Com a ajuda de uma moeda, quem tirasse cara limparia a casa e quem tirasse coroa iria colher as coisas na horta. Cebola e Mônica ficaram com a limpeza, já Cascão e Carmem ficariam com a colheita. Os três da turma clássica acharam que a Frufru iria dar um chilique, porém, se surpreenderam quando ela aceitou tranquilamente.


A loira usava uma legging preta com uma blusa pink de ombro caído, nos pés um tênis esporte. O Araújo vestia uma bermuda tactel preta com regata vermelha e chinelos pretos.


"Você sabe quantas coisas podemos pegar?" a Frufru perguntou a Cascão apontando para a horta e ele deu ombros.


"Sei lá, umas cenouras e tomates devem dar. Eu posso colher se você quiser, Carminha, sei que você não deve ter tanto costume..." ele dizia até ver a loira rir se ajoelhando na terra. O rapaz a encarou surpreso.


"Cascão, põe a mão na massa! Temos que entregar isso para DC e Magali." ela disse animada e Cascão sorriu.


"Pode deixar. Seus pais não se importam de você sujar uma roupa cara dessas? Minha mãe só aceitava quando eu era criança, isso quando aceitava." o Araújo riu e o sorriso da Frufru morreu.


"Eles nunca estão em casa, não faz diferença." ela comentou colocando o cabelo para trás e o rapaz começou a rir ao olhar para ela.


"O quê? Está rindo de mim?" ela perguntou brava.


"Você passou a mão de terra no cabelo." falou apontando para os cabelos da moça e ela, ao notar o erro, sorriu.


"Sorte que eu trouxe meus cremes." ela comentou e o rapaz entregou duas cenouras arrancadas.


"Deu sorte, imagina seu cabelo mudando de cor?" ele disse ainda arrancando mais cenouras e ela sorriu para ele. Cascão tinha o poder de alegrar qualquer pessoa.


*

Na sala, Cebola e Mônica haviam dado uma pausa após ter entrado um farpa da vassoura desencapada no dedo de Cebola. Com o auxílio de uma pinça, Mônica conseguiu tirar.


"Já pode ser médica, Amor. Aliás.. escolheu Medicina, né?" ele perguntou e ela virou o rosto.


"Vou lavar o banheiro, termina aqui, ok?" ela respondeu saindo e Cebola estranhou a mudança de humor repentina, mas precisava limpar a sala, então relevou.


No banheiro, Mônica respirou fundo. Tinha esquecido por um momento da escolha vocacional e agora martelava em sua cabeça de novo, junto de autocríticas como: tenho que escolher logo; o tempo está passando; preciso orgulhar meus pais; preciso fazer o investimento deles comigo ter valido à pena... todos ao mesmo tempo. A moça molhou o rosto e respirou fundo, em seguida, tentou voltar a limpar o banheiro e conseguiu, não era a primeira vez que escondia um ataque de alguém, apenas não queria preocupar ninguém.


*

Na cozinha, Magali fazia o arroz enquanto DC o feijão, que já fora deixado cozido. Os dois aguardavam que ficasse pronto e que Carmem e Cascão levassem o resto das coisas.


"Esqueci de pôr sal." Magali levantou correndo da cadeira de madeira e DC fez o mesmo.


"Eu esqueci de provar, algumas vezes erro a quantidade também." ele falou pegando uma concha de metal enquanto Magali salgava o arroz.

O rapaz colocou uma colherzinha no feijão e tirou o caldo para provar, estava normal para ele.

"Prova, Magá." ele pediu relando a concha na mão dela que provou.

"Está bom. Prova meu arroz." ela disse dando uma colherzinha com arroz para ele que provou e fez uma careta.

"O que foi? 'Tá muito salgado?" ela perguntou amedrontada e ele começou a rir.

"Tá ótimo." falou e ela deu um tapinha no ombro dele.

"Pensei que encontraria coisas exóticas, mas é só um arroz e feijão." Carmem disse ao entrar com Cascão, ambos com as roupas sujas.


"Uau. Vocês estão sujos!" DC disse pegando os tomates e cenouras.


"Queria o quê, queridinho? Era terra. Espero que a comida esteja boa, porque vou demorar horas pra tirar essa terra de baixo das minhas unhas." Carmem disse saindo e Cascão ia fazer o mesmo, mas sorriu para Magali.


