Doce Sonho
Capítulo 7 : Noite banhada em sangue.
Capítulo 7: Noite banhada em sangue.
Eu estava sozinha, passando agora por aquela mesma estrada deserta, que me levaria ao centro de Edo. Planejava ao chegar lá encontrar um local seguro, o suficiente para que pudesse colocar as ideias em ordem e decidir o que fazer com esta minha vida sem rumo.
Mesmo que a lua ainda brilhasse fraca no céu, não era suficiente para iluminar bem o caminho, nem mesmo amenizar a escuridão que crescia em meu peito.
Pois sim, ele não era mais preenchido por aquele caloroso sentimento. Meu doce e amável coração agora ficava vazio. Nem triste, nem amargurado ou arrependido, apenas vazio. Tinha deixado tudo o que mais me importava para trás, junto daqueles que mais amei na vida.
E que agora não saberia dizer se amava mais. Estaria então vivendo por viver?
Antes que pudesse encontrar a resposta, fui tirada do devaneio ao ouvir passos além dos meus.O arrastar de sandálias de madeira que começava a me acompanhar.
Um frio percorreu por toda a minha espinha. Me assustava a ideia de estar sendo seguida.
Sem ter coragem de olhar para trás, comecei a apertar o passo. Até certo ponto que quando me dei conta já estava numa corrida desesperada pela vida.
-Volte aqui!!! -gritou, parecia ser aquele que me perseguia.
Isso só me motivou a correr mais e mais rápido.
Me aproximando da entrada para o centro de Edo, já estava quase sem ar e sem forças.
Corri mais alguns metros e parei quando não ouvi mais o som de nada.
O centro estava agora vazio. Cenário bem diferente do agitado de horas atrás. Mesmo que Edo fosse mais seguro que Kyoto, certamente nenhum tolo ousaria sair do conforto e segurança do lar, pelo menos não enquanto não amanhecesse.
Depois de recuperar um pouco o fôlego, virei-me com o pouco de coragem que me restava, para averiguar se não havia ninguém mesmo a me perseguir.
Ninguém. Nada. A rua permanecia deserta e silenciosa.
Suspirei aliviada. O que quer que fosse já teria desistido de me seguir.
Quando já começava a achar que estava tudo bem, que estava em segurança, uma sombra apareceu por trás, tampando a minha.
Perdi o ar. Ainda mais quando vi o que ele segurava com sua mão direita.
Fora tudo rápido demais. Virei- me assustada, levando rapidamente meus dois braços em frente ao meu rosto, como proteção.
Depois disso, senti uma imensa dor vinda junto com o sangue. Meu sangue. Segurei na garganta o grito de dor, mas não pude segurar as lágrimas.
Sim, aquela espada tinha parado com meu braços, e por pouco não os levou também.
Aquele homem que segurava a espada apenas sorria, bem maldoso. Enquanto outros homens que estavam atrás dele não se aguentavam de tanto rir.
Quando eu tinha me distraído a tão ponto, o suficiente para me condenar?!
-Achou mesmo que ia escapar? -perguntou-me, com a expressão cada vez mais divertida.
-Vamos! Mate-o logo! O que está esperando?! -zombou um, em meio às gargalhadas.
-Deixe eu me divertir um pouco com este aqui! Que graça tem se o roubamos sem ouvir os seus gritos de dor? -retrucou ao outro.
Naquele momento comecei a sentir algo que quase nunca tinha sentido, algo próximo à raiva.
Mas, em meio a dor latejante, não estava conseguindo raciocinar. O sangue continuava a escorrer, formando uma grande poça no chão.
Aquele ferimento não cicatrizaria enquanto não fosse tirada aquela maldita lâmina de minha pele. E eu não conseguia alcançar a bainha de minha espada curta, com os braços ocupados dessa forma.
-Mate-o logo!! Temos mais o que fazer antes que amanheça!! -ordenou um, já impaciente. E os demais pararam de rir um pouco.
Aquele...seria então meu fim?
Não, não poderia ser. Eu não queria morrer dessa forma tão...patética. E com esse sentimento ruim aumentando dentro de mim.
Mas, não tenho mesmo escolha, não é?
Fechei os olhos, entregando o momento que se seguiria ao destino. Esse que provavelmente seria a última peça que ele me pregaria.
Ouvi gritos de dor, de agonia ao meu redor e o som de corpos se espatifando no chão. Seguido depois de silêncio.
Senti a lamina ser tirada de meus braços e perdi as forças naquele momento. A dor logo foi passando e o ferimento começava a cicatrizar.
Então...eu finalmente morri?
Não aguentei mais ficar de pé. Uma fraqueza tomou conta de meu corpo e eu a deixei me guiar. Estava pronta já para cair.
Mas, algo pareceu impedir minha queda.
Abri bruscamente os olhos. E perdi a voz quando vi o par de olhos avermelhados que estavam a me fitar tão intensamente.
Ele, que apenas com um braço tinha me impedido de cair.
Olhei para o céu, procurando talvez uma resposta. A lua que estava ali era diferente, era avermelhada.
A lua de sangue. Seria esta a lua para os onis? Me restava apenas essa dúvida final.
Continua...
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