Dolce

Melt my heart, and let me melt yours.


O vazio existente no centro daquela cama grande era agora ocupado pelo corpo delicado, quase perdido entre os diversos travesseiros e o edredom alvo que acariciava sua pele clara.


A janela, antes aberta, bateu devido ao forte vento lá fora. Kaya acordou num sobressalto, olhando automaticamente para todos os lados. Paredes de um azul profundo, móveis de ar antiquado e o perfume característico que emanava das roupas largadas no chão. Oh... Estava no quarto de Mana. Que horas seriam? O olhar sonolento procurou o pequeno relógio na mesinha de cabeceira. Perto das dez...


Jogou-se no colchão novamente. "Janela idiota." Levantando os braços, esticou o corpo se espreguiçando tal qual um gato recém-desperto, logo esticando o braço esquerdo para o lado à procura do corpo que lhe fizera companhia durante a noite. A cama estava vazia.


Apressou-se a jogar tudo para cima, saltando do colchão e procurando por suas roupas, mas a primeira coisa a atrair sua atenção foi a camisa social do amado abandonada junto à porta. Não hesitou em se apoderar dela e vesti-la às pressas, correndo descalço pelos cômodos na casa à procura do maior.


─ Mana?


O coração apertou e os olhos arderam, logo inundados por uma torrente de água salgada. Mana o havia deixado sozinho.
No momento de desespero e distração usado para secar as lágrimas que lhe turvaram a visão, colidiu com um obstáculo suficientemente grande para fazê-lo, devido ao impacto, recuar num desajeitado meio-passo e cair sentado no corredor.


─ Hnwr... ─ Sacudiu a cabeça, erguendo o rosto vermelho na direção do empecilho. Os olhos se arregalaram mais do que o normal ao se depararem com a conhecida expressão vazia a lhe encarar, com ar duvidoso.


─ Vai a algum lugar?


─... Mana? ─ Novamente os olhos se encheram de lágrimas, pela emoção de rever o amado. Graças aos céus, ele ainda estava lá.


Naturalmente desconfiado, a sobrancelha arqueada não era suficiente para demonstrar o tamanho de sua estranheza à expressão alheia.


─ Não me diga que estava esperando outra pessoa.


Os braços cruzados frente ao peito não puderam manter a posição, caindo dos lados do corpo e se elevando com certa relutância às costas do menor choroso que se atirara em seus braços, pressionando-o timidamente contra seu corpo enquanto o olhar um tanto confuso percorria a silhueta do rapazinho, estranhando a vestimenta um tanto ‘diferente’ a cobrir o corpo do vocalista, semi-abotoada de qualquer jeito e lhe caindo sobre as coxas como se fosse um vestido. Oh, claro... Aquela camisa era sua. Apenas riu, silencioso... Ele não mudou nada mesmo. Seu jeito continuava beirando ao desastrado, ainda que fizesse o possível e o provável para ocultar esse tão adorável “defeitinho”.


Acariciou os cabelos castanhos de seu pequeno, sorrindo-lhe ternamente.


─ Heh... Espero que tenha dormido bem.


─ Muito bem, amor.


A bochecha macia a se esfregar em seu peito descoberto lhe dava uma sensação esquisita. Engraçada... Cócegas? Por Deus, seu interior estava quente. Queria rir! Kaya se assemelhava muito a um gato e ele, por vezes, sentia-se nada além de um dono bastante inexpressivo. Quanto tempo levaria para finalmente se acostumar àquela relação?


─ Kaya... ─ "Solta." A palavra travou na garganta. Não conseguia afastá-lo de si, por mais que a situação o constrangesse.


Em resposta a seu nome, Kaya ergueu os olhos grandes e brilhantes na direção da face do estilista, ostentando nos lábios um sorriso meigo e quase infantil. Pendendo levemente a cabeça para a esquerda e levando o indicador aos lábios, explodiu em espontaneidade, encarando-o com ar de quem havia encontrado na última prateleira da loja o mais precioso presente de Natal.


─ Eu quero dançar com você!


Engasgou, afastando-se num passo que o levou a esbarrar na mesinha ali existente, mesa esta a sustentar um pequeno abajur e que permanecia no corredor sem qualquer motivo óbvio. Os olhos se arregalaram a tal nível que, na mente do mais novo, o guitarrista conseguiu se assemelhar a um dos artistas coreanos que vinham fazendo tanto sucesso. Kaya prontificou-se a rir com mais vivacidade, sabia que por trás da imagem austera do grande Mana-Sama havia um homem cujo jeito também pendia ao desastre. Talvez não tanto quanto ele, mas, tinha de admitir... Era um charme.


─ D-dançar...? Mas Kaya, eu não...! Hm... E a música...