"Nunca comi um arroz feito por você, Magá. Vamos ver se é verdade que todo mundo que gosta de comer cozinha bem." ele disse e ela riu.


"Vai lavar as mãos, Cascão!" falou rindo indo ajudar DC a lavar os legumes e o amigo saiu.

Minutos depois, Cebola e Mônica apareceram com um balde, vassoura e rodo.

"Ai de vocês se pisarem na sala, acabamos de limpar. Esse almoço não sai nunca?" Cebola gritou para a outra dupla e perguntou para a que estava na frente dele em seguida.

"Não sei se você sabe, mas demora pra comida ficar pronta e só agora trouxeram as outras coisas." Magali respondeu descascando uma cenoura.

"Nos chame quando estiver pronto. E vê se não belisca, Magali." Cebola brincou e a amiga revirou os olhos quando eles saíram.

"Por que tenho a impressão que temos mais trabalho que esse casal?" DC perguntou à Magali que riu.

"Eles varreram e passaram pano, em duas pessoas pode ser menos cansativo. A gente ainda tem um monte de coisa pra fazer." ela disse indo descascar outra cenoura.

"Tá. O que você quer fazer? Salada ou carne?" ele perguntou picando o tomate.

"Carne." ela respondeu.

"Então fica com a salada." o rapaz respondeu e ela o olhou de cenho franzido.

"Doido." sussurrou e ele sorriu abertamente.

"Vai logo, Magricela. O doido aqui quer trabalhar." ele disse pegando alguns pedaços de bife que Luciana havia deixado e ela riu, era divertido estar com Dc.

Ela olhou para o rapaz concentrado cortando a carne e lembrou de Quim, ele também se empenhava para fazer as comidas, o padeiro já havia cozinhado para ela e a atenção toda se voltava para aquilo. Balançou a cabeça para afastar os pensamentos. DC, por outro lado, refletia sobre ter contrariado alguém apenas naquele momento com Magali, anteriormente não havia sido ele mesmo e deixou passar batido. Sentia que seu eu estava mudando sem sua própria autorização, sentia-se horrível por isso.


*

O casal clássico havia passado o pano muito molhado na casa, então Cascão e Carmem se sentaram no batente de madeira da porta para esperar o chão secar para poderem ir tomar banho e tirar a terra do resto do corpo, das unhas haviam conseguido com a ajuda de um palito de dentes após vários minutos tentando.


"Não sabia que podia passar pano tão molhado em chão de cera." Cascão comentou.


"Eu nem sabia que existia um chão assim." ela comentou e o rapaz a encarou.


"Como é ser tão rica a ponto de nunca ter visto um chão de cera? Muitas casas ainda têm." o rapaz perguntou curioso.


"Eu não presto atenção em chão, Cascão. Me preocupo com outras coisas." ela respondeu simples.


"Tipo o sapato que está pisando em tal chão?" ele perguntou e ela riu.


"Também. Eu já tinha ouvido falar em chão de cera, mas nunca vi. Imaginava uma coisa diferente." a loira respondeu.


"Olha o rango!" Magali gritou e Cascão se levantou.


"Você vai comer sem tomar banho depois de ter mexido na terra? Que nojento!" ela exclamou enojada.


"Eu 'tô com fome e esse chão vai demorar um milênio pra secar. Se quiser esperar, já é com você." ele disse saindo e Carmem ouviu o próprio estômago roncar, havia comido apenas um pãozinho com requeijão e suco de laranja no café da manhã e dispensado o lanche que Luciana fizera para eles, bolo de chocolate com refrigerante.


"Não, Carmem. Você não vai comer suja!" ela disse para si mesma, mas logo lembrou que se demorasse acabaria comendo sozinha. No mesmo instante correu para a cozinha.


"Mudou de ideia?" Cascão perguntou sorridente enquanto montava um prato cheio.


"Magali ainda está aqui." ela disse pegando um prato.


"Fez bem então, Carmem." Cebola disse após engolir sua comida.


"Eu cozinhei pra vocês e vocês me zoam por algo do passado? Que ingratidão!" Magali fingiu estar incrédula enquanto se sentava com seu prato já montado.


"Reveja seus amigos, Magá." Mônica disse sorrindo e Cebola a abraçou pelos ombros.


