sentada na varanda que tinha a segunda melhor visão do jardim – a primeira era do quarto de Celeste. A linda casa de Celeste me dava uma sensação de estar presa ao passado, e aos meus erros. A adolescência em que me entreguei e desfiz-me de quem eu era por uma mulher, por uma mãe ausente, por uma avó manipuladora, um pai machista e um ex-namorado babaca. Era uma necessidade, uma satisfação pessoal que eu daria-me o mais rápido possível. Um enorme presente a mim mesma.

Todavia, era impossível negar que a esperança de que os anos que passaram para mim e mostraram-me que eu podia ser quem nasci sendo e ninguém impediria meu sucesso também tivessem passado para Alexandra e mostrado a ela que eu não era propriedade, que nem todas as pessoas do mundo queriam machucá-las e que há outras pessoas no universo que não ela. Sonhar que Alex podia me amar e não apenas viver nesse jogo não custa nada mesmo, além do meu tempo.

Meus pensamentos iam longe e eu mesma me sentia perdida ao encarar todos os fatos. Eu estava sozinha no mundo, se não fosse por Nicky ao meu lado. Carol e Bill morreram em um acidente de carro dois dias antes do meu aniversário de 19 anos. E ao vê-los sendo velados e enterrados um ao lado do outro, eu senti lágrimas escorrendo e meu coração se abrir com leveza, eu perdoava ali meus pais por tentarem me forçar a ser a filha ideal e me forçarem a aceitar um pedido de casamento, e depois me expulsarem de casa quando me neguei a assinar a certidão, já que os papeis da emancipação já haviam saído.

Depois veio Celeste. A decisão deles de entregar-me a minha vó, que manipulava meus sentimentos como se tudo o que acontecera em Albany fosse minha culpa, incluindo uma pseudo depressão que minha mãe dizia ter adquirido com a filha rebelde nunca fez sentido. Enfim, mais uma das muitas chantagens emocionais e psicológicas suja e digna dos Chapmans.

Os vestidos chegaram pontualmente às 16 horas, eu acabara de sair de casa para checar os últimos detalhes no Museu quando Nicky me mandou uma mensagem avisando. E quando voltei, Nicky estava pronta, sentada no sofá, tão concentrada em seu celular que sequer me viu chegar.

— Ora, ora, Nichols está pronta, no horário, e lindíssima em um Valentino. Perdoe-me, mas eu tenho que tirar fotos desse momento! – eu disse, gargalhando, enquanto Nicky atirou-me almofadas.

— Eu já bebi dois copos de Jack Daniels, eu não sei o porquê, eu só me sinto tão ansiosa... Essa não sou eu, Chapman! – ela dizia bagunçando os cabelos ruivos e eu continuava a gargalhar. – Quer parar de rir da minha desgraça, Taylor Swift!?

Eu parei de rir, encarando-a e ela gargalhou.

— Não achei graça, Nicole! – eu digo arremessando a almofada

— Ei! Não me chama assim... Só minha mãe me chamava assim, e ela acha que eu morri de overdose. – Enfim, eu só quero te dar duas notícias, uma boa e outra ruim.

— Eu nunca sei o que é bom pra você, então dê as duas na ordem que preferir.

— Eu fiquei horas demais sem ter o que fazer, desde que você, sunshine, saiu. E usei minhas habilidades para acessar a lista de convites do evento. E, aparentemente, dois convites, não enviados por você, foram confirmados. – ela dizia, fazendo mistério.

— O que isso quer dizer? – indaguei, realmente interessada.

— Que teremos uma guerra em seu nome hoje, no seu evento, entre a Morticia e o Canguru Tatuado! – o sorriso de Nicky abrira-se como de uma criança que comete uma pequena travessura.

E eu não tinha palavras ou ações que mudasse a saia justíssima que o evento mais importante do ano me causaria. A única solução era fugir de ambas e das consequências de um possível encontro entre elas, já que duvido muito que Alex pouparia Stella do que houve. E eu não sabia ao certo se queria ou não que isso acontecesse.

Ao fim de todos os inúmeros pensamentos que tive, desde barrar a entrada de Stella até não comparecer ao evento, eu terminei de vestir-me. O longo vestido bordado e com detalhe de transparência na saia pareceu-me uma escolha feliz.

O carro que pedimos chegou e Nicky ofereceu-me a mão como ajuda para descer da escada, eu apertava sua mão com mais força do que o necessário. Nicky seria meu porto seguro nessa noite. Por um lado, talvez tudo desse certo e nada fugisse do meu controle. Por outro, tudo poderia ir por água baixo e arruinar o que construí.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.