Fora surpreendido com um riso suave, carregado pela uma brisa momentânea que atravessara o corredor como uma folha de outono a se desprender de seu devido galho. A sobrancelha automaticamente se arqueou ao balançar da cabeça do moreno numa breve negativa, acarretando no incômodo tencionar dos músculos do pescoço. Em que estaria pensando? Não teve tempo de esboçar uma reação ao sentir a palma direita do moreno a lhe tocar o lado esquerdo do peito em uma carícia delicada, logo sendo substituída pelo encostar do ouvido do pequeno à região. Todavia, todo o senso de seriedade ao qual se submetia desapareceu com as palavras proferidas em tom doce, ditado por fãs como a conhecida 'voz de travesseiro' do prodigioso ex-vocalista do Schwarz Stein. Mas a potência da travesseirada fora, indubitavelmente, de um impacto arrebatador. Aquele era o tom de voz perfeito, moldado numa frase que apenas ele, Mana, escutaria de alguém...


... Que realmente amava.


─ A nossa música já está tocando, Mana...


Um breve afastar do corpo do pequeno e uma imensa inércia foi tudo o que lhe restara.


─ Amor...?


Derretendo. Não precisava procurar outra palavra para explicar a impressão de ter seu coração lhe escapando por entre os dedos. Era aquela a sensação.


Passos para mais próximo do corpo frágil, agora trêmulo. A palma quente à face gelada de Kaya num toque tão terno que o fez sair de si por um instante. O secar das lágrimas com uma carícia delicada dos polegares, um discreto estremecer e os corpos colados agora num novo abraço leve como uma pluma, iniciado por Mana.


─ Concede-me a honra desta dança?


─ Mas é cla--


O entreabrir dos lábios fez-se presente numa resposta incompleta, calada pelos finos lábios do estilista no momento em que ele pendeu a cabeça para o lado. Os braços firmando-se com uma força maior à cintura esguia como quem prendia um gatinho e a língua pedindo, atrevida, a passagem que fora logo cedida. Um murmúrio manhoso e ininteligível intercalou a dança molhada à qual as línguas se convidaram e as mãos com os dígitos serpenteantes ao tórax do maior o acariciavam como se fosse uma adolescente indefesa. Bobo... E por um simples beijo. Nem mesmo o rubor na face podia tirá-lo do transe em que fora pego no momento em que a saliva tão doce do maior misturou-se à sua. A briga molhada que travavam, em busca de espaço, chegava a ser excitante junto à sessão de arrepios que se seguiam. O corredor silencioso era agora banhado com o som libidinoso das línguas e dos estalos daquele beijo que não durou tanto quanto gostaria por sentir o corpo ser retirado do chão, se chocando contra a superfície fria... Superfície fria...


As mãos tatearam a textura incômoda da parede atrás de si e pendeu a cabeça para trás ao, sutilmente, contorcer-se em regozijo, exibindo o pescoço alvo pelo qual o companheiro tinha tanto apreço. Gemeu baixo ao sentir os dentes deste a lhe marcar a pele alva, sorvendo-a em fortes chupões e arrancando de si suspiros de paixão e prazer latente. Aquelas marcas certamente demorariam a sumir.


Slowly sinking to your arms...

This fantasy keeps calling for me


Fitou mais uma vez a face porcelanada de seu pequeno. Por mais que quisesse agradar Kaya, tinha certeza de que para ele estava bom como estava. Podia ler em suas lentes, que cintilavam num azul profundo, impuro e tentador. Ambos sabiam que não daria tempo.


Era urgente.


Kaya tornou a abocanhar os lábios do estilista num beijo profundo, agarrando-se às madeixas negras que exalavam aquele perfume floral tão intrigante. Algo delicado e sensual, como as pétalas de uma gardênia...


Forçava o corpo macio contra os músculos do peito nu e tão quente do amado, que não tardava a lhe abrir apressado os botões da camisa, explorando cada linha do peito frágil como a mais linda obra de arte de sua coleção. As pernas a rodear possessivamente a cintura do outro, prendendo-se a ele não apenas para conseguir sustentação como também para lhe mostrar a quem aquele corpo realmente pertencia.


"Mana..."


Slowly floating to the sky...


Em meio ao calor do momento, um carinhoso selar deixado contra os lábios do mais novo seguido de uma mordiscada no farto lábio inferior o levou a duvidar... Por que aquilo de repente?