"Tá dizendo que não presto?" ele perguntou meloso, dando vários beijos na bochecha dela.


"Ei! Eu 'tô comendo aqui! Respeita!" Cascão brincou apontando para seu prato com um garfo e faca em mãos e todos riram.


*

Já era tardezinha quando Luciana retornou cheia de coisas. Os adolescentes assistiam a um programa aleatório de sábado.


"O dia está quase acabando lá fora e vocês enfurnados aqui dentro. Mônica e Cebola, podem me acompanhar até a vizinha para pegar umas encomendas que fiz?" ela falou e os dois assentiram.


"Magali e Maurício, gostei da maneira que vocês lidaram com comida. Quero que colham frutas do pomar ali da frente. As que vocês conseguirem." ela disse aos dois que se entreolharam.


"Não." DC respondeu e Magali sorriu para Luciana, colocando a mão no ombro do amigo.


"Ele vai sim, dona Luciana. Se preocupa não." a de cabelos longos negros disse olhando feio para ele, que deu ombros.


"Ótimo. E vocês dois, preciso que peguem meus porcos e minhas galinhas. Amarre os pés dos porcos e as galinhas coloquem todas no galinheiro que logo chega um amigo de um sítio que vai cuidar deles durante minha ausência amanhã. Venham vocês dois, coloquem roupas de mangas primeiro." ela disse a Carmem e Cascão finalizando com Mônica e Cebola saindo em seguida.


"Nossa, essa sua tia gosta de mandar a gente fazer tudo. Pensei que iríamos descansar." Carmem comentou revirando os olhos assim que a mais velha se afastou.


"Ela não gosta de corpo mole e vai ser bom pra gente focar em coisas novas." Mônica respondeu saindo com Cebola.


"A Carminha e eu só pegamos os mais complicados. Vocês dois não querem trocar?" Cascão perguntou à Magali e DC, mas antes de eles responderem ouviram um grito de Luciana.


"Nem pensem em trocar as tarefas durante minha ausência." ela avisou.


"Bora, Magá." DC saiu com Magali.


"Sorte que nem troquei de roupa." Cascão sorriu estralando os dedos.


"Eu sim. E não tenho outro tênis para ir pra lama, você pega os porcos e eu pego as galinhas." ela sugeriu.


"Não, a gente atrai elas até o galinheiro e depois nos unimos pra pegar os porcos.” ele disse e ela deu ombros, parecia uma boa ideia.

*

A Frufru estava com a barriga doendo de tanto rir de Cascão correndo atrás do porco maior, o pequenino fora fácil pegar, já esse não facilitava. Carmem já havia levado as galinhas para o enorme galinheiro jogando milho lá dentro e Cascão correndo atrás delas para todas seguirem para lá.


"Vai, Cascão. Você tem um porco de estimação e não consegue pegar esse?" ela perguntou e ele bufou.


"O Chovinista é completamente diferente!" ele disse de frente para o porco se preparando para pegá-lo.

Em um pulo, Cascão se jogou na lama agarrando o porco e voou lama em Carmem.

"Amarra ele, Carmem! Amarra ele!" ele disse alto e a loira correu para amarrar as pernas do porco e conseguiu, mas se sujou toda de lama no processo.

"Pegamos!" ela exclamou sorridente praticamente abraçada ao porco junto de Cascão.

"Coitadinhos. Amarrar as pernas deles é tão triste." ela disse se levantando.

"Só pra não escaparem. Ali o homem que vai levar eles." Cascão apontou com a cabeça para um fazendeiro que acabara de chegar.

"Oi, crianças. Luciana me disse que os porcos estariam amarrados e galinhas presas. Fizeram um bom trabalho!" o homem disse sorridente fazendo um gesto de “venha” para um rapaz jovem e os dois sorriram de volta vendo os bichos serem levados.

"Cuide bem deles." Carmem disse ao lado de Cascão e o fazendeiro assentiu levando os porcos com ajuda de um outro jovem.

"Acho que precisamos de um banho." Carmem comentou olhando para si, aquela roupa talvez nem poderia ser mais usada pelo tanto de lama que tinha.

"Como vamos entrar na casa sujos assim? Mônica e Cebola já limparam." Cascão perguntou.

A Frufru crispou os lábios, nunca havia se sujado tanto a ponto de não poder entrar em casa para não sujá-la.

"Não sei, Cascão. Você já chegou mais sujo que o normal quando era pequeno?" ela perguntou e ele assentiu.

"Sim. Minha mãe me obrigou a 'tirar o grosso' com a mangueira." ele respondeu e ela franziu o cenho olhando em volta e sorriu ao ver uma mangueira.

"Vem, vamos usar a ideia da sua mãe." a loira puxou Cascão, que escorregou caindo na lama a puxando junto.

"É, realmente estou em meu habitat natural: a lama. Você não passa essas lamas na cara? Esse foi de graça." ele riu e a loira riu também.

"É uma lama diferente." a moça levantou e o ajudou a levantar se apoiando na madeira da cerca atrás de si.

Os dois foram até uma parte cimentada onde estava a mangueira, Cascão ligou e apontou para Carmem fazendo pressão na água com o dedo.

"Ah! Que gelada!" a Frufru, para sua própria surpresa, gargalhava gostosamente quando a água gelada fazia contato com seu corpo. Cascão sorria para ela.

"Sempre vai ser estranho tomar banho de mangueira." ele disse quando foi sua vez.

Assim que acabaram, foram pegar um pano de chão para usarem como tapete. Ainda estavam sujos.

"Acho que não foi uma boa ideia a gente se molhar, vamos fazer assim: você toma banho primeiro, eu ainda tenho que lavar o cabelo e vai demorar muito." Carmem disse e Cascão olhou sem entender.

"Não, vai você primeiro. Eu sou mais acostumado com sujeira e estou bem mais sujo que você. Eu insisto, vai primeiro." ele disse olhando sério e ela sorriu sincera.

"Obrigada. Prometo tentar ir o mais rápido possível." ela disse entrando na casa.

Cascão sorriu sozinho e olhou em volta feliz e seu pensamento se igualou ao de Carmem, há tempos não sorria tanto como naquele dia.


*

No pomar, Magali e Do Contra pegavam várias frutas. Naquele exato momento, DC estava embaixo de uma macieira com um cesto cheio de laranjas e dois cachos de bananas aos seus pés enquanto olhava para cima.


"Pega, DC." a voz de Magali soou e ele ficou atento ao ver algumas maçãs caírem desviando de uma maçã que por pouco não caiu em sua cabeça.


"Magali! Quase cai na minha cabeça." ele disse pegando as que caíram no chão e a moça apareceu com várias maçãs na barra da blusa larga que usava.


"Desculpe. Quem sabe você ficaria menos doidinho?" ela falou descendo da árvore e colocando as maçãs na cesta.


"Doidinho? Eu? Você sobe em árvores com mais facilidade que eu, que pratico esses tipos de exercício, e o doidinho sou eu?" o rapaz questionou e ela deu de ombros.


"Eu gostava muito de frutas, ok?" ela disse e o rapaz sorriu.


"Do que você não gostava, Magricela?" ele perguntou enquanto carregava o cesto pesado junto com a ajuda dela.


"Eu era, e sou, muito boa de garfo." ela falou animada e do nada DC parou olhando para frente.


"Não acredito que ela tem um pé de jabuticaba! É minha fruta favorita!" ele exclamou com os olhos castanhos brilhantes.


"Vai lá pegar então, aproveita." ela mal falou e o rapaz já estava lá. A moça se encostou numa árvore sem frutos dali perto.

Após DC ficar alguns minutos comendo jabuticabas, Magali o chamou para voltarem, estava começando a escurecer.


"Você gosta mesmo de jabuticaba." ela sorriu enquanto ele jogava algumas frutinhas pretas no cesto com um sorriso radiante.


"Meus pais me diziam que era uma das únicas coisas normais que eu gostava." o rapaz comentou sorridente, mas logo seu sorriso sumiu quando ele se lembrou da briga da noite anterior.


"DC?" Magali o chamou e ele a ignorou, não havia ouvido.

O rapaz estava perdido em seus pensamentos, as jabuticabas haviam o levado de volta ao julgamento por sua excentricidade. Desde a infância existia tal julgamento, mas ficou latente na adolescência e mais ainda no momento presente. A cabeça do garoto começou a doer só de lembrar do tanto de vezes que ouvira o chamarem de estranho, que o mandavam crescer e dos psicólogos da família que diziam a mesma coisa: diminua sua excentricidade. Foi tirado de seus pensamentos ao ouvir uma voz feminina o gritar pelo nome, que sempre era usado quando queriam lhe chamar a atenção.