E passou a entender quando um roçar se fez presente. Daqueles sem pudor algum, onde podia sentir bem um volume característico se roçar a seu baixo-ventre. Um gemido baixinho, tímido e abafado com o dorso dos dígitos. A troca de olhares fora imediata e por um fim um sorriso misterioso do estilista. As palavras simplesmente não saíram... Tampouco quando sentiu a mão mais atrevida que agora não só lhe tocava as coxas tão sensíveis como também subia perigosamente até que as pontas dos dígitos deslizassem leves e desejosas sobre a extensão do membro dormente sob a roupa íntima. Um novo contorcer e o entreabrir dos lábios. As mãos trêmulas agarradas aos braços de seu homem... Seu... O único sussurro que fora ouvido ali foi um devasso "te quero". A simples frase, que pensou que só iria ler/ouvir em livros ou filmes, fora justamente murmurada para si.


This melody you whispers to me


Uma mordida no lóbulo seguido de uma sucção e um novo roçar. Um novo gemido. Por Deus... Aquilo lhe afetava. O baixo-ventre se contraiu em fisgadas e um murmúrio choroso se fez audível.


Chega de brincadeiras!


Forçou as unhas quase femininas nos bíceps fortes, o empurrando com violência. O sorriso lascivo manchou o rosto suado, dominado por um adorável rubor adolescente. Como podia misturar com tamanha perfeição toda a malícia e entrega de uma prostituta à timidez da mais pura virgem? Uma mordida no lábio inferior de Mana não bastou para que se contivesse, e em seu íntimo se perguntou sinceramente por que motivo ainda tentava se controlar. O botão da jeans escura já havia sido retirado de sua casa, o zíper baixado às pressas e o tecido surrado já descia pelas pernas do estilista, empurrado por Kaya junto à boxer branca que ainda o mantinha longe do que realmente precisava: um alívio momentâneo.


Um novo sorriso torpe a dominar os lábios grossos do pequeno, dando-lhe um ar ainda mais... Perigoso, seria a palavra correta?


... Quanto atrevimento.


A violência da mão direita a lhe arrancar a chamativa boxer vermelha, reduzindo a peça a nada mais que um tecido destruído. Um roçar entre os membros eretos que aos poucos evoluía para um esfregar contínuo, reforçado pelo mover quase frenético de ambos os quadris um contra o outro. Corpos banhados por suor e embalados pelos gemidos carregados provindos da excitante brincadeira. Os dentes cerrados como uma forma de controlar os ofegos, tola tentativa... Um impulso por parte do pequeno e seus braços eram passados em torno do pescoço do maior, prendendo-lhe novamente o corpo no forte abraço das coxas à cintura do estilista, causando-lhe arrepios inenarráveis graças à posição mais do que indiscreta. A pressão do corpo de Mana contra o do mais novo, seus olhos percorrendo o contraste delicado que a brancura da tez alheia fazia contra o azul escuro da parede que vigiava silenciosa as peles ferventes a se acariciar. O membro estimulado pelo abdômen do maior, e um suspiro lânguido a arranhar a garganta do jovem cujas pálpebras baixaram ao sentir o toque de dois dedos úmidos a seu mais-íntimo. Os dígitos ousados do sênior a penetrá-lo vagarosamente, explorando a cavidade com calma junto de sua saliva, trazendo a Kaya um imenso conforto e o levando a estimular o próprio membro em alta velocidade, chamando baixinho e manhoso pelo nome de seu príncipe negro.


─ Hnn, M-Mana...


Um olhar de dúvida fora lançado ao menor, que assentiu. Não era necessário trocar qualquer palavra para que a nova permissão fosse concedida; ele estava pronto.


Finalmente se tornariam um.


A glande úmida a circundar a entrada do vocalista. Um volume bem maior e pulsante invadindo seu espaço apertado, que naturalmente se retraiu. Um gemido doloroso e um selar demorado a lhe transmitir uma pequena parcela de confiança. As unhas capazes apenas de se cravar nas costas nuas e suadas do maior e arranhá-las com gosto, presenteando-no com uma dor deliciosa ao iniciar das estocadas.


[ Kaya's POV ]


O delicioso vibrar de meus tímpanos ao soar dos gemidos graves de meu homem, capazes de aquecer até mesmo o mais oculto e esquecido cantinho da minha alma... A visão turva a distorcer toda e qualquer coisa ao meu redor, mas suficientemente perfeita para admirar face perfeita de meu amante perfeito. As pálpebras cerradas, a respiração ofegante e os lábios partidos a chamar meu nome daquela forma tão desejosa... Se aquela não era a mais bela joia existente, desculpe, mas não sei qual é. E não acho que exista uma em nível de comparações. Seu sexo molhado perfeitamente encaixado em meu interior, preenchendo-me e se movendo com maestria, a me penetrar com a força que eu queria e com o carinho do qual eu tanto precisava, enquanto sentia seu abraço protetor a me resguardar e tudo e de todos. Pois eu sabia que, naquele momento, estava perto de alcançar o Paraíso. E o fazia com um anjo.


Heaven sent you to my heart...

~eternality is waiting for me~


Forçando a vontade de lhe dar prazer, procurei me retrair, acomodando-o dentro de mim, rebolando devagar sobre seu membro rijo. Rápido, profundo... Um toque em meu ponto mais sensível, fazendo-me gritar. O pedido por uma repetição perdido entre meus ofegos desconcertados certamente não teria sido ouvido se meus lábios não estivessem colados ao pé do ouvido de Mana.


Um abraço mais forte à minha cintura... Eu já sabia o que viria.


Infernal fire cleanses me


Um súbito aumentar da pressão. Novas estocadas furiosas, intensas... Meu membro sendo estimulado a cada segundo. "Quase... Q-quase..." Em pouco tempo, um quente diferente em meu abdômen, sujando também o de meu amado e dando àquela pele porcelanada um tom mais vulgar.


Derretendo. A única palavra que encontro para definir como eu me sentia naquele momento.


Estremeci meio a um gemido muito mais alto, proferido num urro de prazer o nome de meu guitarrista. As palmas apertando as costas do maior antes de irem se afrouxando, deslizando para seu peito e caindo devagar aos lados de meu corpo. O corredor se tornara um espaço amplo, inundado pelo cheiro de gardênias defloradas, levando-me a acreditar que nos amávamos em meio a um jardim de plena luxúria. Exagerado, mas realista. Minha realidade.


Incrível, suspenso, mágico demais...


~ my soul entrapped...


Logo, meu interior a ser preenchido pelos jatos do prazer de meu anjo. Tão quente, tão gostoso... Sua essência a me escorrer pelas coxas, levando-me a sorrir sem que eu ao menos percebesse. A marca dele havia sido deixada em mim novamente... Mas, daquela vez, eu sabia que era de verdade. Eu finalmente lhe pertencia, de corpo e alma...


forever by you~


A expressão deleitosa de meu amado a gemer tão alto com aquela rouquidão característica que tanto me seduzia fez meu rosto arder em brasa, ao que minha face corou violentamente, chegando a me incomodar pela forma tão sutil como ele a elogiara: "Parece uma criança".


Novas posições. O escorregar de meu corpo suado para seus braços, e minhas pernas a se unirem sobre o braço que as manteve longe do chão enquanto eu era carregado no colo até o quarto de Mana. Meu peito a ser banhado pelo calor de meu amado, e minha cabeça a descansar junto a seu tórax até ser deitada no travesseiro macio. Meu corpo agora enlaçado por trás, um sutil revirar e a seda escura a abraçar nossos corpos cansados.


O indicador do maior a me contornar os lábios, e meus dentes a tentar pegá-lo em vão, arrancando um risinho bobo de meu príncipe negro. Meu nome num murmúrio grave, cansado, e ainda assim doce.


─ Kaya..


─ Hn...?


─ Eu te amo.


A confissão fez com que um calor diferente se apoderasse de meu frágil corpo agora abrigado em seus braços. Resposta eu tinha, não verbal e sim num simples gesto... Quente. Molhado. Novamente lágrimas a me escorrer pela face. Sentia-me um idiota. Por que sempre tinha de estragar tudo chorando à toa?


I've been searching for the place,

Where our love could stay without sorrow and pain.


Um repuxar do canto dos lábios finos num sorriso incomodado, e os traços molhados em meu rosto a serem limpos pelos polegares atenciosos de meu homem. O afastar de alguns de meus fios de cabelo seguido do beijo estalado à minha testa úmida. A frieza de seu olhar felino já não se apoderava mais das lentes azuis agora levemente dilatadas, brilhando como quem queria confessar algo. Um leve pousar de minha palma ao lado do peito em que o coração se situa. A mão esquerda de Mana a cobrir a minha, e a direita a me acariciar a face, tirando-me um suspiro apaixonado que encharcou o cômodo de paredes azul-marinho.


Eu podia sentir, podia ouvir... Estava acelerado assim como o meu.


We shall find our paradise,


Meus olhos lutando para se manterem abertos, cedendo ao peso do sono. Minha respiração cada vez mais falha e a voz retida na garganta seca. Já não me restavam forças.


Um mínimo erguer de meu tronco exausto de modo a poder unir os lábios aos de meu amado, no desferir de um selar carinhoso. E nem mesmo a respiração calma pôde controlar uma palpitação descompassada no momento em que o respondi, deixando meus dedos se entrelaçarem ao dele e afundando aos poucos no mundo fantasioso de meu sono.


─ Eu também o amo, Mana...


E a última coisa que vi antes de me render ao cansaço foi o que mais ansiei em toda minha vida e que naquele momento era meu, totalmente meu...


SEU SORRISO.

Where our souls shall burn by the ever lasting love... ~

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.