"Maurício!" Magali gritou e ele a fitou com olhar de alerta, como se estivesse assustado.


"O quê? Disse alguma coisa? Me chama de DC, Magá, não estamos em um lugar formal." ele balançou a cabeça para afastar os pensamentos.


"Eu 'tô aqui te chamando e você dormindo em pé. Tudo bem com você?" ela perguntou preocupada.


"Estou ótimo. Vamos lá, aposto que tem fila para o banho." ele falou e Magali assentiu em silêncio.

A moça achou estranha a reação do amigo ao ouvir o próprio nome, mas sua resposta fora pior. Estava claro que não estava bem, o tom usado fora exatamente o de Quim semanas antes de ele terminar com ela e a Fernandes também usava esse tom quando lhe perguntavam sobre o fim do namoro.

Caminharam em silêncio até o sítio e colocaram as frutas em cima da mesa. DC pegou as jabuticabas e Magali comeu uma.


"Nem é tudo isso. Prefiro melancia." ela brincou com ele para amenizar o clima.


"Metade é água. Só é um negócio grande, o conteúdo é minúsculo e sem graça. Já a jabuticaba é pequenina, mas seu sabor é marcante. Por isso eu gosto dela." ele sorriu comendo mais uma e ela sorriu.


"Então seus pais erraram, você gostava mais dela por ter um gosto diferente. Essa é sua essência, DC." Magali disse saindo e o rapaz sorriu ao concordar.


*

Mônica e Cebola estavam com as pernas doendo de tanto andar com a tia de Mônica, não esperavam que a vizinha morasse tão longe. Eles estavam em silêncio quando, de repente, Cebola riu.


"Lembrei de quando eu te dei aquele fora, quando a gente era mais novo, porque eu queria estar à sua altura." Cebola começou e Mônica riu.


"Até hoje eu acho que aquela foi uma das suas grandes idiotices e nunca ficou muito claro você querer me derrotar, é até doentio se formos ver." ela comentou.


"Você sempre foi a dona da rua, Mônica. Meu ego estava ferido e eu não queria assumir isso. Mas ainda bem que no fim ficamos juntos." ele disse e Mônica pareceu pensar.


"Olha, acho que foi destino. Porque certeza que se fosse outra pessoa, eu teria desistido. Sério, você vacilou muito comigo." ela disse e ele sorriu fraco.


"Eu sei e me arrependo. Acho que só fui me dar conta que estava fazendo tudo errado quando vi que você conseguiria seguir em frente, eu até tentei quando levei um fora, mas sempre foi você." Menezes disse e Mônica sorriu.


"É estranho, né? Em um dia você era um moleque com problemas com o ego e no outro é esse seu eu de agora." ela comentou.


"Ainda bem que as pessoas amadurecem. Mas, Mônica, em breve vamos para a faculdade, como você acha que vai ser?" ele perguntou.


"Cebola, eu aguentei um intercâmbio seu." ela lembrou.


"Eu sei, mas desta vez é diferente. Só um de nós estava em um lugar novo conhecendo pessoas novas, agora pode ser que cada um vá para um canto diferente e... você vai conhecer outros caras que podem ser o que você espera em um homem. Você nunca vacilou comigo, por isso eu tinha olhos só para você durante o intercâmbio, mas eu já vacilei muito com você. E mesmo que você tenha perdoado, tenho medo de me deixar levar pelo ego de novo." ele disse inseguro e Mônica ficou sem fala.

A moça queria dizer que era Cebola quem era esse homem, mas outras dúvidas apareceram para incomodá-la: Será que era mesmo? E se no futuro ela conhecesse alguém que ela sempre idealizou com a figura de Cebola? E se ela, no fundo, não o amasse?

As perguntas ficaram sem respostas graças ao som de Luciana.


"Vamos mais rápido, meninos. Já vai escurecer." ela disse animada.

Os dois foram em silêncio, estavam perdidos em suas próprias inseguranças e não tinham ideia de como um poderia ajudar o outro.